Justiça
Federal põe fim ao bloqueio para veículos na orla do Morro dos Conventos –
Entenda o que disse o Procurador do Município de Araranguá em entrevista
Dando
sequência a interminável problemática ambiental do Balneário Morro dos
Conventos que resultou em Março de 2014, Ação Civil Pública n.
5000483-58.2013.404.7204/SC, vetando a circulação de veículos na orla, entre
outras ações, e que tal Ação foi derrubada pela Justiça Federal de Criciúma, o
procurador do município de Araranguá participou de entrevista em uma rádio do
município para esclarecer a tramitação dos processos que resultaram na sentença
favorável ao município e negativa para o ambiente. Disse o procurador que o município após conhecimento
da decisão dos desembargadores da 4ª Regional do Tribunal de Porto Alegre, que
acatou o pedido do MPF para que houvesse o bloqueio imediato da orla,
encaminhou recurso ao STJ (Supremo Tribunal de Justiça, em Brasília, solicitando que desconsiderasse a liminar do
Tribunal de Porto Alegre.
Comentou
que durante esse trâmite ainda não tinha sido julgado o mérito na primeira
instância, ou seja, na Justiça Federal de Criciúma, que dependendo das provas
arroladas pela administração, poderia beneficiar o réu, nesse caso o próprio
município. Um dos argumentos elencados pela administração que fez com que o
juiz revertesse sua posição foi o fato de que o bloqueio da orla não resolveria
por si só o problema da degradação ambiental. Afirmou que o próprio juiz
federal de Criciúma desconsiderou a posição do MPF quando encaminhou as proposições
determinando que fosse vetada a entrada de veículos na orla, bem como a
exigência de colocação de placas, lixeiras, etc., que tais medidas não eram
suficientes, faltando mais provas, e que a decisão passou a ser encarado como trágica
para o município.
Como
afirmar que tais medidas não eram suficientes, que faltavam mais provas capazes
de convencer a justiça de que os problemas seriam solucionados. Deveria ter
dito o procurador que desde 2012 o MPF já vinha alertando o município das
irregularidades que estavam sendo cometidas no balneário. A primeira vistoria
feita pela procuradora Rafaela ocorreu nesse mesmo ano, ação que resultou em
denúncia a quarta regional de Porto Alegre. Em setembro de 2013, depois que a
polícia teve provas concretas do que estava ocorrendo na orla do balneário, foi
agendado encontro na sede do 19 batalhão da Polícia Militar de Araranguá onde
foram elencadas algumas ações como o cercamento da orla, colocação de placas,
atividades educativas, propostas que foram acordadas pela Fama, procuradoria do
município, entre outros. Nenhumas das decisões acordadas foram concretizadas. Diante
do aumento do vandalismo e das festas noturnas a beira mar nos finais de
semana, regadas a álcool e outras drogas, outra audiência ocorreu na sede do
MPF em Criciúma na expectativa de que fosse possível encontrar saídas para o
problema. O que ficou acordado no encontro era de que município iria tomar
algumas providências paliativas já na temporada, que não ocorreu. Como vinha se
repetindo abusos em toda orla e seu entorno, sem que fossem tomadas providências,
em março de 2014 os desembargadores da quarta regional de porto alegre decidiram
impetrar sentença condenatória contra o município de Araranguá obrigando-o o
fechamento imediato da orla para o trânsito de veículos. A ação não foi tomada
de imediato, pois faltava definir o valor da multa a ser cobrada ao município
na hipótese de descumprimento da decisão.
Aproveitou
o procurador para agradecer o apoio da Associação dos Moradores do Morro dos Conventos
que se empenhou encabeçando abaixo assinado que resultou em 600 assinaturas
contrárias ao fechamento, que o documento foi anexado junto com os laudos do
processo encaminhado ao juiz federal.
