terça-feira, 6 de agosto de 2019


O QUE ESPERA O NOVO ENSINO MÉDIO: EDUCAÇÃO FLEXÍVEL – MERCADO DE TRABALHO FLEXÍVEL

Portal do Novo Ensino Médio já está disponível para acesso
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Nas ultimas duas décadas as relações entre mercado e trabalho passou por profundas transformações. Como acontece nos modelos produtivos capitalistas, os sistemas e procedimentos educacionais tendem acompanhar essas mudanças ajustando concomitantemente currículos e programas de ensino. A divisão geográfica do planeta entre países desenvolvidos e não desenvolvidos resultou na subordinação histórica desse segundo grupo às regras pré-estabelecidas pelos controladores do capital circulante no planeta.
Se os recursos que financiam as economias das nações mais vulneráveis as crises são provenientes das poderosas instituições financeiras controladas pelas sete grandes potências econômicas, na sua maioria, européias, eram evidentes que criariam condicionantes para que nações não desenvolvidas como o Brasil tivessem acesso a tal recurso. Os fundos públicos e privados provenientes do Banco Mundial, por exemplo, se transformaram em agentes dinamizadores das economias dependentes, sempre com o cuidado de mantê-las subordinadas as regras nada flexíveis dessas corporações.
Na década de 1970 com o incremento de novas tecnologias no seguimento produtivo, a força de trabalho exigida recomendava conhecimento ou treinamento especializado básico. O capital cada vez mais se globalizava com a entrada de multinacionais nas periferias do planeta, onde aproveitavam a vasta demanda de matéria prima e força de trabalho disponível e barata. O que mais contribuiu para o acumulo de capital dessas poderosas corporações foram os ciclo das ditaduras como na América do sul, cujo capital conseguiu cooptar governos e as elites, convertendo-os em fantoches ou vassalos.
As políticas criadas pelos governos vassalos, a exemplo da educação, seguiram o portfólio dos agentes financistas, formação e treinamento permanente da nova força de trabalho, bem como a obediência aos preceitos do Estado autoritário. A educação sob o formato tecnicista, liberal, dominou os currículos das escolas públicas por mais de vinte anos. Entretanto em termos de resultados práticos, onde pudesse alavancar a economia como propunham seus signatários, os militares, ficou outra vez restrito ao discurso. 
Com o fim oficial do regime militar, o país respirava os ares da redemocratização política. A revolução tecnológica digital dominava o cenário mundial e empresas reduziam vertiginosamente o fluxo de trabalhadores necessários à produção. Força de trabalho robotizada, especializada, que executa tarefas repetidas por longas jornadas perdem o grau de importância. Mais uma vez os donos do capital redimensionam suas políticas de preparação do novo contingente de trabalho ajustados às ferramentas digitalizadas.
Outra vez ascendem no cenário cada vez mais globalizado os bancos, que além de deterem o capital, são eles os mediadores das negociações junto aos governos das nações fragilizadas e dependentes. Manipular eleições elegendo governos alinhados aos programas de ajustes estruturais se tornou quase que uma regra nessas novas democracias tardias. Os bancos passaram a impor às nações em desenvolvimento, como metas aos ajustes fiscais, as vendas de estatais rentáveis e flexibilização das relações trabalho capital.
 A reforma educacional de 1996 teve papel preponderante no alinhamento do Brasil à nova ordem global do capitalismo. Inúmeros programas governamentais para a superação dos frágeis indicadores educacionais foram executados nas décadas de 90 e 2000 onde surtiram pouco ou nenhum efeito significativo à superação do abismo no qual estava submetida à educação. .
A resposta do fracasso dos programas reformistas estava no baixo investimento do Estado em educação pública, especialmente no nível básico. Não adiante planos mirabolantes se não há dinheiro para sua execução.  Os resultados dos exames nacionais e internacionais entre estudantes brasileiros participantes revelaram um enorme abismo separando o Brasil dos demais países da OCDE cujos investimentos na educação são abissalmente superiores ao nosso.
Diante desse cenário desolador, os governos alinhados ao capital especulativo são tencionados a rever seus programas educacionais, cujo foco agora é o currículo com ênfase mais uma vez no ensino médio. Novamente, insiste-se em querer justificar o fracasso da educação pública ao ensino de nível médio tende. O pretendem os neoconservadores educacionais é propor uma reforma retomando os princípios que norteou a reforma do ensino médio da época dos militares, a famigerada lei 5671/70.
