ARMADILHAS DO MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÃO E CULTURA (MEC) PARA IMPOR MUDANÇAS QUE IRÃO RETROCEDER O ENSINO MÉDIO
PÚBLICO
Foto - acervo - Jairo |
A
fala do ministro da educação num dos telejornais de grande audiência nacional
na noite do dia 30 de agosto, comentando os resultados da avaliação de
proficiência no ensino público brasileiro, cuja média, segundo ele, chegou a “fundo
do poço”, não surpreendeu quem vive o cotidiano de uma escola de ensino médio
no sul de Canta Catarina. O resultado da avaliação pipocou também nas várias
mídias convencionais e eletrônicas, como a revista Veja e o Diário Catarinense,
esse último, edição n. 11.663, de 31 de agosto de 2018. Na página eletrônica da
Veja, o ministro Rossieli Soares, procurou dar explicações a algo que estão
tentando explicar há anos, porém, sem qualquer solução efetiva.[1]
Disse
que a realidade do ensino médio brasileiro é catastrófica, que o mesmo chegou
ao fundo do poço. Essa observação extremista do ministro deve ser interpretada
com muito cuidado, pois, está oculto no seu discurso a intenção de capitanear o
máximo de apoio da sociedade à implantação da nova reforma do ensino média, considerada
mais excludente de todas. Mencionou o ministro que os péssimos resultados no
ensino médio apresentados pelo Sistema de Avaliação da Educação (SAED), são porque o mesmo não é atrativo, que os
estudantes não vêem sentido no que estão aprendendo. Continuou afirmando que “temos
uma fórmula velha, que se pretende inclusiva, mas que, na verdade, é uma grande
produtora de desigualdades”.
Mas
essa é a estratégia das políticas educacionais em curso no Brasil, promover e
expandir as desigualdades, pois é dessa maneira que se consegue perpetuar um
sistema de poder reacionário, controlado por oligárquicas regionais históricas.
Imaginamos uma escola pública que, de repente, passa receber investimentos bilionários a exemplo
das escolas dos países com níveis melhores de escolaridade. Num prazo de cinco
ou dez anos, estaríamos colhendo os primeiros frutos desses investimentos,
certamente com resultados melhores que os atuais nessas e outras áreas do
conhecimento. É chover no molhado quando o ministro afirmou que: “precisamos trabalhar cada vez mais em cima
de evidências científicas e parar de querer agir na base da adivinhação”.
Esse
argumento é uma demonstração clara que o ministro, talvez também os demais
membros do ministério, não conhecem ou jamais leram as 20 metas do Plano Nacional de Educação (PNE), que abordam questões
relacionas a pesquisa e a um ensino mais voltado à realidade dos estudantes,
que isso motivaria sim a permanência na escola, gerando expectativa de futuro. O
ministro também ressaltou que é necessário oferecer caminhos distintos para a
aprendizagem, que é uma maneira de trazer mais jovens às salas de aula. A pergunta que não quer calar: Nas escolas
básicas particulares como essa proposta do ministro de caminhos distintos de
aprendizagem seria interpretada pela comunidade escolar. É óbvio que nenhuma área do conhecimento seria
rechaçada do currículo, muito pelo
contrário, tentariam ampliar suas cargas horárias.
Nessas
redes os estudantes desde os anos iniciais são estimulados a experimentar habilidades
e conhecimentos que persistirão até anos finais do ensino médio. Não há
currículo flexível como se pretende aplicar no ensino médio. Na realidade o que
pretende o governo é promover um profundo desarranjo no currículo do ensino
médio, focando na formação técnica, facultando estudantes de estudarem áreas
importantes do conhecimento. Em termos comparativos ao buraco abissal no se
encontra a educação pública brasileira, Santa Catarina se desponta entre os
primeiros dos 27 estados em proficiência em português (3,22) e matemática
(5,11), nas sérias finais do ( 9 ano) do ensino fundamental. Isso significa que
de cada 100 estudantes que concluem essa série, apenas 3 apresentam suficiência
em português e 5 em matemática.
