domingo, 30 de março de 2025

 

AÇÃO ANTRÓPICA NA ORLA DO MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ COLOCA EM RISCO DE EXTINÇÃO ESPÉCIES MIGRATÓRIAS, COMO AS BATUÍRAS DE BANDO.

Foto - Jairo


Quem caminhou pela orla do município de Araranguá nos últimos dias deve ter observando a presença de bandos de pequenos pássaros que caminham freneticamente na praia alimentando-se de pequenos crustáceos, minhocas, etc. Esses pássaros são conhecidos como batuíras ou batuíras de bandos. São espécies migratórias que voam milhares de quilômetros duas vezes ao ano, do hemisfério norte ao hemisfério sul e vice versa. Nesse momento, outono no hemisfério sul, elas estão se dirigindo para o norte, até o Canadá. Por ser uma viagem longa, as batuíras necessitam se alimentar bem rápidas durante todo o trajeto.

A orla de Araranguá é uma parada obrigatória para as batuíras, como em outras praias catarinenses e brasileiras. O que se nota em cada ciclo migratório é o número cada vez menor dessa espécie em nossas praias. Acredita-se que entre os fatores responsáveis pela redução progressiva de batuíras, está à poluição das praias e construções, como plataformas, que dificultam os deslocamentos das mesmas. A criação de políticas públicas de proteção para espécies marinhas, principalmente migratórias, se constitui como obrigação aos gestores públicos municipais e seus órgãos ambientais.

Para o município de Araranguá, a decisão do TRF 4, Tribunal Regional Federal, de Porto Alegre, pela proibição do transito de veículos não oficiais na orla se constitui como uma vitória à biótica costeira. Durante a atual temporada de verão era perceptível a presença da polícia militar fazendo frequentes rondas até o atual canal aberto do rio, cerca de 1000 metros ao sul do estuário do rio Araranguá. Os veículos não autorizados pelo órgão ambiental municipal eram solicitados que retornassem para que seus proprietários não fossem acometidos de multa.

Terminada a temporada, o acesso de veículos na orla  ficou sem controle, sendo que muitos transitam sobre as dunas e restingas, que são habitats naturais de espécies endêmicas da flora e da fauna. Além do tuco-tuco, um tipo de mamífero roedor, que se esconde em tocas nas dunas, tem também uma espécie de tipo de caranguejo, ocypode quadrata,  que vive em tocas na areia da praia. Tanto o tuto-tuco quanto o caranguejo, ambos  são considerados os mais ameaçados pelo transito desordenado de veículos na orla do município de Araranguá.   

 

Foto - Jairo

No entanto, são frequentes as ameaças do poder público municipal e do seu órgão ambiental de querer derrubar a decisão que proíbe o fluxo de veículos na orla. O fato é que mesmo com a decisão do TRF 4, quem caminha pela praia pode observar números expressivos de veículos transitando, que além de causar estresse às aves migratórias, muitos dos ocupantes lançam lixo à praia, como plásticos, vidros e latas.

Foto - Jairo


O que é mais assustador foi ter detectado no entorno do guarda vida central da orla do Morro dos Conventos, grande quantidade de bitucas de cigarros espalhadas sobre a areia da praia. Com a elevação das marés essas partículas de cigarros, que são excessivamente tóxicas, terão como destino o fundo do mar, servindo de alimentos aos peixes e outras espécies marinhas. Sacas plásticas, tampinhas de garrafas, canudos e copos plásticos, tudo isso poderão ser confundidos como alimentos pelos animais marinhos, provocando intoxicações e possível mortes dos mesmos.  

   

Foto - Jairo

 Todo esse material lançado na orla, associado aos que são trazidos pelo rio, serão absorvido pelo oceano. A presença de inúmeras tartarugas mortas na orla de Araranguá pode estar associada aos resíduos plásticos deixados na praia, que no oceano os quelônios confundem com alimentos. Precisamos, portanto, continuarmos atentos a qualquer ação do poder público em pretender derrubar a decisão do TRF 4, pois, sendo vitorioso, se constituirá cem uma grande derrota ao complexo e frágil bioma costeiro de Araranguá.

