O AGRONEGÓCIO E O ACELERADO
PROCESSO DE DEGRADAÇÃO DO BIOMA DO CERRADO E DA AMAZÔNIA
A PRESSÃO DO AGRONEGÓCIO SOBRE O BIOMA DO CERRADO
Desde
o momento que foi homologado o código florestal brasileiro, em 2012, é a quarta
vez consecutiva que o governo federal, via decreto, prorroga o prazo dos
proprietários rurais brasileiros a fazerem o CAR (Cadastro Ambiental Rural),
procedimento técnico que permite conhecer as coordenadas e as extensões das
propriedades rurais e assentamentos, com suas respectivas APPs (Áreas de
Preservação Permanente) e RL (Reservas Legais). É possível que o prazo
estabelecido para dezembro de 2018 seja outra vez prorrogado, pois há pouco
interesse do agronegócio em se adequar às normas tendo em vista o maior
controle do governo e da sociedade civil sobre suas propriedades.
O
código florestal brasileiro, porém, foi uma reivindicação desse seguimento,
como forma de se isentar das penalidades atribuídas aos crimes ambientais
cometidos nos quase cinqüenta anos de existência do código florestal anterior. Foram
intensas discussões onde prevaleceu o pensamento conservador no texto, tornando
os artigos e os dispositivos extremamente permissivos ao agronegócio. O CAR, no
entanto, foi um dos poucos avanços tido no código, visto como capaz de assegurar
o que ainda resta dos biomas brasileiros.
Desde
o seu sansão em 2012, o que mais se ouviu e se leu foram notícias e reportagens
denunciando desmatamentos em todo território brasileiro, com destaques os
biomas do cerrado e da Amazônia. É quase como certo que muitas das propriedades
autuadas pelos fiscais, jamais irão cumprir as penas, pois tem a seu favor todo
um aparato judiciário e legislativo. A realidade dos biomas brasileiros é tão
preocupante que vem chamando a atenção de organizações ambientais
internacionais e até mesmo de revistas especializadas no tema ambiental como a
Nature Ecology & Evolution, que publicou artigo discorrendo a forte ameaça do
agronegócio no bioma do cerrado.
A
intensa campanha publicitária dos últimos governos e do atual incentivando a
exportação de commodities, mineração, pecuária e agricultura, aumentou o desejo
principalmente de estrangeiros por novas áreas ocupadas por florestas e
comunidades indígenas. Frente a isso o código florestal não faz qualquer
restrição, porém quando o faz, entra em cena o batalhão da retaguarda, a UDR
(União Democrática Ruralista), CNA (Confederação Nacional da Agricultura) e a BANCADA
RURALISTA, esta última entrincheirada no congresso nacional, barganhando negociatas
com o executivo para a aprovação de leis perversas à devastação das florestas e
a saúde humana. A PL 6.299/2002, que flexibiliza a comercialização de venenos
até então proibidos no Brasil, é uma dessas investidas assassinas do seguimento
ruralista contra a saúde da população[1].
Decretos,
resoluções, PECs, completam o pacote perverso que tornam cada vez mais esvaziado
o código florestal brasileiro. O sucateamento dos órgãos reguladores e fiscalizadores
como IBAMA ICMBio, integram esse plano maléfico na remoção de todos os
obstáculos possíveis para facilitar a expansão da última fronteira agrícola
brasileira. Áreas indígenas não regulamentadas, flexibilização dos
licenciamentos ambientais e tornar nulos processos de Unidades de Conservação,
ambos fazem parte do maligno cardápio do atual governo, atendo as pressões do
agronegócio, bem como, estratégia para se livrar dos vários processos
impetrados contra si que poderiam resultar na sua cessação.
A
situação dos biomas brasileiros é tão preocupante que forçou a realização de
audiência pública no senado para discutir em caráter de urgência o problema que
afeta o Cerrado e a Amazônia, seus impactos à vida de milhares de espécies
endêmicas da fauna e flora e das nascentes dos rios mais importantes do Brasil.
Também foram discutidos os efeitos dos desmatamentos no aumento da temperatura
média global dos últimos quatro anos. O incentivo às políticas públicas para a
expansão da economia verde, de baixa emissão de dióxido de carbono, foi uma das
várias propostas elencadas.[2]
Destacou
também o presidente da comissão, o senador do Acre, Tião Viana, do PT, que o
não comprimento de dispositivos do Código Florestal vem dando margem aos
desmatamentos irregulares. A prorrogação do CAR, pela quarta vez, é uma dessas manobras
que motiva ainda mais o desmatamento, pois não há como monitorá-lo. A legislação
estabelece que terá direito a créditos para o financiamento agrícola o produtor
que regularizar sua propriedade por meio do Cadastro Ambiental Rural. Protelar
ao máximo o cadastro garante a supressão de novas áreas de vegetação sem qualquer
risco de ser monitorado e autuado.
