quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014


Algumas reflexões sobre os impactos da proliferação das espécies invasoras - pinus e casuarinas no Balneário Morro dos Conventos

Analisando imagens obtidas do balneário Morro dos Conventos no final da década de 1950, há a nítida constatação de que o vasto espaço que se estende da falésia à orla tinha como vegetação predominante espécies gramíneas ou arbustivas fixadoras das dunas.  Durante as décadas posteriores, influenciado pelo aumento do fluxo populacional e ocupação imobiliária, variedades exóticas da flora como a espécie equisetifolia casuarina e pinus passaram a ser introduzidas no balneário. Sua disseminação em toda vasta orla foi acelerada, pois não encontrou dificuldade de adaptabilidade diante de um solo de elevada acidez e baixa fertilidade. Atualmente em toda extensão do balneário é possível visualizar a presença dessas variedades exóticas, que de acordo com a ONG  The Nature conservancy, define a espécie pinus como uma das mais problemáticas entre as demais invasoras conhecidas.
  
A presença da variedade pinus no planeta terra data da era paleozoica, ou seja, por vota de 200 a 400 milhões de anos, que teve como habitat ideal para sua proliferação as terras áridas, extremamente frias, de acidez elevada e baixa fertilidade do hemisfério norte com destaque a América do Norte, Europa e Ásia. Rapidamente algumas variedades de pinus como o ssp cruzou a linha do equador invadindo o continente Africano, Oceania e a América do Sul. Somente na África do Sul a variedade pinus foi responsável pela redução da biodiversidade provocando a extinção de aproximadamente 750 espécies. Na Argentina os pinus reduziram a diversidade de plantas nativas na região dos pampas e áreas protegidas.
No Brasil, os primeiros exemplares de pinus datam do final do século XIX trazidos pelos imigrantes europeus e que foram plantados para fins ornamentais. Os primeiros experimentos para fins comerciais somente se deu na década de 1950 no município de Rio Negrinho, Santa Catarina. Foi, portanto, em 1966, através da promulgação da lei n. 5.106 que tais variedades exóticas passaram a ser cultivadas de forma extensiva em todo território nacional visando não só suprir a indústria de papel celulose, com sementes e tecnologias importadas dos Estados Unidos e Canadá, como também abastecer o marcado madeireiro em franca expansão.
Ao mesmo tempo em que o setor papeleiro e setores da indústria madeireira foram beneficiados com a  aprovação de leis e incentivos fiscais e que abriu caminho para introdução de outras variedades de pinus, a mesma disposição não foi atribuída ao quesito fiscalização e controle da sua disseminação para ecossistemas complexos e frágeis como as dunas e restingas do Balneário Morro dos Conventos. Há inúmeros estudos e pesquisas que comprovam que as casuarinas e as demais variedades de Pinus como os ssp e elliottiis atuam com maior voracidade em ambientes em franco processo de impactação ambiental.
  
A introdução de espécies exóticas em ambientes naturais como a das casuarinas e pinus interfere diretamente na estrutura organizacional das espécies nativas, através da alteração da dinâmica genética. Há informações que comprovam que na hipótese de ocorrer uma contaminação química seus efeitos podem ser dissipados com o tempo, já a contaminação biológica seus efeitos são duradouros ou permanentes com danos irreversíveis. Outro aspecto que intrigou os estudiosos da espécie Pinus Elliotiis, foi em relação a sua fácil adaptabilidade em regiões de climas sub-tropicais com temperaturas mais amenas em comparação a dos países de origem. A surpresa foi maior quando se constatou que o ciclo de germinação dessas sementes não seguia o mesmo procedimento das do hemisfério norte, ou seja, a necessidade de temperaturas baixas para a quebra da dormência.
A compreensão sistemática da dinâmica das espécies casuarina e pinus e seus efeitos devastadores aos ecossistemas costeiros resultou na mobilização da sociedade da grande Florianópolis na promoção de uma intensa campanha visando a supressão e substituição dessas espécies no interior dos parques como do Rio Vermelho por variedades endêmicas do lugar. Embora o código florestal vigente permita  o cultivo intercalado de espécies nativas com exóticas, o município de Florianópolis, em 2012, o poder legislativo aprovou legislação de n. 9097/12 determinando a erradicação de pinus, eucalyptus e casuarinas em toda extensão do município num prazo de dez anos a começar na data da sua aprovação. http://www.institutohorus.org.br/download/marcos_legais/Lei_PMF_9097.pdf
A Fatma (Fundação de Amparo e Tecnologia e Meio Ambiente de Santa Catarina) também iniciará processo de supressão das espécies invasivas nos dez parques no qual coordenada no Estado. É com base nas iniciativas do legislativo de Florianópolis e do órgão ambiental estadual que no município de Araranguá o tema espécies exóticas da flora e fauna deverá ocupar espaços maiores de discussão nas instâncias dos poderes constituídos e na própria sociedade. A ideia é deixar de lado todas as emoções que dominam o indivíduo quando se discute o controle de espécies invasoras, pois muitas dessas espécies como as casuarinas, pínus, eucalyptus, entre outras, já convivem conosco há muito tempo. O que todos devem saber é que embora pensemos que tais espécies são consideradas inofensivas, que produzem sombras, que nenhum mal resultam ao ambiente, estamos enganados, as casuarinas e demais pinus que vem dominando dia após dia o cenário das nossas fachas de praias e morros da cidade, geram impactos sem precedente à fauna e flora nativa. 
Sua supressão e substituição por variedades endêmicas no Balneário Morro dos Conventos exigirão do poder público, órgão ambiental municipal e demais entidades a elaboração de um consistente plano de metas, que deverá partir inicialmente de um exaustivo processo de educação ambiental na comunidade. A compreensão da complexidade da flora original, as inúmeras variedades antes existentes e quais as que ainda persistem farão parte das etapas subsequentes.
                                          
No entanto, é importante ressaltar que dado a esse extenso e difícil desafio, a inclusão de toda vasta área do entorno da falésia em uma unidade de conservação, resultará em ganhos inquestionáveis para toda sociedade, especialmente para o extraordinário e complexo mosaico ecossistêmico hoje intensamente ameaçado.

Prof. Jairo Cezar





















3 comentários:

  1. O problema são os custos e a continuidade de um programa por 10 anos.
    Diante dos impactos já estudados é evidente que a melhor solução seria a erradicação. Mas, diante das dificuldades desta empreitada não haveriam outras soluções?

    ResponderExcluir
  2. O problema são os custos e a continuidade de um programa por 10 anos.
    Diante dos impactos já estudados é evidente que a melhor solução seria a erradicação. Mas, diante das dificuldades desta empreitada não haveriam outras soluções?

    ResponderExcluir
  3. "Todos a una como en Fuente ovejuna, Calderon de la Barca de todo ouvido fico com Ramaiena; não havería outra solução?, agora nem pitos nem flautas, em todo caso destruir e mais facil, os que fiarem me expliquem quando chegar a data (o que temos é de 2015 falta pouco); temos informação das doenças dos pinhos na Regiâo?

    ResponderExcluir