sexta-feira, 28 de setembro de 2012


Teoria da Complexidade:  reflexões acerca das crises que assolam  o planeta e possibilidades de soluções

Texto adaptado a partir da obra “A Minha Esquerda” de Edgar Morin

Durante os séculos XIX e XX o que prevaleceu nas sociedades ocidentais foi a lógica da razão, da ciência, da exploração desenfreada dos recursos naturais e da produção exacerbada de bens de consumo. Acreditava-se que com os avanços das técnicas e das tecnologias as sociedades alcançariam um grau elevado de progresso que proporcionaria a completa erradicação da miséria e das desigualdades sociais que vem acompanhando a humanidade há séculos.
No entanto a crença cega a “Deusa ciência” como resposta às crises sociais e as guerras, começou  a ser  questionada a partir das últimas década do século XX, quando o planeta lançou os primeiros sinais de que o modelo de produção vigente poderia levar a sua destruição. Nesse contexto a ciência, que exercia sua condição de “deusa” inquestionável do progresso, da modernidade, estava desprovida de regras elementares quanto aos limites da aplicação da inteligência humana.  No passado, o problema da relação entre o conhecimento científico e a ética não era  levado a sério.  O que importava era o conhecimento, o controle e o domínio da natureza, dispensando qualquer tipo de normatizações que disciplinassem tais ações. No século XVIII, teóricos como Emanoel Kant já lançava manifesto admitindo que a ética não provinha de Deus, da religião, do Estado e nem da sociedade, mas do próprio indivíduo.
Com a chegada do século XXI, problemas  como degradação ambiental, efeito estufa, que eram avaliados pelos teóricos positivistas do século XIX como possibilidades remotas no futuro em decorrência da crença na ciência, tornam-se temas obrigatórios nas agendas governamentais e nos encontros, congressos e conferências sobre ambiente. A preocupação dos representantes do sistema capitalista, diante da ameaça a vida no planeta, foi promover ajustes paliativos na engrenagem produtiva, tornando mais humana a exploração do trabalho, porém, mantendo o cuidado para não ocorrência da ruptura.
O que ficou explícito aos olhos de todos foi o forte impacto sofrido pela  ciência, que já não respondia mais as promessas lançadas no século XIX, que cultuava a tecnologia, o progresso,  porém desprovidas de ética.  Agora, mais do que nunca, era imprescindível construir uma nova forma de organização centrada nos princípios da solidariedade  ética. A falha, portanto, cometida pelos protagonistas da ciência foi em acreditar na previsibilidade da história, na crença cega da evolução e do progresso, da não compreensão de que o planeta terra é um sistema vivo e complexo, que há uma relação sistêmica entre seus componentes, semelhante  a uma “teia viva” desprovida de certezas a longo prazo acerca dos fins e dos meios.     
A idéia de desenvolvimento foi um mito construído pelo ocidente e cujo modelo deve ser abandonado em defesa de uma política do homem e da civilização. Não o modelo de desenvolvimento que vem sendo propagado pelo sistema capitalista, defendendo um padrão de sustentabilidade que nada mais é do que  atenuar o desenvolvimento levando em consideração o contexto ecológico, sem questionar seus princípios.
Este modelo não considera o sofrimento, a alegria, o amor, sendo que sua única medida de satisfação reside no crescimento (da produção, da produtividade, dos lucros financeiros), gerando o subdesenvolvimento moral e psíquico, ou seja, a perda da solidariedade. A política de civilização teria como missão desenvolver o melhor da civilização ocidental, de rejeitar seu pior, e de operar uma simbiose de civilizações integrando os aportes fundamentais do Oriente e do Sul. Para isso, torna-se necessário a criação de um sistema de GOVERNANÇA vinculada as Nações Unidas, instalando instâncias planetárias dotadas de poder sobre os problemas vitais e perigos extremos.
A concepção antropocêntrica que deu ao homem a condição de “superioridade” sobre as demais espécies vivas ainda não foi superada. A não ruptura e o desconhecimento da nossa  complexa interdependência com o mundo vivo, cuja morte significa a nossa morte, deve ser intensamente debatida a partir da ecologia. Alguns males psíquicos que afetam a humanidade, tornando as pessoas dependentes de remédios, soníferos, antidepressivos, psicoterapias, ete, tem que ser percebidos como efeito da própria civilização.  Como solução, o papel da ecologia e fundamental através da via pedagógica – uma reforma cognitiva que permitiria religar os conhecimentos, mais do que nunca fragmentados e separados, a fim de tratar os problemas fundamentais e globais de nosso tempo; via existencial – uma reforma de vida, na qual viria à consciência o que cada um sentiu de maneira obscura, que o amor e a compreensão constituem os bens mais preciosos para o ser humano, que o importante é viver poeticamente, isto é, no desenvolvimento de si mesmo, na comunhão e no favor.
A orientação mundialização/desmundialização significa que é preciso multiplicar os processos de comunicação e de planetarização culturais. É preciso constituir uma consciência de Terra-Pátria.  Nas crises planetárias cíclicas, quando surgem as forças regressivas ou desintegradoras, surgem também as forças geradoras e criadoras; As virtudes do perigo comumente se combinam: “Lá onde cresce o perigo, cresce também aquilo que salva” A chance suprema é inseparável do risco supremo.
Prof. Jairo Cezar

Nenhum comentário:

Postar um comentário