Foto - Jairo


 Deixar bem claro que defender a preservação do Morro dos Conventos, não significa estar contra o desenvolvimento do município, muito pelo contrário, o que queremos de fato é que sejam cumpridas as demandas do Plano de Gestão Integrada do Projeto Orla, que são mais de 200. Essas demandas foram discutidas e acordadas pelos delegados indicados pelas varias entidades civis, empresariais e do poder público, durante as dezenas de reuniões e oficinas do Projeto Orla, ocorridas entre 2014 a 2016 no próprio Balneário Morro dos Conventos.

Prof. Jairo Cesa              

segunda-feira, 24 de março de 2025

 

5ª CONFERÊNCIA ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE – DEMANDAS PARA O ENFRENTAMENTO DA EMERGÊNCIA CLIMÁTICA E A CRISE HIDRICA



A crise hídrica que se coloca como uma preocupante realidade para milhões de pessoas no mundo inteiro tende a se tornar mais critica nas próximas décadas se populações e autoridades não tomarem consciência de que modelos produtivos vigentes são causas primárias desse colapso hídrico que já é real. O que se observa e que demonstra ser verdadeiro é o tema água e suas complexidades, vir a público para reflexão e debate somente uma vez por ano, no dia 22 de março, data que é celebrado o dia internacional da água.

São poucos os meios de comunicação, gestores municipais, instituições de ensino, entre outras organizações, que não divulgam alguma ação alusiva ao tema, como plantio de árvores, recolhimento de lixo em mananciais, etc. No dia seguinte ao 22 de março, tem-se a sensação de que tudo volta à normalidade, como de um vírus pandêmico que provoca o esquecimento por um ano, até o próximo 22 de março. Como um disco furado que repete a música o tempo inteiro, o discurso sobre a água segue essa mesma analogia, a repetição dos problemas, das promessas e o esquecimento do que foi prometido. Todos sabem que a fragilidade no saneamento básico, no tratamento de esgoto, por exemplo, é um dos fatores primordiais á redução progressiva da demanda de água com qualidade para milhões de brasileiros.

O que é mais espantoso nesse debate sobre crise hídrica, é que o Brasil é um dos territórios com maior disponibilidade de água doce do mundo, decorrente da concentração de expressiva quantidade de rios, lagos, lagoas e uma boa fração do aqüífero guarani. Acreditem, diante da aparente abundância hídrica, milhares de pessoas já sofrem a falta desse líquido, principalmente na região amazônica, assolada por estiagens históricas e a degradação dos mananciais por resíduos orgânicos. Na bastassem os poluentes domésticos e industriais, outro problema invisível ao olho humano, porém detectável mecanicamente são os ativos químicos, como os agrotóxicos, que se subdividem em contato com o solo em centenas de princípios ativos altamente tóxicos. Muitos desses princípios são detectados em quase todas as analises laboratoriais realizadas pelas redes distribuidoras em todos os municípios brasileiros.

Nas bacias hidrográficas do Sul de Santa Catarina, as bacias do Tubarão, Urussanga e do Araranguá, um dos vilões contaminantes das águas é o carvão mineral. É sabido que tais bacias hidrográficas são comprovadamente umas das mais degradas do país, contendo em suas águas metais pesados provenientes principalmente de resíduos de carvão. Embora tendo sido aprovada na Assembléia Legislativa de Santa Catarina (ALESC), legislação que estabelece políticas voltadas à transição energética limpa no estado, essa medida, no entanto, não garante a supressão definitiva dessa atividade no estado.

Na 5ª Conferência Estadual sobre o Meio Ambiente, ocorrida nos dias 18 e 19 de março de 2025, em Florianópolis, foram elencadas 20 proposições que serão apresentadas na Conferência Nacional programada para acontecer no final do mês abril próximo em Brasília. Foram cinco eixos discutidos na conferência, ficando assim distribuídos: Eixo I – Mitigação; Eixo II – Adaptação e preparação para desastres; Eixo III – Justiça Climática; Eixo IV – Transformação Ecológica e Eixo V – Governança e Educação Ambiental. No Eixo I, das seis propostas discutidas pela plenária, quatro delas foram escolhidas para a plenária nacional. Uma dessas quatro trata exatamente do problema recorrente no sul do Brasil, a degradação ambiental por carvão mineral. A proposta do primeiro eixo foi assim redigida: “revogar as leis que prorrogam a exploração de carvão, proibindo a abertura de novas minas de carvão a partir de 2030. Incentivar o uso de energias limpas e renováveis e biocombustíveis através de incentivos fiscais e taxação de combustíveis fosseis  (carvão e outros) estabelecer metas e prazos”.

