terça-feira, 8 de abril de 2025

 

ALGUNS FRAGMENTOS HISTÓRICOS ENVOLVENDO O TARIFAÇO PROPOSTO POR DONALD TRUP, PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS

Com o fim da segunda guerra mundial os Estados Unidos se apresentaram como protagonistas para a reconstrução das nações destroçadas pelos conflitos que resultaram em milhões de mortes e passivos materiais bilionários. O dólar, portanto, se configurou como moeda padrão em substituição ao lastro ouro, garantindo aos Estados Unidos status de soberania frente as demais nações até então subjugadas, a atual União Europa, por exemplo.

O fato é que para derrotar as forças do eixo, Alemanha, Itália e Japão, durante a segunda guerra mundial, a União Soviética teve que se unir aos EUA e seus aliados ocidentais, auxiliando com sua poderosa força de guerra na derrota inimiga. Porém, faltava o poderoso Japão, cuja cartada definitiva foi o lançamento de duas bombas nucleares em Hiroshima e Nagasaki, onde ficou claro quem seria a próxima liderança global dali para frente.   

Tal integração soviética aos aliados ocidentais foi apenas formal e de curta duração, pois a grande Rússia socialista se apresentava como potência militar, adquirindo forte capital simbólico para disputar em pé de igualdade aos EUA a soberania geopolítica do globo. A Guerra Fria, no entanto, se configurou como divisor de águas simbólico, uma espécie de gangorra, instantes pendendo mais para o lado ocidental do muro, instantes para o lado oriental, claro que sempre defendendo do cenário econômico e político evidenciado.

Os avanços no campo tecnológico, em primeiro momento motivados pela corrida armamentista, teve impacto direto no aprimoramento de produtos de elevados valores agregados, satélites, aviões e tecnologias da informação. O aumento das demandas por matérias primas aos países centrais, petróleo, minerais e alimentos, abriram possibilidades de um aparente crescimento econômico as nações da periferia do capitalismo. O mundo, portanto, caminhava para um novo ciclo agora fortemente influenciado pela globalização econômica.

Abrir as fronteiras, reduzir ao máximo as barreiras comerciais protecionistas garantiram ciclos de crescimento e prosperidade não só para os países centrais, como também muitas nações periféricas. Quando falo sobre ciclos de crescimento, não me refiro ao conjunto da sociedade, mas setores da burguesia detentora dos meios de produção, o agronegócio, por exemplo.  Acompanhando a trajetória do capitalismo, o sistema produtivo sempre se moveu seguindo ciclos de estabilidade e instabilidade.

As políticas neoliberais no final século XX definiu um novo intervalo de orientação das estruturas do mercado e das políticas em âmbito global. Podemos afirmar que pela primeira vez as políticas Keynesianista do pós segunda guerra dão sinais de enfraquecimento. O Estado como o grande regulador do mercado e assegurador de direitos, sente-se pressionado para que processe a desregulação do seu complexo arcabouço de regulamentos entre o capital e o trabalho.

A ideia que se tenta consolidar é de que as crises do sistema produtivo se devem ao tamanho elevado do Estado, que abocanha parte significativa dos recursos advindos dos impostos, sem promover a contrapartida na mesma proporção. O cenário mundial mostra que realmente o Estado teve tendência de encolhimento, menor proporção no centro do que na periferia do capitalismo. Os segmentos mais afetados com o encolhimento foram a dos trabalhadores, que tiveram os seus salários encolhidos e direitos constitucionais precarizados. Um novo realinhamento produtivo se dá, portanto, a partir dos anos 1970, que reflete em cheio as economias e as políticas das nações periféricas, América Latina, por exemplo, sucumbidas por golpes militares.

Com a queda do muro de Berlin em 1989, que pôs fim o socialismo soviético, o capitalismo assume nuances de autoridade suprema na regeneração econômica planetária, cuja liderança partiria dos Estados Unidos. Surgiram especulações de que sem uma antítese ideológica, ou seja, sem uma negação a negação do capitalismo, o mundo caminharia para a sua estabilidade completa, que apregoaria o fim da história, ou seja, o fim das contradições. Nada disso, as contradições do capitalismo revelaram seus abismos estruturais, às crises sistêmicas da própria acumulação desenfreada tende sempre a se manifestar arruinando as relações desiguais de trocas comerciais.

