segunda-feira, 1 de maio de 2023

 

PRESENÇA DO/S MONGE/S JOÃO MARIA NA REGIÃO DE PASSO FUNDO: O QUE HÁ DE VERDADE E MITO SOBRE O/S PROFETA/S

FOTO - JAIRO


É possível que um em cada dez pessoas nos estados do sul do Brasil já tenha ouvido falar do Monge João Maria e suas profecias. Há relatos de que tenha havido três monges e não um como se apregoa. Ao mesmo tempo em que existem tantas pessoas devotas do monge, até mesmo tendo-o como um santo, um profeta, por que não há nenhuma igreja cristã ou católica contendo o monge João Maria como Padroeiro? Embora já se saiba a resposta da inexistência de tal edificação com o seu nome, o que é sabido é que ainda hoje há uma legião de benzedeiras espalhadas por todos os cantos do sul do Brasil que exercem suas funções intercedidas pelo monge ou monges.

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Mas quantas são e onde estão essas pessoas? Existem inúmeras bibliografias disponíveis de pesquisas, TCC, dissertações, teses, livros, etc, já desenvolvidas acerca da vida e obras do/os monges. No estado catarinense muitos conhecem sendo um dos lideres do movimento contestado que atuou no oeste e planalto central e norte catarinense por longos anos. O próprio estado do Paraná há incontáveis relatos conhecidos de ter o/s monges por lá transitado, promovido milagres e convergido para si centenas, milhares de devotos. Existem relatos da existência de grutas, fontes de águas milagrosas e curas por eles promovidas por onde passavam. Para entender melhor esse ambiente repleto de mistérios e incertezas, nada melhor que ir à própria fonte e beber a água da sabedoria, dos milagres, das inúmeras pessoas que tiveram suas vidas abençoadas através da intersecção dos monges.

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O que motivou a embrenhar nesse vasto campo espinhoso e ainda pouco conhecido do público em geral, é adentrar em uma seara que se imagina ainda pouco explorada que são os arquétipos que envolveram e ainda permanecem presentes no imaginário social. É exatamente esse o desafio, estudar os arquétipos ou representações associadas ao monge. As rezas, as grutas, as fontes de água que não secam e promovem milagres, são alguns desses aspectos onde se acredita fazem parte desse roteiro da presença do/os monge/es nos três estados do sul do Brasil.

A pesquisadora Doutoranda Elisa F. Stradiotto, pela Universidade Humanista da Flórida/ EUA, está incumbida nessa difícil busca encontrar respostas que possam elucidar mistérios que envolvem tão enigmáticas personagens míticas. O maior desafio, portanto, é dar cientificidade a algo repleto de misticismo, fé, devoção, impregnada no inconsciente coletivo de diversas gerações. É obvio que a ciência de matriz positivista/cartesiana não responderia muita das indagações lançadas sobre coisas não palpáveis, abstratas, presentes unicamente na imaginação.

A cura através das rezas, uso e consumo de água benta, imagens de santos, símbolo da cruz, ervas e plantas medicinais, são alguns desses arquétipos que devem ser investigados e compreendidos. Investigar se suas manifestações são convergentes ou divergentes no imaginário social dos três estados do sul. Já sabendo que seriam ínfimas as possibilidades de sucesso nessa pesquisa sobre os arquétipos de monge João Maria, tendo como único aporte investigativo as teorias positivistas, a pesquisadora quis ousar adentrando no campo da investigação quântica, cuja mediação filosófica será do psicanalista Carl Yung que abordou o inconsciente coletivo.

O primeiro desafio, portanto, dessa difícil caminhada seria visitar algumas cidades do Rio Grande do Sul onde se sabe teve a presença do monge. Passo Fundo, Lagoa Vermelha, entre outras do entorno, obrigatoriamente teriam que ser visitadas, que como se sabia previamente, suas populações são atravessadas por forte devoção e crença aos monges. Sendo assim era necessário conferir de perto tais reflexões, se realmente o arquétipo do monge permeava ou não o imaginário daquela sociedade e até que ponto ajudava tornar essas pessoas mais felizes.

