O
que não é dito acerca do fechamento da Orla do Balneário Morro dos Conventos/Araranguá-SC
Nos
últimos quatro anos tornaram-se intensa as ações advindas do Ministério Público
Estadual e Federal recomendando à administração pública de Araranguá a tomada
de medidas emergenciais para conter os abusos que vem colocando em risco a
integridade do ecossistema do Baln. Morro dos Conventos. Em 2012, ocorreu a
primeira inspeção no balneário coordenada pela Procuradora da República
acompanhada por técnicos da entidade, o Superintendente da Fama, Promotor
Público Estadual, Oscip Preserv’Ação, Imprensa e demais cidadãos (ãs). Na
ocasião, uma das principais irregularidades constatadas por ambos (as) foi a
ocupação imobiliária em áreas de APPs, sem o devido licenciamento que é responsabilidade
dos órgãos ambientais. Determinou a procuradora que fossem as construções
irregulares notificadas e embargadas. No entanto, embora se saiba que os
embargos foram procedidos, tais procedimentos não foram suficientes para
impedir que as obras em andamento fossem paralisadas.
Na
ocasião o MPF encaminhou proposição para
que a prefeitura e o órgão ambiental municipal discutissem em conjunto com a
comunidade ações que pudessem conter as depredações no balneário como também
definir estratégias para um desenvolvimento equilibrado de tal modo que não
comprometesse a integridade do ambiente local. Com a chegada do ano de 2013, e
com uma nova administração dita popular embasada numa filosofia na qual
apregoava a sustentabilidade, nenhuma reunião ou audiência foi realizada no
balneário em consonância as recomendações do MPF. Durante o decorrer do ano intensificou-se
as ações depredatórias no balneário dentre as mais abusivas as festas Raves
reunindo centenas de jovens à beira mar movidos a álcool e outras variedades de
drogas. Diante da gravidade dos problemas a Procuradora do Ministério Público
Federal acompanhada por dois Policiais Ambientais estiveram no local realizando
uma nova inspeção percorrendo todo trajeto entre a barra do rio Araranguá ao Paiquerê.
A
conclusão que chegaram foi de que tanto a orla como as áreas de dunas e
restinga estavam completamente desprotegidas, sendo incumbência do poder
público, a tomada de providências preventivas na eminência do órgão federal, na
hipótese de negligência do poder público, encaminhe ações mais enérgicas como o
fechamento definitivo da orla. A primeira manifestação em prol do balneário
partiu do comando da polícia militar que reuniu na sua sede representantes da
administração municipal, órgão ambiental municipal, membros da Oscip
preserv’ação, para discutir estratégias que pudessem por fim as badernas na orla
e o lixo resultante das mesmas. Dentre as propostas elencadas foi acordada a
colocação de um portão fechando a entrada da praia para veículos, franqueando
apenas para carros oficiais, como também a fixação de placas esclarecendo os
motoristas. Nenhuma dessas propostas foi efetivamente tomada após o encontro do
dia 23 de setembro de 2013 nas dependências do 19 batalhão. No mês de setembro
do mesmo ano o MPF agendou para o dia 08 de novembro, audiência na sua sede em
Criciúma, para encontrar soluções para o balneário. Na ocasião estiveram
presentes os comandantes da polícia militar de Araranguá, da polícia ambiental,
procurador do município de Araranguá e superintendente da FAMA, membros da
Associação de Moradores do Morro dos Conventos, integrantes da Oscip
Preserv’Ação e demais cidadãos.
No
encontro a procuradora questionou os representantes do poder municipal se os
mesmos teriam trazido alguma proposição ou projeto para o Morro dos Conventos
que pudesse por fim aos abusos de veículos. Diante da resposta negativa, a
mesma argumentou que há uma decisão da quarta regional de justiça de Porto
Alegre, onde três juízes votaram a favor do fechamento de toda a orla do município,
que o procedimento não seria de imediato, pois faltava a decisão acerca do
valor da multa a ser estabelecido na hipótese do município descumprir a decisão.
Recomendou
a procuradora que município tomasse algumas providências imediatas já na
temporada 2013 e 2014 para amenizar os impactos da praia. Dentre as medidas
lançadas, a colocação de um portão, placas informativas, entre outras. Sobre o
acesso à praia para pescadores recomendou que o município debatesse com a comunidade
do Morro dos Conventos ações de modo a não prejudicar a categoria, facultando o
acesso com veículos, porém, devidamente identificados como forma de impedir
abusos. Com relação ao deslocamento de pessoas à barra, a procuradora propôs
que a comunidade do balneário adotasse um sistema de transporte coletivo para transportar
turistas e demais cidadãos (ãs) até a barra, que tal serviço poderia ser
cobrado e os recursos arrecadados gestados pela comunidade.