Os incentivos governamentais bilionários ao agronegócio, progressivamente vem escancarando as “porteiras” para a flexibilização das legislações relativas ao comércio de agrotóxicos, muitos dos quais já banidos na União Europeia e outros países por décadas. São substâncias químicas extremamente letais à biótica dos solos e das águas. Infindáveis são as pesquisas que confirmam ser o consumo de alimentos e águas contaminadas por agrotóxicos os vilões do aumento de casos de doenças degenerativas, a exemplo dos cânceres. Parkinson, Alzheimer, espectro autista, estão também no centro dos estudos e debates, existindo já muitas fontes que comprovam terem essas doenças, relações diretas e indiretas com a ingestão de alimentos e água contaminados.

Como proposta à produção agrícola convencional baseada na inserção de insumos químicos agrotóxicos, é amplamente incentivada à expansão da agroecologia, prática essa que segue os princípios da sustentabilidade, da resiliência sistêmica dos ecossistemas. Na atual emergência climática, a agroecologia se mostra muito eficiente ao reequilíbrio das disfunções da complexa teia sistêmica chamada cosmos.  A agroecologia se mostra tão importante e necessária à reversão à crise climática. Durante os debates da 5ª Conferência Estadual, no Eixo III, Justiça Climática, uma das quatro propostas aprovadas foi a seguinte: “exigir do Estado brasileiro uma reforma agrária consistente, favorecendo a agricultura familiar e produções baseadas na agroecologia e produção orgânica, a fim de cumprir com a constituição e democratizar o acesso à terra”.

São inúmeras as experiências em andamento de cultivos agroecológicos que estão produzindo excelentes resultados nas melhorias das condições de vida de milhões de brasileiros diretamente envolvidos nessas atividades. O MST possui praticas produtivas e de organização que deve ser considerada e seguida, por apresentar resultados eficientes no combate da fome e como mitigador dos impactos da crise climática global. A Rede ECOVIDA de Agroecologia e Produção Orgânica, que integra os três estados do sul, vêm comprovando que a organização participativa se mostra extremamente eficiente. Um bom exemplo de eficiência organizacional vem da Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória (COPAVI) na cidade de Paranácity/PR, que está vinculada ao Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST).[1]

Quando tratamos o assunto crise hídrica, o mesmo não pode ficar restrito apenas a questão oferta e a demanda de água doce. Também não podemos nos furtar de mencionar os oceanos, pois neles estão inseridos volumes significativos da água doce em estado sólido. A emergência climática tem relação também com o degelo e o aumento do nível dos oceanos. Cidades costeiras já estão literalmente sendo “engolidas” pelo mar. Não bastasse o degelo, tem também o lixo, principalmente de plásticos, que já se mostram como um problema pandêmico para os oceanos. Existem ilhas gigantes de lixo em vários pontos de todos os oceanos e mares.[2] Alguém um dia poderia imaginar que a vida nos oceanos seria ameaçada por microplásticos, considerados tão letais à vida aquática e terrestre quanto ao CO2 e agrotóxicos?

Sim, é isso mesmo. Algo imperceptível ao olho humano, milhões de toneladas de plásticos são dissolvidos em micro fragmentos, comprometendo à vida nos oceanos e nos continentes. Pesquisas comprovam que microplásticos estão sendo depositados nos solos e nos mananciais hídricos por meio da chuva. Microplasticos são elementos químicos considerados piores que chuvas acidas, pelo fato das dificuldades de serem eliminados da natureza. O pior é que são ingeridos no consumo de alimentos, como vegetais, carnes, água, entre outros. Essas substâncias tóxicas se acumulam nos pulmões, sangue e até mesmo na placenta de bebês em desenvolvimento.

Até o momento mesmo existindo um enorme arcabouço de legislações relativas ao saneamento básico, o problema dos resíduos sólidos ainda se caracteriza como um desafio a ser solucionado.  A 5ª Conferencia Estadual do Meio Ambiente também discorreu o assunto resíduos sólidos no IV Eixo Transformação Ecológica. Uma das quatro proposições aprovadas pelos/as delegados/as descreve o seguinte: “promover gestão integrada de resíduos sólidos entre municípios da região e os principais atores como sociedade, cooperativas e associações, poder público e privado, valorizando e implementando a compostagem dos resíduos orgânicos, reciclagem dos resíduos recicláveis e ações de economia circular para o aumento da taxa de desvio de aterro sanitário, valorizando a cadeia produtiva dos resíduos”.