Chegando a cidade o primeiro local visitado, eu Jairo cesa, historiador, Elisa Stradiotto, pesquisadora e Dr. Daniel, orientador, era a catedral de Nossa Senhora Aparecida, da cidade de Passo Fundo, e conversar com o pároco da mesma, Ari Antônio dos Reis, pois havia informações de ser ele estudioso do monge. Por uma hora mais ou menos, no interior da sala de reuniões, participamos de um intenso e produtivo diálogo, com relatos de sua dedicação na reconstrução da memória dos monges. Além das explanações, o pároco nos forneceu nomes de pessoas e endereços que deveríamos visitar para aprofundarmos nossa investigação.

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Padre Ari, como é conhecido, que também é professor de uma universidade em Passo Fundo, fez menção ao trabalho pastoral realizado pela igreja a qual atua há longo tempo. Quando concluiu o curso universitário, seu Ari escreveu o seu TCC destacando a saúde e a religiosidade da população cabocla, indígena, no oeste catarinense. Além de Lagoa Vermelha e Passo Fundo, há relatos de terem existido monges na região da grande Soledade/RS, entre os anos de 1936 e 1937, apelidados de monges barbudos. Em uma região de forte presença cabocla, alemã e de grandes proprietários de terras, corriam noticias de que os monges estavam mobilizando os caboclos para se rebelarem contra as instituições. Em 1937 forças policiais invadiram uma igreja onde no seu interior estavam o monge e caboclos. ( PESQUISAR LIVRO DE CIRILO VALVERDE).

Relatou o padre Ari que esteve em Soledade no passado para pesquisar sobre a presença dos monges. Disse que não teve problema em entrevistar os descendentes dos caboclos que tiveram envolvimento direto com os mesmos. Por parte dos descendentes de italianos e alemães o que havia era ironia. Porém, todos os relatos havia consensos de se tratar de um santo. No entanto, segundo o padre, até hoje há duvidas de ter existido mesmo um ou três monges. Partindo desse pressuposto, o mesmo se sentiu estimulado em pesquisar mais sobre os monges. A conclusão que chegou o padre foi realmente ter havido três monges, porém o que permaneceu foi a mística do monge, um personagem que vai circular no imaginário social.

O estereótipo forjado sobre os caboclos de indivíduos passivos é um tanto temerário. Para poder desconstruir tais conceitos vistos como errôneos desses grupos étnicos foi necessário aprofundar investigações dos aspectos econômicos, sociais e religiosos em que estavam inseridos. No campo religioso, a pesquisa tratou de compreender o caboclo, a dificuldade de incorporá-lo ao modelo racionalista de produção, de base capitalista, a sua condição histórica de sujeito incorporado as regras da própria natureza onde vivia.    

Destacou a romaria a nossa senhora aparecida que ocorre no segundo domingo de outubro em Passo Fundo, com forte presença de pessoas pobres. A romaria a São Miguel também foi citada, sendo o santo cultuado pelos negros desde 1871. Essa romaria é considerada uma das maiores e mais importantes do rio grande do sul.  Disse que durante a guerra, são Miguel cuidou de dois negros, sendo um deles Isaias. Que no retorno ganharam uma imagem do santo que os protegeu. Acredita-se que foi são Miguel que os trouxe não o contrario.

