DE LULA A BOLSONARO – CAMINHO E
DESCAMINHOS NA ÁREA AMBIENTAL
Sem demagogias e sem querer aqui acreditar que está se fazendo discurso
apologético a favor ou contra governos ou partidos que ocuparam o principal
posto de comando do executivo nacional. O que se pretende nesse texto é trazer
à luz quase quinze anos de governo do partido dos trabalhadores na área
ambiental, os poucos legados e muitos retrocessos que foram e estão sendo
aproveitados pelos governos posteriores. São equívocos cometidos que serviram para pavimentar os caminhos de um dos
maiores retrocessos ambientais da história brasileira. Tanto Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro, a poderosa organização do
agronegócio sempre teve e terá transito livre nos principais dos executivo e nas instâncias do
legislativo.
Até
mesmo uma ex-presidente da Confederação Nacional da Agricultura assumiu o
ministério da agricultura no governo petista. Isso seria inimaginável na
fase de construção do partido, com um programa político de opção ao desenvolvimento baseado na sustentabilidade e equidade social. Com a posse de Lula à presidência da república em 2001, nada mais coerente que a
indicação de Marina da Silva para a pasta do meio ambiente, militante fundadora do PT e
com vasta experiência de luta em defesa da floresta amazônica. Havia forte expectativa de que o Brasil se
despontaria no mundo como primeira nação na América Latina a superar suas
contradições sociais.
Não
durou muito tempo, de repente todo o entusiasmo depositado na campanha e posse foi
se esvaindo criando um cenário de pessimismo e dúvidas até mesmo de aguerridos militantes. As primeiras iniciativas tomadas pelo presidente petista já
revelavam não haver rupturas do sistema como se previa. O programa
de desenvolvimento arquitetado pela equipe econômica seguiria o mesmo ritmo dos governos anteriores, quase equiparado ao do regime militar.
Era uma espécie de desenvolvimentismo com a participação do Estado e da
iniciativa privada. Para isso, a área ambiental deveria estar intrinsecamente conectada
com esse propósito desenvolvimentista.
O
programa de aceleração econômica ou PAC se descortinou como caminho para o novo
eldorado progressista. Nem mesmo o mais pessimista dos petistas um dia imaginaria que um
dos principais tentáculos do PAC seria a Amazônia, região onde a ministra
Marina da Silve se construiu como militante ao lado do ambientalista Chico Mendes, assassinado por defender as florestas da amazônia. O agronegócio se expandiu de modo avassalador trazendo abaixo milhões de hectares de florestas. Não bastasse o desmatamento
desmedido de florestas, estavam em curso no Brasil os debates sobre as
políticas de biossegurança, que tratava entre outras coisas a liberação do
cultivo e o comércio de sementes transgênicas.
Os transgênicos sempre foi uma das principais
bandeiras da bancada ruralista, porém, sempre sofreu forte oposição da
militância petista, especialmente do setor da agroecologia e agricultura
familiar. Outra decepção deixando petistas e militantes do ambiente indignados.
Sem muito estardalhaço, o presidente Lula assina medida provisória sobre a
biossegurança autorizando o cultivo de espécies modificadas. Essa decisão foi
motivo de comemoração dos ruralistas e das multinacionais como a Monsanto, uma
das principais companhias do planeta detentora do monopólio sobre os
transgênicos e os agrotóxicos.
Não
bastando às políticas nada restritivas do setor de biossegurança, outro pecado
cometido pelo governo petista foi não acelerar o processo de demarcação de
terras indígenas, vista como um tremendo fracasso. O forte amparo dado pelo
governo federal ao seguimento do agronegócio cujas culturas da soja e da
pecuária se expandem pelo Serrado e a Amazônia, ambas intensificaram a grilagem,
o assassinato no campo e o envenenamento das terras indígenas. Também foi na gestão Lula e da ministra
Marina da Silva que iniciou um dos projetos mais polêmicos da história recente do Brasil, a transposição
do Rio São Francisco.