Uma dessas crises que revelou as fragilidades do sistema dólar ocorreu em 2008 com o colapso imobiliário nos estados unidos, onde do dia para noite bilhões de papeis foram literalmente queimados devido a perda de valores. Mesmo sofrendo na própria carne dos efeitos das bolhas financeiras, os Estados Unidos continuaram ditando o jogo do tabuleiro político global, não mais como detentor de aportes econômicos, mas como potência bélica a frente dos demais blocos de países.

A China, potência econômica emergente, redesenha sua clássica rota comercial conhecida milenarmente como a rota da sede. Com uma economia ainda modesta no início dos anos 1990, a China chega na segunda metade do século XXI, como uma superpotência, com todas as credenciais para assumir as rédeas do mercado global em substituição aos Estados Unidos. O conflito entre a Ucrânia de Zelensky e a Rússia de Putin, colocou o líder russo no cenário político internacional como um monstro  a ser derrotado pelo ocidente. As tratativas de retaliações comerciais contra a economia russa, o cenário que hora se revelaram uma sensível derrota aos Estados Unidos e seus aliados que integram a OTAN, financiadores da Ucrânia no conflito.

A derrota de Trump para Biden nas eleições presidenciais dos estados unidos de 2020, revelou existir frágil esperança de que a gestão de um governo democrata, solaparia qualquer expectativa de retorno de um negacionista megalomaníaco ao posto de presidente. A continuidade da guerra na Ucrânia e os ataques genocidas na palestina, fez o governo Biden perder dia após dia popularidade entre os eleitores americanos, sendo responsabilizado por corroborar com o governo de Israel nas investidas genocidas na faixa de Gaza e Cisjordânia.

As urnas, nos Estados Unidos, confirmaram o que já previa, a vitória republicana de Trump, cuja campanha insistira sempre no mesmo discurso, “tornar os estados unidos grande novamente”.  As disputas comerciais entre EUA e China passaram a gerar tensões aos mercados globais. Tanto um quanto o outro realizavam fortes trocas comerciais, sendo grandes importadores de commodities para suprir sua extraordinária cadeia industrial.

Quando ainda candidato, Trump prometia que os Estados Unidos recuperariam sua condição clássica de nação forte, alegando que tal perda foi devido à forte abertura comercial que insistia em arruinar o poderoso parque industrial, principalmente o automobilístico. O que não se imaginava era que o mercado globalizado altamente interdependente viesse sofrer um revés com as revelações assustadoras de Trump, com a elevação das taxas para produtos importados como forma de proteger os empregos.

A China, que já havia seus produtos taxadas pelos EUA com índices que alcançavam os 35%, com o escancaramento do novo tarifaço outra vez a China foi um dos principais alvos dos ataques do governo americano. Os comentaristas do mercado globalizado, até mesmo de vertentes conservadores, admitiram que tal tarifaço representava para o governo norte americano um verdadeiro tiro no pé, pois afetaria em cheio os seus mercados, os consumidores, que terão que pagar alimentos, produtos mais caros, quando fossem ao mercado. A tendência, afirmavam os críticos, que a intenção do governo norte americano pode ser até plausível, porém, a longo prazo, pois é tempo necessário para realocar, reestruturar  o seu parque industrial deficitário.

Se a ideia do tarifaço é prejudicar a China, o cenário vislumbrado no horizonte não expressa essa certeza. A China atualmente vem expandindo seu parque industrial no continente africano e américa dos sul. Além de investimento bilionários em infraestrutura, portos e estruturas logísticas, para facilitar o armazenamento e o escoamento das commodities. Uma maior reaproximação com a Rússia, China, Japão e Coreia do Sul, poderá fragilizar ainda mais o já cambaleante ocidente, deslocando para o oriente os centros de comando do novo capitalismo Made in Chine.

Prof. Jairo Cesa             

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