Portanto, o planeta terra vive sua fase mais crítica em se tratando de clima. Isso motivou as agencias intergovernamentais do mundo inteiro a lançarem alertas por já estarmos sobre uma emergência climática. Nesse sentido temos agora pouco tempo para buscar reverter os estragos e assegurar uma sobrevida ao planeta. Como saída a um possível colapso climático, além de ações concretas provenientes de organismos governamentais e dos sistemas produtivos, o trabalho de sensibilização ambiental coletiva em massa deve ser aplicada imediatamente.  

A demanda sensibilização ambiental foi amplamente debatida na 5 conferência de Educação Ambiental, fato que motivou a aprovação pelos delegados de uma proposta, para ser discutida e quem sabe também aprovada na conferência nacional. A proposta do Eixo V é o seguinte: “criar e colocar em prática Políticas Municipais e Regionais de EA como ação de Estado, com diretrizes curriculares, diagnóstico regional, formação formal e não-formal, em rede, com participação social. Criar e institucionalizar as Escolas do Mar, fomentar instituições de EA para implementar programas alinhados ao Plano Nacional do Clima, de forma intersetorial, respeitando a diversidade regional”.                   

Prof. Jairo Cesa

   

   

                    



[1] https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/8216021869399138207

[2] https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/3758619673006269685

sexta-feira, 14 de março de 2025

 

CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 2025 – FRATERNIDADE E ECOLOGIA INTEGRAL

https://campanhas.cnbb.org.br/campanha/campanha-da-fraternidade-2025/


Desde que o papa Francisco assumiu o papado em 2013, foram inúmeras as ações deliberadas em defesa do planeta terra. Um das mais importantes foi a campanha da fraternidade de 2015, quando propôs que o tema tivesse alguma relação com a defesa da mãe terra. Na época, o planeta já dava sinais nítidos dos efeitos perversos da ação humana sobre sua biosfera, que medidas deveriam ser tomadas urgentemente para não alcançar o estágio do não retorno. A terra como sendo o habitat de todos os seres vivos, o tema inserido nas capas das cartilhas da campanha da fraternidade de 2016 foi Laudato SI, que em língua portuguesa significa “Louvado Seja”- O Cuidado da Casa Comum.  

O tema da campanha da fraternidade faz alusão a própria Encíclica com o mesmo nome lançada pelo papa Francisco em 2015. O termo Encíclica é uma espécie de carta escrita pelo papa, que é enviada as igrejas cristãs de todo o mundo, comunicando alguma atualização à doutrina. Essa encíclica contém cerca de 200 paginas, destacando pontos importantes de como os humanos deveriam se comportar para não coloque em risco de colapsar a mãe terra, a casa comum de todos os seres vivos. Durante a quaresma, com duração de quarenta dias, católicos, cristãos ortodoxos, anglicanos, luteranos, e outras denominações Presbiterianas e Reformadas, espalhadas pelo planeta, devem ter lido e debatido os capítulos da cartilha, e certamente, tiveram melhor compreensão de que cuidar da terra ou da casa comum é um ato divino, que segundo essas e outras religiões monoteístas, as concebem o planeta terra e o próprio universo como uma  criação de Deus.

Dez anos depois da publicação da encíclica e da campanha da fraternidade, o cenário que hora se vislumbra no horizonte do planeta terra é de extrema atenção e preocupação. Parece que os ensinamentos trazidos por essa encíclica, mínimos foram os resultados positivos nos corações e mentes das autoridades e do segmento produtivo global. Desde então o clima do planeta vem sendo acometido por intempéries com graus catastróficos de destruição. Os constantes e contínuos episódios climáticos extremos, enxurradas e estiagens avassaladoras, dão mostras de que a manutenção das atuais políticas produtivas insustentáveis está colocando o planeta terra em um caminho perigoso do não retorno.