Se a idéia é tornar a educação pública um instrumento capaz de oportunizar os filhos dos trabalhadores acesso ao conhecimento de modo mais imediato e simplificado possível e que oportunize galgar ao mundo do trabalho, noções básicas de matemática e língua portuguesa já seriam suficientes para poder apartar parafuso usando ferramentas mais sofisticadas.
Esse é o modo como ainda pensam parte de uma elite retrógrada que há séculos preserva seus privilégios sonegando direito elementares, como a educação de qualidade à vasta parcela da população brasileira. No instante que se aprova leis que exclui do currículo áreas importantes do conhecimento como sociologia e filosofia, é claro que por trás dessa ação escandalosa tem às mãos habilidosas dessa mesma elite que está representada nas várias instâncias dos três poderes, executivo, legislativo e judiciário. 
O que é mais escandaloso ainda é saber que tanto a BNCC como a lei do ensino médio, Lei. 13.415/2017, mesmo tendo consciência que ambas em vários dispositivos sonegam o direito a uma educação plena a milhões de brasileiros, o cenário futurista da educação no Brasil ficou ainda pior com a eleição do atual presidente. A primeira demonstração dessa insensatez gritante com as letras ocorreu quando da indicação para o ministério da educação de uma pessoa completamente desprepara. Quem acreditava que o governo iria corrigir o erro cometido indicando à vaga aberta uma pessoa no mínimo mais sensata, de decepcionou.  
Além de desqualificado ao posto, o escolhido ao cardo de ministro da educação mostras-e habilidoso em criar polêmicas e confusões bizarras com seus opositores. Como primeira medida, adotou pesadas medidas contras as universidades e institutos federais com o corte de investimentos já precarizados para o setor. Mais uma vez o governo Bolsonaro e seu assecla da educação se mostram decididos em retroceder o ensino e a pesquisa brasileiros aos níveis medievais. O que é absurdo é saber que está em vigor no Brasil desde 2014 o PNE, com vinte metas para ser cumpridas até 2024 na educação. Até agora uma ou duas dessas metas foram executadas. As demais metas, os prazos já expiraram faz tempo.
A idéia do PNE quando foi pensado por educadores e aprovada no congresso, era revitalizar a educação brasileira disponibilizando cerca de 10% do PIB para o seu financiamento. Até foi decidido o repasse de 10% dos royalties do pré sal para a educação.    Faltando menos de cinco anos para findar o prazo da execução do PNE, não chega a 4% os investimentos públicos na educação brasileira. A tendência é o encolhimento ainda maior dos recursos para o setor, com as notícias de novos cortes conforme recomendação dos bancos financiadores.
Todo esse desmonte tem o apoio irrestrito dos governadores, organizações ou institutos educacionais que gravitam na onda do capital. O seguimento empresarial representado pelas federações da indústria e comércio nos estados também comungam a favor desse desmonte. Em santa Catarina, a FIESC vem se notabilizando como protagonistas das reformas educacionais em curso. Muitas propostas contidas no PNE e PME têm o aporte intelectual e instrumental dessa federação e de outros correlatos que também gravitam na orbita do capital.
Nos últimos encontros com professores e gestores o governo do estado e seu secretário estão prometendo seguir uma trajetória um tanto quanto diferente dos governos passados em matéria de gestão educacional. Admitem que as estruturas das escolas públicas catarinenses exijam reparos imediatos. Diante de tais pronunciamentos o sentimento que tentam deixar é de que o governo catarinense seguirá uma política não alinhada ao executivo federal, que está revelando seu total descompromisso com a educação pública.
Na página digital da SED muitas das notícias ou reportagens postadas dão ênfase à preocupação do governo em mudar o conceito negativo que a sociedade tem com o ensino público. Para isso está disponibilizando um aporte financeiro de 1,2 bilhão de reais para infraestrutura, entre outras medidas, conforme descrito no seu programa batizado de Educação Inovadora.
Não há duvida que tais medidas têm um motivo claro que é adequar as estruturas das escolas em consonância com as diretrizes da BNCC e do novo ensino médio. Se há mostras de preocupação com o aspecto infraestrutural das escolas, isso se deve ao modelo de gestão que demonstra priorizar o Novo Ensino Médio, que se transformará na espinha dorsal do seu governo. Nas inúmeras conferências e reportagens exibidas nos últimos anos sobre educação na rede estadual de ensino, há fortes indícios de que o ensino médio perderá sua condição de monopólio do Estado. A presença assídua nos congressos e conferências na área de representantes da FIESC, do instituto Todos pela Educação, entre outros, é uma confirmação de que esses seguimentos estão alinhados ao capital estão sim coordenando as mudanças
