O
GIGANTESCO RETROCESSO AMBIENTAL BRASILEIRO FINANCIADO POR GOVERNOS E PODEROSAS
MULTINACIONAIS
Já
é de praxe todos os anos durante a semana mundial do meio ambiente, entidades ambientais
municipais em conjunto com autarquias e demais secretarias como a educacional
promoverem atividades comemorativas à data, expondo trabalhos culturais,
ambientais, distribuindo mudas de árvores à população, entre outras. Na maioria
das vezes os eventos são programados estrategicamente para fins exclusivamente
publicitários, ou seja, verbalizar ao público discursos vazios que não condizem
com suas praticas diárias de seus protagonistas que são de forte impacto
ambiental.
E
são muitos os exemplos que comprovam com tais práticas insensatas desses
órgãos, incluindo o próprio executivo municipal, que negligencia
escancaradamente a sua obrigação constitucional de executor e fiscalizador de
normatizações municipais como a lei orgânica e o código ambiental. O não cumprimento
das resoluções dos planos municipais de saneamento básico; as concessões de
licenciamentos para empreendimentos em áreas de risco ambiental; a não restrição
ao uso de agrotóxicos em áreas urbanas são algumas dentre outras tantas mazelas
ambientais que jamais virão a público durante os dias comemorativos ao
ambiente.
Saído
das esferas locais e adentrando no campo do executivo federal, notamos que nos
últimos 20 ou 25 anos quanto o comando do Brasil esteve na mão de partidos como
o PSDB, PT ou até mesmo no PRN de Collor, o país não havia experimentado tanto
retrocesso na área ambiental como agora. É algo que ultrapassa todos os limites
imagináveis e inimagináveis. Não bastando às infindáveis negociatas com
agrupamentos políticos conservadores, como a bancada ruralista no congresso, na
última semana do mês de maio, notícia circulou pela imprensa, que o governo
Michel Temer estaria prestes a nomear um cidadão, filiado ao PROS, proprietário
de uma revendedora de bebidas, para assumir a presidência do ICMbio nacional. A
bombástica notícia correu como um rastilho de pólvora causando indignação e
perplexidade aos profissionais que integram o órgão, como também à sociedade em
um todo.
É
inadmissível que um governo com quase 90% de rejeição popular continue tomando
medidas bombásticas como da nomeação de alguém sem qualquer perfil técnico para
o cargo. Entregar o poste de presidente
do ICMbio a pessoa desqualificada resultará em risco ainda maior ao tão mal
tratado meio ambiente. É claro que toda essa manobra deve tem o dedo indicador
de setores interessados na fragilização ou estagnação do órgão criado em 2007, no
qual presta serviços relevantes ao Brasil. Entre outras atribuições que lhe é
reservada, o ICMbio atua na gestão de 332 unidades de conservações federais ou
9% de todo o território nacional. Vale lembrar também que o órgão também é
responsável pela gestão de 20% do mar territorial brasileiro.
Entregar
o instituto para ser presidido por um cidadão sem qualquer competência ou experiência
na área, apenas para selar acordos de bancadas partidárias, é o extremo da
irresponsabilidade de um governo que conseguiu em dois anos retroceder avanços
ambientais conquistados nas últimas três décadas. E esse descaso com o meio
ambiente não ocorre apenas com o órgão em escala nacional, nos estados o órgão
ambiental também vem sendo alvos de ataques, como Brasília e Rio de Janeiro.
Se
em Brasília um dono de revendedora de bebidas foi agraciado com o principal
posto de um órgão de tamanha importância ambiental como o ICMbio, no estado do
Rio de Janeiro, o premiado foi o dono de uma padaria, isso mesmo, padaria, também
ligado ao PROS, que teria entre outras atribuições a gestão de uma das maiores reservas
ambientais do estado, a Reserva Ecológica do Taguá, com 26 mil hectares. A
importância dessa reserva é de tal dimensão, que a água que brota de suas
nascentes abastece 25% da população da baixada fluminense. Devido também as pressões da sociedade, o cidadão
nomeado foi destituído do cargo. Entretanto, há seis meses o órgão vem sendo
coordenado por um representante do DEM.
Desde
a sua nomeação, informações dão conta que nenhum auto de infração foi julgado,
ou seja, ações ou processos de infrações cometidas contra o meio ambiente. Em
relação ao referido coordenador regional do órgão ambiental no Rio de Janeiro,
foram protocolados denúncias que levantam suspeitas de estar advogando em
defesa de cidadãos que violaram regras ambientais. Imagine um órgão público de
defesa do meio ambiente, a serviço dos interesses daqueles que violam regras
ambientais.
