ENSINO A DISTÂNCIA COMO ESTRATEGIA
PARA A PRIVATIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Quando
todos/as acreditavam que nada pior poderia acontecer para a educação pública
que a esdrúxula reforma do ensino médio e a homologação da BNCC, no dia 20 de
março último, não é que o governo conseguiu piorar ainda mais a situação do
ensino, quando anunciou que os/as estudantes do ensino médio poderão fazer a
parte diversificada do currículo, ou seja, os 40%, a distância. Ninguém duvida que a estratégia do governo com
essa medida será dar prosseguimento ao programa privatizante da educação
pública, que começará com a terceirização.
Entre
2009 a 2013 pesquisas realizadas pela CNTE deram conta que houve redução de
4,8% das matrículas em escolas públicas em todo o Brasil, incluindo nesses
números, escolas estaduais, municipais e federais. Entretanto, a pesquisa
mostrou também, que em relação ao ensino particular a curva seguiu o caminho
inverso, houve um crescimento das matrículas em mais de 17%. É claro que o
declínio das matrículas nas escolas públicas deve ter sido motivado pelo estado
caótico das quais se encontram milhares de unidades de ensino sem as mínimas
condições infraestruturais para a prática docente. Os reflexos desses desleixos
com os espaços físicos e professores, desestimulados pelos péssimos salários
que recebem, foram e são sentidos nos resultados das avaliações do PISA em
ciências, matemática e linguagens, aparecendo o Brasil nas últimas posições
entre os países da OCDE.
O
reforma do currículo do ensino médio em 2017, bem como a homologação da BNCC, se
constituíram como justificativas dos governos na tentativa de retirar o Brasil
da condição ridícula que se encontra entre os demais da OCDE no quesito
educação. Olha que o Brasil se apresenta como a oitava economia do mundo.
Enquanto que nos países com melhores posições no ranque educacional, as
reformas em curso são para aprimorar ainda mais os currículos, sem suprimir ou
terceirizar disciplinas, no Brasil, ao contrário, as reformas são para
fragilizar ainda mais o ensino, retirando a obrigatoriedade de disciplinas como
sociologia, filosofia e artes, tornando optativa química, física e biologia.
Não há dúvida que o plano das reformas deve ter tido as mãos sutis de setores
empresariais, aonde irão bilhões no gigantesco mercado de livros didáticos,
cursos de formação continuada e de programas de educação a distância.
Observe,
também, outra sutileza das reformas. O governo tem clareza que mais da metade
dos municípios brasileiros possuem apenas uma única escola de ensino médio. Na
parte diversificada do currículo, ou seja, os 40% restantes, para completar os
100% das disciplinas, os/as estudantes poderão optar por uma das cinco
modalidades oferecidas: ciências da natureza, matemática, ciências humanas ou
educação técnica profissional. Portanto, aqui está o segredo do esquema
milionário. O não garantia da integralidade da parte diversificada do currículo
a mais da metade dos municípios brasileiros, forçará os/as estudantes a
buscarem nos municípios vizinhos tais modalidades que lhes interessam.
Porém,
nem todos terão oportunidade de escolha, tanto pelo fato de muitas escolas dos
demais municípios oferecerem as mesmas modalidades de ensino, quanto pelas
distâncias e inexistência de transportes para os deslocamentos. Frente a tais barreiras geográficas já
previsíveis no projeto de reforma, o governo, lançou o plano B, ou seja, o
ensino a distância. É claro que essa modalidade a distância resultará em uma
economia substancial aos cofres públicos dos estados e municípios. Mas, o que
interessa aos governos são as estatísticas, os índices e não se o aluno estudou
ou aprendeu.
Muitos
economistas, sociólogos e demais intelectuais de vertentes teóricas críticas,
tem estampado nos seus livros e artigos, reflexões revelando que no mundo do
trabalho capitalista, não há em hipótese alguma interesse de ruptura das
relações desiguais de produção. Analisando as últimas investidas golpistas na
educação pública, tem-se muito claro a permanência do modelo desigual de
produção. O que é fato é que nenhuma escola particular ousará ajustar seus
currículos conforme preconizado nas reformas temendo riscos de perda da
qualidade no ensino.
Enquanto
uma casta de “bem nascidos” terão assegurado o acesso as boas escolas e ao
vasto rol de conhecimentos acumulados, lhes garantindo os melhores empregos e
salários, no outro lado da extremidade do sistema, estarão os “mal nascidos”,
os excluídos do capital, transformados em exército de reserva de mão de obra,
cuja escola pública vem absorvendo para, depois, despejá-los/as no mercado, mantendo
o ciclo reprodutivo das massas de manobra. É isso mesmo, massas de manobra.
Salvo algumas exceções, quantos estudantes de escolas públicas, a partir dos
currículos ajustados às reformas terão as mesmas possibilidades de disputar com
escolas particulares as vagas de cursos como medicina, engenharias, entre
outras? Certamente, terão que se conformar, caso concluam o ensino médio/técnico
ou superior a distância, de ter conseguido emprego e recebendo salário que mal lhes
assegure a sobrevivência.
Há
pouco tempo quando o projeto de lei da terceirização foi aprovado no congresso
nacional, já se fazia o alerta do seu espectro na educação, que poderia começar
com os/as professores/as do ensino superior, vindo em seguida os/as
profissionais do ensino básico, até alcançar as escolas do ensino básico, com a
terceirização das disciplinas. No entanto, tudo está acontecendo muito rápido
do que se imaginava, sem que a categoria dos educadores tenha tempo para
assimilar e reagir às investidas dos governos entreguistas. É claro, tem muito
dinheiro em jogo, somado a pressão dos bancos internacionais (Banco Mundial) que
ameaça cortar recursos, se países como o Brasil permanecerem na rabeira entre
os piores em educação.
Quando
se lança o alerta de que os atuais governos preconizam a privatização do
ensino, isso não é um discurso fatalista de quem aposta sempre no pior. Muito
pelo contrário, é a opinião realista e nada otimista de quem acompanha o dia a
dia das escolas durante 35 anos, de uma quadro estrutural caótico, que só está
funcionando graças ao imensurável esforço de gestores e professores. São
escolas cujos professores chegam ao limite de tirar dinheiro do próprio bolso
para assegurar o mínimo de conforto aos estudantes. Jamais tenderão a se render os/as professores/as
aos ataques insanos de governos que, sabiamente, tem a educação como
instrumento de controle social. Não há
como vislumbrar transformações estruturais significativas no âmbito social e
educacional prevalecendo o atual modelo de produção que sobrevive esfolando
trabalhadores. É preciso transformar escolas em trincheiras, mobilizar a
sociedade para que as defendam bravamente dos poderosos monstros do dinheiro,
que insistem em devorar a todo custo corpos e alma de milhões de brasileiros.
Prof.
Jairo Cezar
Nenhum comentário:
Postar um comentário