quarta-feira, 15 de novembro de 2023

 

ENCONTRO AMPLIADO DA REDE AGROECOLÓGICA ECOVIDA - MARINGA/PR – AGROECOLOGIA E DEMOCRACIA NA PROMOÇÃO DA DIVERSIDADE

Foto - Jairo


Como já ocorre a mais de duas décadas, de dois em dois anos, a rede ECOVIDA, que integra os três estados do sul, realiza o seu grande encontro ampliado para debater as políticas e outros temas relacionados à egroecologia. Dessa vez depois de uma pausa de quatro anos em decorrência da COVID, o EARE ocorreu nas dependências da Escola Técnica da UFPR, Escola Milton Santos, no município de Maringá/PR, entre os dias 03 a 05 de novembro de 2023. Essa escola está inserida ao movimento dos trabalhadores sem terra do estado paranaense.

Foto - Jairo


 Foram mais de quinhentas pessoas reunidas, que integram mais de duas dezenas de núcleos e grupos distribuídos em diferentes regiões dos três estados do sul, que juntas constituem uma complexa rede de produtores e consumidores de produtos agroecológicos. O tema gerador escolhido para o encontro de Maringá foi AGROECOLOGIA e DEMOCRACIA - PROTAGONISMO POPULAR e PRÁTICAS AGROECOLÓGIAS: RESPEITANDO VIDAS E PROMOVENDO DIVERSIDADES.

 

Foto - Jairo

Claro que uma entidade como a ECOVIDA quando decide abordar temas tão espinhosos como diversidade de gênero, feminismo, racismo, etc, deixou muitos membros escritos ao evento, tomados por expectativas acerca do modo como ambos seriam debatidos lá. Imaginem temas como feminismo, diversidade de gênero, racismo, práticas convencionais de cultivo, tudo junto e misturado dentro do escopo da agreocologia, onde grande parte dos envolvidos são famílias de pequenas e médias glebas terras, muitas das quais que mal concluíram o ensino fundamental e médio.

Foto - Jairo


Na sexta feira à tarde, dia 04, quase todos os mais de quinhentos inscritos já estavam presentes e instalados nas diferentes acomodações da escola. Portanto, depois da abertura do evento foi à vez de iniciar a primeira plenária com o tema DEMOCRACIA E FEMINISMO NA AGROECOLOGIA. Três foram as convidadas para explanar o tema, ambas as professoras de universidades públicas brasileiras e com longas experiências nesse segmento relacionado às mulheres e ao feminismo. Uma delas trouxe exemplo de mulheres que tombaram, ou seja, que morreram assassinadas por lutarem contra um sistema opressor que historicamente tentam manter as mulheres silenciadas e submissas a um modelo social machista, misógino e repressor.

Foto - Jairo


A fala da segunda palestrante trouxe para o público, relatos de que no interior dos movimentos agroecológicos a mulher ainda sofre discriminação, muitas das quais vitimas de feminicídio. Na sua explanação destacou repetidamente a expressão “sem feminismo não há agroecologia e se tem racismo não e agroecologia”. Sua abordagem foi em querer trazer a luz certas verdades ainda cobertas por certa névoa de preconceitos, de invisibilidade, em relação ao negro, ao índio, a diversidade de gênero, amplos amplamente envolvidos nos movimentos sociais, a exemplo da agroecologia.  

 

Foto - Jairo

Disse também que é importante acreditar na potência criadora a partir da auto-organização das mulheres. A terceira palestrante abordou entre outras falas, as diferentes violências acometidas contras as mulheres, na política de gênero, como aquelas violências que as impedem de se expressarem, exporem suas opiniões, dores, frustrações. Além do mais, reiterou a professora que não há como promover mudanças na sociedade enquanto tiver um segmento como o agronegócio avançando sobre os corpos dos sujeitos.

Foto - Jairo


No sábado, 04/11, pela manhã, foi a vez dos seminários, quatro ao todo. Os temas abordados foram: 1 – Manejo Ecológico dos Solos e Saúde dos Cultivos: de volta ao futuro; 2 – Redes de Sementes para superar os desafios da produção orgânica co sementes crioulas e mudas agroecológicas; 3 – Democratização do Estado Brasileiro e Políticas Públicas de agroecologia; 4 – Defesa das comunidades tradicionais: ocupação territorial e desenvolvimento.