É
desse modo irresponsável que o atual governo vem agindo quando o assunto é meio
ambiente. Isso tudo tem relação com o modo nada convincente como foi montado o
seu governo, onde muitos dos seus ministros são suspeitos de envolvimento de
algum tipo de crime. Agora quando entramos na esfera do legislativo federal, a
situação é mais preocupante ainda. O parlamento, por sua vez, expressiva
parcela dos legisladores são integrantes de bancadas, nesse caso, uma das mais
importantes é a ruralista formada por representantes do agronegócio. É claro
que diante de um poder de fogo tão decisivo, quase todos os projetos que
adentram nas comissões e no plenário, que atende os seus interesses, são
aprovados sem qualquer dificuldade. De certo modo, nesse cenário corporativo, o
executivo tende a assumir uma posição de membro figurante, tendo que ceder ou
barganhar cargos para obter algum benefício.
Os
projetos que atualmente estão tramitando ou sendo aprovados no parlamento brasileiro
relativos a temas ambientais como a liberação de agrotóxicos, vem colocando o
Brasil num patamar de extrema preocupação até mesmo de organizações
internacionais que insistentemente estão alertando os governos sobre seus impactos
aos vários biomas que compõem o território.
O desastre ambiental em Mariana/MG, a devastação da floresta amazônica e
atlântica, são alguns episódios extremos que somados a outros tantos, vem provocando
reações já visíveis à natureza, como a crise hídrica ocorrida em São Paulo em
2014, a longa estiagem no Distrito Federal, etc. Os pesquisadores e estudiosos
do clima já confirmam que poderá se repetir a crise hídrica em São Paulo,
decorrente da redução progressiva do volume de água dos reservatórios de
abastecimento como a Cantareira.
Realmente
a água já se tornou o centro das atenções e preocupações no Brasil e no Mundo.
Mas como poderia acontecer logo no Brasil sendo um território que possui uma
das maiores reservas de água doce do Planeta? O problema é que toda essa “abundância”
já sofre os efeitos das irresponsabilidades e mudanças climáticas. A devastação
progressiva da floresta amazônica, serrado e mata atlântica, vêm influenciando a
dispersão das chuvas em todo o território, com estiagens prolongadas em regiões
importantes em termos de produção agrícola como o sudeste e o sul do Brasil. Outro
detalhe importante, o desmatamento da Amazônia se deve também ao avanço da
pecuária, da mineração e da cultura da soja, provocando tensões e conflitos com
comunidades indígenas e quilombolas que vêem suas terras invadidas por
desmatadores e grileiros.
As
grandes barragens para geração de energia elétrica, como a Belo Monte, são
outros fatores responsáveis pela radical transformação da região, alterando a
dinâmica natural dos rios que estão impactando ecossistemas inteiros. Durante a
execução dessas obras bilionárias os governos disponibilizaram milhões de reais
em recursos públicos em publicidade para engambelar a população com informações
de que as obras seriam para atender a demanda da população da região e do
restante do país com energia elétrica. Tremenda lorota para enganar bobo. A
intenção das obras foi e é suprir com energia elétrica as poderosas companhias
transnacionais que extraem e beneficiam bauxita, manganês, ouro, etc, que são
exportadas a preços módicos para os potentes mercados dos EUA, União Européia e
China.
Quem
achou que o colonialismo havia se encerrado com a independência do Brasil, se
enganou. O processo de dependência se mantém sob outra roupagem, o
neocolonialismo, muito mais sutil e perverso que a forma tradicional. Esse novo
modelo de dominação é tão poderoso que se alojou nas entranhas dos poderes
constituídos, atuando na legalizando da pilhagem das nossas riquezas naturais.
Outro
bioma seriamente comprometido com o avanço do agronegócio é o cerrado. Muita
gente ainda continua acreditando que o problema do desmatamento, da invasão de
terras, da grilagem, se dá somente no bioma amazônico. A cada ano o Cerrado vem
perdendo cerca de um milhão de hectares para projetos de expansão agrícola e
pecuária. Hoje a metade do bioma está convertido em campos para criação de gado,
ou seja, quinhentos mil hectares. No Brasil a população de bois já ultrapassa o
número de pessoas.
Isso
significa que a região do cerrado está enfrentando um rápido processo de
desertificação devido às inversões térmicas. Nesse ritmo em pouco tempo os
principais rios que tem suas nascentes naquele bioma tenderão a secar
definitivamente alterando ainda mais a dinâmica das chuvas no Brasil e no
planeta. Estaria o fenômeno da longa estiagem que assolou o distrito federal há
pouco tempo vinculado ao processo de desertificação do cerrado?
Sobre
a pecuária, algumas organizações ambientais como o Greenpeace vem alertando os
governos e organizações científicas sobre os riscos ambientais o avanço da pecuária
no bioma da Amazônia. Em 2009 a entidade publicou relatório mostrando como
funciona o esquema da pecuária na Amazônia, onde envolvia empresas do setor entre
outras tantas que também se beneficiam dos derivados resultantes dessa
atividade. Não ficou de fora desse apetitoso seguimento bilionário o próprio
governo federal, reconhecido com um dos maiores acionistas.
