A
VENEZUELA E SEU CONTURBADO CENÁRIO ECONÔMICO/POLÍTICO E ALVO DAS GRANDES
POTÊNCIAS – ESTADOS UNIDOS
É
quase unanimidade a opinião de brasileiros, muitos dos quais bem informados, admitindo
que a Venezuela devesse sofrer uma intervenção externa imediata contra o governo
Maduro e restabelecer a ordem social interna. Essa posição crítica ao governo
venezuelano, não há dúvidas, está sendo instigada pela mídia dominante,
manipuladora, que diariamente bombardeia os seus telejornais com reportagens inverídicas
mostrando centenas, milhares de venezuelanos, desesperados, atravessando a
fronteira com o Brasil em busca de trabalho. É claro que observando de fora,
como expectador passivo, o sentimento que tende a desperta é, obviamente, de
repulsa, ódio e revolta contra o presidente, idealizado como um ditador
perverso, manipulador de eleições, que massacra e oprime o povo, impondo uma
terrível e mortal recessão.
Em
nenhum momento se observou algum grande jornal de circulação nacional ou de uma
Rede de TV aberta, reportagem, relatando resumidamente a história, a geografia,
a economia e os desdobramentos que resultaram na crise que assola o país. Desde
a sua ocupação pelos espanhóis, no século XVI, a Venezuela apresentava algumas
peculiaridades que a diferenciava das demais colônias espanholas, como a
vizinha Colômbia, atualmente apresentando fracos laços de amizade.
Pela
sua localização geográfica estratégica, próxima da Europa, sempre teve alguns
privilégios. Isso contribuiu para que colônia espanhola agregasse mais
autonomia e autoridade militar que as demais possessões espanholas. Atualmente são
necessários 4 a 5 dias para que o petróleo extraído dos poços venezuelanos
chegue às refinarias do Texa, EUA. Quase todo o petróleo que abastece a
indústria americana é importado do oriente médio, cujo transporte, em navios, tem
a duração de 35 a 40 dias para chegar ao seu destino.
Com
sua independência, no inicio do século XIX, liderada pelo general militar Simon
Bolívar, o país adotou um misto de governo, combinando monarquia, república e
federalismo. E esse modelo de gestão permanece até os dias atuais, cujo poder
de comando se mantém de certo modo centralizado nas mãos do presidente.
Diferente do país vizinho, Colômbia, a Venezuela teve a sorte ou o azar de
possuir em seu território uma das maiores ou maior reserva de petróleo do
mundo. Estimativas dão conta de que no subsolo venezuelano estão depositados 307
bilhões de barris de óleo. Porém, toda essa demanda de petróleo não está sendo
suficiente para amenizar a crise sem precedente na sua história do país.
O
fato é que a Venezuela, acomodada sobre o manto negro depositado em seu
subsolo, não diversificou sua economia como forma de enfrentar possíveis crises
futuras do petróleo. A Colômbia, que possui limitadas reservas de petróleo,
porém, avantajadas concentrações de carvão mineral em seu subsolo, sofre muito menos
os efeitos das crises cíclicas que o seu vizinho.
Seu
grande parque industrial e o forte investimento agrícola permitem que o país
mantenha certa estabilidade frente aos cenários de crise global. A Venezuela
exporta 97% do petróleo extraído de seus campos, portanto, tem sua economia
totalmente dependente dessa commodity, cujos preços oscilam no mercado global.
Nos últimos anos o preço do barril despencou internacionalmente, sendo, no
entanto, um dos fatores do desarranjo econômico e social que assola o país.
As
previsões dão conta que o PIB do país retrocederá 15% em 2018, com uma inflação
que poderá atingir os 14 mil % ao ano. Nesse cenário, o país vive um colapso
social, onde o governo tenta a duas penas permanecer a frente do comando,
evitando entregar o posto às forças reacionárias oligárquicas pró-Estados Unidos,
desejosas em reassumir o controle político da Venezuela. Imagine, são quase 400
bilhões de litros de petróleo armazenados nas profundezas de seu subsolo, e o
EUA é atualmente o principal importador. A despeito de Maduro, sua deposição do
cargo de presidente, tenderia a aumentar a influência Norte Americana sobre o
restante da América do Sul.
Havia
expectativa de que nas eleições presidenciais realizadas no dia 21 de maio de
2018 o governo Nicolas Maduro fosse derrotado pela oposição, que não se
confirmou. Os opositores internos ao regime de Maduro, acompanhados por expressiva
parcela de governos latino americanos, alinhados as políticas de Trump, afirmam,
categoricamente, ter havido possíveis irregularidades no pleito eleitoral da
Venezuela.
Argumentam
que devido ao número elevado de abstenções, a eleição não poderia ser
considerada válida. No entanto, o pleito teve o acompanhamento de observadores
internacionais onde atribuíram legitimidade ao processo. Quanto às abstenções,
a imprensa oficial pró-imperialista procura omitir dados que revelam ter havido
abstenções nos pleitos do Chile, Colômbia, entre outros, nas mesmas proporções
que a Venezuela, porém, ninguém solicitou recontagem dos votos ou a anulação.