Parece que os rotineiros encontros de cúpulas em defesa do clima, a exemplo das Cops, como a de Paris, em 2015, não estão assegurando resultados desejados, como por exemplo, evitar que a temperatura média do planeta não alcance a média crítica de 1.5 graus Celsius, antes do final desse século.  De acordo com estudos obtidos por organizações que fazem o acompanhamento diário das temperaturas no planeta, há evidencias claras que o limite preocupante de 1.5 graus Celsius, foi atingindo em 2024. Sendo assim, o planeta já está em uma condição de emergência climática, ou seja, que todas as medidas pensadas e discutidas nas COPs com prazos mais longos para serem executadas, deverão ser imediatamente revistas, pelo fato de o limite médio de temperatura de 1.5 termos sido antecipado em mais de meio século.

O fato é que existem evidências claras que o planeta está aquecendo além do seu limite desejado. São ondas de calor que vem transformando países ou continentes inteiros em um verdadeiro caldeirão, cujas temperaturas facilmente superam os 40 graus Celsius. O que demorava cinquenta ou cem anos para quebras de temperaturas médias globais, nos últimos cinco anos os cientistas comprovaram por meio de monitoramento ter havido quebras recordes de temperaturas médias. Os impactos do aumento médio da temperatura global influenciam diretamente em toda a complexa biótica planetária, principalmente nos oceanos onde habitam espécies extremamente frágeis e profundamente afetadas pelo aquecimento global.

Além das entidades cientificas estarem envolvidas na tentativa de reverter o possível hecatombe climático que o planeta terra está trilhando, organizações sociais, ONGs, movimentos religiosos também estão se engajando conjuntamente na esperança de sensibilizar as autoridades globais e segmentos econômicos, para que repensem suas políticas e práticas produtivas consideradas degradantes e impactantes à mãe terra. Novamente a igreja católica, como havia feito há dez anos, por iniciativa do sumo pontífice, o papa Francisco, quando lançou à encíclica, em 2025, determinou que a campanha da fraternidade nesse ano abordasse tema vinculado à ecologia.

O que causa espanto é o fato de uma religião como a católica com mais de um bilhão de fieis seguidores no mundo inteiro, cujos reflexos da encíclica de 2016, Láudano Si, pouco efeito teve nas mudanças de comportamento das autoridades no modo de compreender o planeta como um elemento vivo e frágil. Talvez agora o Papa Francisco, pela sua forte vinculação às causas sociais, humanitárias, tenta lançar sua última cartada em vida na tentativa de mais uma vez sensibilizar a humanidade de que estamos num caminho sem volta.  Ou repensamos e mudamos nossas praticas comportamentais nada saudáveis com a nossa mãe terra ou teremos uma existência bem curta junto com as demais espécies vivas existentes.

O tema “Fraternidade e ecologia integral e o lema Deus viu que tudo era muito bom”, tende a propor uma forte mobilização das igrejas cristãs cuja expectativa é fazer as pessoas pensarem que a atual realidade planetária é extremamente critica. Ecologia integral tem como fundamento, pensar o planeta como uma grande casa viva, um complexo conjunto de teias, interconectadas e sensíveis a qualquer ação antrópica. Apelar à religião, a fé, se mostra até plausível, entretanto, nos debates acerca do tema é necessário dar bastante ênfase ao atual modelo econômico, o poder das grandes corporações do petróleo, dos agrotóxicos, entre outras, que estão por trás desse insano desejo de domínio planetário.

Como vem se observando no atual cenário global, dominado por guerras e disputas comerciais entre grandes potencias, são raros, nos encontros envolvendo tais lideranças, para tratar acordos de paz ou de negócios, a inclusão de demandas elencadas nas conferências do clima, como a redução das emissões dos gases do efeito estufa, investimentos em energias renováveis, agroecologia, etc. Fora toda a negação articulada pelo grande capital sobre pautas ambientais, mais uma vez é importante louvar o papa Francisco, que vem cumprindo a risca com o seu propósito a frente do pontífice, a busca da conciliação entre as religiões, construção de uma um mundo mais fraterno, mais tolerante, sem injustiças sociais.