Embora tenha sido no último dia do EARE quando foram apresentados os relatórios dos seminários, contendo as discussões e proposições elencadas, quero aqui dar mais ênfase ao de número um, pelo fato de tido participação. É de conhecimento de muitos que os solos brasileiros ou tropicais têm características bem peculiares aos solos temperados ou semitemperados de outras regiões, como do continente europeu, onde parte do tempo extensas áreas de terras ficam cobertas por camadas de neve durante o inverno. Nesse sentido todos os anos, para um novo ciclo de cultivo, a terra necessita ser removida com arados, rotativas. Esse procedimento permite a descompactação e a sua permeabilidade hídrica.

Depois da Segunda Grande Guerra, para que as grandes corporações que produziam armamentos e outros insumos bélicos continuassem lucrando bilhões de dólares foi necessário redirecionar a bússola do marcado focando nos países tropicais. É o inicio, portanto, de uma extraordinária transformação de um sistema produtivo que impactará direta e indiretamente a vida de milhões de pessoas no mundo inteiro. Esse modelo produtivo revolucionário vai se configurar assumindo a nomenclatura de Revolução Verde, com a introdução de toda uma gama de elementos, químicos, físicos e biológicos, ainda estranhos no manejo dos solos e no processo produtivo de grãos.

Esse novo modelo agrícola se tornará altamente desagregador dos solos e de toda biótica existente, como afirmou a professora IRENE, que discorreu o seu tema no seminário com o título Manejo Ecológico dos Solos e Saúde dos Cultivos: de volta ao futuro. Por cerca de uma Hora a professora Irene abordou com estrema lucidez essa temática, sendo no final aplaudida de pé por suas relevantes abordagens. A professora construiu sua fala a partir de três linhas de pensamento, ambas interligadas no sistema produtivo convencional: erosões dos solos, agrotóxicos e fertilizantes químicos.  


   

Foto - Jairo

Foto - Jairo

   

    Tudo isso junto e misturado por décadas, ambos resultaram em desgastes e perdas de fertilidade. Com os desmatamentos que deixaram os solos nus, as chuvas lavaram e levam consigo todo o solo contendo elementos químicos importantes como o potássio e o fósforo. O que ficou e fica após a remoção desses elementos são os óxidos de ferro e o alumínio, motivo pelo qual a sua elevada acidez, ou seja, apresentando PH muito baixo, em decorrência do alumínio. A redução de fungos e outros microorganismos no solo impedem a retidão da fertilidade do mesmo. A perda de vida se deve, por exemplo, ao uso de adubos químicos, que são sais artificiais que não alimentam a vida na terra.  A presença de florestas cobrindo solos ajuda e muito no metabolismo da fotossíntese do solo, processo esse que conduz energia e demais elementos absorvidos pelas folhas, como o carbono, que é depositado no interior das plantas e no solo.

A palestrante afirmou que um solo coberto por vegetação, árvores, por exemplo, suas raízes promovem uma intricada e complexa rede de intercomunicação, conhecidas como a internet da terra. São essas raízes ou micro raízes que conduzem alimentos e oxigênio que vão alimentar os bilhões de microorganismos. Junto às raízes estão as micorrizas, minúsculos fios ou redes constituídos de fungos que promovem um verdadeiro bombardeio de vida no solo.   Entretanto, parcela significativa do solo cultivável brasileiro vem carecendo dia após dias desses importantes elementos vivos decorrentes do processo de mecanização agrícola.

Foto - Jairo


Um dado preocupante. Atualmente o Brasil importa 75% do nitrogênio aplicado na agricultura. Na sua aplicação são utilizados toneladas de combustíveis fósseis, gás e petróleo. O que é estarrecedor é saber que 1% de todo o nitrogênio despejado sobre os solos se transforma em ÓXIDO NITROSO, e que tal reação produz 300 vezes mais poluentes que o CO2. Além do mais esse óxido também é responsável pela destruição da camada de ozônio. Junto com o nitrogênio, o Brasil também importa o Fósforo, cerca de 50% do total consumido no território. As reservas desse mineral no planeta vêm reduzindo exponencialmente ano após anos. Estudos confirmam que em menos de trezentos anos esse mineral estará completamente extinto no planeta.  

