RESSACAS NO LITORAL CATARINENSE E AS POLÍTICAS
DE ADAPTAÇÃO CLIMÁTICA
https://radioararangua.com.br/ressaca-no-morro-dos-conventos-destroi-deck-e-causa-estragos-fotos/ |
Em
2021 em encontro articulado pelo MPF com diversas entidades civis e governamentais,
entre elas o poder público municipal, ocorreu no Morro dos Conventos, Araranguá, e que teve por objetivo inspecionar os andamentos das demandas em infraestrutura, se estavam seguindo as legislações em vigor. A primeira obra visitada foi o Deck, que estava em construção na praia central do balneário, a qual foram identificadas inconformidades no projeto de execução. O MPF solicitou ao poder público que
refizesse o projeto, recuando a obra ao oeste, para que as dunas frontais fossem
preservadas. Mesmo com o recuo, o gestor público insistiu em construir duas
passarelas conectadas ao Deck, que se estendeu até a praia, cobrindo
parte das dunas frontais.
Os
cidadãos mais antigos do balneário e do município como um todo, sabiam que as
duas passarelas, a partir da primeira ressaca de média intensidade, iria
removê-las, permanecendo somente o Deck de pé. Dito e feito, quatro anos depois
da obra concluída, uma ressaca não muito forte colapsou-as. As fortes ondas do
oceano também afetaram parte da infraestrutura do prédio do guarda vida ali
edificado. Afinal, por que estou
novamente tratando desse tema que já foi por inúmeras vezes relatados em textos
que postei nesse blog?
A
insistência nesse assunto se deve aos últimos acontecimentos na grande
Florianópolis e litoral norte do estado, que tiveram bairros costeiros, como a Praia dos Ingleses, violentamente assoladas por ressacas. Dezenas, centenas de
vídeos e imagens foram compartilhadas exibindo um cenário de destruição de
residências e da infraestrutura pública. O que está explicito nas imagens é a
conivência do poder público autorizando edificações em áreas suscetíveis a
desastres climáticos. Se o aquecimento do planeta seguir o ritmo acelerado
atual, a tendência é a elevação rápida dos níveis dos oceanos, com água
invadindo áreas hoje densamente povoadas.
Relatei
também em outros textos, que diante da atual emergência climática, os
planos diretores dos municípios brasileiros deverão passar por adequações, ou
seja, a obrigatoriedade de incorporação de medidas de redução
de emissões (mitigação) e de proteção contra eventos climáticos extremos
(adaptação). Mas parece que nada disso
preocupa parcela significativa das administrações municipais, predominantemente
constituídas de gestores e corpos técnicos, secretários/as, que negam o
aquecimento global como um fenômeno em curso.
Insistir nessa tecla negacionista é colocar em risco milhares de vidas e
milhões em recursos públicos gastos em reparos.
O Projeto de Lei sobre a flexibilização do licenciamento ambiental, que foi
aprovado pelo congresso, recebeu 63 vetos dos 400 dispositivos destacados no
projeto. Dentre os que receberam veto do presidente está o que estabelecia a autodeclaração
para licenciamentos, ou seja, o próprio empreendedor faria os trâmites burocráticos, dispensando
a atuação de um órgão como o IMA de SC, nas etapas de estudo, execução e
fiscalização. Outro item vetado pelo
presidente foi o que retirava o regime de proteção especial em relação à
supressão da floresta nativa. O que pode
ocorrer agora acerca do PL, é a derrubada dos vetos do presidente no Congresso Nacional, fazendo valer o texto original. Na hipótese disso se concretizar, é o bioma
da Mata Atlântica que será o mais afetado, principalmente florestas de
restinga e mangue, que poderão ser suprimidas para dar lugar a empreendimentos imobiliários.
Não há mais como negar que episódios
como as fortes ressacas ocorridas nas praias de Florianópolis tenderão a se
tornar mais frequentes. Com a flexibilização do licenciamento ambiental, áreas até
então desocupadas como encostas de morros e a faixa costeira do estado passarão ser mais disputadas por grupos imobiliários com vistas a instalações de conjuntos residenciais,
marinas, hotéis, pousadas etc. Portanto, em um futuro muito próximo, as notícias
que dominarão as mídias do estado serão sobre catástrofes climáticas,
com elevados impactos econômicos e sociais.
Se o aquecimento global não for revertido ou minimizado, fenômeno esse que está contribuindo para o derretimento
das calotas polares e a consequente elevação do nível do mar, de acordo com o
Climate Central, se a água do oceano atlântico elevar-se a 1.0 metro, a faixa costeira de Araranguá e outros pontos do município ficarão submersos, conforme o mapa destacada abaixo. Imagens como essa deveriam servir de parâmetro ao
poder público em todos os programas, como da revisão do projeto orla, iniciado em
2014.
Foto - Samanta Cristiano |
Prof.
Jairo Cesa
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