O plano de transposição que foi considerado bilionário e com graves impactos ambientais seus benefícios se limitam a uma inexpressiva parcela de proprietários de terras
que atuam no setor da fruticultura para exportação. Depois de sete anos a frente
da pasta do meio ambiente, Marina da Silva não resistiu tantos desgostos e
frustrações e entregou o cargo ao presidente Lula. A vaga passou a ser ocupada também por um ambientalista, Carlos Minc. No entanto, nada de impressionante pró ambiente teve destaque nos seus dois anos de ministério. Muito pelo
contrário, o ministério de Ming fez prevalecer medidas como a flexibilização do
licenciamento ambiental.
Um aspecto positivo na gestão de Minc foi a alteração da lei de crimes ambientais,
que pune produtores rurais sem reserva legal. Entretanto, um ano depois da
aprovação, a medida foi flexibilizada, excluindo o item punição. É claro que
houve alguns avanças durante os dois anos do governo lula na área ambiental,
porém, não são suficientes para compensar os efeitos perversos resultantes de
leis e medidas provisórias de forte impacto ambiental como os transgênicos. A
lei de incentivo a fontes alternativas de energia; a criação do instituto Chico
Mendes; o marco legal para a concessão de florestas e a lei da mata atlântica
são alguns dos legados importantes deixados durante os oito anos de gestão do
governo Lula.
Com
a promessa de rever alguns retrocessos no plano ambiental, Dilma Roussef assume
a presidência do Brasil vencendo as eleições em 2010. Havia muita expectativa
de que o Brasil atacaria os gargalos históricos na área ambiental,
principalmente no cumprimento de muitos dispositivos do código florestal
brasileiro de 1965 principalmente sobre multas por crimes ambientais. As
incertezas sobre o futuro do meio ambiente brasileiro se agravaram quando veio
a informação da indicação de Kátia Abreu para ministério da agricultura. Era a
mesma coisa que entregar o galinheiro aos cuidados da raposa.
O
seguimento do agronegócio temendo dos riscos que teriam se tais artigos e
dispositivos do código fossem cumpridos pressionam o congresso para elaborarem
um novo código com intuito de, entre outros objetivos, anistiar as bilionárias
multas contraídas por crimes ambientais cometidos nos quase cinqüenta anos de
vigência da lei. Um ano depois de ter assumido o governo, Dilma Roussef, premia
os criminosos ambientais sancionando a lei do novo código floresta brasileiro
que anistiou 41 milhões de hectares desmatados até 2008. O documento aprovado
recebeu críticas das comunidades científicas brasileiras e internacionais, de
ambientalistas por terem sido excluídos do debate.
Mesmo
tendo o Brasil sido palco de duas mega conferências sobre o meio ambiente, a
Rio-92 e a Rio+20, nada disso foi suficiente para reverter o desejo dos
governos em concentrar os esforços na dinamização em infraestrutura pesada,
como petróleo, gás e o agronegócio. Além de incentivos à investida do
agronegócio na região do cerrado e a amazonas no período Lula, com Dilma no
governo o seguimento elétrico recebeu prioridade com a construção de inúmeras
hidrelétricas de elevado custo financeiro e ambiental nos rios da Amazônia. Um
exemplo de mega projeto polêmico e altamente impactante ao meio ambiente foi a
barragem de Belo Monte, no Rio Xingu, que modificou drasticamente toda a
dinâmica de uma região.
Em
se tratando de demarcações de terras indígenas, analistas concluíram que os
percentuais demarcados foram os piores da história. O que é pior e também
decepcionante que se chega a conclusão que o Brasil declinou 50 anos em cinco
na área ambiental. Algo que se pode considerar como elogiável no código
floresta brasileiro foi o CAR, Cadastro Rural Ambiental, que obriga todos os
proprietários de terras cadastrarem suas propriedades, que dará uma visão mais
realista do tamanho das mesmas, a quantidade de floresta disponível.
Entretanto, desde a homologação da lei do novo código floresta, os prazos para
o registro do CAR foram prorrogados diversas vezes, pois há tentativas de
negligenciar tal dispositivo de controle.
A
fragilidade dos governos petistas em não executar os programas de proteção permanente
das florestas, rios, áreas protegidas e terras indígenas das investidas do
capital, abriu um imenso leque de permissibilidades aproveitas pelo governo
golpista de Michel Temer. Lembram da lei de biossegurança nacional que
flexibilizou o plantio e comércio de sementes transgênicas. Pois bem, durante o
governo Temer, entra em discussão e a aprovação da lei que facilita os registros
de agrotóxicos reprovados em muitos países. Isso mesmo, reprovado. É claro que
tudo isso se deve ao cultivo de variedades transgênicas com a aplicação de
herbicidas a exemplo do glifossato, um dos mais utilizados na agricultura
brasileira.
