sábado, 26 de janeiro de 2019


PROJETO TAMAR SUL - CENTRO DE REABILITAÇÃO DE TARTARUGAS MARINHAS - BARRA DA LAGOA/FLORIANÓPOLIS


Quem já caminhou pela orla de algumas das praias no sul do estado de Santa Catarina e não encontrou uma ou mais tartarugas mortas. Infelizmente tais cenas estão se tornando comuns nos últimos tempos, visto que uns dos motivos da mortandade são antrópicos, ou seja, descarte de lixo nas praias e oceanos pelo homem. A presença desses animais no planeta data da era dos dinossauros. O fóssil mais antigo de um quelônio foi encontrado na China, com idade aproximada de 200 milhões de anos.
No entanto elas começaram a povoar os oceanos e os continentes pouco mais de 15 milhões de anos atrás. Os quelônios, como são conhecidos, conseguiram superar todos os tipos de intempéries naturais durante todo o tempo de existência. Há pouco tempo algumas das 260 espécies catalogadas no planeta entraram na lista de animais em risco de extinção, especialmente as sete espécies marinhas que transitam pela costa catarinense todos os anos em busca de alimentos.


Para impedir que espécies de tartarugas marinhas desaparecessem para sempre no planeta, em 2005 foi instalado em Florianópolis, na Barra da Lagoa, o Projeto Tamar Sul, que tem por objetivo mitigar o impacto da pesca sobre as tartarugas. Em 2010, o projeto se expandiu com a instalação do museu da tartaruga marinha pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM). Recolher animais feridos, trata-los e devolvê-lo novamente ao seu habitat natural são alguns do propósitos do Centro de Visitação.
Hoje em dia o Centro de Visitação em Florianópolis recebe cerca de 200 mil pessoas todos os anos, que é considerado junto com o da Barra do Forte, na Baia, os mais visitados de todos. Só entre estudantes de diferentes instituições e níveis de ensino são mais de 15 mil visitantes. De acordo com os instrutores do projeto, todas as piscinas onde as tartarugas estão acomodadas à agua a captada diretamente do oceano, através de uma bomba hidráulica. Á água é filtrada e não recebe nenhum aditivo químico. Quando os tanques são limpos o líquido novamente é devolvido ao oceano na mesma condição que chegou.


 O Projeto Tamar está distribuído em diferentes locais da costa oceânica brasileira. Em Santa Catarina, além da Barra da Lagoa, Florianópolis, existem outras duas estações, em Itajaí e Penha (Beto Carrero World). Entretanto, do total de pontos do Tamar espalhados, apenas oito deles estão abertos ao público para visitação, a exemplo de Florianópolis.
Conhecer o centro de visitação em Florianópolis é sem dúvida um momento de extremo prazer e de profundo conhecimento do tema tartaruga, pois o visitante tem contato com um mundo tão complexo de um ser vivo cuja existência de milhares de outras espécies marinhas são interdependentes. As tartarugas levam e traz toneladas de energia de um ponto ao outro dos oceanos. Dela dependem peixes, crustáceos, moluscos, esponjas, medusas, formação de mangues, bancos de areia, gramas marinhas, corais e recifes, ilhotas, etc.


 Por estar situado numa área estratégica e de grande fluxo de pessoas especialmente na alta temporada de verão, quando lá estivemos, numa manhã de sexta-feira, na abertura dos portões, 10 horas da manhã, já havia formado uma enorme fila. Caminhando alguns passos o visitante já se depara com uma piscina, onde tartarugas, recolhidas das redes de pescadores, são acomodadas para reabilitação. Nesse dia os monitores do projeto estavam fazendo limpeza da piscina, bem como de duas pequenas tartarugas, da espécie verde, oliva.
Chamou a atenção o respeito e a delicadeza dos monitores no trato dos animais, que munidos de escovas e panos retiravam detritos marinhos acumulados na pele e casco das mesmas. Disseram que as tartarugas adoram quando são tocadas, principalmente os cascos, pois apresentam muita sensibilidade. Outros tanques ou piscinas contendo animais estavam distribuídos pelo parque, um deles com duas tartarugas da espécie “pente” e inúmeros peixes, cujo objetivo era criar um ambiente o mais próximo possível do seu habitat natural.


É impossível sair do projeto sem ser tocado pela sensibilidade das tartarugas, que embora vivam nos oceanos, seu sistema de respiração é semelhante ao humano, ou seja, possuem dois pulmões. Um dos locais preferidos da criançada e dos adultos é o espaço recreativo, uma espécie de playground com figuras lúdicas de tartarugas. São dezenas de painéis informativos espalhados por toda a extensão do projeto. Cinco tartarugas das espécies verde, oliva, cabeçuda, pente e couro, em tamanho equivalente ao real e encontradas no Brasil, estavam expostas na entrada do parque. Um pouquinho mais adiante as mesmas tartarugas estavam distribuídas em posição vertical. Nesse local as pessoas poderiam se aproximar dos exemplares e comparar os tamanhos entre ambas.


