BRASIL, PAÍS ONDE SE GASTA MAIS RECURSOS PÚBLICOS COM
PENITENCIÁRIAS QUE ESCOLAS
Visitando
a Penitenciária Sul, Bairro Vila Maria, Criciúma, no dia da sua inauguração
onde foi aberta ao publico para conhecer in loco aquela que é denominada como
modelo de inovação do setor no estado e no Brasil, me chamou a atenção a
sofisticação do empreendimento de quase cerca de 25 milhões de reais que
causaria inveja e ao mesmo tempo indignação aos inúmeros gestores das escolas
públicas estaduais, cujas escolas que atuam não recebem um único reparo há
anos. É inegável que a inauguração de qualquer empreendimento público, até
mesmo penitenciárias, a participação de autoridades competentes deve ser
considerada. Entretanto, não do nível midiático extremado como se sucedeu com a
penitenciária sul que recebeu até mesmo a visita do Ministro da Justiça.
Não
tenho lembrança nos meus 35 anos de atividade docente, nas poucas escolas que
foram construídas e inauguradas nesse período, a presença de alguma autoridade de
expressão nacional como o ministro da educação. Até porque se nesses trinta e
cinco anos de atuação docente, se cada ano uma ou duas escolas fossem
construída ou restaurada, não estaríamos hoje vivendo o caos no sistema
prisional brasileiro, bem como disponibilizando quase 30 milhões de reais dos
contribuintes para a construção de uma penitenciária. É claro que quanto menos
investimento em educação mais suscetível estará o país à formação de levas de marginalizados
potenciais.
Entretanto
também não podemos transferir toda responsabilidade de um problema que se
parece crônico exclusivamente ao precário sistema educacional. A questão da
violência, no entanto, é mais complexa do que se imagina e deve ser
compreendida como um problema sistêmico, ou seja, reflexo de um modelo econômico
e política decadente, refém dos mandos e desmandos de governos e de uma elite parasitária
que se nutrem da miséria social. Alguém
se lembra de quantas escolas, ginásios de esportes, hospitais, entre outros/as,
foram inaugurados/as nos últimos anos em seu município ou estado nos últimos
anos? Em sua cidade, quantos parques ou espaços públicos com equipamentos
desportivos ou playgrounds estão disponibilizados à população?
Se
transitarmos, por exemplo, pelos bairros do município de Araranguá
especialmente aos finais de semana, acredito que muitos ficariam surpresos caso
avistassem crianças brincando ou praticando alguma atividade esportiva.
Certamente essas crianças ou adolescentes estariam praticando tais atividades
na rua, se desviando dos pedestres e veículos. Como não há espaços públicos e
seguros para o lazer, aquelas crianças que não se arriscam sair à rua, permanecem
enclausuradas em suas residências, transformando-se em prisioneiros passivos
das novas tecnologias home tech. Paradoxalmente, no Brasil, o gasto público com
cada detento é muito superior do que de um estudante.
Enquanto
tal absurdo permanecer, o Brasil seguirá nos noticiários nacionais e
internacionais como um dos mais violentos do mundo. Para reverter o atual
cenário catastrófico que afeta a segurança pública, bem como a educação, é
necessário eleger governos comprometidos que priorizam políticas de interesse
coletivo em detrimento dos individuais. Acredito que muitos, quando lerem tal
expressão acima, certamente se sentirão indignados ou traídos porque, vira e
volta, a mesma frase é citada em textos ou discursos de (políticos) com
históricos terríveis a frente de governos progressistas. Todos/as sabem que a
transformação de uma sociedade requer anos, décadas de investimentos e
princípios éticos. Muitas nações que hoje apresentam satisfatório nível de IDH tiveram
que superar décadas de guerras e crises econômicas. A superação se deu investindo
maciçamente em educação. É possível perceber que aqueles países que apresentam
excelentes IDHs e do PISA (nível da educação básica), são os que possuem as
menores taxas de criminalidade.
O
Brasil, para melhorar o IDH e o PISA, não necessita trilhar os mesmos caminhos
catastróficos que tais nações trilharam para a superação das adversidades.
Coisas simples, porém permanentes devem ter prioridade. Entre tantas que
certamente poderiam estar no topo da lista das emergenciais, se destacam: honestidade
e responsabilidade na aplicação dos recursos oriundos dos impostos; fim dos
privilégios e altos salários a todos que exercem cargos nas três esferas dos
poderes públicos; combate a corrupção, as fraudes e aos sonegadores de
impostos. Porém, parece que tudo que foi dito ou que é dito são expressões
desgastadas e desacreditada pela população, pois são discursos ou programas de quase
todos os partidos ou blocos de partidos que ocuparam ou ocupam os postos de
poder.
À
frente do legislativo ou do executivo esquecem que estão a serviço do povo,
assumindo o papel de mediadores ou facilitadores da elite dominante, legislando
ou homologando leis que depreciam direitos, dos quais comprometem o futuro de
milhões de brasileiros. Um país sem
perspectiva de futuro para seus jovens resulta exatamente no que estamos
acompanhando nos últimos anos, o crescimento vertiginoso da violência, não
escapando nem mesmo as pacatas cidades do interior do Brasil. Quem ouve ou
ouviu os discursos de algumas autoridades que estiveram na inauguração da Penitenciária
Sul, em Criciúma, deve ter notado que todos/as quando falaram demonstraram ter
clareza que a função da cadeia é proporcionar a ressocialização do apenado/a.
O
próprio Ministro da Justiça, presente na inauguração, representa um governo que
protagoniza um dos maiores ataques ao Estado brasileiro. Quem acompanha os
noticiários ou até mesmo quem caminha pelas ruas ou bairros do seu município,
constata a elevação das taxas de miseráveis. O próprio ministro no seu discurso
teve a coragem de afirmar: “mais do que aplicar a sanção, é a
esperança, é a certeza da revida, da nova vida. Aqui não é o fim, é uma
transição, é recuperação, é ressocialização. Aqui é compromisso social de que
presídio é transição, é retorno à vida útil para cuidar de si e a sua família.
Isso é o traço fundamental de uma sociedade desenvolvida”. Que esperança, que nova vida, diante de um cenário
tão desesperançoso.
A
penitenciária inaugurada em Criciúma, sem dúvida alguma, é uma exceção diante
das centenas espalhadas pelo Brasil, onde quase todos os dias muitas aparecem
nos noticiadas nos telejornais por se tornarem palco de rebeliões devido à
super lotação e péssimas condições de higiene. Esperamos que daqui a um ano,
tal iniciativa de abrir as portas da penitenciária ao público se repita para
conferir se a excelente estrutura inaugurada permanece inalterada. Outro item a
ser conferido é se capacidade máxima de detentas aceito, 286, será mesmo
respeitada.
Somente
os apadrinhados políticos presentes na inauguração devem ter se esforçado ao
máximo para acreditar nos discursos hipócritas das autoridades admitindo que
sistema penitenciário brasileiro proporciona a ressocialização para que voltem
a ser inseridas na sociedade. Os demais e a população residente no entorno das
duas penitenciárias ficarão apenas na torcida para que tudo dê certo, que não transformem
em verdadeiros barris de pólvora, ameaçando a segurança dos/as trabalhadores/as
(agentes penitenciárias/os), e da população do extremo sul do estado.
Prof.
Jairo Cezar
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