Não há duvida que a agroecologia tende a ser a alternativa plausível ao uso desses insumos sintéticos. Países como a Suécia vem desenvolvendo experimentos relevantes, com urina humana que, comprovadamente, poderá substituir fertilizantes sintéticos como nitrogênio e fósforo. A cada quinhentos litros de urina humana coletadas é possível obter 6 kg de nitrogênio; 1 kg de potássio e 4 kg de fósforo. Esse material, portanto, deve ser espalhado no solo e não nas folhas. Atualmente a quantidade de urina produzida pela humanidade é suficiente para substituir ¼ dos atuais fertilizantes de nitrogênio e fósforo no mundo inteiro. Além de gerar grande economia financeira esse mineral reduziria impactos ambientais significativos.

Foto - Jairo

Em 2007 pesquisadores concluíram que o intestino humano é responsável direto e indireto pelas doenças e a saúde. A flora intestinal ou microbioma intestinal possui grande diversidade de microorganismos, sendo 10% da biodiversidade do solo. O fato é que existe estreita relação entre microorganismos no solo e o microbioma intestinal. Em outras palavras, a RISOSFERA do solo vive em nosso organismo. Risosfera são finos e complexos conjuntos de raízes interconectados nas plantas e no solo. São esses filetes os responsáveis pelo aumento das populações de microorganismos, bem como controladores do PH do solo, liberando íons de hidrogênio, ambos influenciando nas interações microbianas, elevando por fim a disponibilidade de nutrientes.

Foto - Jairo


É importante afirmar que o que fizermos e fazemos de ruim ao solo refletirá diretamente no nosso intestino, pois ingerimos alimentos que contém no seu exterior e interior, nutrientes que estão solos, bem como as toxinas, fertilizantes químicos e agrotóxicos, aplicados no seu desenvolvimento. Quem acompanha o dia a dia da agricultura convencional, arroz, soja, milho, etc, já deve ter ouvido relatos do tipo: “nessa safra tive que adicionar mais agrotóxicos na lavoura devido ao aumento das pragas”.

É desse modo que funciona, com o tempo os fungos e outros microorganismos vão adquirindo resistência a determinados agrotóxicos, portanto, quando mais agrotóxicos aplicados, mais agrotóxicos serão necessários para o controle de “plantas e fungos indigestos”.  Durante a aplicação de químicos serão eliminados fungos, insetos, plantas e tantos outros predadores, não é mesmo? Os que sobreviverem ao veneno não terão por sua vez o predador natural, portanto, tenderão a se multiplicar e a exigir mais veneno.

Foto - Jairo


Sobre a temática dos agrotóxicos, tem uma pesquisadora da USP, Larissa Bombardi, que anos atrás produziu um robusto estudo sobre os impactos dos agrotóxicos nos biomas brasileiros, trabalho esse que resultou no MAPA DOS AGROTÓXICOS. As perseguições e ameaças fizeram com que Larissa se exilasse na Bélgica onde reside até hoje. Larissa relata a letalidade dos agrotóxicos na agriculta, bem como o poder das grandes corporações no estrondoso monopólio da produção e comércio de fertilizantes, agrotóxicos e demais insumos.

Foto - Jairo


Não há dúvida que o único meio possível de salvar os habitantes do planeta terra de uma possível e real extinção é por meio da agroecologia e cultivo orgânico, sendo essa trabalhada em quatro pilares: produção, beneficiamento, comércio, consumo e reciclagem.  O manejo agroecológico é, de fato, saber cuidar do solo e dos pequenos habitantes, muitos dos quais invisíveis ao olho humano. Solo/terra bem nutrido é sinônimo de saúde, principalmente para o ser humano, que se alimenta do que a terra produz. Acredite, na terra existem bactérias que atuam em nosso sistema nervoso impedindo entre outras enfermidades a incidência de depressão.

Disse a professora Irene que equívocos ainda são cometidos por profissionais que estudam o solo. Se perguntarmos a um técnico agrícola como são os solos nos trópicos, as respostas certamente serão quase consensuais, são ácidos, pobres e ruins. Se a mesma pergunta for para integrantes de comunidades tradicionais, indígenas, por exemplo, as respostas serão bem diferentes, a terra é nossa mãe, que nos da vida, portanto, terra é a comunidade dos seres vivos. A acidez ou a pobreza do solo se devem as formas equivocadas de manejo, especialmente de uma agricultura convencional altamente depredatória dos solos.

