segunda-feira, 5 de novembro de 2018


ONG INTERNACIONAL, WWF,[1] LANÇOU RELATÓRIO PREOCUPANTE SOBRE OS ECOSSISTEMAS MUNDIAIS E BRASILEIRO

Cor verde no mapa (áreas com florestas) - Cor rosa (projeção de desmatamento até 2030) 

Depois de tantas notícias aterrorizantes acerca do candidato a presidente Jair Bolsonaro sobre o seu funesto plano de governo para o meio ambiente, um dia depois da confirmação nas urnas que sua vitória, o WWF, apresentou seu relatório bianual (Planeta Vivo) sobre a terra, cujo resultado deixaria de cabelo em pé qualquer estadista com o mínimo de sensibilização ambiental.  O relatório aponta os estragos provocados pelo homem ao planeta nas últimas décadas. Entretanto, as áreas mais afetadas são aquelas onde estão concentrada parcela significativa da biodiversidade, os biomas tropicais.[2]
Para reparação das perdas provocadas, a natureza precisaria sozinha de seis milhões de anos. Outra vez o relatório chama a atenção do Brasil. Os biomas Amazônia e Cerrado, juntos acumulam maior reserva da biodiversidade do planeta, que estão seriamente ameaçadas. Somente o Cerrado ou savana brasileira perdeu nos últimos sete anos 83 milhões de km2 de floresta, superando a Amazônia com 50 milhões km quadrados. O agronegócio e a pecuária são ambos os principais vetores desse declínio ambiental. A supressão da floresta para dar lugar as pastagens e a cultura da soja, por exemplo, está avançando nos estados da Bahia, Tocantins, Maranhão, Piauí, que juntos foram responsáveis por 62% do desmatamento do bioma do Serrado.
 Não é de hoje que essas ações criminosas de ecossistemas vulneráveis como o cerrado e a Amazônia estão produzindo reações adversas no clima planetário. Um dos efeitos do desmatamento é a desertificação que está afetando o fluxo de chuvas em todas as regiões brasileiras. No cerrado estão as nascentes de rios formadores de bacias hidrográficas estratégicas para a geração de energia elétrica. A crise hídrica que está trazendo problemas de abastecimento para regiões densamente povoadas como o sudeste tem relação com o desmatamento da Amazônia, que reduz a circulação de umidade o sudeste e sul do país. 
O fluxo cada vez menor de água nas hidrelétricas está refletindo na conta de energia de todos os brasileiros, forçando-os a desembolsarem dinheiro extra para compensar o custo mais elevado das termoelétricas.  Não obstante aos problemas hídricos, como estiagens prolongadas, a única garantia para proteção do que ainda resta da frágil biodiversidade de biomas como a Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal, são as unidades de conservação.
De acordo com convenções para a proteção da biodiversidade, cada país deverá estar, no mínimo, com 17% dos ecossistemas em áreas protegidas. O cerrado brasileiro está muito distante do que estabelece as convenções, tem somente 8% do seu território protegido. Já o pantanal, um dos mais ricos e frágeis ecossistemas do mundo, tem somente 2% de área protegida.
Quando toda a atenção dos brasileiros estava ainda focada nos riscos do agravamento dos desmatamentos dos principais biomas no instante que o futuro presidente assumir o poder em primeiro de janeiro de 2019, o atual presidente, sorrateiramente, mantinha-se atuante com sua agenda de retrocesso ambiental. Dia primeiro de novembro alguns jornais bem como a WWF noticiaram de que o presidente Temer havia colocado à venda cerca de 900 blocos para exploração de petróleo e gás no Brasil, que desse montante, 100 estariam situados na floresta amazônica.
É de certo modo uma notícia mais que preocupante, é aterrorizante, pelo fato das companhias petrolíferas que não terão grandes dificuldades para a execução de seus projetos à medida que o futuro governo concretize promessas de campanha como o fim aos licenciamentos ambientais. Um dos agravantes da iniciativa do atual presidente é que muitos dos blocos para extração de petróleo e gás ficam no entorno de terras indígenas e de unidades de conservação.[3]
