O
POTENCIAL DA AGROECOLOGIA NO SUL DE SANTA CATARINA
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Quem
já não deve ter se indignado várias vezes a frente da televisão assistindo a
repetida propaganda com o seguinte bordão: “agro é Tech, agro é pop”. É claro
que uma propaganda dessa dimensão tem por objetivo fazer as pessoas a
acreditarem que o agronegócio brasileiro é indiscutivelmente a alavanca para o
desenvolvimento econômico. Um tipo de propaganda dessa magnitude tem um custo
milionário, bancada, é claro, por poderosas corporações transnacionais que
controlam o mercado de sementes e insumos agrícolas, a exemplo dos agrotóxicos.
A
agricultura familiar, responde hoje com quase 80% dos alimentos comercializados
no Brasil. No entanto, esse setor não recebe a mesma atenção dos governos com
políticas que garantam a subsistência digna das pessoas envolvidas. É difícil
produtos da agricultura familiar, competirem com o agronegócio. A pouca
competitividade se deve as pomposas políticas de subsídios públicos para
insumos como agrotóxicos, responsáveis por doenças e mutações genéticas, das
quais comprometem enorme fração das verbas públicas.
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Atuando
paralelamente e quase invisível ao agronegócio, está a agroecologia, modelo
produtivo que dispensa aditivos químicos tóxicos no manejo do solo e das
plantas. Quem visitou supermercados ou fruteiras já se deparou em algum canto
com variedades de legumes, verduras e frutas orgânicas, porém, já notou que o
espaço é pouco visitado em virtude dos preços pouco convidativos, comparado com
os produtos convencionais. A não introdução de químicos no manejo de hortaliças
e culturas variadas proporciona ao consumidor a aquisição de produtos ricos em
vitaminas e demais propriedades nutricionais.
Quem segue o hábito diário de inserir produtos
orgânicos no cardápio, tem a tendência de ir menos ao médico ou consumir
medicamentos. Por isso, o preço maior pago por um quilo de cenoura, batata,
aipim, etc, no final das contas se torna menor, quando deixamos de ir ao
médico. Parcela significativa das pessoas atendidas nas unidades de saúde e
hospitais no Brasil tem como um dos principais vetores das enfermidades,
alimentos contaminados por agrotóxicos.
É
possível mudar essa tendência nada saudável num país dominado por poderosas
organizações que faturam bilhões comercializando venenos e medicamentos? Uma
sociedade mais saudável certamente fragilizaria tais corporações, ascendendo outra
cultura de cidadãos livres e felizes. Poucos sabem que no Brasil milhares de
famílias sobrevivem cultivando produtos orgânicos, um exemplo que merece ser
citado é o Movimento dos Sem Terra. A
dificuldade, porém, é inseri-los na lista diária de compras da população que
ainda prefere produtos convencionais, por serem mais baratos.
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Se o agronegócio tem forte poder de persuasão
sobre o consumidor isso se deve a forte estrutura criada pelo seguimento,
começando no campo, se deslocando para o Congresso Nacional até atingir outros
setores como o judiciário e o executivo. A agroecologia, embora discreta, está
conseguindo derrubar barreiras e se tornando visível à população. Um aspecto
importante no seguimento dos orgânicos é a obrigatoriedade do produtor ter o
certificado que comprove ser o produto livre de aditivos químicos. O encontro
ocorrido em uma propriedade particular no município de Forquilhinha no dia 02 de março de 2020, revelou
a dimensão dessa atividade na região no sul de Santa Catarina.
A
participação ativa da EPAGRI, por meio dos seus profissionais, que mostram
engajamento na introdução de uma mentalidade transformadora, está sendo
imprescindível. Outro aspecto observado nesse encontro foi o empoderamento dos/as
pequenos/as agricultores/as orgânicos/as e outros tantos em vias de
certificação, na tomada de decisões coletivas. São muitos os grupos criados com
reuniões periódicas, onde são discutidas desde o manejo da produção, as
estratégias de publicidade, a valores compatíveis ao trabalho realizado.
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O
trabalho educativo é outro elemento destacado nos encontros. É nesse instante
que entram em ação os profissionais da EPAGRI, acompanhando os agricultores em
uma saída de campo, onde são mostrados cultivos orgânicos. No encontro da Forquilhinha,
o público presente foi instruído acerca do modo de como cultivar milho e arroz
orgânico. Os técnicos exibiram uma área onde havia sido cultivado arroz, que
estava em vias de certificação como orgânico. Relataram alguns empecilhos que poderão
dificultar a obtenção da certificação e como proceder para garantir seu
deferimento.
Uma das causas limitantes é a inexistência de
uma barreira natural para bloquear a passagem de partículas de agrotóxicos à área
vizinha. A água também foi outro tema discutido. Como fazer para garanti-la à
cultura de arroz orgânico, sabendo que sua origem é a mesma que abastece os não
orgânicos? Sobre as barreiras naturais, não há uma definição padrão quanto a sua
extensão entre orgânicos e não orgânicos. Recomenda-se que quanto maior for a
barreira mais seguro será o cultivo orgânico.