Se
durante os governos petistas mesmo com todo um discurso de cunho
preservacionista, ocorreram desmatamentos recordes, imaginamos agora quando se têm
um governo extremamente permissível e alinhado com seguimento ruralista
insensível as causas ambientais. O resultado disso foi o que se sucedeu nos
dois anos de Temer: projetos de lei para flexibilização dos licenciamentos
ambientais, enfraquecimento da FUNAI, IBAMA e ICMbio, redução de áreas
protegidas, vendas de terras para estrangeiros, revisão das políticas de demarcações
de terras indígenas, entre outras.
Os
retrocessos ambientais no planeta e no Brasil nos últimos anos transformaram os
encontros de cúpulas internacionais sobre o clima em locais tensos. A cada
encontro elevam-se o número de países que vem descumprindo acordos firmados
para redução das emissões de gases poluentes à atmosfera. O último dado
bombástico foi a decisão do governo norte americano de sair do acordo, um dos
principais poluidores do mundo. A preocupação dos integrantes da cúpula não se
limitou somente a decisão de Trump.
A
vitória de Jair Bolsonaro à presidência do Brasil elevou ainda mais as tensões
internacionais sobre o clima quando decidiu seguir o mesmo caminho equivocado
do governo norte americano de rever sua posição na Cop. A repercussão da
decisão foi tão impactante que até mesmo a reunião da Cop programada para 2020
no Brasil foi cancelada. Durante toda
sua campanha criticou severamente todas as políticas ambientais instauradas no
Brasil, das quais considera como instrumentos impeditivos ao desenvolvimento
econômica dos pais.
Defendeu
como uma de suas propostas a agilização do processo de licenciamento ambiental
e a ampliação da fronteira agrícola. Se hoje como está, com a ampliação da fronteira
agrícola que vem provocando impactos irreversíveis a dois frágeis biomas como o
cerrado e a Amazônia imaginem como ficará quando forem flexibilizados mais
ainda ou suprimidos os licenciamentos ambientais, bem como a extinção de órgãos
como IBAMA e ICMBio?
Antes
mesmo de começar o mandato o governo Bolsonaro foi protagonista de muitos
comentários e criticas até mesmo de sua base de apoio sobre a possível junção
do ministério do meio ambiente com o da agricultura. Veja só, os próprios
representantes do agronegócio não assimilaram a proposta, fazendo o governo
rever sua decisão mantendo a pasta do meio ambiente. O que era previsível e
isso ocorreu foi a indicação de alguém afinado ao projeto político do governo
de promover o recrudescimento ainda maior desse setor. Dito e feito, a escolha
do nome para o ministério foi nada mais nada menos que alguém que se tornou réu
por envolvimento em crimes ambientais.
Alguém
com tal currículo à frente de um ministério tão complexo e decisivo para o
futuro da vida no país e planeta deixam muito gente apreensiva. Lembram dos
retrocessos ocorridos nos governos anteriores quanto às demarcações de terras
indígenas? Pois bem, o atual governo nos seus discursos deixou explícito que
tenderá agilizar ainda mais o genocídio dos povos indígenas iniciado com a
chegada dos colonizadores portugueses há cerca de quinhentos anos. Bolsonaro
disse quando era candidato que: “o
Brasil não suporta ter mais de 50% de território demarcado como terras
indígenas, como áreas de proteção ambiental, como parques nacionais, isso
atrapalha o desenvolvimento”.
São
inúmeros os trabalhos publicados que comprovam que o Brasil não precisa mais
derrubar uma única árvore ou ocupar áreas improdutivas indígenas para se tornar
o maior produtor de grãos do mundo. Se há baixa produtividade se deve ao fato
do manejo equivocado do solo com o uso indiscriminado de produtos sintéticos
que comprometem sua fertilidade. Outro agravante são as culturas desenvolvidas
no frágil bioma da Amazônia e do Cerrado como o cultivo da soja e pecuária que
vem contribuindo para a desertificação dos respectivos ecossistemas.