Quanto
aos biomas, cerrado e Amazônia, o código florestal abre margem para novos
desmatamentos. O exemplo é a floresta amazônica legal, cujos imóveis rurais,
seus proprietários poderão suprimir até 80% da cobertura vegetal. Para combater
a progressiva destruição desses ecossistemas, tramitam no congresso nacional
projetos de leis específicos para o pantanal, cerrado e caatinga, ambos seriamente
ameaçados. O modo como o congresso nacional está hoje constituído, são mínimas
as possibilidades de que projetos que limitam ao máximo a degradação desses
ecossistemas vem ser aprovados.
Até
hoje se perguntarmos às pessoas sobre quais dos biomas brasileiros estão mais ameaçados,
rapidinho responderão que é a bioma da Amazônia. Embora a resposta não seja
totalmente verdadeira, deve ser considerada pela forte da ação antrópica também
ocorrer lá de forma violenta. O Cerrado é, sem dúvida, o bioma mais ameaçado no
planeta. No dia 21 de junho último o INEP PRADOS CERRADO divulgou relatório
inédito dos desmatamentos anuais do respectivo bioma. Essa iniciativa poderá
contribuir para o monitoramento permanente da região onde tenderá à tomada de
medidas no combate a tais crimes ambientais.[3]
Entretanto
os dados apresentados acerca do bioma não são tão animadores. Embora tenha
havido uma sensível redução do desmatamento entre 2015 e 2016, o relatório de
2017 mostrou um crescimento de 9% de área desmatada em relação a 2016. Esses dados
preocupam pelo fato do desmatamento continuar crescendo a partir de 2018. A área
que mais vem sofrendo ameaça no cerrado é a da MOTOPIVA, que integra os estados
do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. A pecuária bovina e a cultura da soja se
despontam como principais vilões dos desmatamentos.
A
revista Nature Ecológy & Evolution, Greenpeace, WWF e outras organizações ambientais
nacionais vem alertando as comunidades científicas e governos do perigo dessas
atividades para o planeta.[4] Já
ocorreram três vezes mais perdas de espécies da flora no bioma do cerrado do
que houve desde 1500. Entre 2013 a 2015, a cada dois meses foram comprovadas
perdas da cobertura vegetal equivalente a área territorial da cidade de São
Paulo. Em caráter de comparativo, o Bioma do Cerrado estoca 13.7 bilhões de
toneladas de CO2. Com a derrubada da floresta, a decomposição e as queimadas
liberam todo esse gás à atmosfera. Em 2009 o congresso nacional aprovou a lei
n. 12.187/09, estabelecendo como meta reduzir a emissão de dióxido de carbono
em 40% até 2020, tendo como parâmetro os anos de 1999/2008. Sem contar outros
protocolos assinados pelo Brasil em favor do clima nas inúmeras COPs que tem
participado como o encontro de Paris, em dezembro de 2015.[5]
Além
da iniciativa protagonizada pelo senado federal por meio da comissão do meio
ambiente, onde discutiu com entidades ambientais e órgãos ligados ao governo
sobre estratégias para minimizar os impactos do desmatamento nos biomas do
cerrado e Amazônia, outras iniciativas foram adotadas como o manifesto “nas mãos do mercado, o futuro do cerrado:
é preciso interromper o desmatamento”, lançado em setembro de 2017, com a
colaboração de 40 organizações ambientais.[6]
Em
maio de 2018 o IBAMA e a MPF realizaram operação conjunta na região da MATOPIBA,
batizada de shoyo, autuando mais de 60 empresas que realizavam atividades
irregulares. Dentre elas as multinacionais CARGIL e BUNGE, ambas multadas em
quase seis milhões de reais. Somada as multas com as demais empresas o montante
atingiu mais de cem milhões de reais. O que impressionou foi o fato das duas
multinacionais terem acordado de que eliminaram o desmatamento em suas cadeias
produtivas, que na prática não o fazem. Segundo representante do Greenpeace,
não basta apenas acordos verbais, é necessário mais do que isso, ação rápida e
consistente por parte do setor privado para conter a destruição do cerrado.[7]
Prof.
Jairo Cezar
[1]
http://morrodosconventos-jairo.blogspot.com/2018/05/riscosirreversiveis-saude-se-pl-6.html
[2] https://www.wwf.org.br/informacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza/?66262/Audiencia-no-Senado-debate-desmatamento-e-mudancas-climaticas
[3] http://www.dpi.inpe.br/fipcerrado/dashboard/cerrado-rates.html
[4]
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0959378014001046?via%3Dihub
[5]
https://www.wwf.org.br/informacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza/?66282/Desmatamento-no-Cerrado-aumentou-9-em-2017
[6]
https://drive.google.com/file/d/0B9Q81I9GzbdfeVNYNFJHWFp1ZzA/view
[7] http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Operacao-do-Ibama-multa-empresas-e-produtores-por-soja-ilegal-no-Cerrado/
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