A
INTERVENÇÃO FEDERAL NO RIO DE JANEIRO E A LEGITIMAÇÃO DA BRUTALIDADE DO ESTADO
CONTRA OS/AS CIDADÃOS/ÃS.
Vislumbrando
uma possível derrota política no Congresso Nacional com a não aprovação da Reforma
Previdenciária, o governo Temer, de forma oportunista e sorrateira, aproveitou-se
da situação da instabilidade da segurança no Rio de Janeiro para decretar a
intervenção federal naquele estado. É claro que todo o processo estava sendo arquitetado
há algum tempo, cuja decisão de postergar a reforma da previdência tirou do
pescoço de muitos parlamentes a corda assassina de possíveis derrotas nas
eleições de outubro. Quando o governo viu que estava sacramentada qualquer
possibilidade de vitória com a reforma, faltava apenas algo relevante que
justificasse a ação.
Caiu
como uma luva os arrastões e os assaltos generalizados durante o carnaval na
cidade do Rio, bem como as manifestações e protestos das escolas de samba
durante os desfiles do grupo especial, contra os desmandos dos políticos
brasileiros, capitaneado pelo presidente temer, fantasiado de vampiro por uma
escola. O cenário, portanto, estava pronto, bastava agora convencer a opinião
pública de que a medida era oportuna e necessária. Durante a quarta feira de cinzas quase todos
os veículos de comunicação de massa, durante seus horários de maior audiência,
noticiaram o decreto assinado pelo presidente da República.
Ao
mesmo tempo em que militares se dirigiam para a cidade do rio conduzindo toda a
parafernália bélica, a população, atônita, via permeando no seu imaginário o
fantasma do golpe de 1964. Insistentemente a imprensa golpista tentava convencer
a opinião pública que havia sim uma intervenção federal e não militar, como se cogitava.
O exército, portanto, de acordo com noticiários, assumiria uma função
colaborativa com as polícias militar e civil. Não tardou muito para que as
redes sociais e outras fontes de notícias não convencionais inundassem suas
páginas eletrônicas com reportagens repudiando a intervenção legando descumprimento
de dispositivos constitucionais.
Além
do mais, o exército foi e é treinado para a guerra, ou seja, proteger as
fronteiras do território de uma possível ação externa, e não assumir funções de
policiamento que são atribuições das polícias. É sabido por todos/as que a ação
desencadeada tem ares eleitoreiros, com a pretensão de arrebanhar votos de um estrato
social que promete direcionar o votar no polêmico candidato extremista, Jair
Bolsonaro. Com o sucesso da intervenção poder-se-á abrir as cortinas de um
possível nome ao governo do rio e a presidência da república, com chances de
vitória se puder capitalizar para si a intervenção.
É
preciso esclarecer que havendo o restabelecimento da ordem pública no estado do
Rio, a mesma será paliativa, momentânea. Por que tal certeza? A partir de
dezembro quando o decreto presidencial terá expirado, as tropas federais se
retirarão retornando o estado aos cuidados das polícias estadual. Há pouco
tempo todos devem lembrar, o exército interveio junto às áreas de riscos no
Rio, como o complexo da maré, com um custo orçado de 600 milhões de reais. Foi
só o último militar sair da região que o clima de instabilidade e violência retornou
na região. O problema da insegurança pública no Rio de Janeiro como nos demais
estados da federação são muitos semelhantes. Comunidades inteiras são
comandadas por poderosas organizações criminosas ligadas ao tráfico de drogas e
roubo de cargas, que se alia à própria polícia, que se deixa corromper devido à
situação de penúria que está submetida.
Diante
desse cenário pernicioso, o Estado, como instituição, não chega às áreas
desassistidas, quadro esse que seduz a população jovem a embarcar na rota do tráfico
como única oportunidade de ascender na vida. O tráfico, portanto, ganha a
simpatia da população porque a polícia é desacreditada, trata com brutalidade
os/as próprios/as cidadãos/ãs dessas comunidades. Na realidade o modelo de
policiamento no país é extremamente arcaico, criando no império há mais de duzentos
para proteger os nobres proprietários de terras de possíveis ataques de
escravos fugitivos. Hoje a policia continua prendendo e matando mais negros,
pois é majoritariamente o público predominante das áreas pobres, dos morros e
bairros, sem escolas, saneamento, emprego, etc. Não é mesmo?