A
atuação do IBAMA e Icmbio como entidades de licenciamentos e de combate de
crimes ambientais foram decisivos para minimizar o tamanho da devastação contra
todos os ecossistemas de domínio federal. Se a fiscalização e a autuação dos
infratores ambientais não são feitos a contendo no vasto território brasileiro
como estabelece seus estatutos isso se deve ao limitado plantel de
profissionais e equipamentos disponíveis. Nos estados como Santa Catarina o
problema se repete com as polícias ambientais. Geralmente cada posto de
fiscalização possui no máximo quatro soldados para patrulhar e autuar uma
extensa região.
Também
durante a campanha presidencial o candidato Bolsonaro disparou violentas
críticas contra os dois órgãos ambientais federais IBAMA e ICMBio, argumentando
que ambos vêm cobrando multas sem critérios e que perseguem pessoas que
produzem. É óbvia que tal argumento de criminalização das entidades se deve a
pressão do seguimento ruralista atolados em multas por crimes ambientais. É
oportuno afirmar que muitos desses infratores já haviam sido beneficiados com o
novo código florestal sancionado em 2012 que perdoou multas milionárias
cometidas por décadas.
Uma
semana depois de assumir a presidência e com um novo ministro do meio ambiente,
a presidente do IBAMA encaminhou carta de demissão por ter recebido críticas
por parte do ministro do meio ambiente, onde levantou suspeita de ter havido
irregularidades na contratação de recursos para compra e reforma de veículos da
frota do órgão ambiental. A justificativa da presidente às supostas denúncias,
se deve ao fato da atual equipe do governo não conhecer a dimensão do órgão.
Informou também que o atual governo já havia outro nome para substituí-la.
É
importante lembrar que o atual ministro do meio ambiente não teria moral de
levantar suspeita de órgão ambiental algum, pois foi condenado pela justiça de
São Paulo por improbidade. A bronca dele contra a presidente do IBAMA sobre
locação de carros e seguros, ambas com atividades agropecuárias, estarem entre
suas principais financiadoras de campanha na corrida por uma vaga na câmara em
2018.
Outra
decisão polêmica e que gerará conflitos de interesses é a transferência para o
Ministério da Agricultura o conselho florestal brasileiro até então sob a
jurisdição do Ministério do Meio Ambiente. Esse é outro caso que pode ser
comparado ao da raposa colocada no galinheiro para cuidar das galinhas. Imagine
entregar ou setor tão importante que tem por função atuar na recuperação de
vegetação nativa e recomposição florestal; que regula concessão de florestas de
áreas públicas para a exploração sustentável e que é responsável pelo CAR
(Cadastro Ambiental Rural), para um seguimento que encara esses dispositivos
como entreves aos interesses do agronegócio.
Quem
imaginou que já acabaria aqui a lista de ataques do atual presidente na área
ambiental, se equivocou. No primeiro dia de seu governo encaminhou medida
provisória acabando com o departamento de educação ambiental do ministério do
meio ambiente. Essa decisão é tão perniciosa, pois coloca por terra todo um
trabalho de décadas de encontros, congressos, pesquisas, envolvendo
universidades, escolas, centros de pesquisas, entre outros voltados à educação
ambiental.
Acabar
com esse departamento é desconsiderar anos a fio de intensos trabalhos e
projetos executados e em execução em milhares de escolas cujos resultados estão
repercutindo positivamente na melhoria da qualidade de vida de populações desassistidas
pelo poder público. Tive a oportunidade de em 2017 participar do IX Fórum
Brasileiro e IV encontro catarinense de Educação Ambiental em Balneário Comburiu.
O Fórum se caracterizou como principal acontecimento nacional na área ambiental.
Centenas de delegações de quase todos os estados brasileiros se fizeram
presente, expondo seus cenários, dificuldades e demandas previstas.