Que também teve o apoio de um deputado estadual que encaminhou moção de
apoio na plenária da Assembleia Legislativa em favor do município. Não parou
por ai os agradecimentos, citou a câmara de vereadores de Araranguá, que adotou
a mesma posição ALESC, também encaminhando moção de apoio. Destacou o trabalho
incansável do prefeito de Araranguá que sempre o cobrava acerca da tramitação
do processo. Nesse momento o entrevistador fez questionamento se a prefeitura realmente
cumpriu com que foi determinado pelo MPF, especialmente no que tange a
fiscalização na orla. A resposta foi de que no momento que saiu a liminar, a
prefeitura executou de imediato a decisão, com apoio da secretaria de obras,
turismo, fama, entre outros. Que os acessos à praia foram fechados com a
deposição de caminhões de areia, a instalação de um portão de madeira na
entrada norte da praia, que durou apenas uma noite, e placas informativas que
também foram arrancadas e recolocadas várias vezes.
Em
relação a destruição do portão e das placas, o fato é que com a sentença
impetrada pela justiça federal, a administração pública se utilizou da imprensa
escrita e falada do município para insulfrar a população contra as medidas
tomadas, ou seja, responsabilizando o MPF, taxando-o de autoritário,
intransigente. A própria Oscip Preserv’Ação, foi usada como bode expiatório, gerando
ameaças contra a vida dos membros da entidade, que o município sempre procurou
se isentar acerca das medidas que foram tomadas, se colocando sempre como
vítima. Um exemple de omissão entre tantas foi a recusa de cumprir recomendação
n. 18/2014, do MPF, despachada em cinco de maio de 2014, acerca do cercamento
provisório dos sítios de sambaquis, haja vista que a região na qual estão
situados é objeto constante de trilhas de motos e automóveis, que ilegalmente
atravessam as dunas da praia do Morro dos Conventos e ameaçam os sítios
arqueológicos. Em nenhum momento tanta a administração como o imprensa escrita
e falada se detiveram em fazer uma retrospectiva fiel e objetiva dos fatos,
cujo desfecho foi às medidas tomadas pela justiça. Além disso, o próprio abaixo assinado também
foi direcionado para tal fim, contribuiu para aguçar ainda mais a ira da
população, onde a própria Oscip Preserv’Ação foi envolvida no imbróglio como
bode expiatório da administração, incorrendo a mesma toda responsabilidade pela
instabilidade e tensão social que se abateu na região.
Enfatizou,
como de todas as vezes que foi entrevistado, que a decisão pelo fechamento não partiu
da prefeitura, e sim da Justiça Federal. No momento que saiu a decisão do
bloqueio à orla, o procurador esclareceu que de imediato entrou em contato com
o comandante da polícia militar solicitando cooperação. A resposta do
comandante foi de que o efetivo policial e viaturas eram reduzidos, que isso o
impediria de fazer uma fiscalização mais efetiva. Quanto à ocorrência relativa
a destruição das placas, relatou que encaminhou vários boletins de denúncia à
polícia, que tais documentos serviram como justificativa para a decisão do juiz
em prol do município. O procurador argüiu que assim como ocorreram várias
denúncias junto ao MPF de que estava havendo suposta degradação ambiental no
balneário, também houve denúncias de que o município estava descumprindo a
decisão. Disse o apresentador que embora tenha havido a derrubada da liminar
pela justiça federal, o MPF poderá entrar com recurso solicitando o
cancelamento da decisão da Justiça Federal alegando que continua ocorrendo infrações
ambientais, que não está havendo fiscalização, que o município não tomou as medidas
corretas para coibir tais irregularidades.
