A
ARTE DE SER UM GUIA DE UM SER NA TERRA
A
humanidade no seu turbulento caminho evolutivo passou por diferentes e
complexos estágios adaptativos. Dentre as várias espécies que habitam o
planeta, o ser humano é a única capaz de criar e aprimorar ferramentas indispensáveis à sua sobrevivência. Na sua difícil jornada de construção e
desconstrução individual e coletiva, aspectos como intuição, emoção e
espiritualidade passaram a ser moldados a partir dos espaços territoriais. Do mesmo modo que há vertentes humanas
compartilhando hábitos e costumes comuns, a formação ética e moral, na maioria
das culturas, seguiram e seguem regras parecidas de conduta, muitas das quais sistematizadas por forças metafísicas, sobrenaturais (deus,
espíritos, energias cósmicas, etc).
Hoje
no planeta cinco ou seis religiões convergem cerca de 2/3 da humanidade. O que é intrigante é o fato de o ser humano se sentir
tão atraído pelo sobrenatural, pelo místico, ao ponto de desejar anular a sua
própria essência de sujeito de livre arbítrio. Seria uma forma
inconsciente de querer se anular, se eximir do seu desafio existencial, de enfrentar
as barreiras durante sua jornada de vida? Muitos dos problemas que afetam
milhões de pessoas no mundo inteiro têm a sua raiz primordial nas religiões,
que impõem regras morais rígidas, inflexíveis, anulando pulsações vitais ao crescimento interior.
Além
do fator religioso algumas sociedades ocidentais foram alicerçadas seguindo padrões
funcionais de comportamento e de produção. Depois de séculos, a ciência
frustrou seus idealizadores que alimentavam as expectativas de que o avanço da
tecnologia reverteria o tremendo abismo social predominante. A incapacidade de
encontrar respostas às frustrações e as muitas dúvidas não respondidas pela
ciência e religiões, vem desafiando os sujeitos em vasculhar culturas e
até mesmo as já extintas, na tentativa desesperadora de descobrir o elo necessário à felicidade plena.
É verdadeiro que as inovações tecnológicas não foram suficientes para
tornar o planeta mais seguro, muito pelo contrário, não se têm
registro na história recente, episódios tão conturbados como o
atual, que está colocando a humanidade em condição de risco de extinção. Diante do imenso turbilhão de incertezas e
tensões que se abatem sobre grupos sociais guiados pelo consumo, a conexão com outras culturas milenares, as indígenas e as
orientais, vêm se materializando, expandindo a consciência, até mesmo a regeneração
da essência humana.
Mas
toda essa transformação não ocorre espontaneamente entre indivíduos dominados por crenças ditas superiores. O que estiver incompatível às leis da natureza, deve ser questionado ou
rechaçado, diz a lei da razão. A experimentação, o uso da razão, dos sentidos, são condicionantes
elementares para atingir a "verdade". Portanto, como ousar duvidar de certezas testadas, controladas nos laboratórios? Como aceitar que os elementos vivos que
compartilham do mesmo espaço habitado pelo ser humano são resultantes de uma
energia cósmica imensurável, ilimitada. Os céticos afirmam que tudo faz parte da especulação e devaneios da mente humana.
Os
próprios doutores, mesmo diante de todo cabedal de conhecimento acumulado não conseguem
responder os mistérios que dominam a mente humana. No campo da medicina,
há tempo, profissionais estão incluindo nos seus manuais, métodos de tratamento e cura dispensando substâncias alopáticas, sintetizadas em laboratórios. Ioga, imposição
das mãos, acumpultura, raike, sinergia, entre outras, atraem dia após dia
milhões de novos adeptos na busca frenética de respostas às
angustias e frustrações não respondidas pela razão. Pode estar na expansão
consciente da mente o pedaço do "elo" que faltava à tão desejada plenitude. Aqui não se trata do elo diluído em doutrinas, dogmas, tradições, verdades absolutas,
etc. O processo vai além, ultrapassa os limites da razão e da fé, atingindo os campos desconhecidos da mente.
Isso
é o que chamamos sabedoria ou consciência ilimitada, que se manifesta em cada um a partir do instante que nos permitimos, nos colocamos abertos às forças intangíveis
do cosmo (ser superior), ou o que cada desejar imaginar. É
essa tal energia vital que tudo faz movimentar, tornar o ser humano
melhor e bem estruturado se a arrogância e a prepotência não ocupassem tanto
espaço na mente. Para atingir a
plenitude, o ritual preparatório deve começar anterior a concepção de um novo
ser. Os povos antigos tinham isso muito claro, sabiam que uma sociedade estruturada deveria começar antes da concepção. Quem desejasse conceber
uma criança teria primeiro que consultar um visionário, o Faraó, pois era o
único com condições de decidir se o casal poderia ou não ter um filho.
Hoje
em dia, 90% dos problemas que assolam uma sociedade, ocorrem devido ao
despreparo dos pais na hora da concepção. No ocidente o período de gestação de
uma criança é pouco considerado, pois acreditam que fatores externos,
ambientais, não refletem na formação integral do bebê. O que é verdadeiro é que
tudo o que sentimos e falamos são absorvidos integralmente pelo bebê ainda no
útero de sua mãe. Talvez pelo despreparo e rejeição ao ser fecundado, milhões
de pessoas no mundo atualmente sejam acometidas por distúrbios emocionais e
violência.
Pesquisas
realizadas nos EUA comprovam que 75% dos apenados masculinos sofreram alguma
violência ou rejeição durante a infância. Quando uma criança chega ao mundo já se
depara com indivíduos totalmente despreparados, a começar pelos próprios
médicos que se comportam como se o ser que nasceu fosse um objeto descartável.
É no período das seis horas após o parto que a criança deve receber as atenções
mais elementares, pois o seu cérebro está num estágio aguçado de sensibilidade a
tal ponto de poder absorver tudo que se passa ao seu redor, até mesmo sentimentos
não verbalizados por aqueles que estão ao seu entorno.
Como
habitante da terra, a missão da cada um no planeta é deixá-la um pouco melhor
para os que virão depois. Porém, os acontecimentos dão sinais de que nosso pacto
com o universo quando formos concebidos não está sendo cumprido. Talvez porque
muitos que estão no planeta não foram preparados para esse desafio, muito menos
desejados por quem os concebeu. Cada ser humano que peregrina pelos quatro
cantos da terra, foi uma idealização, um projeto inacabado.
Poucos
se dão conta de que estão no planeta de passagem, um breve momento para
aprender, ensinar, evoluir, pois logo todos terão de partir. Durante o tempo
que vivemos na terra nossa tarefa é expandir a consciência para alcançar a
plenitude, a felicidade. Entretanto, o que o ser humano conseguiu com sucesso na
curta fração de tempo de ocupante do planeta foi tornar sua vida infernal quase
insuportável. São situações que podem ser superadas, ainda há tempo, se
transformações acontecerem dentro de cada um. A compreensão de que não somos
melhores que outros seres vivos, que devemos devolver a terra melhor do que
herdamos, são condições elementares para tornar nossa vida suportável.
Prof.
Jairo Cezar
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