A ACELERADA DEVASTAÇÃO DO QUE AINDA RESTA DO BIOMA DA MATA ATLÂNTICA
https://www.sosma.org.br/wp-content/uploads/2020/06/2020_Atlas_Mata_Atlantica_2018-2019_relatorio_tecnico_final-1.pdf |
Nos
últimos meses a mídia nacional e internacional deu expressiva cobertura
exclusiva aos desmatamentos e as queimadas na Amazônia legal e ao centro oeste
brasileiro, com destaque aos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Os
impactos desses episódios, na sua maioria criminosos, são irreversíveis à saúde
dos biomas e ao clima no planeta. Não há dúvida que esses ecossistemas são
importantes e que deveriam receber toda a atenção das autoridades, que não
ocorrem.
No
entanto, não podemos esquecer que em termos de biodiversidade, o bioma da mata
atlântica guarda um tesouro singular e diverso, não encontrado em nenhuma parte
do planeta. O fato é que esse bioma se estende do Rio Grande do Norte ao Rio
Grande do Sul. Ao todo são 17 estados, quatorze deles costeiros. Mais de 70% da
população vive sobre esse ecossistema, totalizando 145 milhões de pessoas, que
estão distribuídas em 3.429 municípios, de um total de 5.570.
Enquanto
o processo de devastação da floresta amazônica, sendo sua intensificação mais
evidenciada nas últimas décadas, a mata atlântica, a destruição vem acontecendo
há mais de cinco séculos, desde a ocupação portuguesa. A extração da madeira do pau Brasil, a cultura
da cana, do café, entre outras atividades, foram atividades que resultaram na
perda de parcela significativa de cobertura florestal desse ecossistema.
São
dezesseis capitais cujas sedes administrativas ficam próximas a orla oceânica.
Esse, portanto, foi um dos fatores para o vertiginoso processo de migração da
população do interior para esses centros.
A falta de planos diretores sustentáveis para atender tal demanda
populacional, somada as políticas de cunho eleitoreiras, colocaram abaixo milhões
de hectares de mata para dar lugar a projetos imobiliários, além de ocupações
irregulares de morros e áreas inundáveis.
Hoje
em dia restam pouco mais de 12% de toda a cobertura da mata atlântica. Todos os
anos são apresentados diagnósticos de ganhos e perdas dessa cobertura dessa
cobertura vegetal. O trabalho desenvolvido por alguns gestores públicos, bem
como a intensa fiscalização dos órgãos ambientais municipais e estaduais
contribuíram para reduzir significativamente o desmatamento em algumas regiões
do Brasil em níveis satisfatórios. Porém, isso ainda é uma exceção.
Quase
todos os dezessete estados que congregam a mata atlântica continuam
apresentando perdas desse bioma. Porém, estados como Minas Gerais, Paraná,
Bahia, Piauí, estão aparecendo no topo do ranque dos que mais sofreram
desmatamentos. O agronegócio e a pressão imobiliária são considerados um dos
principais vetores do desflorestamento. O que chamou a atenção no último relatório
apresentado em maio foram os dez municípios com maiores perdas de cobertura
vegetal. Ambos integram três estados, Piauí, Minas Gerais e Paraná.
O
município que apareceu entre os que mais desmataram foi Manoel Emídio, do
estado do Piauí, com 879 hectares de desmatamento. Na segunda posição, mais um
município piauiense se destacou. Um dos
fatores responsáveis pelo crescimento da supressão da mata atlântica no estado
do Piauí é o agronegócio da soja e da pecuária, onde florestas são devastadas,
a exemplo do bioma do cerrado. A tendência é a intensificação dos ataques sobre
esses biomas, motivado pela elevação dos preços de commodities no mercado
internacional.
O
estado da Bahia também apareceu no relatório com elevados índices de
desmatamentos. O município que aparece na sexta posição em nível de
desmatamento foi Porto Seguro. Foram 240 hectares de mata suprimida. Quando se
ouve falar dessa cidade, o que vem primeiro a mente o momento da chegada da
esquadra portuguesa na costa sul da Bahia em 1500. Todos devem lembrar também
da madeira pau Brasil, espécie em abundância na região, que foi completamente
erradicada na época da ocupação portuguesa e transportada para a Europa.
Porto Seguro – 08/2006 (google Earth) |
Porto Seguro – 04/2020 (Google Earth)
Ainda
hoje, permanece em ritmo acelerado a supressão do que resta do remanescente
desse bioma, principalmente na área do parque nacional de Monte Pascoal. No estado de Minas Gerais, que também está
entre os que mais desmataram, uma das principais causas é a produção de carvão
vegetal usado nas usinas siderúrgicas para a produção do ferro-gusa. A
indústria de papel celulose exerce importante pressão áreas de florestas
nativas, dando lugar ao cultivo de espécies exóticas como eucaliptos.
Parque Nacional Monte Pascoal/ BA – 12/1985 (Google Earth)
Parque
Nacional Monte Pascoal/BA – 12/2012 (Google Earth)
O
pouco do que resta das araucárias também não ficaram isentas dos criminosos
ambientais. Embora haja legislação específica que assegura a preservação dessa
espécie em extinção, o estado do Paraná, continua em escala crescente o corte
criminoso dessa espécie nativa. O setor madeireiro tem sido identificado como
um dos principais responsáveis pela extração ilegal da araucária. Se os
relatórios sobre o desmatamento da mata atlântica confirmam que houve mais
perda de espécies desse bioma em um semestre que em todo o período de 2019,
isso se deve ao modo negligente como o governo federal vem atuando sobre o meio
ambiente.