Por que exigir tal absurdo somente da Venezuela?
Deve-se
considerar que a situação econômica e social da Venezuela mudou
consideravelmente a partir da chegada de Hugo Chaves ao posto de presidente da
república em 1999. Em nenhum momento os veículos noticiosos conservadores
fizeram qualquer menção às realizações ocorridas durante os 14 anos de que Hugo
Chaves governou o país. As taxas de 70% da população em situação de pobreza,
registrada em 1996, foi reduzida para 21% em 2010. Foi também na época de Chaves
que o país se tornou um dos primeiros da América do Sul a adotar programas
sociais de construção de habitações populares às populações de baixa renda. Não
ficou só nisso, outras ações relevantes também tiveram destaque, como
saneamento básico com água tratada para 96% da população, educação, saúde, etc.
Era
óbvio que todas essas realizações não poderiam ser bem assimiladas pela
oligarquia sempre à frente do comando do país, cujos votos eram assegurados mantendo
parte da população em estado miséria e pobreza absoluta. Criar instrumentos que
intensificassem a instabilidade social foi uma das tantas estratégias adotadas para
atrair a opinião pública externa contra o regime de Chaves, e quem sabe,
pressioná-lo a abdicar o posto de presidente.
Tentativas
de golpes de Estado foram executadas como os atentados contra Chaves em 2002,
porém, ambos sem sucesso. Diante desse clima de progressivo isolamento, patrocinado
por forças imperialistas aplicando sanções cada vez mais duras à economia do
país, Chaves coordenou plano de integração dos países sul americanos e do
caribe, com planos ousados de transformações estruturais, e que jamais foram
bem digeridos pelos donos do capital.
A
inclusão da Venezuela no acordo econômico da América do Sul, MERCOSUL, também
se converteu num grande acontecimento para o fortalecimento dos vínculos
econômicos e sociais na América do Sul. O sonho do Pan-americanismo, idealizado
pelo principal expoente da independência de várias colônias hispânicas da
America do Sul, Simon Bolívar, começava se materializar. Essa possibilidade
aterrorizava a elite dominante da América do Sul, apavorada diante do cada vez
mais concreto risco de ruptura política.
Diferente
dos países sul americanos como Argentina, Paraguai, Brasil, entre outros, integrados
ou alinhados ao projeto de unificação regional, um após outro foram sendo
abocanhados pelas elites conservadoras, cujas eleições ou golpes brancos fez
ascender no poder antigas forças dominantes. A Venezuela, a Bolívia e o Equador
vêm resistindo a ferro e fogo as investidas insanas dos seguimentos reacionários,
nacionais e internacionais.
A
centralização do poder e o controle de setores estratégicos como o exército e o
judiciário enfraqueceu as forças oligárquicas na Venezuela. Portanto, esses
foram alguns dos mecanismos empregados pelo regime de Chaves para frear a
voracidade do poderio das oligarquias em tentar retomar o comando político do
país. Quantas e quantas vezes tem se ouvido expressões classificando Hugo
Chaves e Nicolas Maduro como ditadores, que desrespeitaram a constituição e os
princípios democráticos?
Não
há dúvida, limitando as proporções do radicalismo de Chaves e Maduro, a
Venezuela se apresenta no cenário regional e global tendo um modelo de projeto
de nação que pouco agrada os detentores do poder. Os discursos alegando falta
de democracia, desrespeito aos direitos humanos, pronunciados insistentemente
pela oposição venezuelana e noticiado diariamente pela imprensa entreguista
global, são estratégias desesperadoras que não surtiram efeitos desejados como
a possível derrota de Maduro nas urnas. A direita Venezuela não tem compromisso
algum com a democracia e muito menos ainda com o respeito aos direitos humanos.
As manifestações de rua ocorridas entre 2013 e 2016 são um bom exemplo do
comportamento terrorista desse seguimento onde provocaram a morte de dezenas de
pessoas.
Não
há dúvida que a situação econômica no país vizinho beira o colapso. São dezenas,
centenas de pessoas atravessando a fronteira com o Brasil diariamente, como mostram
os noticiários dos telejornais. As reportagens também destacam os transtornos produzidos
nessas pequenas cidades, com recursos orçamentários já minguados para suprir as
necessidades dos cidadãos locais. A cada reportagem, cidadãos venezuelanos são
entrevistados, destilando ódio ao regime venezuelano, como se fosse ele o
principal culpado pelo quadro caótico que assola toda a população do país.
Quando
foi que se ouviu falar em um desses telejornais diários, que a Venezuela vem
sendo palco de um processo perverso de desabastecimento econômico com intuito
de forçar a alta dos preços e elevar a inflação? Não bastando isso, tanto os
EUA como a comunidade Européia vêm impondo sanções ao país, com embargos
econômicos e bloqueios financeiros internacionais. Quais governos suportariam resistir
por muito tempo tantas pressões e ataques por todos os lados? Só o tempo dirá.
https://www.cartacapital.com.br/blogs/brasil-debate/para-entender-a-venezuela
Prof.
Jairo Cezar
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