segunda-feira, 23 de setembro de 2019


A EEB DE ARARANGUÁ É UM EXEMPLO DE ESCOLA PÚBLICA QUE COMPROVA QUE A PESQUISA CIENTÍFICA PODE TRANSFORMAR PESSOAS E O MUNDO

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Historicamente as experiências de projetos científicos desenvolvidos em escolas públicas catarinenses e que permaneceram ativos depois de pleitos eleitorais, são ínfimas. A história nos revela que nos últimos trinta ou quarenta anos de educação brasileira, a duração dos projetos científicos teve o mesmo período de tempo dos partidos ou governos a frente de administrações, ou seja, quatro anos. São contadas nos dedos, as escolas que se superaram as descontinuidades de políticas educacionais nada relevantes às mudanças de paradigmas, pautadas em modelos autônomos, críticos, sem ou com o mínimo de apoio dos governos nas suas execuções. 

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A EEBA de Araranguá é um exemplo de instituição de ensino que pode servir de referência às demais escolas espalhadas pelo estado e o país.  Mais uma vez ratifico a afirmação que o mérito reconhecido a essa unidade de ensino em se tratando de projeto de pesquisa se deve a ousadia e insistência do corpo gestor, discente e docente, que desafiaram as adversidades e descontinuidades políticas para se consolidar como uma das pioneiras no campo da inovação pedagógica.  
O que ficou explícito quando desafiamos as amarras políticas pedagógicas nada producentes e transformadoras, que a pesquisa nas escolas não se materializou pelo fato de estar nela o antídoto da ruptura do modelo de escola que aprisiona a criatividade. O projeto sustentabilidade na EEBA cuja temática proposta foi investigar o consumo e os desperdícios de energia e água na instituição demonstrou que a pesquisa na escola é capaz sim de melhorar os níveis de aprendizagem como também elevar a autoestima de toda a comunidade escolar.

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A elaboração de um plano de trabalho bem consistente e a montagem de uma equipe responsável e participativa foi o primeiro estágio para o sucesso da empreitada iniciada em 2016. O registro por meio de relatório e imagens de todas as ações desenvolvidas durante a trajetória da pesquisa impediu que o grupo andasse em círculo, repetindo ações já executadas. Esse é, portanto, um dos grandes pecados cometidos pelas escolas, o não registro das atividades e o pouco hábito de realizar reuniões permanentes para avaliação e tomada de decisões. Três anos na coordenação do projeto sustentabilidade na EEBA possibilitou compreender que as escolas públicas catarinenses e brasileiras estão longe de se igualar a de países que conquistaram níveis de excelência em educação.
As escolas brasileiras ainda permanecem engessadas, atreladas as tarefas repetitivas e nada producentes socialmente. O PNE e a BNCC embora trazendo um discurso inovador e até mesmo transformador, ambos esbarram no modo como as escolas estão estruturadas, produção em séria de mão de obra barata para o mercado de trabalho. A escassez de recursos para a recuperação de escolas e aquisição de equipamentos pedagógicos me fez refletir sobre buscar soluções a tais demandas sem impactar financeiramente os cofres públicos.
Vendo que a temática ambiental permeava os debates e programas de ensino das escolas, surgiu a ideia de aproveitar a oportunidade e adentrar num campo quase despercebido aos olhos de todos nas escolas, porém, estratégico ao satisfatório funcionamento das mesmas. Refiro-me ao uso eficiente ou não da água e energia elétrica na instituição. Intrigava uma escola pública tradicional como a EEBA, cujos extratos das contas de luz e energia elétrica demonstravam que algo de errado vinha ocorrendo nesses seguimentos, que os valores pagos pelo estado aos órgãos fornecedores estavam acima da normalidade.

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Não havia dúvida que parcela significativa dos valores cobrados era decorrente de desperdícios, que bastava ter em mãos os extratos para comprovação. Diante disso, o projeto elencado na escola teve como objetivo investigar o consumo e desperdícios de tais demandas nos últimos cinco anos. Se na EEBA o problema dos desperdícios foi confirmado, era de prever que nas demais escolas da rede estadual havia também indícios de desperdícios.
Não foi necessário muito esforço para comprovar que as escolas estaduais da regional de Araranguá também sofriam com os desperdícios e que era necessário alertar as autoridades para contê-los. Embora o tema do projeto água e energia tenham possibilitado a abertura para outras frentes afins, o eixo central permaneceu. Parcerias com instituições importantes como a UFSC e CELESC deram um UP de credibilidade a tal iniciativa.

