terça-feira, 19 de novembro de 2013

Algumas breves reflexões do Historiador da Arte Jorge Colli sobre imaginação e observação

A arte pictórica e demais formas de representação no Brasil apresentam certas peculiaridades que necessitam ser abordadas de maneira reflexiva para permitir a compreensão da própria identidade da sociedade brasileira. No século XIX parte das produções artísticas brasileiras como o quadro que retrata a Independência do Brasil pelo artista plástico Pedro Américo, os intelectuais procuravam fabricar a história, ou seja, traduzir a sociedade a partir da imaginação e não da observação propriamente dita como fizeram artistas europeus como Prost, Debret, entre outros. Foi a partir da presença desses artistas que negros e índios, ignorados pelos eruditos brasileiros, ganharam representatividade e espaços nas telas, sob um olhar antropológico que expressava seu cotidiano como a brutalidade sofrida na sua duríssima luta pela sobrevivência.
Uma obra instigante que retrata fielmente o imaginário dos artistas plásticos brasileiros é o quadro A Primeira Missa no Brasil, que além de ser pintada em Paris, Victor Meireles teve inspiração a partir de obra similar européia, cuja finalidade foi expressar a fusão romântica do negro, índio e europeu na formação do povo e da identidade brasileira, expressando o mito de homem cordial.  Essa mesma obra foi retratada no cinema em 1937, na era Vargas quando se pretendia fortalecer o espírito nacionalista, da integração cultural.
Outro trabalho conhecido e que também traduz o mito da passividade, da assimilação e do olhar romantizado em relação ao negro e índio brasileiro, é a obra O Guarani de Carlos Gomes, inspirado no livro escrito por José de Alencar. A idéia de musicalizar e pintar os índios a luz do imaginário branco europeu ou produzir uma visão romantizada acerca de um índio (Peri) e uma mulher branca (Ceci) como fez José de Alencar, não correspondeu exatamente o mundo real desse povo do século XIX, que foram expulsos de suas terras e quase que dizimados em confrontos fratricidas.
Saindo um pouco daquele olhar reprovador que tanta buscar  culpados pelos fracassos que se seguiram, não há dúvidas de que a igreja católica salvou a arte ocidental, quando incorporou obras sacras como representação do imaginário social. A tradição jesuítica incorporada à cultura brasileira é uma delas e pode ser vista nas construções arquitetônicas, nos instrumentos musicais e, especialmente, na diversidade de obras sacras que ainda são preservadas e que retratam o imaginário da sociedade latina americana.
A arte Norte Americana seguiu o caminho inverso a brasileira, sempre calcada numa concepção reflexiva acerca da sua condição de existência, de valorização da sua identidade cultural, que pode ser constatada nas produções cinematográficas que sempre procura trabalhar na perspectiva dos seus feitos heróicos. Similar a Norte Americana, o cinema brasileiro também está hoje seguindo nessa linha retratando o cotidiano das favelas, a partir de filmes como Tropa de Elite, Cidade de Deus, entre outros.
Diante da narrativa do historiador da arte Jorge Colli, o mesmo procura tecer conceitos acerca do significado de ser brasileiro e como pode ser definido? Nesse contexto, gripo meu, há de se pensar a cultura brasileira a partir da relação de múltiplas interfaces étnicas que se entrelaçaram, porém os valores e as regras morais predominantes são forjadas por uma respectiva classe social, que define o modo como o “povo brasileiro” deve se comportar.     

Prof. Jairo Cezar        

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