A COP 20 (Conferência das Partes sobre o
Clima no Planeta), em Lima, Peru, e a realidade brasileira frente aos acordos firmados até o
momento.
Passados
24 anos da realização da Conferência Sobre o Clima no Rio de Janeiro, a Rio-92,
e 18 anos depois da Terceira Conferência das Partes (COP-3), no Japão, que
resultou na assinatura do Protocolo de Kyoto, entre outros tantos encontros
para tratar sobre o tema aquecimento global, poucos foram os avanços
significativos alcançados, cujos efeitos já são observados principalmente no
Brasil, com o aumento expressivo de eventos climáticos extremos como as
estiagens prolongadas, enchentes, vendavais, etc. De 1880 até hoje a
temperatura média do planeta aumentou 085° Celsius, sendo que a concentração de
gás na atmosfera está sendo uma das maiores em 800 mil anos.
As COPs
(Conferências das Partes) se notabilizaram como parte dos acordos estabelecidos
na Rio-92 onde, anualmente, os países membros se reúnem para avaliar, discutir
e lançar propostas com objetivo de fazer valer acordos firmados em defesa do
clima da terra. De lá para cá já ocorreram 20 conferências, cada uma delas com
duração aproximada de duas semanas, custeada pela ONU e com uma sucessão de
proposições acordadas, porém, o que se constata são frequentes reportagens
mostrando o aumento gradativo das emissões de gases na atmosfera ano após ano.
Depois de quase 20 anos da promulgação do acordo de Kyoto, os países membros
discutem agora a proposta de assinatura de um novo protocolo de intenções, cuja
previsão para sua criação está prevista para 2020. Até lá todos os países
integrantes deverão cumprir algumas metas estabelecidas das quais serão
discutidas na capital francesa, Paris, em 2015. No entanto, os preparativos da
COP-21 já iniciaram em Lima, Peru, em dezembro de 2014, quando 196 países
estiveram reunidos para tratar dos compromissos que cada um e de grupos levarão
para Paris. Antes do encontro principal em novembro, duas rodadas de reuniões
serão realizadas, uma em fevereiro, em Genebra, Suíça, outra em junho, em Bonn,
Alemanha.
Diante
de todos os preparativos e encontros previstos, a COP-20 já deu uma
demonstração que as dificuldades serão estratosféricas para se chegar a um
acordo razoável entre as partes visando reduzir para ZERO, até 2100, a emissão
de gases responsáveis pelo efeito estufa. No Peru uma das propostas apresentadas
e vista com antipatia pelos países desenvolvidos foi em relação às metas mais
ambiciosas recaídas para ambos, na tentativa de limitar a emissão de poluentes.
O que causou repúdio entre ambos foi pelo fato de interpretarem a medida como
uma espécie de punição pelo histórico processo de nações poluidoras. Não
concordavam com tais medidas, pois admitiam que ambas penalizariam suas
economias, beneficiando países do segundo grupo, China, Índia, etc., que são
extremamente poluidores. Por fim o documento apresentado no último dia do
encontro deixou uma sensação de derrota no ar pelo fato de que nada de concreto
foi assumido, muito menos mencionando ações, índices de redução, referências,
que cada integrante deverá se comprometer para reduzir a emissão de gases
poluidores até 2020.