De
acordo com o relatório apresentado, entre os anos de 2003 a 2009, o governo na
época presidido por Lula havia destinado cerca de 340 bilhões de reais para
fomentar a agricultura e pecuária no Brasil. Desse volume total orçado, 83%, ou
seja, 283 bilhões foram direcionados para a agropecuária empresarial. Quanto
que sobrou para programas de incentiva a agricultura familiar? Um pouco mais de
50 bilhões de reais. Afinal qual dos dois setores é responsável pelo
abastecimento com frutas, verduras e outros gêneros à quase totalidade da
população brasileira? O agronegócio ou os produtores familiares?
Todo
esse esquema silenciado foi possível, favorecido por uma política de desmando
generalizado, da corrupção, da falta de governança nas regiões em que a
pecuária mais se expandiu, região norte do Brasil. Para se ter uma noção da
gravidade do problema, entre 2006 a 2007, o desmatamento ilegal na Amazônia atingiu
cifras assustadora de 90%. Além de grandes frigoríficos que se expandiram em
direção a região como a BERTIN, JBS, MARFRING, entre outros, foram beneficiadas
com tais manobras, marcas famosas no mundo como a ADIDAS, BMW, NIKE e mais
outra dezena.
A
maior contradição disso tudo é que o governo brasileiro, na conferência sobre o
clima ocorrida na China em 2008, oficiou publicamente o seu Plano Nacional de
Mudanças Climáticas. Na exposição do
programa, prometeu reduzir 72% da taxa desmatamento na Amazônia até 2018. Esse
percentual representaria uma redução de 4.8 GT (GIGATONELADAS) de C02 na
atmosfera. Alguém acredita que esse plano foi cumprido? Claro que não.
Portanto, não há dúvida que grande parte da carne bovina consumida no Brasil e
em vários países onde é exportada, tem a sua produção envolvida em inúmeras
irregularidades, principalmente no quesito área de criação, cuja floresta foi
suprimida criminalmente. Quando milhares de indivíduos se deliciam saboreando suculentos
churrascos ou desfilando pelas ruas com possantes bolsas de couro de grifes
famosas, nem imaginam o tamanho dos impactos provocados pela cadeira produtiva
em ecossistemas inteiros.[1]
Em
2005 novamente o Greenpeace apresentou relatório de pesquisa realizada nos
maiores supermercados brasileiros avaliando se os mesmos seguem com rigor os
procedimentos relativos à carne adquirida, como: 1) - política de aquisição da
carne bovina livre de desmatamento; 2) - a qualidade e o rigor dessas políticas; 3) - a
transparência dos supermercados com o seus consumidores. Das grandes redes
pesquisadas apenas uma, a Valmart, respondeu as três questões obtendo nota
máxima 100 apenas no primeiro quesito. Nas demais questões, no item qualidade
do produto a nota foi 72, enquanto que no quesito transparência, a nota foi 14.
No geral, a empresa obteve nota 72.
Os demais supermercados, citados no relatório,
o CAREFOUL, o GPA e o CENCOSUL, ambos obtiveram notas gerais 23, 15 e 3. Três
redes de supermercados se eximiram de responder o questionário, são eles, a
rede COMPER; a DB e Y.YAMADA.[2] O
que se pretende na realidade, segundo o Greenpeace, é forçar as redes de
supermercados a aderirem a campanha de somente adquirirem produtos de
pecuaristas que estiverem aderindo o compromisso do desmatamento zero, bem como
o não emprego de trabalho não escravo e de invasão de terras indígenas.
A
pecuária extensiva brasileira contribuiu em 2013 por 62% do total de gases do
efeito estufa emito no Brasil. Isso não significa que esse elevado percentual
de gases emitido tenha contribuído para uma elevação na mesma proporção do PIB
brasileiro. O impacto no produto interno bruto entre 2010 a 2013 foi de apenas
5,4%. Segundo opinião obtida de pecuaristas sobre as práticas de desmatamentos
ilegais, os mesmos afirmaram que se torna muito mais em compensatório desmatar
novas áreas que reabilitarem outras já degradadas. Na realidade é mais
compensador pagar as multas que cumprir as legislações em vigor sobre programas
de manejo eficiente dessas áreas. [3]
Portanto,
diante desse cenário quase catastrófico em relação ao meio ambiente brasileiro,
fica o alerta para os poderes públicos municipais, escolas, entre outras
organizações, que durante a semana mundial do meio ambiente ou o ano inteiro,
substitua o habitual discurso consensual e irreal, pelo discurso verdadeiro,
mostrando que as práticas dos governantes e do setor produtivo são totalmente
insustentáveis. Acredito que assim teremos chance de frear o que os cientistas vêm
alertando há algum tempo, da terra vir a se tornar um ambiente impraticável à
sobrevivência humana.
Prof.
Jairo Cezar
[1] http://www.greenpeace.org/brasil/Global/brasil/report/2009/6/FARRAweb-alterada.pdf
[2] http://carneaomolhomadeira.org.br/
[3] http://carneaomolhomadeira.org.br/docs/relatorio_greenpeace_carne_ao_molho_madeira_nov2015.pdf
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