Os
fóruns ambientais como o brasileiro se configuram como principal agente
articulador, que avalia as ações em andamento no setor, que interage com
estados e municípios através dos MMA (Ministérios do Meio Ambiente) e MEC
(Ministério da Educação e Cultura). Suas ações visam impulsionar programas de
fomento e projetos que alcancem todos os estados, municípios e escolas. Agora
com o fim do departamento de educação ambiental do MMA, geram dúvidas quanto ao
futuro dos fóruns ambientais e dos milhares de GT (grupos de trabalhos) criados
em todos os estados brasileiros para discussão de políticas ambientais.[1]
Do
mesmo modo que as políticas ambientais dos últimos gestores federais tiveram
pouco motivo de comemoração, em âmbito estadual a exemplo de Santa Catarina, o
estado protagonizou episódios polêmicos como a aprovação da Lei n. 14.675/2009,
que criou o código florestal, que serviu de modelo o código florestal
brasileiro aprovado em 2012. O código florestal catarinense foi tão polêmico
que foi motivo de inúmeras ações na justiça para torná-lo nulo. O congresso
brasileiro o considerou tão oportuno aos interesses do agronegócio, que indicou
como relator do texto do código florestal brasileiro o deputado catarinense
Romildo Titon, do PMDB.
Foi
esse mesmo deputado que esteve envolvido em fraudes de licitações públicas para
perfurações de poços artesianos no oeste de Santa Catarina. Esse episódio foi
batizado pela polícia como “fundo do poço”. Ninguém foi preso ou indiciado. O
fato é que o código florestal brasileiro foi elaborado seguindo o modelo
catarinense. Com a lei 12.651/12 que cria o código florestal brasileiro
aprovada, segue para discussão na assembléia legislativa de Santa Catarina o
polêmico anteprojeto 305/13, que
resultou um ano depois na aprovação da lei n. 16.336/2014, que instituiu o novo
código florestal catarinense.[2]
Saindo
da instância federal, estadual e se deslocando para o âmbito local, no campo
ambiental, podemos perceber que poucos foram os municípios brasileiros que ficaram
imunes aos desmandos de chefes dos executivos federais e estaduais. Araranguá,
embora tenha tido uma experiência inusitada de um governo popular por cerca de
quatro anos, foi quase inexpressivo o legado deixado na área ambiental, se
limitando, no último dia de governo, a aprovação de três decretos que criou
três unidades de conservação na faixa costeira do município.[3]
Já
antes da gestão petista em Araranguá, as demandas ambientais no município,
especialmente no Balneário Morro dos Conventos, vinham se elevando
exponencialmente a cada ano. Diante disso, em novembro de 2011 um grupo de
ambientalistas no Balneário criou a OSCIP PRESERV’AÇÃO. Inúmeras foram as ações
executadas, porém o principal foco dos ativistas foi dar atenção ao frágil
ecossistema virtualmente ameaçado por ações de vândalos. A relação de parceria
da Oscip com o MPF, MPE, Polícia Ambiental, foram decisivas na minimização dos
impactos provocados por veículos automotores na orla, ocupação irregular em
áreas protegidas e desmatamento de espécies nativas.[4]
Os
contatos periódicos com entidades como Ministério Público Federal era na
tentativa de buscar soluções aos problemas do trânsito de veículos na orla do
balneário, especialmente na temporada de verão.[5] A presença dos
procuradores do ministério público federal no município, bem como audiências na
sede do ministério em Criciúma não foram suficientes para encontrar uma solução
do problema.[6]
O que mais se viu por parte da administração e de seguimentos da imprensa do
município foi a criminalização de ambientalistas, transformando-os em bodes
expiatórios da incompetência de certos indivíduos que atuaram no comando da
FAMA, do executivo e legislativo municipal.
Outras
demandas ambientais como o polêmico projeto de fixação da barra do rio Araranguá
tiveram forte participação dos integrantes da Oscip, acompanhando todos os
trâmites e sempre com um posicionamento crítico quantos aos riscos que a obra
poderia trazer a região da foz. A realidade é que o projeto de fixação vinha
desde o início prevalecendo interesses indivíduos em detrimento do meio
ambiente e das próprias comunidades do entorno, tratadas como coadjuvantes do
processo.[7]
É
possível que muita gente ainda deva lembrar-se do controvertido projeto que
resultou na abertura de uma rua no histórico morro azul, no bairro
urussanguinha, em Araranguá. Então, foi outro fato que gerou muitas críticas na
administração do PT, por não considerar o morro área de preservação permanente.