Dentre
as medidas elencadas foram estabelecidos planos de redução do desmatamento das
florestas tropicais; transferência de tecnologias para o países mais pobres,
está última foi a proposta acordada na Rio 92. Quanto ao item que trata sobre
transferência de tecnologias, uma forma de oportunizar as nações menos
desenvolvidas na adoção de estratégias produtivas sustentáveis, o respectivo
item foi criticado pela China argumentando que tal medida poderia colocar em
risco sua segurança nacional. Tantos os países ricos como os em
desenvolvimento, ambos não tiveram boa receptividade acerca do relatório ratificado,
pelo fato do custo financeiro elevado para sua execução, ou seja, os
investimentos em tecnologia limpa e outras ações estão estipulados em 100
bilhões de dólares ano até 2050. Há fortes indícios também que a partir de 2020,
não havendo cumprimento das metas, as mudanças climáticas afetarão as economias
dos países vulneráveis forçando-os a adaptarem seus orçamentos anuais levando
em consideração os desastres ambientais
O
Brasil na 20ª Conferência de Lima apresentou proposta intitulada “Diferenciação
Concêntrica” na qual divide as responsabilidades sobre as ações em favor do
clima em três categorias. Na configuração da proposta, no círculo central da
esfera ficariam os países mais ricos, com a obrigação de promoverem cortes mais
ousados em todos os setores da economia; o segundo nível, os emergentes,
Brasil, China, África do Sul, Índia, etc., que seriam oferecidos mais opções não
restringido em demasia os investimentos que comprometa o crescimento da sua
economia; o último círculo está os países vulneráveis que estão livres de
empreenderem grandes investimos para esse fim. O embaixador brasileiro em Lima,
José Antônio Marcondes, que representou o governo brasileiro na Conferência, afirmou
que os resultados do encontro não produziram nenhuma certeza concreta quanto a
sua aplicabilidade. Dentre os cinco gargalos citados que certamente servirão de
barreiras no cumprimento das metas destacou a falta de ambição dos países mais
poluidores em frear o aumento da temperatura e a não clareza quanto às
metodologias que serão adotadas para conter as emissões de gás até 2020.
Embora
o representante brasileiro tenha feito incisivas críticas às propostas da
conferência é importante evidenciar que o governo Brasileiro também vem
deixando a desejar quanto aos compromissos que assumiu referente à redução do
desmatamento especialmente na Amazônia. Os últimos levantamentos apresentados
dão prova que entre agosto de 2013 a julho de 2014 o desmatamento na região foi
de 4.848 quilômetros quadrados, equivalente a 690 campos de futebol. Tal
realidade não confere com o discurso apresentado pela Ministra do Meio Ambiente
Izabella Teixeira, na COP 18, em Doha, Catar, quando disse que Estava
orgulhosa dos esforços pela redução do desmatamento na Amazônia. Que estava
sendo cumprido tudo o que foi comprometido, de acordo com a convenção. (WWW.mma.gov.br/informma)
As
estatísticas acerca dos desmatamentos destacam os estados do Para, Mato Grosso
e Rondônia, como os que mais perderam cobertura vegetal. São regiões que estão
inseridas em grandes projetos desenvolvimentistas como obras de barragens e o
agronegócio que se expande em áreas ocupadas pela floresta amazônica. Somente no
estado do Para e Rondônia estão em andamento duas das principais obras de
geração de energia elétrica, a Hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira, e a de
Jirau, na capital de Rondônia, Porto Velho.
Tais
projetos estão produzindo transformações significativas no cenário geográfico e
social dessa região. Além dos desmatamentos para dar lugar às obras, milhares
de pessoas estão migrando para aquela região, especialmente trabalhares
operários contratados para a execução das obras de barragens. Junto com os
operários, é claro, seguem as famílias, se instalando nas periferias das
cidades, com pouca ou nenhuma infraestrutura para acomodá-las. Os resultados
são a escassez de saneamento básico, a intensificação da violência, a
especulação de terras, grilagem, conflitos fundiários e outros males advindos.
O resultado, somado a essas adversidades, é o conseqüente aumento do
desmatamento. Somente a cidade de Altamira, no Pará, onde está o canteiro da
Belo Monte, no censo populacional de 2010, a população pesquisada foi de 77 mil
habitantes. Atualmente, o número chega a 120 mil habitantes. Com um aumento
vertiginoso de 43 mil pessoas em quatro anos, não há como o município ou
qualquer outro município brasileiro oferecer serviços públicos de qualidade
para toda essa gente, agravando principalmente as condições de vida da
população local, já penalizadas pela falta serviços públicos essenciais. O que
dizer de Porto Velho, que em quatro anos, sua população pulou de 428 para 494,
são 66 mil pessoas a mais. http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Altamira-e-Porto-Velho-sao-campeas-de-desmatamento/
Nem
as áreas consideradas Unidades de conservação estão isentas das investidas
dessa nova leva de invasores da região amazônica. O pior é que não há
fiscalização suficiente para conter os desmatamentos. O que se salva nessa
investida insana dos depredadores são as terras indígenas que vem se configurando
como aliadas da preservação. De acordo com informações do Greenpeace foram
constatadas apenas 1,5 % de desmatamento, ou seja, 69 quilômetros quadrados.
