AS
REDES SOCIAIS E O UNIVERSO PERIGOSO DA COMUNICAÇÃO ILIMITADA
Não
é conveniente ao ser humano julgar fatos ou lançar opiniões quando sua mente
estiver contaminada por sentimentos de ódio e raiva. Diferente das demais
espécies vivas, o ser humano tem na sua constituição bio-psíquica elementos que
o capacita às atitudes de livre arbítrio, negando ou escolhendo caminhos que
queira seguir. No entanto, embora consiga canalizar parte de sua pulsação
instintiva, lhe assegurando o convívio social, os desequilíbrios ambientais,
crises econômicas, etc., podem resultar no aumento das pulsações involuntárias
do cérebro, ativando latejos odiosos, raivosos. Foram necessário milhares de
anos para que espécies hominídeas, caçadores e coletores, aprimorassem suas
habilidades cognitivas e afetivas ao ponto de poder conviver em sociedade.
Como
não poderia ser diferente, um complexo conjunto de regras escritas foram elaboradas,
tornando possíveis o convívio entre indivíduos que apresentam sentimentos,
comportamentos e concepções de mundo tão diversos. Entretanto, a vasta gama de
ordenações normativas foi insuficiente para suscitar conflitos quase que
intermináveis, muito dos quais motivados pelo desejo ofuscante de poder. As
guerras, portanto, podem estar nelas as explicações do grau de humanização que
a espécie sapiens sapiens ainda não atingiu. São evidentes os indicativos de
que a espécie humana não terá tempo suficiente para completar seu ciclo
evolutivo, pois, sua casa, o planeta terra, não irá proporcionar meios para
completar o ciclo existencial.
Não
há dúvida de que nos estágios cada vez mais curto de estabilidade econômica, os
índices de conflitos sociais são bem mais discretos. O crescimento vertiginoso
do desemprego, do desencadeamento violento de desastres ambientais e dos baixos
níveis de escolaridade, associados às inovações tecnológicas, estão sendo hoje
os vetores propulsores do ódio que, como um vírus, se espalha rapidamente. A
tolerância que por milênios foi apregoada por correntes religiosas tradicionais,
(cristianismo, islamismo, budismo, judaísmo, etc), vem, paulatinamente, perdendo
forças, pelo fato de lideranças de tais agremiações estarem sendo contaminados
pelo intolerante vírus do mercado.
Restabelecer
a harmonia, o equilíbrio com os elementos da natureza e com o próprio eu existencial
são atitudes que devem ser exercitadas incondicionalmente por todos e todas.
Pode até ser um tanto piegas, démodé, aconselhar tais valores num momento de terrível
instabilidade social e emocional que atinge o conjunto da humanidade. Não se
deve esquecer que a espécie humana passou e passará por ciclos de instabilidade
e estabilidade durante sua trajetória. O que preocupa é que nos quase quatro
milhões de anos, momento do surgimento do primeiro hominídeo, a espécie hoje
vive o seu desafio civilizatório máximo, reprogramar sua conduta existencial ou
continuar a caminhada cega no planeta que resultará na sua própria extinção.
A
sociedade brasileira como outras sociedades que carecem de serviços essenciais,
principalmente educação, serão as mais impactadas pelos frutos da modernidade.
Para uma população onde mais de 80% apresenta baixos níveis de escolaridade, ou
seja, não consegue ler interpretar o que escreve, ferramentas modernas como
facebook, whatsapp, entre outras, se constituem como armas letais de destruição
em massa. Atualmente quais os conceitos
lançados acerca dessas ferramentas tecnológicas? Que estão sendo utilizadas
indevidamente, disseminando notícias falsas e apregoando o ódio entre
indivíduos e grupos sociais.
Será
que esse comportamento odioso manifestado através das redes sociais são reações
isoladas de uma pequena fração da sociedade acometida de algum tipo de
patologia emocional, ou são reações espontâneas de um povo realmente violento, que
por séculos foi forjado ou acobertado pelo mito do brasileiro cordial? Penso
que aqui está a resposta às manifestações de hostilidade, rancor, destiladas
contra pessoas que apresentam opiniões divergentes às suas.
Jamais
o povo brasileiro pode ser concebido como pacífico, ordeiro, gentil, tolerante,
como sempre se apregoou. A lista de justificativas que corroboram a favor dessa
afirmação não muitas, com destaques a violência contra mulheres, negros,
indígenas, homossexuais, etc. O Brasil é um dos primeiros do ranque em
homicídios. Morrem no Brasil mais
pessoas vítimas de armas de fogo por ano que todas as mortes ocorridas na da
guerra da Síria, desde o seu início.
O
número de mortes não é ainda maior pelo fato de prevalecer à lei do
desarmamento. Imaginemos agora centenas de milhares de pessoas saindo de um
estádio de futebol ou dirigindo seus automóveis, todas munidas de arma de fogo,
onde, de repente, se vêem envolvidas em atos de violência. Portanto, as redes
sociais são pequenos lampejos refletidos da complexa conjuntura que tem no seu
topo o Estado e todo seu aparato burocrático como desencadeadores da barbárie
social.
Como
combater tudo isso? Não há receitas milagrosas para solucionar problemas
enraizados na nossa cultura há séculos. Promover campanhas ou programas de
auto-ajuda para difundir a tolerância e o amor ao próximo não vem se mostrando
tão eficiente como se deseja. É claro que tudo isso se mostra ineficaz quando
se tem no bojo da estrutura de poder elementos que incitam a desagregação, fracionando
ou individualizando mais e mais os sujeitos ao ponto de terem de viver como
reclusos nas suas cavernas existenciais. A internet e sua infinidade de opções
interativas vêm transformando sujeitos passivos em anônimos monstros raivosos.
Teclados
de computadores, em mãos erradas, rapidamente podem se transformar em gatilhos
de armas poderosas, onde através de simples toques com os dedos, produz
estragos como se fossem batalhas em trincheiras. Informações ou notícias falsas,
mal intencionadas, em minutos transformam pessoas ou grupos até então amados,
idolatrados, em verdadeiros demônios. Qualquer assunto que se escreve
principalmente temas relativos à política, futebol ou religião, que são comuns
atualmente, dependendo como é escrito e quem a escreve, vira pretexto para o
desencadeamento de uma guerra. Tem-se a sensação de que as pessoas permaneceram
gerações aprisionadas dentro de casulos, que de repente, rompem-se a fechadura e
surge à luz ofuscante, que cega, confunde. Estando libertos das mordaças, todos
tendem a se sentir donos da verdade, juízes ao ponto de querer julgar e sentenciar
quem quer que seja quando não estiver compatível aos perfiz desejados.
Prof.
Jairo Cezar
Nenhum comentário:
Postar um comentário