ADMINISTRADORES PÚBLICOS MUNICIPAIS DESCUMPREM METAS E
ESTRATÉGIAS DO PNE (PLANO NACIONAL DE
EDUCAÇÃO) TERCEIRIZANDO A EDUCAÇÃO INFANTIL
Enquanto muitos países vinculados a OCDE estão a cada
pesquisa lançada pelo PISA apresentando ou mantendo melhorias significativas na
educação e alcançando as primeiras posições no ranque internacional em
qualidade educacional, o Brasil segue o caminho inverso, declinando e perdendo
posições a cada avaliação realizada. O motivo desse retrocesso não deve ter como
justificativa as legislações em curso que demonstram ser inovadoras e que
certamente colorariam o Brasil entre os primeiros da lista dos mais
desenvolvidos. Onde está, portanto, o problema? Sem dúvida o imbróglio está na base
da estrutura, ou seja, nos pilares da formação da sociedade brasileira.
Enquanto que em muitas sociedades a educação sempre foi compreendida como algo
intrínseco a existência humana, ou seja, prioridade das prioridades, no Brasil,
ao contrário, a educação é concebida como elemento secundário à existência
humana.
Para provar que a educação no Brasil está a anos luz do ideal
basta comparar os salários pagos aos professores que atuam no ensino básico aqui
com os dos países melhores classificados no ranque internacional. São estratosféricas
as diferenças salariais. Agora, outro
quesito determinante para o bom desempenho nos processos avaliativos desses
países são os investimentos públicos em educação básica, especialmente no
ensino infantil e fundamental, cujos profissionais envolvidos são todos mestres
ou doutores. São centenas, milhares de pesquisas desenvolvidas no mundo que comprovam
que partes importantes do cérebro responsáveis pela inteligência são estimuladas
até os sete anos de idade.
Se até essa fase a criança obtiver o acompanhamento de
profissionais altamente competentes, nas etapas subseqüentes da sua vida estudantil
basta apenas aprimorar suas competências. Esse seria um dos motivos do empenho
dos governos em construir legislações para convergir maior fatia de recursos à
educação infantil. O modelo Finlandês de educação é um bom exemplo para o
Brasil onde mostra que quanto mais preparado e remunerado for os/as profissionais,
em todos os níveis, os resultados aparecem imediatamente no conjunto da
sociedade. Enquanto aqui o que vê é administradores públicos terceirizando
creches e contratando estagiários com remunerações ridículas para trabalhar com
crianças, na Finlândia, as escolas de ensino infantil, a legislação exige que
todo profissional contratado tenha o nível mestrado para exercer a função
docente.
Quando pensávamos que
a LDB poderia ter realmente avançado no quesito universalização do ensino
básico brasileiro, nos deparamos com dispositivos da legislação como o art. 62,
sobre a formação
de docentes, com a seguinte redação: para atuar na educação básica far – se á
em nível superior em curso de licenciatura, de graduação plena, em
universidades e institutos superiores de educação, admita para formação mínima
para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras
séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal.
Observaram o equívoco cometido pelos protagonistas da legislação? É claro que
não podemos desmerecer a competência de muitos desses profissionais de nível
médio que atuam nas séries iniciais.
Mas, diante do desafio de lecionar em uma das
fases mais complexas das etapas do desenvolvimento humano, ter o nível médio
(magistério), como única formação, é muito pouco. Imagine agora estagiários/as atuando
com crianças, talvez sem qualificação mínima para a função. O que esperar
dessas crianças no futuro, quando se tem administradores com os olhares tão
limitados acerca da educação. Na realidade a concepção de educação infantil
para tais administradores é a mesma de milhares de brasileiros que têm as
creches ou centros de educação infantil como espaço de “recolhimento” de
crianças durante as horas que estão trabalhando. Não conseguem vislumbrar que
nesses ambientes as crianças são ou deveriam ter suas capacidades e habilidades
cognitivas, afetivas e psicomotoras estimuladas, como pré-requisitos
necessários às etapas subseqüentes de suas vidas.