O fato é que pode ser possível combater todas essas anomalias do solo, nutrindo-o, assegurando maior deposição de carbono do que sais. O solo é como o organismo humano, o sal ingerido traz certas deficiências ao metabolismo das plantas. O solo, portanto, precisa de diversidade de plantas, arvores, etc, formando complexa rede sistêmica conhecidas pelo nome de teia da vida.

Depois da apresentação do tema dinâmica do solo e sua complexidade sistêmica, pela professora Irene, foi a vez do professor e pesquisador Laércio, que integra um núcleo agroecológico no norte do RS. O tema que explanou foi TROFOBIOSE, inspirado no livro de um pesquisador Frances conhecido pelo nome de FRANCIS CHABOUSSOU, com o título Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos. Na concepção do pesquisador Frances e também aceito por Laércio, as plantas quando adoecem ou são atacadas por fungos, insetos, etc, são indicadores de que algo de errado está ocorrendo no manejo dessas plantas.

Foto - Jairo


Nesse sentido a proposta da obra é alertar o agricultor para que observe o modo como acontece o manejando do solo, que há deficiências de nutrientes no mesmo impedindo as plantas de crescerem saudáveis. A adubação química e o uso de agrotóxicos provocam inibições da síntese de proteínas e causam acúmulo de aminoácidos livres no suco celular. Laércio fez um relato histórico de suas experiências na agroecologia, citando nomes importantes como José lutzenberger e Dalvino Magro. O segundo nome, Dalvino Magro é considerado o mago da agroecologia, por ter desenvolvido um dos importantes compostos naturais para revitalização do solo, e que recebeu o nome de super magro.

Foto - Jairo


A terceira e última apresentação do seminário manejo ecológico dos solos foi do professor pesquisador Jamil Fayad, cuja formação acadêmica é nutrição. Sua abordagem foi sobre um sistema de cultivo que tem a seguinte sigla, SPDH – Sistema de Produção Direta de Hortaliças. Para os mais experientes quando vêem essa sigla rapidamente respondem, esse sistema se conhece há muito tempo, sendo largamente adotado pelo agro convencional em quase todo o Brasil. Sim, de início quando o professor apresentou a sigla, tive a mesma sensação, porém, durante sua explanação mudei drasticamente a opinião.

O sistema, SPDH, vem sendo aplicado na agroecologia, tendo como princípio compreender a dinâmica do solo e de seus habitantes. Afirmou o professor que na agricultura familiar produtores só sabem usar venenos e remover o solo com arado e outros implementos agrários. Não sabem que é possível produzir até mesmo em quantidade superior à convencional sem o uso desses mecanismos impostos pelo mercado. Disse que o solo é como o corpo humano, que na falta de alguma substância, nutrientes, por exemplo, começa dar sinais de deficiência nas plantas, tornando-as doentes e levando a morte.

Foto - Jairo


Relatou o professor, casos de assentamentos, onde os assentados recusavam a adoção do modelo SPDH no seu cotidiano no campo. No inicio da apresentação, o professor exibiu  desenho de uma vaca cujas tetas estavam conectadas com teteiras mecânicas. Metaforicamente, o leite era transportado por mangueiras para grandes corporações, bancos, companhias que controlam o comércio de sementes, insumos, venenos, etc. A ideia do SPDH têm por princípio libertar-se paulatinamente desse sistema de domínio, ou seja, empoderar os produtores com conhecimento e técnicas alternativas de cultivo com baixo custo econômico.

Destacou que essa técnica deve estar amparada por dois eixos, o eixo político e o eixo pedagógico. O pedagógico se fundamente na educação, na detecção de sinais emitidos pelo solo e plantas. Na agricultura convencional, o manejo se dá a partir do controle das pragas e não a verificação da saúde do solo. Usou também outro exemplo que mereceu reflexão. Habitualmente quando indivíduos vão ao hospital ou clinica, o médico geralmente trata a doença e não o indivíduo. Na agricultura segue o mesmo procedimento, a agricultora sempre vai para a lavoura procurando alguma pereba na planta.

Entendendo o solo, tornando-o saudável com a aplicação do SPDH, progressivamente vai se tirando as “teteiras da vaca”. O professor Jamil trouxe o exemplo de uma família produtora de chuchu, que conseguiu elevar de 30 toneladas para 115 toneladas em treze anos sem aplicar nada chuchuzeiro. Enfim, para resumir, a técnica do SPDH deve ser interpretada como um sistema de PRODUÇÃO DIRETA NO VERDE. Porém, para alcançar os resultados desejados é necessária mudanças de paradigma no modo de pensar e agir sobre o solo. O sucesso será alcançado quando acontecer o engajamento de todos, rompendo com a cultura do individualismo, premissa da agricultura convencional. 