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Palestras, debates, feiras interdisciplinares e saídas de campo, passaram a fazer parte do cotidiano da escola, se traduzindo em regra e não mais em exceção como é corrente nas unidades de ensino. A insistência era para que o projeto adquirisse identidade própria, que pudesse se consolidar como eixo central da escola, que todas as demais áreas orbitassem no seu entorno como uma força de atração gravitacional. Enquanto não fosse consolidada tal temática no cotidiano da escola, havia a expectativa de repetição do ciclo vicioso de projetos não concluídos no passado.

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     Com a aposentadoria de uma das coordenadoras do projeto e com todas as dificuldades impostas por uma escola ainda imatura no campo da pesquisa, o ano letivo de 2019 passou a dar sinais de que as chances do projeto permanecer ativo eram mínimas. Há poucos dias para seguir o caminho de minha companheira, coordenadora do projeto, a aposentadoria, fui surpreendido com a alegre notícia de que duas colegas professoras estavam interessadas em desenvolver um tema ligado a sustentabilidade ambiental para a feira interdisciplinar programada para o mês de setembro de 2019.

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A notícia reavivou as esperanças da permanência do projeto, pois sabia que essa seria a oportunidade de fazer com que o projeto continuasse. Uma reunião foi realizada na biblioteca com a presença das duas professoras e três estudantes. Depois de uma breve explanação do projeto, o grupo decidiu abordar a temática água. A proposta elencada pautaria primeiro no levantamento do consumo per capta de água em seis escolas estaduais no município de Araranguá. Para ajudar a pesquisa, o grupo obteve os extratos das contas de água dessas escolas do órgão fornecedor do município, o SAMAE.
Embora a proposta motivadora da pesquisa fosse a feira interdisciplinar da EEBA, o grupo se inscreveu para apresentar os resultados do trabalho num importante evento internacional, o INFOMATRIX, que ocorreu no município de Araranguá, nas dependências da Escola Murialdo.  Os trabalhos apresentados de diferentes escolas do estado, Brasil e de outros países, tiveram caráter competitivo.

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Pela relevância e qualidade da pesquisa desenvolvida pelo grupo que representava a EEBA, os integrantes obtiveram a medalha de prata, sendo a proposta indicada para outro evento similar previsto para outubro, em Novo Hamburgo, a 34ª MOSTRATEC (Mostra Brasileira e Internacional de Ciência e Tecnologia). Nesse evento estarão expostos mais de 750 trabalhos classificados, representando vinte países, dentre eles o projeto da EEBA, Diagnóstico do Consumo de Água das Escolas Estaduais do Município de Araranguá, SC.

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Antes de participar da MOSTRATEC em outubro, o projeto foi apresentado na feira interdisciplinar da escola EEBA para estudantes e toda a comunidade escolar. Em contato com uma das professoras coordenadoras da pesquisa, a mesma revelou que Santa Catarina é um dos estados da federação que menos investe em pesquisa científica nas escolas. A comprovação disso pode ser comprovada com o ínfimo número de unidades de ensino do estado inscritas para a MOSTRATEC em Novo Hamburgo, cinco escolas apenas.

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A presença da EEBA em um evento de tamanha importância como foi o INFOMATRIX e agora indicado ao MOSTRATEC, é um importante indicador de que a pesquisa transforma pessoas e o mundo. Não há dúvida que para os protagonistas do projeto suas vidas jamais serão as mesmas. Agora imaginemos essa experiência transformadora sendo multiplicada para centenas, milhares de estudantes no estado e no país? Embora o cenário político brasileiro atual não seja tão promissor nesse sentido, o que temos a fazer é unificar as forças para resistir aos violentos ataques desferidos pelo governo federal às escolas públicas.  
Prof. Jairo Cezar























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