O QUE
SE ESCONDE POR TRÁS DAS TAXAÇÕES DE PRODUTOS BRASILEIROS IMPORTADO
PELOS ESTADOS UNIDOS
Acredito
que para compreender o que está acontecendo atualmente no mundo acerca das
guerras tarifárias, principalmente entre os EUA e a China, se mostra necessário
retornar um ou dois séculos na história, refletindo a partir de algumas obras
importantes, como a Riqueza das Nações escrita pelo escocês Adam Smith. Lembro
que nas minhas aulas de história quando o assunto era o liberalismo econômico,
procurava trazia para o debate o “século das luzes”, momento pelo qual a razão,
a ciência, se sobrepuseram aos desígnios metafísicos, sobrenaturais.
Agora,
o foco era o “deus mercado”, a oferta e a demanda, vistos pelos seus fiéis
defensores, como um mecanismo de base cartesiana, capaz de ordenar, regular o
funcionamento das sociedades em conformidade com as leis da natureza, a fisiocracia,
ou seja, o governo da natureza. Entretanto,
não havia como o mercado se autorregular, era necessário um agente mediador,
algo ou alguém que representasse o “deus mercado”, uma superestrutura, que
construísse um complexo arcabouço de regras, que fosse capaz de disciplinar o
funcionamento da engrenagem socioeconômica. Esse instrumento regulador passou a
se chamar Estado, uma entidade político-jurídica com autoridade sobre o
território e a população, cujo comando seria entregue a um líder, eleito ou não
pelo voto popular ou indicado pelo parlamento. Em muitos casos, esse líder, era
conduzido ao poder mediante golpe militar, patrocinado por poderosos grupos
econômicos.
O
argumento de que os mercados se autorregulariam, de modo que as crises
econômicas e sociais seriam evitadas, como acreditavam os seus representantes,
não se confirmaram com o transcorrer do tempo. Muito pelo contrário, o modelo
econômico instituído, moldado na exploração do trabalho e dos recursos
naturais, fez desencadear crises permanentes, algumas das quais resultando em
conflitos generalizados com milhões de perdas humanas e destruição da
infraestrutura. Os dois grandes conflitos mundiais, o de 1914-1918 e o de 1939-1945,
foram exemplos claros de que o capitalismo, durante o seu desdobramento, mostrou
que a ideia da autorregulação, de autossuperação de crises não se confirmou.
A Revolução
Russa em 1917 foi um acontecimento importante para que o sistema capitalista
reavaliasse suas práticas, que a existência de um Estado capaz de mediar
negociações com os trabalhadores, melhorando os salários e garantindo
benefícios sociais, ajudaria na redução das tensões entre o mercado e o
trabalho. O modelo keynesianismo de produção implantado pelos Estados Unidos nos
pós crise de 1929 se caracterizou como um programa econômico e social que levou
o salvamento da economia norte americana seriamente afetada pela quebradeira
dos mercados. O fato é que Keynes, um cidadão britânico, era forte defensor de
ideias liberais, porém, sua teoria ajudou governos a implantarem a
socialdemocracia, uma mistura de capitalismo com benefícios sociais.
O New Deal
(Novo Acordo ou Novo Pacto) do presidente Franklin D. Roosevelt nos pós segundo guerra foi o golpe
perfeito para a reconstrução das estruturas produtivas dilapidadas pela crise
do capitalismo. O Estado, portanto, entra no cenário econômico como um agente
de salvação de grandes corporações devastas pela crise. Outras estruturas com
finalidades estratégicas na economia, como as petrolíferas, comunicação,
eletrificação, transportes etc., o Estado assume a gestão. O modelo fordismo de
produção, como se caracterizou nesse momento da história do capitalismo, começou
a apresentar fissuras a partir do final do século XX, motivado por
transformações no campo da produção. O próprio Estado, como sustentáculo das
crises do capitalismo, de repente se mostra como vilão das novas crises por ele
protagonizadas.
Em vez
de “Estado máximo” no qual garantiu a recuperação das estruturas do sistema
produtivo pós crise de 1929, o que passa a ser apregoado agora nos quatro
cantos em que o capitalismo alcança, é a refutação do próprio Estado, tornando-o
pequeno, mínimo. Esse Estado Mínimo, foi idealizado pelos novos ideólogos do
mercado, os neoliberais. Como um rastilho de pólvora, os anos 1990, esse
projeto de sociedade que apregoava a desestatização, bem como a flexibilização
de direitos sociais, se espalhou rapidamente pelo mundo, afetando
principalmente as nações economicamente mais fragilizadas.