A História da romaria aconteceu quando “dois escravos retornaram da guerra do Paraguai, que quando chegou às terras onde fica o atual distrito do pulador, uma pequena estatueta de São Miguel Arcanjo os impediu de continuar. Inspirado pela imagem, nas terras de Bernardo Castanho Rocha, fugindo dos ares urbanos e direcionados para o povo do campo, foi construído, de pau-a-pique e com telhado de capim, uma pequena capela, que foi reformada e tombada como patrimônio cultural”.[1]

É conveniente nesse trabalho discorrer fragmentos da pesquisa realizada pelo Padre Ari Antônio com o título Criação e Recriação do Mito João Maria pelos Caboclos da Região Sul. O trabalho foi apresentado como conclusão de curso de graduação realizada no Instituto de Teologia e Pastoral ITEPA. O pesquisador se muniu em um vasto e rico acervo de informações tecidas a partir de fontes bibliográficas e entrevistas realizadas nos estados do RS e PR. Dividiu a pesquisa em três capítulos, sendo o primeiro dedicado aos três monges; o segundo, os caboclos, e o terceiro a criação e recriação do mito João Maria.

Nem há como compreender a presença dos monges e seus desdobramentos ocorridos nos três estados sem considerar um dos atores protagonistas desse intrincado enredo. Refiro-me aqui a figura do caboclo, constituído a partir da miscigenação do negro, índio com o homem branco. A condição de classe subalterna, explorada já vem desde os tempos vindouros quando seus antepassados foram submetidos à condição de escravidão pelo colonizar.

No sul do Brasil o caboclo ocupava terras devolutas, sobrevivendo do cultivo de pequenas roças ou do extrativismo como a erva mate. De repente suas posses passaram a ser invadidas por pessoas que se diziam proprietárias. Sendo expulsos e empurrados para as margens dos territórios, se vêem novamente ameaçados por companhias encarregadas de construir uma estrada e ferro, bem como a extração de madeiras, araucárias, por exemplo. Sem qualquer expectativa e apoio das autoridades, a desesperança e incertezas tomaram conta, porém, tudo isso foi remediado com a presença dos monges.

Conforme escreveu Ari Antônio; “esse espaço de evangelização é ocupado, em parte, pelo culto a João Maria, que não se dizia seguido de alguma igreja, porém, sua fala e ressonância encontravam junto aos caboclos”. A própria igreja católica não se solidarizou naquele momento com a causa dos caboclos, isso se deve, em parte, da estreita relação que possuía com os grupos dominantes. Uma figura que se despontou do nada oferecendo apoio espiritual, receitando medicamento e dando esperança de vida plena, é claro que convergiria para si essa legião de subjugados, desterritorializados.

Tendo forte relação com os elementos da natureza não foi difícil transformar o monge em uma representação divina, ou seja, e um arquétipo da bondade, da justiça, junto aos pobres e necessitados. Isso também ocorria com os sertanejos, tendo fortes vínculos com as florestas e demais elementos vivos e místicos presentes nesses cenários. Por suas características culturais o caboclo ou sertenaijo acreditava que o que acontecia em suas vidas, boas e ruins, tinham relação direta com os fenômenos da natureza. Sendo assim, não alimentava expectativas de haver rupturas significativas em seu quadro de existência, se tudo é o que é se deve ao fato de existir algo superior, que é Deus, força que rege todo o universo.

Muito se tem percebido o caboclo, o sertanejo esboçando comportamentos que expressavam certo passivismo, conformismo diante do seu destino. A condição de subalterno ao proprietário, ao escravocrata impôs a construção do estereotipo de sujeito passivo. Mas isso tem a ver também pelo papel exercido pela igreja católica durante a época escravocrata na qual atuava como instituição incumbida de assegurar o status quo social. O respeito à autoridade do padre, do patrão, permaneceu latente nos negros e caboclos desterrados do sul do Brasil. Cabe frisar que tanto o passivismo quanto o conformismo deve ser compreendido como sendo estratégias inteligentes de sobrevivência, formas encontradas para não ser perseguido e destruído pelo opressor.