No domingo, 05/11, último dia do encontro da rede ECOVIDA, durante o período da manhã, integrantes dos grupos que coordenaram os seminários fizeram suas explanações acerca do que foi discutido e elencado nas apresentações. O primeiro a apresentar foi o grupo que discutiu o tema Democratização do Estado Brasileiro e Políticas Públicas de Agroecologia.  Afirmou que a agroecologia ainda é um sistema produtivo carregado de preconceito pela população, que esse modelo deve ser inserido também manejo convencional. Sobre democracia, foi concluído que a mesma deve ser aplicada diariamente, na família, nas relações e também discutido no coletivo. Outro ponto debatido foi sobre as rígidas regras impostas àqueles/as que atuam na agroecologia, rigidez que não acontece com quem cultiva no modo convencional. Em relação aos jovens, a agroecologia contribui para mantê-lo no campo.

A segunda apresentação tratou a questão da rede de sementes para superar os desafios da produção orgânica, com sementes crioulas e mudas agroecológicas. Por cerca de dez minutos um integrante do grupo expôs as inúmeras demandas elencadas, dentre elas a construção de um GT (Grupo de Trabalho), de sementes, na rede ECOVIDA, com a participação de no mínimo um integrante por núcleo. Isso se faz necessário pelo fato de as legislações em curso, entre outras previstas, dificultarão ainda mais a pratica da horticultura no manejo agroecológico. Foi discutido também da necessidade de mobilizar o setor de sementes e mudas para que irem até Brasília, pressionar o governo e o MAPA, para que revogue os prazos de transição de sementes e mudas convencionais para orgânica. Atualmente é obrigatório o cultivo de 25% de variedades orgânicas na horta, sendo que para 2024 esse percentual aumenta para 40%.  

O terceiro tema discorrido dos seminários  foi sobre defesa das comunidades tradicionais: ocupação territorial e desenvolvimento. Nesse encontro estava presente o deputado estadual do PSol de Santa Catarina, Marquito. Segundo a relatora do tema, a mesma ressaltou que o deputado trouxe para o debate uma de suas bandeiras de luta no parlamente estadual catarinense que é a defesa das comunidades tradicionais no estado. A defesa dos grupos indígenas que vivem no entorno das barragens de contenção de cheias, a exemplo a barragem no município de José Boiteux, no vale do Itajaí, que vivem 10 comunidades, são uma dessas bandeiras.

Foto - Jairo


Nas enxurradas de outubro, essa barragem foi aberta, inundando 15% da área habitada pelos Xoklengs. Houve confrontos com a polícia que resultaram em inúmeros indígenas feridos.  Explicitou a relatora que não existe desenvolvimento sem falar de corpo, mente e território. Que as lutas desses grupos, indígenas e quilombolas, são invisibilizadas, que é preciso torná-las público e um dos caminhos é o MABE (Movimentos Atingidos por Barragens).

Durante os três dias do encontro ampliado da rede ECOVIDA, todo o ambiente do evento, as cores, as mensagens, as letras das músicas cantadas nas noites culturais, tudo refletia a percepção da diversidade, do desejo à inclusão e o fim dos preconceitos. As falas de representantes de grupos pretos, indígenas e LGBTQI+, refletiram exatamente gargalos existentes na rede e que deve ser trabalhado intensamente para a superação. Como confessou um dos participantes do encontro e que representa a etnia negra: o preto tem que batalhar muito para ser reconhecido.

Diante do exposto, foi criado o GT Povos Tradicionais, Abrindo a Fronteira para Agroecologia. Uma das integrantes do grupo LGBTQI+, também confessou da existência de um imenso tabu em relação a esse segmento de gênero na rede. Entretanto, disse, se a agroecologia presa pela diversidade, na sociedade todos somos diferentes e é isso que deixa o mundo mais colorido. O último a expor e que também representa o grupo gênero, destacou que o banner do encontro da rede ECOVIDA tem estampado as cores do arcoires ao fundo.  Entretanto o preconceito e o moralismo imperam na nossa sociedade, que há ainda homofobia na rede agroecológica, que pessoas não se sentem encorajadas para se expor. 

Prof. Jairo Cesa





Nenhum comentário:

Postar um comentário