EDUCAÇÃO
PÚBLICA NA LÓGICA DO MERCADO
Quando
nos deparamos com políticas governamentais que insistem nas reformulações de
programas educacionais como Plano Nacional de Educação e a Base Nacional
Curricular Comum, muitos, distraidamente, não conseguem perceber as armações e
interesses escusos embutidas nessas ditas inovações que tem por objetivo regular
os sistemas de ensino segundo as imposições dos organismos financeiros
internacionais, dentre eles o Banco Mundial. Os países que integram a OCDE (Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) entre outros como o Brasil vem se
utilizando como parâmetro para mensurara qualidade da educacional, o PISA
(Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). No total são 67 países,
mais o Brasil, que adotam este dispositivo para medir a evolução da
educação.
São
sistemas avaliativos padronizados do qual o demonstrativo apanhado pouco
corresponde à realidade de cada país diagnosticado. Nessa mesma linha investigativa,
que segue um modelo de natureza industrial, de produção padronizada e em série,
países como o Brasil, estão incrementando verdadeiras reestruturações do ensino
que envolve todos os níveis. Seguindo a lógica do capital, a educação como os
demais serviços públicos essenciais, estão se firmando cada vez mais como produtos
de trocas, que pode ser comprado, não como um direito “sagrado” assegurado a
todos pelo Estado.
Além
da expansão progressiva do tecnicismo objetivando a preparação de mão de obra barata,
a partir da década de 1990, o problema da escassez de profissionais
qualificados especialmente nas licenciaturas, foi equacionado com a difusão da
educação a distancia. Com as novas ferramentas tecnológicas a disposição,
centenas de universidades e demais instituições de ensino superior,
particulares e públicas, passaram a se dedicar quase que com exclusividade no
ramo da educação virtual à distância. Beneficiadas
pelo baixo custo operacional, esse modelo de ensino tende a contribuir na formação
de um trabalhador com perfil requisitado pelo capital, ou seja, acrítico e
despolitizado.
Convém salientar que o ensino a distância teve
sua existência justificativa para atender populações situadas em áreas remotas
do país, sem qualquer perspectiva de acesso ao ensino formal. Aquilo que seria
exceção virou regra, pois hoje o ensino a distância contempla aproximadamente 15%do
público das licenciaturas e bacharelados. Numa perspectiva pessimista de cortes
mais extorsivos à educação, como vem divulgando o virtual futuro presidente da
república Michel Temer, na hipótese de impeachment,o mercado do ensino virtual tende
a crescer exponencialmente no Brasil.
Se o
modelo assentado no emprego de apostilas e sem a presença de professores das
áreas é uma realidade no ensino a distância, no exercício da profissão, tais
profissionais diplomados não terão grandes dificuldades práticas, em razão de as
escolas públicas e privadas seguirem procedimentos pedagógicos “apostilestico”,
com conteúdos padronizados, simplificados, prevalecendo metodologias
tradicionais centradas na memorização. Tais argumentos podem ser evidenciados
nos modelos de avaliações ainda aplicados em expressiva parcela das escolas
públicas e particulares brasileiras. Acreditem, 90% delas ainda aplicam testes
objetivos, com uso de gabaritos, semelhantes aos praticados há trinta, quarenta
anos.
A
imposição de uma educação apostilestica, conteudista, skineriana (estímulo
resposta), está integralmente deslocado das propostas curriculares dos estados
e dos projetos políticos pedagógicos escolares, das quais são fundamentadas em
teorias transformadoras, libertárias,elucidando o ambiente escolar como espaço
de transformação social. Quanto aos Projetos Políticos Pedagógicos, que
deveriam dar direção à educação, são documentos que somente são lembrados a
cada início de ano letivo, atendendo, é claro, imposição das secretarias de
educação. São realizados alguns ajustes e adequações e cópias são enviadas às
Gerências Regionais de Ensino (caso de Santa Catarina), tão somente para
justificar que o Estado está cumprindo com que estabelece as legislações em
vigor.
Encerrada
as etapas burocratizantes de início de ano letivo, os esforços dos
profissionais ficam agora voltados à seleção e sistematização do conjunto de
conteúdos que deverão ministrar durante o ano. Qualquer profissional que queira
ousar, sair do engessamento coletivo, priorizando temas e metodologias
inovadoras,se distanciando das convenções, poderá sofrer algum tipo de retaliação,
numa eventualidade em que seus alunos obtiverem notas insatisfatórias nos
exames anuais do ENEM e IDEB.
Sendo
assim, como imaginar uma escola transformadora, crítica e inclusiva, se todo
processo e aparato curricular estão moldados seguindo um paradigma padronizado.
Na verdade é esta a real pretensão do projeto que trata sobre a Base Nacional
Curricular Comum. Trazer para o interior das escolas os problemas, as
contradições do dia a dia, incorrerá em sérios prejuízos e penalidades
adicionais às escolas. Uma delas é o virtual rebaixamento no ranking estadual e
nacional, com limitação de repasses de recursos e na possível perda matrículas.
A
educação não pode continuar subserviente aos interesses do mercado, uma espécie
de fábrica mal estruturada que mal prepara mão de obra pouco qualificada para
movimentar a roda viva de um sistema econômico falido, cada vez mais
excludente, segregacionista, violento e injusto. A escola é, de certo modo, o catalizador das
contradições da sociedade, refém à corrupção, à violência às mazelas políticas,
enfim,de todo desarranjo social protagonizado pelas elites poderosas. Diante de
tantas adversidades, não podemos jamais perder as esperanças, que é possível, sim, construirmos um mundo melhor. Só o fato de nos indignarmos com tantas
injustiças, nos dá a certeza que precisamos trabalhar muito para libertar os opressores que também são oprimidos.
Prof.
Jairo Cezar
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