Outro
olhar equivocado dos administradores públicos sobre a educação é querer admitir
que educação é despesa e não investimento. Quanto se discute investimento o
foco não está no resultado imediato como se fosse à pavimentação de uma rua,
limpeza pública, etc. Geralmente são anos de muito trabalho, dedicação, cujos
reflexos somente serão observados depois de uma ou duas gerações. Na Finlândia,
a revolução na educação teve início no começo da década de 1970, depois de
longa estagnação econômica. No Brasil,
os administradores públicos resistem em contratar profissionais concursados e
habilitados para as escolas para não gastar.
O
município de Araranguá serve de exemplo de como caminhar para traz na educação.
Segundo a vice-presidente do Sindicato dos Municipários de Araranguá, em
relação ao imbróglio envolvendo a terceirização das creches no município, sua
resposta foi à seguinte: “O Município possui
profissionais concursados e plenamente capacitados para trabalhar na rede
pública municipal de ensino. Não é necessário fazer a terceirização deste setor
(ensino infantil). Educação é investimento, não despesa”, adverte a vice-presidente do SINDMA, Simone Zilli.
Sobre os salários, na Finlândia a remuneração média de um/a
professor/a que leciona em escola infantil ou fundamental é o equivalente a 11
mil reais mensais. No Brasil, em meados de 2014, o provento médio de um/a
professor/a de nível básico pouco superava os 2. 700 reais mensais. É claro que
nesses países as taxas tributárias cobradas pelo Estado são as mais elevadas do
mundo. Somente a Finlândia, o percentual de impostos cobrados pelo Estado alcança
os 51% do PIB. O fato é que a população pouco reclama, pois sabe que tais
tributos arrecadados são aplicados rigorosamente em prol da sociedade. No
Brasil, além do pífio percentual do PIB investido em educação, menos de 5%, parcela
significativa desse montante não chega ao chão da escola, perdendo-se no ralo
da burocracia e da corrupção generalizada.
De acordo com as novas legislações em vigor no Brasil, o PNE
(Plano Nacional de Educação) estabelece, entre outras obrigações, que até 2024
o percentual do PIB para a educação alcance os 10% do PIB. De acordo com a
atual conjuntura política, dificilmente os governos das instâncias federal,
estaduais e municipais, cumprirão definitivamente com as 20 metas e mais de 250
estratégias contidas nos planos nacional, estaduais e municipais de educação.
Muitas dessas metas e estratégias já tiveram seus prazos expirados há algum
tempo. A expectativa do plano era tentar reverter um problema quase crônico da
educação brasileira, a inexistência de um programa político estratégico para
alavancar sua qualidade.
Em âmbito de Araranguá, em Junho de 2015, o plano foi
aprovado por unanimidade na câmara de vereadores. Nesses quase três anos de
vigência do Plano, o poder público municipal não cumpriu com metas e
estratégias prioritárias como a universalização da educação infantil, bem como ampliar
a oferta de espaços adequados de forma a atender, no mínimo, 70% das crianças
de até três anos até o final da vigência deste plano.
O que é pior, a atual administração vem tomando medidas que
se contrapõe ao próprio plano municipal de educação. Dente elas o que estabelece
entre as vinte metas o atendimento da demanda de estudantes do nível infantil e
a contratação de profissionais qualificados para o exercício da função docente.
Nos dois anos a frente do executivo, o que se vê são denúncias de total
desleixo com o ensino infantil. Como forma de viabilizar e proporcionar
educação para esse público, a própria comunidade se vê forcada a oferecê-la à
população por meio de convênios. Lembram o que foi escrito acima de como os
governos dos países mais desenvolvidos pensam a educação infantil?
No Brasil, educação infantil é entendida como creches, ou
seja, espaços onde crianças são entregues à responsabilidade de cuidadoras/es enquanto
os pais ou responsáveis trabalham. É
exatamente isso, depósito de crianças. No instante que gestores públicos
afirmam que para trabalhar em centros infantis, a contratação de estagiários é
suficiente para o atendimento das crianças, certamente continuaremos por longas
décadas caminhando na rabeira dos países cujos governos tratam suas crianças
como tesouros raros e que são lapidados por pessoas de extraordinária
excelência profissional.
Prof. Jairo Cezar
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