Os
avanços nas áreas de tecnologia, comunicação e transportes, pôs fim as barreiras
entre as nações. Sem dúvida a internet, foi um dos divisores de águas de um
mundo analógico para o digital, processo esse que resultou em mudanças radicais
no modo como as pessoas interpretarão o mundo a partir desse momento. É o começo da globalização contemporânea, que
parece fazer ressuscitar os princípios clássicos no liberalismo econômico.
Porém, nesse mundo agora globalizado é claro que irão se sobressair os países
detentores as novas tecnologias em curso, os Estados Unidos, depois o Japão,
entre outros.
O
protagonismo norte americano no comercio mundial se vê abalado já a partir da
primeira década do século XXI, com a investida da China, como potência emergente,
a ponto de desafiar o poderio ocidental. Um novo cenário geopolítico se
descortina no horizonte, estando agora de lados opostos duas frentes, a
ocidental, liderada pelos Estados Unidos, seus aliados europeus, Israel, alguns
países árabes e o Japão, e a oriental, protagonizada pela China, seguido pela
Rússia, Irã, Índia etc.
Parece
que a ideia de mundo globalizado, do livre comércio, passa a enfrentar um revés
com a eleição de Donald Trump, que entre as medidas tomadas no seu segundo
mandato, uma delas foi a elevação de tarifas para produtos importados da China
e de outras tantas nações espalhadas pelos cinco continentes. Seria o começo de uma guerra comercial que
paulatinamente irá minar as bases do livre mercado, vindo à luz o Estado
intervencionista no modelo keynesianismo? Penso que quanto ao keynesianismo,
isso não vai acontecer, porém, quanto ao estado protecionista, isso sim, claro
que do lado dos Estados Unidos, onde o presidente Trump, insiste em executar
suas promessas de campanha, uma delas é “making América Grant Again”, ou seja,
tornar a américa grande novamente.
Medidas
protecionistas num momento em que as economias no planeta estão cindidas como teias,
o resultado tenderá a ser o colapso econômico, em especial para os próprios
americanos, fortes dependentes de produtos importados, como o café, suco de
laranja, madeira, grãos, que são exportados pelo Brasil. Acreditamos que o
comportamento aloprado do governo americano com as suas políticas de taxações
se devem, sim, ao desespero de ver o seu principal oponente, a China,
expandindo seus mercados por todos os cantos, por meio da conhecida “rota da
ceda”.
Diante
de tal comportamento atabalhoado, o presidente Donald Trump, decidiu taxar em
50% os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos a partir do dia
01 de agosto de 2025. A notícia gerou profunda comoção por parte dos segmentos
que tem o mercado americano como principal destino dos seus produtos. A
pergunta que até o momento não tem resposta é porque taxar um país cujo
importador, os Estados Unidos, tem superávit na balança comercial? Uma das
alegações se deve a influência do filho do ex-presidente brasileiro junto ao
governo americano para que impusesse tais medidas, para pressionar o presidente
do Brasil e o STF, a concederem anistia aos envolvidos na tentativa de golpe em
08 de janeiro de 2023.
Se
realmente for verdade que o filho do ex-presidente está por trás dessas
manobras insanas, os prejuízos que terão os segmentos empresariais e do
agronegócio serão absurdos. Somente o RS pode perderá 145 mil empregos com as
taxações. Pior que são setores majoritariamente bolsonaristas, que tem
representações no congresso nacional, cujo comportamento quando souberam das
medidas contra o país, aplaudiram de pé, algo que irá arruinar seus
representados.
É incrível
como um assunto que tem o envolvimento direto da família Bolsonaro na elevação
das taxações de produtos brasileiros pelos Estados unidos rendeu tanta
cobertura pelos órgãos noticiosos brasileiros, bem como nas mídias digitais. A questão
é, tem mesmo sentido o que estão divulgando, de que um deputado, como o filho do
inelegível ex-presidente, tem tanta força de influência no governo dos Estados
Unidos? Penso que, a figura do filho do Bolsonaro está servindo como uma espécie
de cortina de fumaça para encobrir algo mais extraordinário que as taxações.
O encontro
dos BRICS no Rio de Janeiro há poucos dias deve ter implicação nas decisões
tomadas pelo governo Trump sobre ao Brasil. Mas não é somente isso. Pela
primeira vez os Estados Unidos viram o Brasil como Estado que tomou a dianteira
em discutir com os demais países do sul global proposta que poderá ameaçar a
hegemonia do grande império norte americano, que é possível criação de uma moeda
capaz de desafiar o dólar. A participação dos Bolsonaro nesse enredo apocalíptico
tem o objetivo claro de desestabilizar, romper o tecido institucional
brasileiro. A destruição do Brasil como projeto soberano interessa ao capital,
portanto, interessa mais ainda ao grande império do norte.
Prof.
Jairo Cesa