Acreditar na transcendência levava o caboclo a se apegar aos símbolos sagrados, sentos, como símbolos capazes de intermediar ao divino. São esses os mecanismos influenciadores do curso da vida e da natureza. A presença de imagens de santos nos locais onde o monge havia estado são demonstrações da devoção católica dos seguidores ou devotos do monge.  A prática do batismo católico é um desses ritos para oficialização do pertencimento a tal tendência religiosa. Para os pobres despossuídos e ainda hoje da população remanescente, geralmente o rito do batismo ocorre junto a uma fonte d’água, o fato de se batizarem na igreja, lhe da garantia alguns benefícios oficiais.

Sobre o mito de João Maria, presente no trabalho do padre Ari, o mesmo procurou reconstruir o cenário vivido por outro monge que tenha aparecido na região do contestado, estado de santa Catarina. Dissertou que a região, os conflitos se iniciaram na metade do século XVIII durante as disputas de fronteiras entre os estados de SC e RS. A construção da estrada de ferro SP – RS veio elevar ainda mais as tensões sociais, pelo fato de ter expulsado posseiros do trecho construído.

É nesse cenário que aparece o terceiro monge José Maria de Jesus, pessoa dotada de grandes habilidades, carisma e que passou a ajudar o povo pobre, receitando medicamentos, bem como oferecendo apoio espiritual para amenizar o sofrimento do povo. Cada vez mais dezenas, centenas de pessoas passaram a se ajuntar no entorno do monge, fato que gerou certa desconfiança por parte dos coronéis locais, acreditando que ambos estavam articulando algum movimento de tomada da região. Um dos coronéis de Curitibanos mobilizou tropas federais cujo confronto em 1912 provocou a morte do monge José Maria.

A construção do mito ao monge João Maria se atribui a sua personalidade de individuo simples, bom, que entendia as dificuldades vividas pelo povo. Também o mito se deve aos feitos e relatos de profecias praticadas, bem como as narrativas que envolviam o monge. A presentificação do mito João Maria é perceptível diante dos contados ou entrevistas com pessoas que afirmam ter conhecido o monge. Geralmente suas narrativas trazem à lua uma figura boa, calma, que fez algumas profecias e que desapareceu. É comum ouvir relatos de que cruzes de cedro foram fixadas, que brotaram e tornaram-se árvores frondosas. Da existência de fontes de água benzidas pelo monge, onde sempre tem no entorno da fonte uma capelinha com imagem do monge e outras figuras sacras onde peregrinações acontecem para tomar a água, se lavar ou buscá-la para realizar batismos em casa.

Concluída a etapa introdutória da investigação com o padre Ari e a síntese de sua pesquisa de TCC, demos início nossa peregrinação no intuito de contatar pessoas que tiveram algum contato com o monge ou        que exercem praticas de benzeduras com o emprego de ervas e orações. Encontrar a residência de um cidadão conhecido pelo nome de delegado foi nosso primeiro desafio. A informação foi que seu delegado possuía mais de cem anos e havia tido contato com o monge. Com dificuldades de audição seu delegado recebeu a ajuda de sua filha que o intermediava quando seu pai não entendia as perguntas.

Tínhamos expectativas de que conversando com o seu delegado algo novo em relação ao Monge ele nos revelaria. Não foi de fato o que ocorreu, pois o que disse já sabíamos a partir de fontes escritas. Revelou que o monge vivia caminhando, que quando chegou a sua casa pediu couve, fez um foguinho cozinhou e a comeu com feijão. Que caminhava sempre descalço, trajando uma roupa grosseira, que era alto e magro. Sobre as profecias, disse que o monge falava que um dia o céu seria totalmente tomado por arame farpado, que as pessoas não compreenderiam mais.

Fato curioso relatado pelo SEU DELEGADO foi quando disse que certa noite choveu e o fogo aceso pelo monge não apagou, que o local onde ele estava não choveu. Também disse que durante a sexta feira santa não poderia faltar feijão e couve, que era a comida de são João Maria, que todos tinham que comer. Que quando pequeno possuía dores nas pernas, nos quadris, que era só tomar o chá de erva do monge que cessava as dores.