Até hoje o caso continua mal explicado, além dos transtornos que provocando à
população do entorno quando da ocorrência de chuvas torrenciais.[8]
Em
2014, deram início no município de Ararangua as reuniões do projeto orla com
intuito de definir as áreas na faixa costeira voltada a ocupação imobiliária,
turística e preservação permanente. Nos quase quatro anos de trabalho foi
aprovado o PGI que definiu as demandas de curto, médio e longo prazo para a
região. Entretanto, embora tenha sido criado o grupo do comitê gestor do
projeto orla em 2017 para encaminhar as ações, poucas foram as realizações
concretas, especialmente com ênfase as unidades de conservação que continuam
inalteradas.[9]
O
que se fez mesmo em 2018 foi a supressão de um artigo do decreto sobre a APA,
que trata sobre floresta de restinga, flexibilizando ainda mais ações de
ocupação na faixa costeira do balneário.[10] Um acontecimento
positivo, porém ao mesmo tempo preocupante, foi a descoberta de inúmeros sítios
arqueológicos na faixa costeira do município de Araranguá. Esses achados colocam
o município de Araranguá no centro das atenções de órgãos como o IPHAN e
universidades. Contudo, até o momento os sítios continuam desassistidos pelos
poderes constituídos e alvos de vandalismo. [11]
Em
2016 uma reunião envolvendo o IPHAN, UNESC, FAMA, OSCIP PRESERV’AÇÃO e Poder
Público Municipal, ocorreu no próprio gabinete do prefeito. O encontro resultou
em uma agenda de ações futuras que não vingou. A única esperança que resta aos
sítios arqueológicos são os planos de gestões do MONA UC Morro dos Conventos e
APA, cujos administradores dos mesmos terão que encaminhar suas deliberações
para os estudos e proteção dos sítios.
Em
2018 membros da OSCIP Preserv’Ação promoveram encontros com a curadora
ambiental no MPSC, no fórum de Araranguá e com o novo procurador do MPF, seção
Criciúma. Na reunião no fórum de Araranguá, os integrantes apresentaram à
promotora um dossiê de possíveis irregularidades ambientais no balneário
através da emissão de licenciamentos de imóveis e terraplanagem.
Em
âmbito mais geral, em 2014, o poder público de Araranguá aprovou o Plano
Municipal de Saneamento Básico. A entrada em funcionamento dos sistemas de
tratamento de esgoto em 2017 pode ser visto como uma grande conquista dos
munícipes. No entanto, no final de 2018, em visitas realizadas a ETA II, área
central do município, a monitora educacional das estações afirmou que 3% a 4%
das residências e empresas haviam realizado conexões à rede coletora de esgoto
do SAMAE.
Dois
acontecimentos louváveis de serem mencionados em termos ambientais para o município de Araranguá ocorreram em
2018 como demandas do PGI (Plano de Gestão Integrada) do Projeto Orla. O
primeiro foi a aprovação do projeto elaborado pela professora Samanta Cristiano
que trata sobre o Roteiro Geoecológico Caminhos de Araranguá, que foi aprovado
pela Fundação SOS Mata Atlântica. O objetivo do projeto é melhorar e divulgar o
roteiro geoecológico junto a comunidade, interando-as da existência das três
unidades de conservação. O segundo fato importante foi a visita dos integrantes
da SOS Mata Atlântica, a representante da empresa financiadora do projeto
roteiro geoecológico e de duas jornalistas uma do O Globo - RJ e O Estadão-SP, em
Araranguá, para conferir de perto as potencialidades do “Oasis” da costa sul do
estado de Santa Catarina, termo que caracteriza o Balneário Morro dos
Conventos.
Prof.
Jairo Cezar
[1] http://morrodosconventos-jairo.blogspot.com/2017/10/forum-brasileiro-e-catarinense.html
[2] http://morrodosconventos-jairo.blogspot.com/2014/06/o-polemico-anteprojeto-30513-que.html
[3] http://morrodosconventos-jairo.blogspot.com/2012/07/
[6]
http://morrodosconventos-jairo.blogspot.com/2014/03/oque-nao-e-dito-acerca-do-fechamento-da.html
[7] http://morrodosconventos-jairo.blogspot.com/2014/08/as-verdades-e-inverdades-que-foram.html
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