sábado, 6 de maio de 2023

 

O QUE DEVE SER ENTENDIDO SOBRE O AJUSTE FISCAL E O PROJETO QUE BENEFICIA O SISTEMA ACAFE E AMPESC QUE TRAMITA NA ALESC

Há muito tempo venho afirmando que os votos dos/as professores/as e demais servidores/as da rede pública de ensino estadual são suficientes para ter na ALESC dois ou mais deputados/as comprometidos/as com a categoria. Além do mais os votos desses/as profissionais e de seus familiares tranquilamente teriam peso na eleição do governador com propostas alinhadas a essa categoria e demais servidores públicos estaduais. Infelizmente em quase cento e cinqueta anos de república em nenhum momento foi quebrado o ciclo vicioso de eleger sempre governadores alinhados às correntes elitistas, de perseguição e ataques aos direitos dos servidores/as

Esse fenômeno inusitado não se deu apenas no executivo, no legislativo essa prática pouco inteligente dos/as servidores/as também se repete eleição pós eleição. Ou é falta de memória histórica ou é gostar de sofrer o que se supõe esteja passando na mente de milhares de servidores estaduais, em especial parcela expressiva dos/as professores/as. Quando falo em gostar de sofrer me refiro exatamente aqueles/as profissionais que decidiram depositar seus preciosos votos nas urnas para eleger o atual governador e os/as candidatos/as a deputados/as  dos partidos de sua  base de apoio na ALESC.

Em pouco mais de três meses de mandato veio à primeira paulada aos servidores com a decisão de congelamento do reajuste dos salários por um ano, ou seja, até maio de 2024. O argumento do executivo ao não reajuste, entre outras medidas, visa equilibrar as contas do estado por meio de um Ajuste Fiscal. A sensação que fica com essas ações do atual governo contra servidores estaduais, que também aconteceu em outros governos no passado, é que a culpa do desequilíbrio das contas publicas é exclusiva dessa categoria.

Em outra oportunidade escrevi um texto tratando desse assunto, onde mencionei o quanto o Estado deixa de arrecadar somente com isenções fiscais e sonegações fiscais. Lembro de ter citado uma grande empresa do setor supermercadista que devia ao estado mais de 250 milhões de reais.[1] Se todo esse recurso desviado, sonegado, fraudado, chegasse aos cofres do Estado, não haveria necessidade de ajustes, muito menos congelamento dos minguados salários recebidos pelos servidores.

A reforma previdenciária sancionada em 2021 pelo governador Carlos Moisés foi outro golpe duro contra os/as servidores/as estaduais. Uma emenda foi incluída no texto base do projeto que autoriza o estado de descontar 14% do salário dos servidores aposentados, a partir de quem recebe 1.200 reais, valor do salário mínimo. Por que golpe? Porque mais de 70% dos/as servidores/as/professores/as recebem menos de cinco mil reais, e o dinheiro descontado é utilizado para compra de medicamentos ou pagamento serviços médicos.

Quando ainda era candidato, o atual governador nas suas entrevistas e comícios afirmava que sendo eleito iria assegurar ensino superior a todos/as os/as catarinenses. De fato, o correto seria elevar investimentos públicos em educação básica, reformando, construindo novas escolas, qualificando e melhorando os salários de todos/as os/as professores/as. E por que não foi esse o encaminhamento do atual governo. Primeiro, porque quem conhece o programa político do PL, seu partido, e outros partidos alinhados sabem que a meta é reduzir o tamanho do Estado, ou seja, Estado Mínimo, entregar serviços como saúde, segurança, educação, saneamento à iniciativa privada.

Para cumprir sua promessa de campanha indicou para o posto de secretário da educação um ex-reitor da UNOESC (Universidade do Oeste Catarinense) e ex-presidente do sistema ACAFE (Associação Catarinense das Fundações Educacionais), que são instituições particulares de ensino superior regidas por leis municipais. Deixar claro que essas instituições nãos são públicas, que cobram mensalidades, porém os recursos arrecadados são investidos na própria instituição. Sabendo que somente o sistema ACAFE seria beneficiado com os polpudos bilhões dos cofres públicos, a AMPESC (Associação de Mantenedoras Particulares de Educação Superior de SC) saiu em defesa das suas instituições, querendo também fatia desse recurso.

O projeto agora está na ALESC para análise dos parlamentares. O que se sabe é que a proposta será implantada de forma escalonada, sendo que em 2026 estará contemplando 100% de todos estudantes matriculados nas 14 instituições da ACAFE e outras dezenas da AMPESC. A alegação dos defensores do projeto é que parcela dos estudantes matriculados no ensino superior particular já é beneficiada pelo artigo 170, que garante bolsas de estudos aos estudantes carentes. O projeto pode enganar muita gente, menos os/as milhares de professores/as da rede estadual que sabem que a proposta visa mesmo é beneficiar os empresários do ensino superior, muitos dos quais financiadores da campanha do atual governador, dos acampamentos em frente dos quartéis e dos atos golpistas de oito de janeiro em Brasília.

No memento que eu estava redigindo esse texto procurei assistir uma das audiências em defesa das universidades comunitárias ocorrida na Unesc/Criciúma. Analisando os convidados presentes e toda a apoteose montada para o evento dá para perceber que houve todo um trabalho bem articulado envolvendo imprensas, segmentos políticos e empresariais para fazer crer que as universidades comunitárias são a redenção do atraso econômico, cultural e social que domina o estado.

É estranho ver no mesmo ambiente figuras carimbadas da política defendendo universidade comunitária, cujo histórico no parlamento catarinense sempre foi de vetar qualquer proposta beneficiava educação pública e da carreira docente. Um auditório lotado de pessoas vestidas com camisetas verdes comungando o mesmo sentimento em defesa dessas instituições. Havia até cartazes com frases do tipo:  “Verbas Públicas para Instituições Públicas e Democráticas”. Quem estava segurando o cartaz talvez não tenha lido a frase, pois verbas públicas são para instituições públicas gratuitas, como escolas públicas, hospitais públicos, etc. Parece que o cartaz tinha um tom de enganação a priori.

 Claro que com todo esse engajamento envolvendo dezenas de segmentos da sociedade dificilmente os objetivos não serão alcançados. Não faltou nem mesmo o representante da União Catarinense dos Estudantes, com discurso afiado. Para aí, até pode ser a destinação de verbas publicas a essas e outras instituições, porém, ambas devem mudar seus estatutos, tornando-as legalmente públicas e seguindo as mesmas regras das municipais, estaduais e federais, como concursos públicos para preenchimento dos cargos e processos licitatórios. 

Vendo a multidão lembrei-me das dezenas de greves ocorridas no estado e promovidas pelo SINTE em defesa da escola pública. Na época buscávamos o engajamento da sociedade, entidades como as que participaram do fórum em defesa das universidades comunitárias, porém, sem sucesso. E qual seria o motivo dessa resistência? Será porque defendíamos o direito à escola pública e de qualidade a todos/as os trabalhadores/as catarinenses. Agora olha o que defendem essa mesma gente, universidades comunitárias, que não são publicas, vale dizer, são particulares, que cobram mensalidades.  Se todo público reunido naquele auditório como de outros tantos auditórios do estado, estivesse brigando por escola pública gratuita, do básico a universidade, acredito que em pouco tempo o estado seria referência no país em qualidade do ensino público.

Prof. Jairo Cesa                   



[1] https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/4093523878106174801

Nenhum comentário:

Postar um comentário