OS DESASTRES AMBIENTAIS EM MARIANA/MG
E BRUMADINHO/MG PELA MINERADORA VALE: O LUCRO ACIMA DE TUDO
Durante
a década de 1990 o Brasil sofreu uma forte investida neoliberal com a entrega ao
capital internacional das empresas do seguimento de comunicação, elétrico,
mineração, etc. Um dos argumentos
repetidos a exaustão pelos governos entreguistas de plantão da época era de que
com as privatizações a qualidade e a eficácia dos serviços oferecidos melhoraria
significativamente. Experiências dão conta que isso não ocorreu de fato, muito
pelo contrário, os serviços oferecidos pioraram somando-se ao aumento das taxas
de serviços cobrados. Havia expectativa de que com a chegada do PT ao governo
federal todas as políticas de privatizações do governo anterior fossem
revistas. Porém, nada disso aconteceu.
Como
de costume, no instante que uma estatal seguia para leilão geralmente episódios
negativos eram forjados com intuito de desvalorizar ao máximo seus papéis nos
pregões das bolsas de valores. A Vale do
Rio Doce, na época um dos principais patrimônios do Brasil, hoje orçada em
quase 300 bilhões de reais, a mesma foi vendida por míseros 5 bilhões de reais.
É
importante saber que o desmonte de estatais como a Vale do Rio Doce se deve a
forte investida dos governos no código de mineração com a inserção de 126
emendas em 1996. Ações como transferência de decisões sobre exploração de
recursos minerais para o DNPM (Departamento Nacional de Pesquisas Minerais) e Lei
Kandir ambos foram decisivos no volume de recursos minerais extraídos e danos
ambientais.
De
lá para cá a empresa que é controlada por dezenas de acionistas e fundos de
capitais, vem obtendo lucros bilionários na exportação de minério de ferro para
países como a China. Paralelo aos lucros exorbitantes obtidos, a empresa vem
protagonizando crimes ambientais de proporções gigantescas e irreversíveis aos
ecossistemas. O fato é que o acúmulo de irregularidades cometidas pela
companhia sempre teve a “mão generosa” dos seguimentos políticos, dando guarida
ou absolvendo-a de possíveis condenações e pagamento de multas.
A
flexibilização de legislações ambientais e o desmonte de órgãos fiscalizadores
estaduais e federais seguiram e seguem também preceitos neoliberais de “estado
mínimo” e a maximização dos lucros. O desastre ambiental em Mariana em 2016 foi
o acontecimento que exibiu a dimensão estratosférica do problema da mineração
no Brasil a partir das privatizações iniciadas na década de 1990. Embora os
protocolos de compromissos dos novos proprietários de ex-estatais impuseram
regras e obrigações para restringir ao máximo os riscos de desastres
ambientais, a realidade mostra que tais ritos não passam de letras mortas
apenas para o cumprimento de formalidades.
O
desastre envolvendo a empresa SAMARCO, uma das subsidiárias da Vale, em 2016 em
Mariana, Minas Gerais, expôs as feridas do seguimento da mineração em um país atolado
pelo lodo da corrupção e irresponsabilidades políticas. Durante anos relatórios
apresentados por agências independentes vinham alertando que muitas das
barragens contendo milhões de metros cúbicos de resíduos de mineração
apresentavam algum risco à população do entorno. Conforme o site em.com.br
Gerais, que publicou reportagem em janeiro de 2019, o mesmo alertou que são
cerca de 50 barragens entre as 400 existentes no estado de Minas Gerais que
apresentam algum risco de desastre.
O
que chama atenção no texto é a não citação da barragem de Brumadinho na lista
de possíveis riscos de desastres. Depois do seu colapso em 25 de janeiro de 2019,
representantes da vale e do próprio governo de Minas Gerais afirmaram que a
mesma estava classificada como de baixo risco. Sendo assim, quem duvida que as
demais 350 não listadas como de alto risco também não venham se romper e
provocar desastres semelhantes a de Mariana e Brumadinho?
A
ineficiência do Estado na fiscalização somada ao protecionismo exacerbado
concedido aos proprietários dessas companhias transformaram regiões do Brasil
onde empresas estão operando em uma bomba relógio prestes a explodir. O fato é
que o problema não se resume apenas a Vale, muito menos, restrito ao Estado de
Minas Gerais. Do sul ao norte outras tantas companhias que passaram a ter o
controle de acionistas no extrativismo mineral também foram e são cúmplices de desastres
ambientais. Um exemplo é a Norueguesa HIDRO ALUNORTE, instalada em Barcarena,
Pará, que teve o rompimento de uma de suas barragem vazando rejeitos de bauxita
na região metropolitana de Belém.
É
bem possível que desastres desse envergadura jamais teriam ocorrido no
território norueguês, porém, em se tratando de Brasil e nações periféricas, por
que dispor dos mesmo cuidados se a tônica é acumular, acumular? Se o estado das
barragens contendo resíduos minerais estão nesses níveis, as populações que
habitam as áreas a jusante das barragens de água para geração de energia
elétrica e abastecimento público começam a sofrer insônia aflitas com o
desconhecimento do estado das mesmas.
Nos
últimos anos os governos que se reversaram a frente dos estados e palácio do
planalto, pressionados pelo capital, exerceram um desserviço à população
flexibilizando ao máximo legislações para facilitar o acesso dessas companhias
as tais commodities. Entretanto, estimuladas pelos elevados valores internacionais,
essas corporações procuram extrair ao máximo tudo que podem, limitando qualquer
dispêndio em medidas mitigatórias de riscos ambientais. O pior de tudo é que os
desastres em barragens como citados acima geralmente são frequentes nos ciclos
recessivos da produção mineral, a qual para compensar os preços baixos se
utilizam de meios ilícitos para manter os mesmos padrões de lucratividade.
Para
atraí-las, os governos entreguistas de plantão atendem todos os requisitos
explicitados nos portfólios apresentados: flexibilização de legislações
ambientais, reformas trabalhistas com o mínimo de direitos, todas para não
atrapalhar suas atividades. Aqui estão portanto uns dos muitos motivos dos
governos como o atual em querer indicar pessoas com algum vínculo no setor
produtivo exportador para o comando de ministérios ou secretarias estratégicas
como o meio ambiente. Também o desejo descomunal
do atual governo de querer criminalizar e desarticular órgãos como o IBAMA e
ICMBio, acusando-os de “Xiitas” por aplicarem multas aqueles que produzem e
alavancam a economia do Brasil.
São
justificativas que beiram a incendiasse, visto que são esses órgãos mesmo com
todas as dificuldades encontradas ainda assim estão evitando que o Brasil não tenha
se transformado num “Saara”, tamanho o desmatamento e outros crimes ambientais
evitados. O que nos resta nesse momento de inconformismo e solidariedade às
famílias afetadas pelos desastres em Minas Gerais, é que esses tristes
acontecimentos possam sensibilizar as autoridades e o atual governo em rever seus
controversos posicionamentos acerca dos desmontes previstos aos órgãos
fiscalizadores ambientais federais.
Se
todo esse acúmulo de fatos negativos não forem suficientes para sensibilizá-los
e reverter seus posicionamentos aí sim estaremos a mercê de novas tragédias que
certamente porão em risco não somente a população humana como também toda uma
complexa biodiversidade que poderá ser comprometida para sempre.
Prof.
Jairo Cezar
Nenhum comentário:
Postar um comentário