Nova Laranjeiras/PR – 05/08/2010 (Google Earth)
Nova
Laranjeiras/PR – 04/08/2019 (Google Earth)
Deixar
passar a boiada, frase dita pelo ministro do meio ambiente, no começo do ano, em
reunião com o presidente, é uma prova que poderia imputá-lo como responsável
pelos desmatamentos e as queimadas que devastam importantes biomas brasileiros.
Os ataques desferidos a lei da mata atlântica, na tentativa criminosa de reduzir
em 10% a abrangência desse bioma, também serviu como fator motivador para o aumento
dos desmatamentos.
Santa
Catarina, embora no relatório 2018-2019 não há nenhum município entre os dez
que mais desmataram a mata atlântica, o percentual de perda de espécies da
flora continua significativo. Os números mostram uma redução de 22% em relação
ao biênio anterior, cuja área devastada foi de 910 hectares. Foram 710 hectares
o tamanho da devastação no último biênio.
Resultados quantitativos do desmatamento em SC
Analisando a tabela acima que mostra os
desmatamentos da mata atlântica no estado entre os anos de 2010 a 2018
mantiveram um patamar de estabilidade, ora aumentando, ora diminuindo de modo
sensível. No entanto, diante do baixo percentual desse bioma no estado,
qualquer fração perdida, resulta em danos significativos ao ambiente no seu
todo. O que deve ser considerado nessa tabela, principalmente o levantamento
feito a partir de 2018 que as áreas captadas pelo satélite reduzem de três para
um hectare. Sendo assim, pequenas frações de desmatamentos são observadas pelos
órgãos fiscalizadores.
Ainda assim, o
monitoramento não é totalmente seguro. Áreas menores que um hectare não aparece
nas imagens. É muito comum hoje em dia o proprietário de um terreno fazer
pequenas supressões de mata nativa, visando elevar sua área cultivável. O PRA,
um pequeno avanço obtido no Código Florestal poderá auxiliar num controle mais
efetivo dos desmatamentos. A perda, mesmo discreta dessa cobertura está
refletindo diretamente no micro clima de algumas regiões do estado, que
registram redução significativa dos fluxos pluviométricos.
No
último relatório apresentado, a região que congrega a AMESC, formada por quinze
municípios, os índices de desmatamentos manteve-se num patamar de sensível
crescimento, comparado com o biênio 2015-2016. De todos os municípios, seis tiveram
o aumento de área florestada, enquanto nove perderam parcela da cobertura florestada.
Os municípios com percentuais negativos foram aqueles que estão sobre a orla
marítima, como Balneário Arroio do Silva, Balneário Gaivota e Passo de Torres.
A
conclusão que se chega é que a pressão imobiliária está contribuindo na acelerada
transformação do cenário geográfico costeiro. O micro bioma que sofre mais
impacto com tais atividades é a vegetação de restinga, constituída por espécies
arbustivas fixadoras de dunas. Uma infinidade de tipos distintos de animais,
muitos dos quais endêmicos povoam esses biomas e estão ameaçados de extinção.
Segundo
pesquisadores que monitoram esse bioma, a tendência é o agravamento ainda
maior. São centenas de imóveis, terrenos, situados nesse bioma, cujos
proprietários residem em outros municípios ou estados, a exemplo do Rio Grande
do Sul. Com a duplicação da rodovia 101 e a conclusão da pavimentação asfáltica
da BR 405, ligando o extremo sul de santa Catarina ao oeste do Rio Grande do
Sul, através da serra da rocinha, um boom imobiliário poderá ocorrer na região.
Diante
da crise econômica advinda da pandemia do Covid 19, os administradores públicos
dos municípios costeiros tenderão dar incentivos às obras de infraestrutura
imobiliária. A flexibilização ou até mesmo a não observância das legislações
ambientais nesses municípios, poderão se tornar práticas corriqueiras dos
futuros gestores, legisladores e fundações ambientais.
Analisando
alguns recortes de imagens dos municípios costeiros do extremo sul de santa Catarina
das duas últimas décadas, obtidos por meio do aplicativo Google Earth, são espantosas
as mudanças ocorridas na geografia de toda a faixa. Nenhum município mostrado
nas imagens tem o plano municipal de saneamento básico aplicado na sua
totalidade, especialmente no que tange ao tratamento dos esgotos. Isso significa
que além da supressão de remanescentes da mata atlântica, a contaminação dos
lençóis freáticos e da orla já é uma realidade. Durante a alta temporada,
milhares de veranistas se deslocam para esses balneários, elevando ainda mais
os níveis de contaminação.
Os gestores públicos que assumirão as prefeituras no próximo ano deverão ter como prioridade nos programas de governo, o cumprimento das políticas de saneamento básico, bem como ações voltadas para o desenvolvimento econômico sustentável. Tudo indica, observando o cenário político partidário pré-eleitoral, com a apresentação dos candidatos que cogitam participar do pleito, que o quadro ambiental desses municípios tenderão a se agravar ainda mais nos próximos anos.
Prof. Jairo Cezar
https://www.sosma.org.br/noticias/desmatamento-municipios-mata-atlantica-2018-2019/https://www.sosma.org.br/noticias/desmatamento-municipios-mata-atlantica-2018-2019/
https://www.facebook.com/491930514172001/videos/492215430810176https://www.facebook.com/491930514172001/videos/492215430810176
https://www.nsctotal.com.br/noticias/dia-da-mata-atlantica-desmatamento-cresce-52-em-santa-catarina
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