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Foi
falado também que em safra de condição climática normal é possível colher
próxima a 200 sacas por hectare de arroz orgânico. O fator compensatório dessa
variedade são os preços que oscilam entre quarenta a cinqüenta por cento
superiores aos não orgânicos. Outra vantagem é que há um mercado em franco
crescimento tanto no Brasil como no exterior. A presença de representantes de
uma empresa que beneficia
arroz orgânico mostrou o grau de importância desse produto no mercado nacional
e internacional. Outro dado revelador verificado no encontro da Forquilhinha
foi à seriedade demonstrada pelos presentes quanto ao cultivo de orgânicos
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Os
proprietários que almejam a certificação devem seguir alguns ritos obrigatórios,
que podem durar meses até anos. O teor de toxidade do solo, mecanismos de
manejo das culturas, são exemplos de itens a serem monitorados por profissionais
e demais produtores orgânicos. O fato é que todo esse trabalho não se encerra
no instante da certificação do produtor. Todos os anos as propriedades
certificadas são inspecionadas para verificar se ambos estão cumprindo com os
critérios recomendados acerca do manejo orgânico.
O
descumprimento das normas estabelecidas resulta na perda da certificação. Talvez
esteja nesse rigor extremo o motivo pelo qual do pequeno número de produtores
que asseguraram a certificação na região do extremo sul de Santa Catarina,
pouco mais de duas dezenas. Outro aspecto curioso foi observar a inexistência
nessa reunião de produtores orgânicos ou não orgânicos de Araranguá. Diferente de
Maracajá, onde há três propriedades certificadas, onde um dos proprietários,
que cultiva banana, integra a comissão de ética do grupo Frutos da Terra.
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O
outro produtor orgânico de Maracajá, um fumicultor, hoje desenvolve produção de
hortaliças e legumes para o abastecimento de escolas municipais em Maracajá. Era
possível perceber o carinho e o respeito de um profissional da EPAGRI a ambos, profissional
que também presta assessoria aos cultivadores de pitayas da região. O que
causou certa comoção foi quando esse cidadão, ex-produtor de fumo, declarou que
com a introdução de orgânicos em sua propriedade sua saúde melhorou
significativamente.
Além do grupo Frutos da Terra, outros mais
foram criados envolvendo diversas famílias de agricultores. Durante o ano,
esses pequenos grupos promovem reuniões regionais, onde são discutidos e
definidos planos para o fortalecimento dos sistemas orgânicos no sul de Santa
Catarina. Nesse encontro macrorregional, no município de Laguna, cada produtor
levou alguns itens cultivados para comercializarem ou trocarem com os demais. O
destaque, porém, foi o café e o almoço oferecidos, ambos acompanhados por
frutas, cereais, legumes, doces, queijos, pães, oferecidos pelos próprios
agricultores.
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Entre
os vários temas discutidos nas quase oito horas de reunião, o que mais
mobilizou os presentes foi como proceder para que os orgânicos ocupem mais
espaços nas mídias, estimulando a população a consumir mais? A criação de
aplicativos informando a existência de feiras nos municípios foi uma das
propostas elencadas. A disseminação de sementes crioulas foi outro assunto que
permeou os debates no encontro.
Enquanto
grupos de pequenos produtores orgânicos catarinenses quase sem visibilidade lutam
as duras penas para sobreviver, com o mínimo de apoio do governo, esse mesmo
governo garante incentivos ao poderoso agronegócio catarinense, com a retirada
da cobrança de ICMS aos agrotóxicos. A tendência, portanto, é o aumento da
toxidade do solo, água e a contaminação dos alimentos consumidos pela
população. A alegação dos que defendem o fim da cobrança do ICMS é a elevação
dos preços de produtos da agricultura, prejudicando a competitividade.
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Essa
decisão do governo não favorece o bem estar da sociedade catarinense. Com a
cobrança de ICMS sobre o comércio de venenos, tenderia a uma mudança de
paradigma no modelo agrícola catarinense, forçando a aplicação de técnicas mais
sustentáveis no campo. Com a decisão de incentivar o uso de pesticidas na
agricultura, continuaremos nos deparando com cenários estarrecedores em vias
públicas e terrenos particulares de nossas cidades, a disseminação de venenos.
O
que é perturbador é que tais práticas são proibidas por legislações federais,
estaduais municipais. Entretanto, jamais se teve notícia de ter havido detenção
ou apreensão de alguém por estar exercendo tal prática irregular nos perímetros
urbanos. No campo também não é diferente. As legislações recomendam que após a
aplicação dos agrotóxicos nas culturas o proprietário isole a área por cerca de
48horas, fixando placas informativas dos princípios ativos aplicados na área. Nada
disso é obedecido, com raríssimas exceções.
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Com
isso, ampliar e fortalecer os produtores orgânicos são estratégias importantes
para o enfrentamento da forte pressão vinda do seguimento do agronegócio
catarinense. A maior aquisição de gêneros orgânicos nos supermercados e feiras
livres será um forte estímulo aos praticantes dessa modalidade. Aumentando a
demanda de consumidores, o produtor será motivado a produzir mais, aumentando a
sua renda, além de assegurar uma alimentação saudável e nutritiva a toda a
sociedade.
Prof.
Jairo Cezar
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