Com base nesses números deixa claro por que a tamanha resistência do próprio
governo em demarcar o restante das terras reivindicadas por grupos indígenas, bem
como os motivos explícitos e implícitos de entregar o Ministério da Agricultura
a uma das principais lideranças do agronegócio, Kátia Abreu.
A
futura ministra da agricultura seu convite para exercer essa importante pasta
se deve talvez pelo simples motivo, como senadora e presidente da CNA
Confederação Nacional da Agricultura, ter se configurado em instrumento de
articulação entre governo, setor do agronegócio e a bancada ruralista do
congresso na execução de ações favoreceram a categoria. O que dizer da
aprovação do Código Florestal Brasileiro, no item que ressalta a anistia aos
desmatadores. Atualmente, o setor do
agronegócio está constituído por 205 deputados e senadores, para próxima
legislação esse número deverá se elevar podendo chegar a 273 representantes.
Tudo indica que será uma gestão promissora para o setor que mais contribui para
o desmatamento e os conflitos sociais no campo. Só para elucidar o “excelente”
desempenho de Kátia Abreu, quando senadora, em 2009, foi relatora da medida
provisória 458 que tratava da regularização das terras ocupadas na Amazônia, ou
seja, terras públicas invadidas por grileiros e outras tantas formas irregulares
conhecidas. A ação tramitou na justiça no qual a medida provisória foi julgada
improcedente pelo Supremo Tribunal Federal.
Fazendo
uma reflexão acerca da proposta brasileira lançada na COP-20 para conter a
emissão de gases poluentes na atmosfera, concorda-se que são proposições
ousadas, porém, paradoxais diante do modo como a atual presidente vem tratando
o tema meio ambiente no seu governo. São políticas totalmente descompassadas
que não garantem a segurança das florestas, muito pelo contrário, abre um amplo
precedente para novos desmatamentos sem que os antigos e novos criminosos sejam
punidos. Esse argumento um tanto quanto pessimista está fundamento no novo
Código Florestal aprovado em 2012 que anistia todos aqueles que cometeram
crimes ambientais antes de 2008. Quem duvida que daqui a 10 ou 15 anos um novo
código florestal possa ser aprovado anistiando todos os infratores de 2008 em
diante. Tudo pode quando se tem uma bancada ruralista com quase trezentos
parlamentares e amparados por uma Ministra formada na sua base.
Outro
aspecto negativo que deve ser considerado nos quatro anos de gestão Dilma
Roussef foi quanto à criação de novas unidades de conservação. Enquanto na era Fernando
Henrique Cardoso foram formalizados oito milhões de hectares, e na era Lula 20
milhões, a presidente criou apenas 0,7 milhões. Muito pouco para um governo que
prometeu pautar seu programa político em defesa de projetos centrados na
sustentabilidade, do reconhecimento e demarcação das terras das comunidades
tradicionais, especialmente as indígenas. A resposta talvez pelas
insignificantes áreas que viraram Unidades de Conservação não estaria no modo como
foi constituído o executivo e o congresso nacional, articulando alianças com
seguimentos políticos financiados pelo agronegócio e setor madeireiro? A
destruição da floresta amazônica continua em ritmo acelerado. Ela se dá de
forma silenciosa e agressiva. A própria imprensa pouco espaço oferece nos seus
telejornais para tratar desse assunto. São raras as notícias de madeireiros
autuados por cortes ilegais de madeira. Uma máfia se forma nesse seguimento
cujo propósito é forjar documentos, licenciamentos ambientais visando legalizar
uma prática irregular.