Imagine
só, o próprio plano de intervenção federal para o estado do Rio o governador
não havia lido ainda. Isso significa um estado sem governo, uma sociedade
desamparada, atormentada, a espera de um milagre. Mostra claramente a fissura e
a fragilidade de toda uma estrutura de poder, que veio se degradando ano após
ano, alimentada pela corrupção, etc. Um estado minado pela indecência de seus
administradores, eleitos, muitas vezes. E todo esse cenário contaminado não é
exclusividade do Rio de Janeiro.
Acredite
o estado fluminense não é o mais violento, está na décima posição 10 posição no
ranque nacional. É claro que a mídia corporativista dá as suas pinceladas aos
fatos, como forma de produzir cenários possíveis e desejáveis eleitoralmente. Não
é segredo para ninguém que a problemática da violência generalizada em todo o
Brasil tem relação direta com a corrupção quase crônica nas instâncias do
poderes constituídos. Uma geração sem perspectiva de futuro se torna alvo fácil
das tentações do crime organizado.
Lembra quando surgiu a operação lava jato,
escancarando o lado podre do aparato estatal, onde políticos, empresários,
entre outros, foram denunciados e presos por participação em esquemas de
desvios bilionários de recursos públicos, tráfico de influência, corrupção
passiva e ativa? Se todo o dinheiro público contabilizado que escoou pelas
tubulações da corrupção, somados aos bilhões sonegados, metade desse montante
seria suficiente para começar a atender as demandas de setores estratégicos da
sociedade como educação e saneamento básico.
A
operação desencadeada no Rio de Janeiro reflete com precisão o modo funcional
como o Estado é pensado. Até as crianças entendem que tratamentos para combater
dores são recursos paliativos, não combatem as causas das dores e das doenças. Colocar milhares de soldados para o
patrulhamento das ruas, prender e matar traficantes, reformar ou construir
presídios, etc, são medidas analgésicas, dando a sensação de alívio momentâneo.
Não altera o quadro estrutural do estado, cuja patologia é reflexo do desemprego, falta de escola, saneamento,
hospitais, etc.
É
de estranhar por que diante do abissal descaso à saúde, à educação, com
milhares de pessoas empilhadas nos corredores dos hospitais públicos, e escolas
caindo aos pedaços, não houve intervenção federal nesses estados, como forma de
restabelecer o atendimento dos serviços à população. É claro que saúde de
educação pública, quem as utilizam são pessoas menos abastadas, além do mais
não compromete o ir e vir dos degraus de cima. Agora, no instante que nem mesmo
as fortalezas construídas não conseguem mais proteger às elites dos assaltos e
roubos, aí sim, o Estado entra em ação mobilizando o exército para restabelecer a ordem. Tudo que vem
acontecendo pode explicar o motivo de ter sido escolhido o lema “Ordem e
Progresso” pelo atual presidente.
Na
quinta feira, 01 de março de 1018, o governo federal realizou encontro com
todos os governadores dos estados querendo buscar soluções à desenfreada onda
de violência que se espalhou pelo Brasil. Como encaminhamento, o presidente se
propôs a liberar em forma de empréstimo, 40 bilhões de reais para investimento
em segurança nos estados. É outra medida paliativa, não é mesmo? Na realidade o
encontro deveria ter como meta o engajamento dos entes federativos em campanhas
conjuntas para restauração e construção de escolas em todo o Brasil.
Possivelmente
a metade desse montante prometido à segurança traria um alento aos milhares de professores
e gestores de escolas públicas que consomem parte do seu tempo promovendo
campanhas visando angariar fundos para manter as escolas em funcionando.
Repetindo esses investimentos qualificando melhor os professores e uma
remuneração digna à carreira, em pouco tempo uma nova categoria de cidadãos
estaria se formando, reduzindo a violência e, por sua vez, a redução do fluxo
de apenados nos presídios brasileiros. Tudo isso pode até ser utopia,
devaneios, mas, o que seria da espécie humana se não sonhasse.
Prof.
Jairo Cezar
Cada vez mais decepcionada com tudo e o pior sem esperança. Quero acreditar num país melhor mas a realidade distorce toda a idealização que carrego comigo. Triste, triste por mim tristeza pelos nossos filhos. Que país é esse?
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