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Seguindo o roteiro, depois de visitar o seu delegado, teríamos agora de ir à residência de Dona Terezinha, afinal era uma pessoa que benze e que era guiado pelo monge João Maria. Foi uma recepção amistosa em sua residência onde nos relatou como chegou ao grau de benzedeira. Deixou bem claro que ter fé é importante, que a mente humana tem poder, que deus intercede por meio da nossa mente. Que a condição de benzedeira é um Dom recebido e que deve ser aceito. Confessou que seu bisavô possuía esse dom, que depois foi transferido para sua vão, sua mãe e que agora ela estava dando continuidade. Sua neta de 11 anos, ela acredita que herdará esse dom, pois o acompanha nos rituais.

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Durante as rezas disse que recebe a bênção de Maria e de Jesus, da família sagrada e de João Maria. Que o monge havia visitado sua avó e lhe ensinado algumas rezas. O monge não entrava nas casas, só pedia comida, quando chovia, o lugar onde estava permanecia seco. Revelou dona Terezinha que seu neto foi diagnosticado com bronquite, que quando bebeu a água da fonte do Monge João Maria, o mesmo ficou curado. Lembrou também do galhinho de cedro, que quando fosse enterrado o mesmo brotava se transformando em uma arvore.

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Crianças com verminose as rezas tem o poder de curar, disse dona Terezinha. Narrou que curou crianças utilizando um ritual de benzimento. O rito se dá pegando uma linha, cortando-as em pedaços e depositando dentro de um copo de água. Se os vermes estão calmos, as linhas vão para o fundo do copo, do contrário, as mesmas permanecem na superfície. A linha deve ser cortada com orações. No final do terceiro corte, deve se oferecer o copo d’água para a criança beber. É preciso deixar a tesoura aberta para que a benzedura tenha sucesso. Se em três dias depois da benzedura não deu certo, deve-se ir novamente, em três em três dias até o nono dia.

Também relatou ter recebido pessoas com dores de cabeça provocadas pelo ar da lua, do sol e das estrelas. Para aliviar a dor, o ritual é colocar um pano branco sobre a cabeça além de um copo de água, que deve ser equilibrado para não cair. Repetir três vezes a benzedura. Foi perguntado a D. Terezinha se houve em algum momento benzedura que teve a interseção do Monge. Respondeu que a mãe de sua nora havia pegado cobreiro no pé.

Que a mesma não acreditava em benzedura. Foi ao médico algumas vezes, porém, o problema do cobreiro não foi resolvido. Certo dia ela foi até dona Terezinha, o cobreiro foi benzido e curou. O uso de ervas é comum nos rituais de cura da benzedeira, pois para cada problema existe um tipo diferente de erva medicinal, como a erva de são João Maria, a erva santa, hortelã, etc. D. Terezinha disse ter uma forte proteção espiritual.

No final da entrevista, Dona Terezinha ensinou algumas das rezas praticadas, como a que procura combater cobreiros. A técnica é ambos fazerem o sinal da cruz, dizer o nome da pessoa e do São João Maria, que o problema está sendo cortado em nome do Monge, que te abençoa. É preciso rezar o pai nosso e tocar o cobreiro com três galhos de arruda, passando três vezes em forma de cruz no problema. Feito isso, os galhos de arruda junto com cobreiro devem ser descartados na rua.

Além da benzedeira Da. Terezinha, tínhamos na pauta o endereço de outra benzedeira no município de Cirilo. Entretanto antes de encontrá-la fomos visitar o tal de capitel, uma espécie de oratório, junto a uma fonte de água, que foi construído para fazer celebrações em memória do Monge João Maria.  Não sabendo exatamente o local exato, chegamos numa a residência de agricultores, na comunidade de São Sebastião da Várzea, para que nos indicasse o caminho. Curiosamente, essa família era devota do monge, na qual conhecia muitas histórias relacionadas ao mesmo, todas semelhantes às contadas pelos demais entrevistados.