Uma pequena sala com acentos em forma de cepo, folhas com desenhos, lápis colorido e uma minúscula estante com livrinhos estavam à disposição das crianças para se divertirem e se inteirarem com o mundo das tartarugas. Crianças em tenra idade, acompanhadas com adultos, se deliciavam colorindo desenhos representando animais marinhos. Essa é uma das principais prerrogativas do Projeto Tamar, sensibilizar o público infantil e adulto sobre a importância de preservar os oceanos e a vida marinha.
No mesmo espaço educativo estavam dispostas caixinhas cujas tampas apresentavam algumas charadas ou perguntas sobre o tema tartaruga. Dentre as frases descritas estava uma que imagino muita gente deve ter refletido quando soube da resposta. A questão era: “o que será que a tartaruga-de-couro mais gosta de comer? Quando foi aberta a caixa apareceu uma figura de água viva construída com material reciclado.




É possível que muitas crianças e adultos que se inteiraram dessa brincadeira devem ter tido alguma experiência desagradável com água viva nos últimos dias. A proliferação quase descontrolada desse animal marinho na costa oceânica catarinense tem relação direta com a redução da população de tartarugas-de-couro, uma das principais predadores da água viva.
Filmes e documentários também são exibidos ao público num auditório construído no interior do parque. Todos os dias o público visitante é contemplado com palestras proferidas pelos monitores do projeto Tamar. Talvez esse seja o momento mais esperado por todos/as, pelo fato do público poder sanar as dúvidas em relação aos quelônios.  A palestrante se utilizou de todos os ambientes para discorrer sobre a função e importância de cada um deles na vida das tartarugas.



Explicou que espécies de tartarugas habitam nossa costa, o processo de reprodução e por que raramente a desova se dá no sul do Brasil. A baixa temperatura da areia da praia é um dos principais fatores de não escolherem essas praias para depositarem os ovos. Menos de uma semana depois da visita ao projeto Tamar, no dia 25 de janeiro de 2019, o Jornal do Almoço da NSC TV exibiu reportagem mostrando a desova de tartarugas da espécie cabeçuda que ocorreu na praia de bombinhas, norte do estado.
O fascínio dos integrantes do projeto Tamar e do público acerca do acontecimento raro foi imenso. A explicação possível do ocorrido, acredita-se que deve ter sido motivado pelo forte calor que atinge o sul do país tornando a areia da orla atrativa à desova. A expectativa agora é se os ovos irão chocar e quantos eclodirão. Uma força tarefa foi criada no entorno do local da desova para proteger o ninho de curiosos e predadores.  



Outro aspecto curioso sobre os quelônios é quanto o seu extinto de direção. Todos os anos as fêmeas depositam os ovos no mesmo local de anos anteriores. Entretanto, devido a poluição e ocupação imobiliária nos locais de desova, muitas especeis de tartarugas entraram na lista de espécies em vias de extinção. O projeto TAMAR foi criado para dar uma mãozinha e salvar as espécies. O monitoramento realizado pelo projeto vem demonstrando que já há um repovoamento satisfatório da costa com espécies antes ameaçadas.


O entusiasmo da equipe do TAMAR com o sucesso do repovoamento do oceanos sempre é acompanhado com certa apreensão devido ao intenso descarte de lixo plástico nos oceanos, sendo uma das principais causas de mortes das tartarugas.  No setor que estavam distribuídos os fósseis, a monitora exibiu um recipiente de vidro contendo tipos diferentes de plásticos. Ela informou que todo o material ali depositado havia sido extraído do estômago de uma única tartaruga. Explicou que a boca da tartaruga atua como um aspirador de pó, portanto, não consegue diferenciar o seu alimento do plástico.


Por ser a região da barra da lagoa constituída de pescadores artesanais e quase todos com experiências de terem capturados acidentalmente tartarugas em suas redes, o projeto Tamar procurou desde o início manter contato e parceria com a população local. Além de ações que visam sensibilizar a população sobre os cuidados no instante que tartarugas são presas às redes, o projeto também atua no campo da educação ambiental e formação profissional.


Essas atividades tem por premissa a inclusão social com programas de geração de renda, apoio institucional e educativo às populações locais.  A promoção de oficinas com artesanatos típicos locais e capacitação de mulheres e filhos de pescadores estão sendo desenvolvidos em várias localidades onde o projeto Tamar atua. Existem projetos em andamento nos municípios de Regência, no Espírito Santo e Pirambu, no Sergipe, ambos com mais de 20 anos de história de sucesso.
Prof. Jairo Cezar  




 http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/jornal-do-almoco/videos/t/edicoes/v/especie-ameacada-de-extincao-faz-desova-em-praia-de-sc/7329343/






























                       
 

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