Os
onze anos de governo Petista pautados na consolidação do Modelo Liberal Periférico
Como já é rotineiro na minha vida, quase
que diariamente transito por algumas poucas revistas e jornais digitais
confiáveis, cujos conteúdos publicados dificilmente são publicados nas grandes
mídias corporativas controladas por meia dúzia de famílias. O que me chamou
atenção dessa vez foi um texto publicado pela jornalista Valéria Nader,
intitulado “Dilma aprofunda a desregulamentação, liberalização e
desnacionalização”, cuja construção se deu a partir da entrevista realizada com
o economista e professor Reinaldo Gonçalves da Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
Durante a leitura do texto, o professor
Reinaldo fez menção a um artigo por ele escrito “déficit de governança e crise
de legitimidade do Estado no Brasil”, que certamente fundamentou suas respostas
à entrevista concedida. Foi enfático em afirmar que tanto o governo Lula como
Dilma ambos protagonizaram um modelo de “desenvolvimento” que o caracterizou como
Liberal Periférico. Periférico porque se constituiu em um país situado às
margens das tradicionais economias, que historicamente vem sendo submetida a
toda prova de espoliação e rapinagem, avalizada por um Estado protetor e provedor
da riqueza a uma fração de famílias e corporações vinculadas ao agronegócio,
mineração, construção civil, sistema financeiro, etc.
Outra diferença marcante entre nações
periféricas e centrais é na hipótese de uma crise estrutural. A chance de
recuperação dos países centrais é relativamente maior em vista de sua maior
homogeneidade social, elevado progresso técnico competitivo e, paradoxalmente, a
frequência de guerras cíclicas que impulsionam o emprego e melhorando os ganhos
salariais da população. Também as políticas de ajustes estruturais aplicadas
para reativar a economia, aparentemente não recaem diretamente sobre os
trabalhadores como no Brasil suprimindo direitos e garantias constitucionais.
Quando se imaginava que, no poder, tanto
Lula como Dilma colocariam em prática aquilo que os militantes históricos do PT
almejavam, ou seja, um projeto político verdadeiramente popular veio a decepção.
Ditado por uma política de defesa incondicional da governabilidade teceu-se um arco
de alianças com vistas a atrair políticos e partidos de quase todas as tendências,
de moderados a ultraconservadores na perspectiva de neutralizar qualquer forma
de reação às políticas liberalizantes.
São esses grupos e partidos políticos,
do que tem de mais atrasado hoje, que vem ditando os rumos da nossa política e economia,
que segundo o professor Reinaldo estabeleceram no Brasil o modelo de
desenvolvimento pauto pela privatização, desregulação, subordinação e
vulnerabilidade externa, dominação do capital financeiro, liberação nas áreas
de serviços, desnacionalização, desindustrialização, etc. Se o governo FHC
deixou sua marca inconfundível de social democrata a serviço do grande capital,
os dois governos petistas certamente serão lembrados pelas próximas gerações por
terem protagonizado um dos maiores vexames políticos já vistos na história recente
do Brasil, o escândalo do mensalão envolvendo figuras históricas do partido dos
trabalhadores.
É um país que cresce às avessas
(ausência de mudanças ou reformas de longo prazo), porém, para manter certo
grau de estabilidade social os dirigentes governistas adotam postura de
cooptação das organizações sindicais, estudantis e patronais. Em relação as
manifestações de junho de 2013, as centrais sindicais somente articularam
promover algum movimento atendendo às reivindicações das vozes das ruas, um mês
depois, sem muita representação e resultado significativo.
Além do mais, no poder, transformaram
milhares de pessoas em situação de miséria em cabos eleitorais, adotando políticas
clientelistas e assistencialistas como a bolsa família e outros benefícios
oferecidos. E não para por aí, os governistas vêm se gabando e divulgando na
imprensa que nos onze anos de governo petista milhares de famílias adquiriram
um padrão de consumo que os qualificaram como “classe média”. O que não é dito
é que essa nova classe média está totalmente endividada pelas políticas de
crédito fácil, de juros altos que cada vez mais elevam o valor da dívida
pública, impagável, financiada pelo fluxo de capitais especulativos que mantém
os salários arrochados e os serviços públicos depreciados.
O processo de espoliação social
patrocinado pelo grande capital chegou a um patamar insustentável resultando nas
manifestações de julho, com milhões de pessoas saindo às ruas contrariadas com
tamanha roubalheira e impunidade que tomou conta do Brasil. Havia a
possibilidade que o início das manifestações tivesse como estopim o aumento das
tarifas do transporte coletivo, que foi confirmado em junho de 2013 quando
milhares de pessoas aproveitaram o momento e saíram às ruas mostrando suas
indignações às políticas perversas e equivocadas conduzidas pelo regime
petista.
A eclosão das manifestações não teve o
passe livre como causa principal, e sim um conjunto de mazelas que podem ser assim
classificadas: baixo crescimento da renda, aumento da inflação, PEC-37, demora
da punição dos condenados do mensalão, desperdício de recurso para a copa do
mundo, enriquecimento de dirigentes políticos, etc. Durante os dias em que o
povo saiu às ruas para protestar raros foram os políticos petistas, antes
vanguardistas, que ousaram inserirem-se as massas a bradarem palavras de ordem
como em épocas memoráveis.
Com a expectativa de que os movimentos
de rua alcançassem níveis de acirramentos que pudessem fugir do controle, o
governo em cadeia de rádio e televisão propôs pacto com a sociedade com vistas
a esvaziar às ruas e restabelecer a normalidade. Dentre as propostas encaminhadas
comprometeu-se com a contratação imediata de médicos estrangeiros para suprir o
déficit de profissionais nos municípios e a elevação das penas para crimes de
corrupção. Quando se esperava que a justiça punisse com severidade todos os
envolvidos no escândalo do mensalão uma manobra bem articulada no Supremo Tribunal
Federal garantiu aos ditos réus algumas benesses desqualificando-os como
criminosos de colarinho branco.
Não é segredo para ninguém que historicamente
diante de tensões sociais desencadeadas como a de junho de 2013 os dirigentes
políticos sempre adotaram estratégias visando neutralizá-los, como a cooptação
de lideranças, concessões marginais de benefícios às populações, reformas
políticas inócuas ou a repressão, essa última muito evidenciada ultimamente.
Prof. Jairo Cezar
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