A devoção ao monge se deu quando o proprietário dessa casa teve um acidente que ferio a sua cabeça. Fizerem promessa ao monge e o cidadão Antônio Táparo melhorou. A promessa foi paga indo ao capitel e acendendo vela e recitando rezas de agradecimento. Saindo da casa do seu Antônio Táparo fomos ao encontro do capitel, que infelizmente não descobrimos o seu local. Como tínhamos outro compromisso agendado naquela tarde, vimos que seria melhor deixar quem sabe para outra oportunidade a visita ao capitel.

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Agora nos deslocamos para a cidade de Cirilo onde iríamos conversar com D. Elza, que também era benzedeira. Dona Elza nos relatou que o monge havia passado por aquela região, dormia em baixo de arvores, pedia comida e dizia que muita coisa ou profecia, coisas que aconteceriam no futuro. Disse D. Elza que a pandemia era algo previsto pelo monge. Na época de sua passagem ele dizia para as pessoas rezarem para ele, terem bastante fé para que as coisas ruins não acontecessem.

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Informou Dona Elza que começou a benzer quando estava na casa de uma sobrinha em Porto Alegre, que teve dor de dente e foi num benzedor. Chegando lá, ele disse que estava velho e que ela iria continuar o seu trabalho. Quando retornou para sua cidade deu inicio ao seu trabalho de benzedura. Contou uma das rezas que faz para as crianças, contra quebrante, ou mal olhado. “nosso profeta são Joâo Maria, cure, tire esse quebrante dessa criança cujo nome é..... São João Maria te cure, em nome do pai, do filho e do espírito, amem – fazer o sinal da cruz três vezes. Também falar – pelo sinal da cruz da santíssima trindade, nos livre do mal, amém”.

Disse que quando uma criança sofre de quebrante ela não dorme, chora muito e tem dorzinha. Como todas as benzedeiras visitadas, Dona Elza também não cobre pelos serviços prestados, só se o paciente quiser lhe presentear, ai ela recebe. Disse que se for cobrado, o ritual de benzedura não dá certo. Quando crianças são benzidas, D. Elza se utiliza de um tercinho; agora para adultos é necessário galhinhos de cipreste, arruda, alecrim. Disse que também usa erva de são João Maria, porém, é difícil encontrar.

No final de sua narrativa sobre o monge e benzeduras, D. Elsa nos relatou uma de suas rezas oferecidas a pessoas adultas, principalmente para cortar maus espíritos. Assim é a reza: primeiro fazer o sinal da cruz. “São João Maria atenda quem estou benzendo essa pessoa (nome), que são João Maria livre de feitiços, que cure do mal, que as orações de São João Maria defenda de todas as coisas perigosas, maldades, ódios, raivas, e seja levado tudo para o fundo do mar salgado, para o mato ou pântano. Que venha paz, alegria, que abençoe pelo sinal da santa cruza. Gratidão”.

Depois de quase uma hora dialogando com dona Elsa, seu esposo no ofereceu para nos guiar até o capitel de São João Maria, onde estava a fonte de água milagrosa. Em trinta minutos mais ou menos chegamos ao local onde havia uma pequena e simples capelinha erguida para homenagear o monge. Porém, nossa curiosidade era saber onde estava a fonte de água. A alguns metros da capelinha junto a uma capaozinho lá estava a fonte com água cristalina. Segundo o esposo da dona Elsa que nos guiou até o local, ele nos relatou que tentou proteger a fonte com uma barreira de concreto, porem, a água secou. Retiraram o concreto, a água retornou outra vez. Disse também que água não corre para nenhum rio, pois não existe qualquer rio naquela região. Para onde vai a água é uma incógnita.

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Prof. Jairo Cesa

 

 





     


 

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