O
prazo de trinta dias para que fosse cumprida a determinação do tribunal não foi
respeitado. No dia 13 (treze) de março de 2014, uma reunião estava agendada nas
dependências do salão de festas da Capela São Judas Tadeu do Morro dos
Conventos, cujo assunto seria a apresentação do Projeto do Mirante a ser
construído nas proximidades do Farol. Adentrando no recinto, com um público que
não ultrapassou 15 (quinze) pessoas devido a pouca divulgação, o procurador do
município acompanhado pelo superintendente da FAMA e seu assessor usou da
palavra relatando que devido a problemas no aparelho que seria utilizado para
projetar vídeo, não seria possível
discutir o projeto do mirante, argumentando que para não perder a viagem seria tratada
a questão do fechamento da orla, cuja decisão da quarta regional de Porto
Alegre já tinha sido tomada, que queriam ouvir da comunidade sugestões ou
propostas do que poderia ser feito a partir daquele momento.
É
importante destacar que a respectiva reunião do dia 13 de março, para discutir
questões como o projeto do mirante e o fechamento da orla foi a única ocorrida
nos últimos tempos, exceto a audiência do fala Araranguá. O questionamento é,
por que outras reuniões como a que estava ocorrendo naquele momento não fora
encaminhadas nos últimos anos para discutir com a comunidade assuntos importantes
como a decisão do tribunal, evitando transtornos e revoltadas como vem se
seguindo. Outro agravante que não pode passar despercebido tem relação com a
reunião realizada, que não poderia ter sido validada, pois na pauta já
estabelecido o assunto era o projeto do mirante. A reunião deveria ter sido
cancela e agendado outro encontro em nova dada, com intensa divulgação nos
meios de comunicação para que a população de forma maciça pudesse participar.
Porém, isso não ocorreu e a reunião se transcorreu com poucos participantes que
receberam a notícia do fechamento com preocupação.
Se o
assunto tratado foi realmente o fechamento da orla, por que um jornal de
circulação diária no município de Araranguá, no dia seguinte ao encontro, trouxe
na sua capa a seguinte manchete “Moradores avaliam projeto do Morro”, referente
ao mirante, se tal discussão não ocorreu? É muito estranho o erro
cometido. O que causa revolta é fato que
no encontro a subsecretaria de turismo não estava presente, diferente do que
está escrito no jornal que diz “A subsecretaria de
Turismo apresentou um projeto inovador que em breve deverá sair do papel”. Nada
disso é verdade, essa reportagem que ocupou uma página inteira do jornal
circulou pelo município e região com uma reportagem montada antes da realização
da reunião no balneário, cujo assunto tratado não foi o mirante e sim o
fechamento da orla.
Das
várias intervenções ou entrevistas concedidas pela administração pública municipal
e seu órgão ambiental, insistentemente procuraram se eximir de qualquer
responsabilidade pelo que estava ocorrendo, transferindo todo ônus ao
Ministério Público Federal e por pouco não incluíram no pacote a própria Oscip
Preserv’Ação como entidade coadjuvante. Já é prática comum de pessoas ligadas à
administração como do próprio prefeito esconderem quando são denunciados por cometerem
atos depredatórios ao ambiente como exemplo a abertura atabalhoada e equivocada
de uma runa no morro azul. Quantas vezes o prefeito ou seus secretários foram à
imprensa esclarecer os fatos? Nenhuma. Normalmente situações como a do Morro
Azul e os problemas ambientais no Morro dos Conventos respinga diretamente na
face dos que estão desprotegidos, daqueles que lutam pela preservação da vida,
os “ecochatos”, insistentemente pronunciado por certos locutores de rádio, na
tentativa de descaracterizá-los ou incitar a população contra os mesmos.
Parece
que tal estratégia está dando certo, pois no dia 19 de março de 2014, o
ex-coordenador da Oscip quando estava acompanhando um grupo de estudantes da
escola do balneário em uma saída de campo na orla do balneário, foi
surpreendido com a presença de um cidadão que o ameaçou de morte. Diante dos
fatos registrou boletim de ocorrência na delegacia de polícia e solicitou
proteção. Preocupado com a ameaça recebida, vem se mantendo recluso a sua
residência como forma de se proteger a possíveis ameaças.
Mais
uma vez insistimos em afirmar que jamais os membros da Oscip Preserv’Ação
expressaram qualquer opinião em público defendendo o fechamento definitivo da
orla do balneário. Todas as intervenções feitas nos quase três anos de entidade
sempre foi em defesa da preservação do balneário, que inúmeras vezes
encaminharam ofícios aos órgãos governamentais, ministério público estadual e
federal e polícia ambiental solicitando ações que pudesse conter as depredações,
cujo resultado, diante da omissão, foi o fechamento da praia decretado pelo Tribunal
de Justiça de Porto Alegre.
Prof.
Jairo Cezar
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