A lei que estabeleceu mudanças no ensino médio abriu um leque de oportunidade de negócios rentáveis ao capital. A escola do futuro tenderá a preparar a nova força de trabalho, que deverá ser “qualificada”, flexível e intermitente. Essas serão as metas pretendidas para a educação nos próximos anos. Assegurar possibilidades aos estudantes para desenvolverem certas habilidades cognitivas no uso de ferramentas sofisticadas terão prioridade os matriculados nos centros maiores, onde deverão ser criadas as chamadas escolas de excelência.
Já que agora o processo de ensino será distribuído em quatro áreas de conhecimento: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas/Sociais e Formação Técnica/Profissional, nem todos os municípios terão possibilidades de oferecer os respectivos módulos à demanda de estudantes.  São cerca de quinhentos mil estudantes matriculados nas escolas públicas estaduais de Santa Catarina, na sua maioria com renda mensal igual o inferior a dois salários mínimos. Desse montante, parcela significativa está ou irá estudar no ensino médio.
A busca imediata de um trabalho remunerado os forçará a optar por matricular-se na modalidade Técnico/Profissional. Muito dos cursos oferecidos, o Estado poderá formalizar parcerias com o segmento privado, a exemplo do Sistema cinco “S” no programa de Inclusão Profissional.    Isso, porém, tende a se expandir cada vez mais nos próximos anos, esvaziando ou fechando escolas por todo o estado.
No total de 1,2 bilhão disponibilizado para a estruturação das escolas estaduais, 2,6 milhões serão destinados ao programa de inclusão profissional, uma parceria entre FIESC, SESI e SENAI. O processo de transferência das escolas do ensino médio às futuras Organizações Sociais se dará sob a forma de parcerias, podendo ambas ocupar os espaços ociosos de futuras unidades de ensino equipadas com dinheiro público.
No programa Minha Nova Escola do governo do estado, outros 99 milhões de reais estarão sendo disponibilizados para qualificação profissional permanente. Segundo informações vindas do governo a proposta é preparar melhor os profissionais para saber utilizar as novas tecnologias hoje disponíveis. O próprio governo acredita que professores bem preparado traz melhores resultados no processo de aprendizado dos estudantes.  “Não adianta uma escola bem equipada se o profissional não estiver preparado para usar a tecnologia da melhor maneira possível”.[1]
Na leitura de uma reportagem relatando sobre o programa Minha Nova Escola do governo do estado de Santa Catarina, com promessa de investimento na ordem de 1,2 bilhão de reais nas escolas estaduais, causa estranheza tais promessas num período de profunda crise econômica, onde o governo federal vem cortando limitando a liberação de recursos para os setor.   Quem conhece a realidade das escolas públicas estaduais e ouviu os discursos ufanistas dos governos que passaram fica sempre com um pé atrás quando se depara com essas promessas.
É possível até que algumas dessas medidas estruturantes sejam executadas, pois beneficiará sem dúvida o grande capital, que terá ganho estratosférico na comercialização desses equipamentos às escolas. Em outros momentos no passado, milhões de reais advindos dos cofres públicos também foram direcionados na aquisição de laboratórios móveis (PROLABOR), salas informatizadas, tablets, etc. Entretanto, o maior pecado cometido pelos antigos gestores públicos foi a não alocação de recursos para a manutenção de toda essa estrutura, que com o tempo ficou indisponível e sem uso.
Se visitarmos as escolas estaduais poderemos constatar que em algum canto da unidade encontraremos sucatas desses equipamentos. Se há dinheiro para a aquisição de tais ferramentas, não haverá certamente para o reparo das mesmas. Será que os erros do passado irão se repetir? Em nenhum momento se leu ou se ouviu de integrantes do governo do Estado relatos sobre disponibilidade de recursos para a manutenção desses equipamentos.
Quando havia nas escolas os laboratórios de informática, os técnicos ou monitores faziam os reparos necessários, alocando peças dos equipamentos com defeitos para outros.  O dinheiro que as escolas recebiam ou ainda recebem ainda hoje pouco supre as demandas básicas das instituições. Já é regra nas escolas distribuídas pelo estado os gestores junto com a APP e Conselho Deliberativo desenvolverem ações como rifas e promoções festivas para o pagamento de reparos e material de expediente. A reflexão que se faz no momento é o seguinte, o governo catarinense conseguirá executar o ousado programa Minha Nova Escola, quando se sabe que no comando do executivo federal está alguém que caminha na contramão de tudo que se construiu e progrediu em educação.  
Prof. Jairo Cezar  


Um comentário:

  1. Texto relevante para entender a triste trajetória do ensino médio público e o atual cenário de intensificação dos desmontes no setor.

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