A
PALESTINA SE TORNA CADA VEZ MAIS JUDAICA
Mesquita
de AL-AQSA
Há
menos de dois anos quando visitei Israel e alguns territórios palestinos
ocupados, como Jericó e Belém e outras cidades importantes - a própria
Jerusalém, a região ainda estava sob os efeitos nefastos da ação armada
israelense sobre a Faixa de Gaza, que resultou na morte de milhares de cidadãos
e cidadãs. Os territórios da Cisjordânia ocupados, por ter sido palco de fatos históricos
importantes para judeus, muçulmanos e cristãos, têm a sua economia
basicamente movimentada pelo turismo.
Com
os ataques à Gaza, era ínfimo o número de turistas transitando pelas ruas e
centros históricos importantes. Na própria Jerusalém, parte antiga, o desespero
tomava conta dos comerciantes, disputando aos gritos a atenção dos
transeuntes. Atravessar as fronteiras
dos territórios palestinos ocupados como da própria Jerusalém Oriental, onde
está o santuário de AL-AQSA, a terceira mesquita mais importante do Islã, requereria
certo grau de coragem e sorte. Pois a qualquer sinal de desconfiança, os
soldados israelenses não se hesitavam em repreender ou encaminhar à prisão, sem
piedade.
Embora
o patrulhamento de Jerusalém, como dos demais territórios palestinos estava nas
mãos das forças israelenses, a circulação de cidadãos judeus pele região das
mesquitas especialmente de autoridades não era tolerada, sendo interpretado como blasfêmia,
insulto religioso. Durante o período que
estive no território israelense/palestino, acompanhei através da imprensa
local, uma ou duas notícias relatando episódios isolados de violência, envolvendo
cidadãos palestinos e israelenses.
A
forma pela qual o estado de Israel vem adotando ações cada vez mais restritivas
e retaliativos à liberdade de palestinos tem relação com sua política
expansionista sionista sobre o território da Cisjordânia. A forte oposição do
governo israelense acerca da criação de um Estado palestino autônomo é
justificada pelo receio do fortalecimento de grupos ou ações terroristas contra
cidadãos israelenses, como o Hamas. Ademais há evidências de que o próprio EI(Estado Islâmico),
tenha pretensões claras de expandir o Califado para o sul ameaçando, sobretudo,
Israel e a Cisjordânia.
Na
última edição da revista Caros Amigos, um artigo publicado pelo jornalista Arturo
Hartmann, traz o novo cenário da região que é um tanto diferente daquele do qual conheci em 2013.[1] No seu texto intitulado A
Intifada do Desespero, Arturo discorre da nova geografia política do território
israelense e das áreas ocupadas, onde se mostra receoso com o crescimento da
violência contra cidadãos palestinos e a frágil expectativa acerca da criação do Estado Palestino. Relatou o jornalista do extremo rigor nas fronteiras contra
cidadãos palestinos especialmente em áreas de assentamentos judaicos. Tais
medidas se devem ao fato de ter havido ataques com facas contra solados
israelenses. Porém, enquanto os ataques resultaram na morte de 28 israelenses,
o número de palestinos abatidos por armas de fogo chegou a 180.
O
governo do primeiro ministro Benjamin Netanyahu, deliberou medidas enérgicas
para conter ações violentas contra cidadãos judeus, levando à prisão 2.180
palestinos, sendo que 430 eram jovens menores de 16 anos. Ademais, as severas
medidas não afetam apenas os suspeitos dos ataques, mas o conjunto da família, ambos sofrendo restrições até mesmo para trabalhar. O cenário um tanto discreto na Jerusalém antiga em 2013, mudou drasticamente
de lá para cá. Hoje, qualquer um que circula pelas vielas da cidade ou nos
territórios ocupados é vigiado pelas forças de segurança. Na dúvida o cidadão é interceptado,
interrogado, preso. Se a dúvida persistir ou o suspeito vir a fugir, os soldados são autorizados a dispararem para matar.
O
grande problema na região atualmente, segundo Arturo, é o comportamento da autoridade palestina, cada vez mais complacente com os mandos e
desmandos israelenses. Há um processo contínuo de domínio cultural, modo de
pensar e agir judaico, sobre os cidadãos árabes que habitam a Cisjordânia e Faixa de
Gaza. A própria força de segurança palestina vem cooperando com o Estado Israelense, sabotando ataques palestinos contra cidadãos judeus nos territórios
ocupados. Os interrogatórios de suspeitos palestinos, pasmem, estão sendo monitorados por soldados palestinos!! O
chefe da autoridade palestina Mahmoud Habbas, seu governo cada vez mais se
distancia dos interesses palestinos, se aproximando dos Estados Unidos e
de Israel. Um exemplo foi a ação militar contra o Hamas, organização que faz
oposição ao chefe da autoridade palestina.
Atualmente
a investida do governo israelense é contra ativistas palestinos que procuram
mobilizar o povo contra as atrocidades praticadas pelo primeiro ministro israelense.
Desrespeitando resoluções internacionais como a própria Convenção de Genebra dos
direitos humanos, tais militantes estão sendo deportados para outros
territórios palestinos, dentre eles a Faixa de Gaza. A conjuntura política nos
territórios palestinos ocupados se tornou mais crítica ainda quando da decisão de
Oslo, fragmentando a região em três categorias distintas: Total Controle da
Autoridade Palestina; Controle Civil Palestino e de Segurança Israelense e
Total Controle Israelense.
Essa
decisão é extremamente excludente, pois tenta dividir e enfraquecer ainda mais as
expectativas da população sob a ocupação colocando por terra qualquer
possibilidade de criação de um Estado palestino Unitário e Independente. Enquanto que anterior a decisão de Oslo, quando cidadãos residentes em Belém ou Hebron,
preservavam sua identidade coletiva, com o novo marco divisório, se intensificará o processo de distanciamento e perda de unidade cultural. Uma
estratégia que interessa aos israelenses.
A Cisjordânia,
paulatinamente está sendo anexada ao território de Israel, sendo seus moradores
convencidos como sendo cidadãos estrangeiros e submetidos a tratamentos
brutais. É a continuidade do plano sionista de limpeza étnica, iniciando em
1947 e que está se intensificando com a colaboração de representantes da
autoridade palestina beneficiados por benesses econômicas e status de
autoridade frente aos organismos de poder internacional.
Prof.
Jairo Cezar
[1] A
Intifada do Desespero: Um retrato atual da situação nos territórios ocupados. Hortman,
Arturo. Caros Amigos – 2016, Pg.- 12 a 14.
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