Outro
elemento que foi fundamental e influenciou na decisão do juiz em favor do
município foi a informação de que o município de Araranguá iniciou as
discussões do projeto orla que visa dialogar com a comunidade estratégias de
ocupação do balneário, e que a questão do trânsito de veículos na praia será decidida
em conjunto com os participantes. Quanto a baderna na orla, admitiu que a
população devesse sim ser o principal fiscal, ligando para a polícia militar. O
apresentador retrucou afirmando que a população não se exime de ligar, no
entanto, a resposta da polícia é de que não tem efetivo para prestar apoio. O
procurador, embaraçado com a resposta, respondeu que a polícia terá que se
explicar melhor ou disponibilizar viaturas. É inadmissível, disse, a polícia se
eximir de tal fiscalização. Basta estacionar uma viatura na saída da praia e
aplicar o teste de bafômetro, autuando veículos e prendendo os motoristas que
estiverem dirigindo alcoolizados
Quanto
a ação da procuradora do MPF solicitando o fechamento da praia, disse o
procurador que a mesma não entrou por entrar com a ação, que realmente havia
badernas e perturbações da ordem pública. O procurador prometeu que manterá
contato com as Secretárias de Obra e Turismo, Fama, para a confecção de placas,
que lá, na orla, já existem algumas placas educativas, fixadas pela Fama. O
apresentador continuou insistindo que a prefeitura não cumpriu com o que o MPF
determinou que não foram colocadas lixeiras, não houve nenhum tipo de educação
ambiental, que seriam argumentos importantes para convencer o ministério na
hipótese do mesmo derrubar a liminar da Justiça Federal.
Sobre
a cobrança de taxas e formulação de cadastro permitindo a entrada de veículos
de pescadores à praia, o procurador destacou que a ação foi necessária, porém
momentânea, que tal flexibilização se deu graças ao empenho da prefeitura que
conseguiu convencer a Procuradora Federal para que liberasse a entrada para pescadores
profissionais. O assunto Paiquerê também entrou na pauta. Destacou o procurador
que o processo está na sua fase decisiva, cujo perito já esteve no local
inspecionando o que é e o que não é APP. Que depois de feita inspeção, o
relatório será encaminhado ao Juiz Federal para dar a sentença. O que o
procurador não concorda é em relação a posição do MPF que se mantém irredutível
na posição afirmando que toda á área em questão é de APP. Não pode o órgão
federal dar um parecer unilateral, cuja decisão partiu do ponto de vista de um
único perito do próprio órgão federal. Uma coisa é certa, as casas que estão na
faixa de marinha como aquelas que não respeitaram os limites mínimos do córrego
que corta o loteamento, terão que se ajustar.
No
dia seguinte a entrevista com o procurador do município, foi a vez do
superintendente da Fama ir ao rádio falar sobre a continuidade das reuniões
sobre o projeto Orla. No desenrolar do programa, o entrevistador o questionou
sobre a situação do embargo do loteamento Paiquerê. A resposta do
superintendente foi de que já houve perícia com técnicos da justiça e que está
aguardando a apresentação do laudo conclusivo. Disse que o laudo provavelmente
vai obrigar o empreendedor a cumprir algumas recomendações como a construção de
uma usina de tratamento de esgoto, pelo fato do lençol freático estar muito na
superfície, podendo comprometê-lo através de contaminação. Ressaltou que o
proprietário do loteamento se comprometeu em construir a usina, que não vai
contestar o laudo, que vai seguir todas as recomendações. Disse também que o
laudo provavelmente determinará que os trinta metros de APP relativo às margens
do lago que corta o loteamento devam ser respeitados, bem como as dunas fixas
muitas das quais invadidas por construções irregulares, cujos proprietários
deverão promover compensações ambientais, bem como recuperar as áreas já
degradadas.
O
apresentador fez uma pequena menção ao manancial Lagoa do Caverá, que ninguém
mais tocou no assunto, que há realmente interesses na secagem da mesma, que
estão se lixando com o meio ambiente. Sobre a Barra do Rio Araranguá, o apresentador
afirmou que o estuário deve ser tratado com mais responsabilidade, que até
concorda com o MPF, no qual tem razão quando afirma que a mesma está sendo
degradada e que o município deve ser responsabilizado. No momento da fala do
apresentador, o procurador poderia ter aproveitado a ocasião e divulgado a
proposta lançada pela Procuradora da República Federal, quando da realização da
audiência pública em setembro de 2013, em Criciúma, sobre a implantação de um
sistema de transporte coletivo, com condutor cultural, para transportar
turistas e demais interessados até à barra, que a própria Associação de
Moradores do Morro dos Conventos poderia coordenar tais serviços, cujos
recursos obtidos poderiam ser aplicados em compensações ambientais. Nada disso
tomou corpo como outras propostas depois da audiência.
Prof. Jairo Cezar
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