Em
escala nacional, os números apresentados pelo SAEB (Sistema de Avaliação da
Educação Básica) revelam que de cada 100 estudantes que concluem o 3° ano do
ensino médio em matemática, apenas três apresentam nível satisfatório de
proficiência. A catástrofe se mostra maior em língua portuguesa, o índice chega
a 1,7% !!!!. E olha que o Brasil é considerado a 8ª economia do planeta. De
acordo com o coordenador do observatório
do Ensino Médio em Santa Catarina, Professor da UDESC, Norberto Dallabrida,
segundo ele “a radiografia é muito
negativa e não há perspectiva positiva. O ensino médio tem que entrar na pauta,
é um gargalo muito grande”. Para o professor da UDESC, o mesmo aponta algumas saídas para reverter o
atual quadro crítico que é “focar na carreira docente, melhorar a
infraestrutura das escolas, do currículo e da gestão”.
O
professor Norberto tem toda razão quando afirma que sem investimento na
profissão docente e em infraestrutura dificilmente o país sairá desse cenário
pantanoso onde se encontra a educação. No entanto, a realidade mostra que governos
que passaram e os que estão à frente da administração pública, jamais dedicaram
atenção necessária à educação, embora o tema fosse ou prioridade nas
plataformas de campanha. Os atuais candidatos que representam os partidos
situacionistas ou base governistas vêm apresentando os mesmos discursos de
outrora: educação, saúde, segurança com qualidade para todos/as. Afinal, quem
acredita nessas balelas?
Quando
o ministro da educação afirmou que precisamos trabalhar mais com evidências
científicas, isso subtende que as escolas teriam que apresentar condições
infraestruturais mínimas para estimular o gosto pela investigação, pesquisa.
Não é mesmo? São raras as unidades de ensino públicas brasileiras que se
encaixam nos padrões mínimos de eficiência estrutural e pedagógica. Muitas
delas estão funcionando de forma precária, com ambientes interditados por não
oferecer segurança. Laboratórios de informática, de ciências, quadras
esportivas polivalentes, espaços para se proteger da chuva e do sol, nada disso
existem ou quando existem, são precários. Vale a pena mais uma vez ressaltar o
que foi escrito em artigo passado sobre o tema educação: se os níveis de
proficiência em matemática e português foram melhores no estado catarinense que
dos demais, isso se deveu a coragem e a ousadia dos educadores/as de
conseguirem “tirar leite de pedra”.
E
exatamente essa a metáfora que mais se encaixa a realidade catarinense, como
dos demais estados brasileiros. Se dependesse exclusivamente dos recursos repassados
pelo estado, nenhuma escola pública estadual estaria hoje funcionando. Quem
garante o funcionamento são as contribuições voluntárias da comunidade através
das promoções realizadas com periodicidade para arrecadar dinheiro. Não adianta
pensar que revisando os livros didáticos “para moldar a novo fórmula”, como
afirma o ministro, ira resolver o problema no ensino.
Na
realidade a revisão do livro didático é mais uma fórmula sorrateira do governo
para “engordar” as editoras de plantão, que irão faturar milhões de reais na
comercialização desses materiais, entre outros. Todos/as sabem que somente
elegendo governos e parlamentares comprometidos/as com educação, saúde,
segurança, etc, será possível dar início a transformação que todos almejam.
Claro que temos inúmeras opções entre os milhares de candidatos inscritos,
basta pesquisarem. Mais uma vez não poderemos repetir erros antigos, elegendo
ou reelegendo figuras carimbadas que tanto mal fizeram e farão para a educação,
saúde e segurança do estado.
Prof.
Jairo Cezar
[1] https://veja.abril.com.br/educacao/o-ensino-medio-esta-no-fundo-do-poco-diz-ministro-da-educacao/
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