Prof. Jairo Cesa            

segunda-feira, 10 de março de 2025

 

A INVISIBILIDADE DAS MULHERES NA POLÍTICA EM ARARANGUÁ

Por meio de um projeto de lei do legislativo municipal de Araranguá, aprovado em 2002, todos os anos os vereadores e vereadoras daquela casa indicam uma mulher com algum trabalho relevante na sociedade araranguaense para ser homenageada com o troféu Alzira Rabello. É inquestionável a importância de um projeto de tamanha magnitude, onde passou dar visibilidade às cidadãs, muitas das quais anônimas, desconhecidas do público, porém, com extenso histórico de trabalhos sociais, assistenciais, em prol dos mais necessitados.

Sabemos que historicamente a mulher sempre foi vista como sujeito coadjuvante, de segunda classe, no processo civilizatório ocidental. Algumas conquistas de direitos elementares, como de salários, de votar e ser votada se deram por meio de muitas lutas e resistências. Mulheres trabalhadoras tiveram que sacrificar suas próprias vidas para que hoje milhões de cidadãs no mundo inteiro pudessem ter o mínimo de dignidade em suas vidas. Uma das grandes barreiras ainda hoje enfrentada pelas mulheres ocidentais ocorre na política, nas esferas dos legislativos e dos executivos municipais, estaduais e federais.

Nos pleitos eleitorais ainda são inexpressivos o número de mulheres eleitas para ocuparem esses respectivos postos, mesmo considerando legislações criadas como a que trata sobre cotas, obrigando os partidos políticos, inserirem em suas siglas, 30% de candidatas femininas, à disputarem as eleições proporcionais. Parece que tal legislação pouco efeito teve e está tendo na inclusão da mulher num campo sempre dominado por homens. O número de mulheres eleitas nos últimos pleitos para o legislativo, principalmente o municipal, ficaram muito abaixo do esperado.

Um exemplo de município onde a mulher é pouco presente no cenário político é Araranguá. Nos seus 145 anos de história política, quatro foram às mulheres eleitas para o legislativo, sendo uma mulher apenas para o executivo, claro que de forma interina, em substituição ao titular, em 1947. Permaneceu no cargo por 45 dias. Nos últimos dois pleitos eleitorais, 2020 e 2024, não chegou a 50 mulheres candidatas em cada pleito, que se dispuseram a se filiarem nos partidos e participarem da campanha a uma das 15 cadeiras do legislativo. Convém destacar que o número de homens que ingressaram a campanha nos dois últimos pleitos foi quase sempre o dobro ao das mulheres.

Se observarmos a lista total dos candidatos e candidatas e o total de votos recebidos/as nesses dois últimos pleitos, o que chama atenção é a posição que elas ficaram nessa tabela. Mais de 80% delas ficaram posicionadas nas últimas posições, com votações pífias. O resultado negativo delas nesses dois pleitos permitiu que eu fizesse uma breve reflexão: a inserção de expressiva parcela de mulheres nos partidos para as disputas eleitorais é possível acreditar que não ocorreu por fatores ideológicos, mas por cumprimento de legislação especifica sobre cotas de candidaturas.         

Diante dessa realidade um tanto estranha, se torna até paradoxal, em um evento tão importante como o  8 de março, alusivo  ao dia internacional das mulheres, que homenageia mulheres do município de Araranguá, de não ter sido eleita uma única mulher sequer  à vaga do legislativo. Afinal de contas, por que as mulheres no município de Araranguá continuam invisíveis, excluídas acerca do processo político, mesmo elas representando 52% da população do município?

O estranhamento da mulher não se dá somente no campo da política, em outros segmentos ela também pouco aparece. Nas mais de duas centenas de ruas existentes no território araranguaense, pouco mais de trinta delas tem o nome de mulheres escritas nas placas fixadas. É sabido por experiência que uma mulher ou mulheres atuando em espaços de gestão publica, legislativo, por exemplo, elas têm maior capacidade de construção laços de afetividade e de compromissos entre seus pares masculinos em prol de projetos de cunho sociais.   

Também, por outro lado, não ter mulheres ocupando cadeiras no legislativo municipal, por exemplo, garante ao homem certo empoderamento, domínio inconsciente de um cenário historicamente masculinizado e já incorporado pela sociedade como algo natural. A presença de uma mulher ali, desperta medo, fragilidade, de achar que a qualquer momento ele será desafiado. A atitude costumeiramente aplicada pelo homem nesses espaços masculinizados, diante da presença feminina, são comportamentos machistas, como forma de subjugá-las, inferiorizá-las.

Prof. Jairo Cesa