quinta-feira, 25 de maio de 2023

 

A CPI DO MST TRARÁ REVELAÇÕES DA GRANDIOSIDADE DESSE MOVIMENTO QUE GARANTE ALIMENTOS SAUDÁVEIS PARA MILHÕES DE BRASILEIROS

Não há duvidas que a CPI criada pela câmara federal para investigar as ocupações realizadas pelo MST em áreas improdutivas está sendo interpretado como palanque para os deputados bolsonaristas quase imperceptíveis do cenário nacional após a derrota eleitoral da sua principal liderança, Jair Bolsonaro. Na primeira seção dos parlamentares na comissão ocorrida no dia 24 de maio já deixou explícito que o intuito da ala bolsonarista, que é majoritária, seria criminalizar um movimento que há mais de quarenta anos vem fazendo o que estabelece dispositivos da constituição federal, tornar produtivas terras improdutivas.

Não tenho lembrança de ter ouvido ou assistido nas mídias de massas tradicionais informações ou reportagens mostrando o cotidiano desses assentamentos, todo o trabalho que desenvolvem no cultivo sustentável de alimentos e outros serviços de relevâncias sociais. Poucos brasileiros sabem que o MST é uns dos maiores produtores de arroz orgânico da América Latina. Enquanto segmentos do agronegócio durante a pandemia promoviam desmatamentos, queimadas de florestas e outras barbaridades ambientais, centenas de toneladas de alimentos provenientes dos assentamentos do MST eram distribuídas às populações famintas das áreas urbanas do país.

Lembro de ter participado em 2022 de um curso de agroecologia no município de São Pedro de Alcântara, RS, evento coordenador pelo Dr. Sebastião Pinheiro, agrônomo aposentado, que há anos viaja pela América Latina empoderando os movimentos campesinos com técnicas alternativas de manejo do solo e cultivo agrícola. Relatou Sebastião Pinheiro que tem forte envolvimento em atividades sociais no MST, oferecendo-lhes conhecimentos estratégicos importantes.  Diagnosticar a biótica do solo por meio da cromatografia é uma dessas estratégias revolucionária que assegura ao movimento autonomia e independência das corporações que dominam o mercado de sementes e insumos. 

 Essa é uma técnica simples realizada a partir de partículas de solo seco depositadas em um cromatograma com o adicionamento de substâncias como o nitrato de prata. O que é revolucionário nesse exercício é o fato de a experiência ser construída coletivamente. Isso mesmo, cada indivíduo fará a sua e acompanhará as mutações das cores e testuras do seu e dos demais experimentos. No final todos terão respostas da qualidade biótica dos solos analisados e quais as intervenções necessárias para obter boa produtividade em quantidade e qualidade.

Além dessa  técnica, os assentados do MST aprendem também outras dinâmicas de recuperação da vida do solo que dispensa usos de elementos sintéticos como adubos químicos e agrotóxicos. Adubação verde; produção de pó de rocha; paletização de sementes; coleta de microorganismos eficientes; biofertilizantes; águas de vidro; micorrizas; caldas minerais, etc, ambos compõem o pacote de produtos e ferramentas alternativas empregadas por milhares de camponeses e comunidades de assentados em toda América latina e outros continentes como a Ásia.     

 Aqui estão alguns dos motivos pelos quais o grande capital se desespera quando vê o MST se expandindo e recebendo o apoio de parte expressiva da população. Eles sabem que a desconstrução de inverdades sobre o movimento resulta em real ameaça a secular hegemonia de práticas espoliatórias patrocinadas por poderosas corporações transnacionais monopolizadoras dos mercados de sementes, insumos e agrotóxicos.    Criminalizar, destruir as estruturas de comando do MST e de outros movimentos campesinos se constitui como plano primordial dos representantes do agronegócio no Congresso Nacional. A CPI em curso, portanto, tem esse viés destrutivo das forças populares no campo, e isso foi mostrado no dia 24 de maio, na primeira audiência da CPI, na postura assumida pelo presidente da comissão quando repreendeu uma deputada do PSol, cerceando sua fala, por ter lido reportagem do G1 onda cita do deputado por envolvimento nos atos golpistas de 08 de janeiro.

Se prestarmos a atenção acerca da representatividade partidária que compõem a CPI do MST, notaremos que há enorme supremacia de siglas defensoras do agronegócio. Claro que nem todos que fazem parte desse segmento corroboram com práticas usurpadoras de frágeis ecossistemas para expandir seus negócios.  Quem acompanhou os quatro anos de governo bolsonaro deve ter percebido a quantidade de fatos negativos noticiados envolvendo políticos e segmentos do agronegócio.

Ocupações e garimpos em terras indígenas, grilagem, desmatamentos, incêndios criminosos, etc, todos os dias eram noticiados nas principais mídias de coberturas nacionais. Não bastassem todas essas aberrações, quase todos os dias eram noticiados nos telejornais ações da polícia e do ministério público de resgates de trabalhadores em fazendas ou empresas em condições análogas a escravidão. São bem prováveis que os parlamentares que atuam na CPI para criminalizar o MST são os mesmos patriotas, que cobertas com a bandeira do Brasil, ocupavam ou apoiavam os manifestantes acampados nas frentes dos quartéis exigindo intervenção militar.  

Prof. Jairo Cesa                    

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