As profecias de que os próximos quatro anos deverão ser muitos difíceis para a área ambiental, por exemplo, vão se concretizando quando saiu boato que o ministério do meio ambiente e agricultura serão fundidos. Se é verdade ou mais um fake news, o fato é que o futuro governo não medirá esforços para esfacelar toda uma estrutura construída no Ministério do Meio Ambiente, como o IBAMA e o ICMbio. Também não ficarão de fora da ofensiva ultradireitista de presidente eleito os movimentos e organizações ambientais, muitos dos quais prestando excelentes serviços de enfrentamento às investidas do capital em biomas frágeis como o da mata atlântica.
Não causará estranheza se o presidente eleito decidir fazer que fez seu fiel escudeiro Donald Trump, a saída do acordo de Paris. Todos os sinais estão apontando para essa direção. As propostas de campanha do candidato eleito sobre o meio ambiente são totalmente incompatíveis com o que foi convencionado em 2015 em Paris. O Brasil se propôs em reduzir o desmatamento a níveis zero até 2050. Na hipótese do Brasil abandonar o acordo, não há dúvida que o colapso climático global tenderá a se concretizar muito antes do tempo previsto pelos cientistas.
O que ficou patente nas dezenas, quem sabe centenas de respostas dadas pelo candidato agora eleito Bolsonaro, é seu total desconhecimento de assuntos elementares sobre meio ambiente, terras indígenas, etc. O que ele de melhor soube fazer durante a campanha foi espalhar medo e terror, ameaçando criminalizar ativistas que lutam em defesa da reforma agrária, demarcação de terras indígenas e criação e proteção de unidades de conservação.
Nos últimos governos que tivemos, o seguimento ambiental foi o que sofreu um dos maiores revês devido à brutal investida do agronegócio sobre terras ocupadas por florestas. E olha que a perversidade não foi maior devido a independência desse ministério e o papel importante assumido por técnicos e fiscais do IBAMA e ICMbio, fiscalizando, multando e prendendo criminosos ambientais. Se não puderam fazer o melhor, foi decorrente ao baixo plantel de profissionais e a fragilidade infraestrutural.
Imaginemos agora o ministério do meio ambiente fundido ao da agricultura, quem sabe, para produzir mais devastação e terror no campo, entregue a algum membro da UDR (União Democrática Ruralista). É a faca e o queijo na mão. Um representante do alto escalão do exército, que é cotado para assumir um importante ministério, respondeu com orgulho de que quando o país foi governado pelos militares “não havia IBAMA e nem MP para encher o saco”.[4]
Outras falas do presidente eleito em palestras e comícios deram o tom de um possível mandato de fortes ataques a tudo que foi conquistado por minorias sociais como indígenas, quilombolas, que estão assegurados pela constituição e convenções internacionais como a OIT. Sobre a demarcação de terras indígenas, um direito garantido pela constituição, o presidente eleito respondeu que “índio não terá nem um centímetro a mais para terras indígenas”. Não restará outra saída que não seja a organização da resistência. Não há dúvida que mais cedo do que se imagina, a resistência terá um aporte significativo dos próprios eleitores de Bolsonaro, que tomarão consciência do absurdo que fizeram votando em uma pessoa cujo projeto de governo é ferrar os trabalhadores.  
Prof. Jairo Cezar  
        
  




[1] https://c402277.ssl.cf1.rackcdn.com/publications/1187/files/original/LPR2018_Full_Report_Spreads.pdf?1540487589
[2] https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46026334  

[3] https://www.greenpeace.org/brasil/blog/amazonia-a-venda-em-nome-do-petroleo-e-gas/                         

[4] https://www.cartacapital.com.br/politica/bolsonaro-insufla-carnificina-no-campo-e-holocausto-ecologico

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