AFINAL, QUEM MANDA NO
SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO?
Escola Municipal Milton Magalhões Porto - Uberlândia/MG
Há algum tempo a população brasileira
vem acompanhando pelos diferentes mídias, publicidades alertando sobre os
riscos de apagões, escassez de energia elétrica e práticas conscientes para
conter os desperdícios. Como castigo, o governo programa as bandeiras
tarifarias - vermelha amarela e verde, que incidirão sobre os valores cobrados
mensalmente. O que chama atenção é que desde o final do ano passado o volume
dos reservatórios na região sul estão com sua capacidade quase completa, bem
como das regiões sudeste e centro oeste que ultrapassam os 50%. Por que será
que apenas agora, mês de abril, a bandeira tarifária se tornou verde, que isenta
o consumidor do pagamento de taxa extra.
A questão é mais complexa do que se
imagina. O que é fato é que o sistema elétrico brasileiro foi quase totalmente privatizado
a partir de 1997, cujas tarifas cobradas tornaram-se internacionalizadas, ou
seja, mesmo sendo o custo de produção de energia no Brasil um dos mais baixos
do mundo, o valor cobrado ao consumido caminha na direção contrária, sendo um
dos mais caros. Isso se deve ao fato de
o sistema de geração de energia na Europa e EUA, ser quase que exclusivamente térmico
(carvão, petróleo ou nuclear), cujas empresas que controlam o mercado
energético brasileiro, dominam também nos dois polos.
O processo vem se desdobrando da seguinte
forma, com as privatizações, duas empresas quase que monopolizam a geração de energia
no Brasil, a Americana AES Corporation e a Europeia Engie – Tractebel, essa
última considerada a maior geradora de energia privada. Não é o fato dos
consumidos terem que economizar energia que reduzirá ou elevará o valor das
tarifas, isso é uma falácia. A resposta desse imbróglio está na crise
econômica, ou seja, há mais oferta que demanda de energia no mercado.
Para manter o lucro as empresas
procuram penalizar o consumidor passivo através da cobrança de tarifas. Com a
fragmentação do setor energético em inúmeras empresas de pequeno e médio porte,
cada uma tem total liberdade para cobrar taxas de pedágio, seguindo, é claro,
tarifas internacionais. O custo por KWs hora de energia proveniente de
hidrelétricas é de R$20, enquanto para o revendedor ou consumidor, em alguns
casos, o valor cobrado ultrapassa os 250 reais.
Em 2015 durante a crise hídrica no
sudeste brasileiro o valor atingiu os R$822,88, isso na região sudeste. No
entanto, a política energética não segue a lógica da oferta e procura, pois o preço
de produção não tem qualquer relação com o preço de venda. As políticas que
incidem sobre os valores da energia no Brasil recorrem dos mesmos dispositivos adotados
pelos setores de mineração e petróleo. Independentemente da produção, podendo
ser maior ou menor, as tarifas cobradas, por toneladas e barris, seguem
parâmetros estabelecidos internacionalmente.
O agravante é que no campo da energia
elétrica, as empresas estatais adotam os mesmos dispositivos das privadas. A
empresa Cemig, por exemplo, do estado de Minas Gerais, 82% das ações pertencem
ao setor privado. Não significa que por ter o Estado 18% das ações da estatal,
o consumidor terá garantia de energia mais barata. O preço, portanto, é o mesmo
das particulares. Outro item cabível de reflexão em relação ao mercado
bilionário do setor elétrico são os subsídios milionários concedidos às
empresas como a Vale e outras do seguimento de mineração como a Samarco, com
contratos longos de vinte a trinta anos. Tais empresas poderão comercializar o
excedente de energia cobrando valores bem maiores que os comprados. O próprio
banco BTG Pactual, envolvido na operação Lava Jato, também é um negociador de
energia elétrica, sem usina, sem redes de transmissão, apenas um escritório.
Se persistir a crise econômica por
alguns anos e mantiver a regularidade das chuvas no sul e sudeste é bem
provável que a oferta de energia elétrica superará a demanda. A lógica,
portanto, do mercado, nesse contexto, seria forçar os preços por kws hora para
baixo. Teoricamente, sim, porém, quando se trata de monopólio ou oligopólio
energético, o processo é completamente o oposto. Os preços tendem a se elevar.
O que dizer então das várias hidrelétricas, como a de Belo Monte, Jirau, etc.,
de orçamentos bilionários e de custos ambientais incalculáveis, cuja
justificativa para suas execuções foi uma possível escassez de energia
decorrente na época do “vertiginoso” crescimento econômico.
Para se ter noção dos terríveis
impactos ambientais desses mega-monstros construídos em regiões sensíveis como
nos rios amazônicos, no dia 24 de abril de 2016, a TV Liberal, afiliada a Rede
Globo, no Pará, divulgou reportagem mostrando centenas de peixes mortos boiando
no Rio Xingu, próxima a casa de força da hidrelétrica Belo Monte. Tudo indica
que as causas da mortandade tenha relação direta com a entrada em operação da
primeira turbina. Funcionários da própria empresa promoveram verdadeiras
operações de guerra recolhendo peixes e os enterrando em locais desconhecidos.
O pior é que as análises laboratoriais dos animais mortos estão sendo estudados
por profissionais da companhia responsável pela construção da hidrelétrica. Até
que ponto os laudos que serão apresentados terão alguma idoneidade.
Outro dado ainda mais preocupante que
reforça a opinião de ambientalistas e pesquisadores que consideram
hidrelétricas tão degradantes quanto termoelétricas foi a publicação em janeiro
de 2016, na Revista Science, do artigo (balancing hidropower and biodiversity
in the Amazon, Congo and Mekong). Segundo os pesquisadores, estão previstas a
construção de mais de 450 novas barragens em todo mundo. Serão elas as
responsáveis pelo desaparecimento de ¼ dos peixes de água doce. Além dos
prováveis fatores químico/físico, relatados acima, na Belo Monte, as barragens
comprometerão o processo reprodutivo bloqueando o movimento dos peixes
migratórios.
Portanto, é urgente que se faça o
debate sobre fontes verdadeiramente alternativas de energia. É necessário
repensar as políticas energéticas impositivas que excluem a sociedade do
diálogo, uma demonstração explicita que o plano energético brasileiro é para
beneficiar empreiteiras e corporações internacionais, sedentas por lucros e mais
lucros. Nem termoelétricas – carvão e urânio, nem hidrelétricas, a solução é
aproveitar aquilo que temos de sobra, vento, sol. Ao invés de bilhões de reais
em mega projetos hidrelétricos, térmicos e nucleares, cujos impactos ambientais
resultam em outros tantos bilhões para recuperação, com muito menos recursos
projetos simples, limpo e eficiente poderiam tornar o Brasil uma das
referências mundiais em sustentabilidade energética.
Tais iniciativas já são realidades em
algumas escolas públicas e instituições de caridade brasileiras, através do envolvimento de
organizações ambientais como o Greenpeace que promove a campanha “traga sol a
quem precisa”, instalando painéis solares para gerar a própria energia. Tudo leva crer que com o barateamento dos equipamentos,
tanto solares como eólicos, outras tantas instituições de ensino e também
residências poderão adquirir as placas fotovoltaicas. A tendência, portanto, a
médio e longo prazo, é a total libertação da população do domínio dos “abutres”
do setor energético. Afinal, são elas que mandam no Brasil.
Prof. Jairo Cezar
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