Nos
últimos meses toda a imprensa brasileira dedicou enormes espaços de noticiários
escritos e telejornais acerca da estiagem que atinge a região sudeste com
destaque na capital paulista cujos mananciais que abastecem estavam secando. Falaram-se
muito sobre obras mitigatórias, planos de racionamento, cobrança pelo uso da
água, porém, pouca ênfase se deu a um fator que, baseado de estudos
científicos, se acredita ser um dos principais responsáveis por tal fenômeno da
seca, o vertiginoso desmatamento na Amazônia. É tão verdade isso que quando os
telejornais apresentam os mapas com a previsão do tempo, especialmente quando prevê
chovas para o centro sul do país, destacam o corredor de umidade saindo da
Amazônia que resultam em chuvas. O jornalista Danilo Di Gorgi, em texto
publicado na revista eletrônica Correio da Cidadania, intitulado “São Pedro
Mora na Floresta” afirma que na Amazônia existem aproximadamente 900 bilhões de
árvores, que as de maior tamanho proporcionam a evapotranspiração, liberando
cada uma na atmosfera, por dia, cerca de mil litros de água. Todo esse volume
acumulado, 200 milhões de litros por segundos, que é a vazão do Rio Amazonas,
são transportados pelo ar. http://www.greenpeace.org. Esse
processo é conhecido como “rios voadores” cuja umidade é canalizada pela
cordilheira dos Andes indo em direção sul, levando chuva para toda essa região.
Portanto, pensar na preservação da Amazônia
não parte apenas do papel que desempenha no seqüestro de carbono da atmosfera,
mas também na sua importância estratégica na dispersão da umidade por todo
planeta, fator preponderante no equilíbrio do clima.
Recentemente,
em reunião envolvendo os integrantes da ONU, o governo brasileiro se recusou a
assinar a declaração de Nova York que determinava o fim do desmatamento em
escala mundial. Por que dessa posição? Poderia talvez, com a homologação da
declaração, comprometer seu programa de governo que tem por meta a expansão da
agricultura comercial? Até que ponto são verdadeiras as declarações de
representantes do governo, da ministra do meio ambiente entre outros, que
participam de importantes encontros como as COPs prometendo adotar políticas de
redução da emissão de gases poluentes? É preciso pensar em tudo isso. Este é um
item importante a ser questionado. E o setor de produção de energia, qual sua
contribuição nesse processo? De acordo com seu programa de estímulo a produção
de energia no Brasil, 70% do plano previsto deverá atender os combustíveis
oriundos de matrizes não renováveis, ou seja, fósseis. Para o setor renovável,
eólica, fotovoltaica, biodiesel, etc. os investimentos previstos são de apenas
9,2%. Para não deixar nenhuma margem de dúvidas quanto aos números citados, é
só observar o número de barragens para grandes hidrelétricas previstas, que
inundam milhões de hectares de terras e florestas, que com a sua decomposição
emitirão ainda mais gases poluentes.
Por
um triz, no apagar das luzes do Congresso Nacional, 2014 poderia ser lembrado
na história como o ano em que um grupo de parlamentares do agronegócio obteve a
aprovação de uma PEC controversa que, ai sim, colocaria o Brasil numa posição
ridícula frente às demais nações que defendem a redução dos gases do efeito
estufa. Estamos no referindo a Projeto de Emenda Constitucional 215 que retira
do executivo e transferem para o legislativo a prerrogativa de formalizar
terras indígenas, unidades de conservação e quilombolas. Deve-se ressaltar,
todavia, que os parlamentares articuladores do respectivo projeto de Emenda
Constitucional suas campanhas eleitorais foram financiadas por doações e
empresas ao agronegócio e a mineração. Vale destacar que a derrota do
seguimento pró PEC e seu arquivamento, é apenas momentâneo. Ninguém impede que
outro projeto possa ser elaborado e apresentado às comissões para apreciação e
aprovação. Caso isso se sustente, o modo como o futuro congresso poderá se
constituir, com o aumento expressivo de parlamentares ruralistas, em comparação
a atual legislatura, e com uma ministra do setor na pasta da agricultura, está
muito próximo do Brasil vir a ser lembrado pelas futuras gerações como um
território conhecido e respeitado no mundo por ter tido grandes florestas, que
desaparecem por ganância e negligência política.
Prof. Jairo Cezar
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