RIO
ARARANGUÁ DESPEJA TONELADAS DE DETRITOS PLASTICOS NO OCEANO ATLÂNTICO TODOS OS
ANOS
Há
cerca de trinta dias foi publicada reportagem nas mídias digitais revelando que
o rio Araranguá estava entre os cinco do estado em despejos de plásticos no
oceano atlântico. Na ocasião, comunicador de uma rádio local tratou com desdém
o assunto considerado tão letal para a fauna marinha dos oceanos. Não é de hoje
que cientistas e integrantes de organizações não governamentais vêm alertando sobre
a formação de uma super ilha flutuante no pacífico norte composta de resíduos
de plásticos. A extensão da ilha alcança os dois milhões de metros quadrados, bem
a área do estado da Amazonas.
É
algo tão espetacular e assustador que a revista internacional “Nature” fez
publicação de um artigo sobre o tema revelando que nesse amontoado de rejeitos foram
identificados 105 tipos diferentes de plásticos, onde vivem 484 exemplares de
invertebrados, de 46 espécies diferentes. Constatou-se também que 80% desses
organismos são originários das áreas costeiras. Isso mesmo espécies
continentais que se adaptaram nesse ambiente. O fato é que todo esse lixo
plástico acumulado pode permanecer por séculos boiando, pois é indestrutível na
natureza.
No
estudo chegou-se a conclusão que dois terços dos objetos recolhidos, os rótulos
possuíam inscrições em idioma chinês e japonês. Além desses dois idiomas havia
rótulos de outras nove línguas. O
fragmento mais antigo encontrado tinha o ano de 1970 como data de fabricação.
Um dos elementos residuais formadores dessa montanha flutuante mais comum
identificado foi rede de pescar, totalizando 46%. Sabe-se também que mais de
100 mil espécies marinhas morre engasgadas com tais partículas todo o ano.
Outro
aspecto ainda mais preocupante diz respeito à toxidade dos elementos formadores
dessa ilha de lixo, onde foram apontados 84%. São substâncias capazes de contaminar
ecossistemas inteiros, intoxicando peixes, crustáceos, moluscos, que por sua
vez são consumidos pelas pessoas. Deve ser destacado aqui também que o
microplatico, segundo relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para a
Alimentação), o mesmo foi detectado no organismo de mais de 800 espécies de
peixes. O Greenpeace trouxe em sua página digital, dados assustadores, 90% das
marcas de sal avaliadas por uma universidade na Coréia do Sul possuíam
micropartículas de plástico em sua composição.
Mas
qual a razão de estar abordando um tema tão complexo e capaz de colapsar
definitivamente a vida marinha dos oceanos? Bem, sabendo da informação que o
rio Araranguá era o quinto no estado de Santa Catarina em despejos de sobras de
plásticos no oceano atlântico, fui conferir em loco se havia alguma relação
entre o que havia sido dito e a realidade. Como já é habitual toda a semana caminho
até a foz do rio pela margem direita do mesmo. Impossível não se deparar com
centenas de garrafas pet, latões, capacetes, restos de computadores e outros tantos
fragmentos por tudo quanto é lado.
Não passa um ano sequer sem que ocorram ações de limpeza das margens do rio e da orla do município de Araranguá onde são recolhidas centenas de quilos de lixo. A cada chuvarada mais forte, que faz a água quase extravasar a calha normal, ai sim, os estragos provocados ao oceano são enormes, tamanha a quantidade de lixo trazida pela correnteza. Nesses seis primeiros meses de 2023 tivemos algumas enxurradas em pontos isolados da bacia hidrográfica do rio Araranguá. O resultado, no entanto, pode ser conferido caminhando nas margens ou navegamos pelo leito do rio. Se na ilha de lixo formada no pacifico norte é possível identificar mais de cem itens de plásticos, nas inúmeras ilhotas de galhos e troncos de árvores, que se formaram entre o Yate Clube a foz do rio Araranguá, não há dúvida que o número de itens plásticos e outros elementos descartáveis quase se igualam em diversidade ao encontrão no lixão do pacifico norte.
Durante
a campanha de limpeza do rio e da orla ocorrida há cerca de um ano, a
administração pública de Araranguá havia cogitado instalar uma rede nas
proximidades da ponte no novo traçado da BR 101, com intuito de barrar os detritos trazidos pela vazão da água. A proposta não se concretizou, talvez por
acreditar que essa estratégia não daria resultado, pois a força da água durante
uma enxurrada poderia rompê-la e gerando um estrago ainda maior.
Claro
que esse passivo ambiental, que o município de Ararangua sempre teve e tem que
arcar sozinho deveria ser compartilhado com todos os municípios que compõem a respectiva
bacia, pelo fato de o lixo lançado nos afluentes ter como destino a foz e a
orla do município. Afinal como solucionar um problema que está causando enorme
impacto à fauna marinha e a vida de centenas de pescadores que assistem atônitos
o número de pescados diminuindo em suas redes de pesca.
Instalar
grandes redes coletoras, promover campanhas de limpeza, etc, tudo isso são
ações paliativas, pois não atacam as causas do problema. Além de campanhas de
sensibilização ambiental, principalmente nas escolas que congregam a bacia do
rio Araranguá, todos os municípios teriam que executar seus planos de
saneamento básico, conforme estabelece legislações federais vigentes. Sistemas
de tratamento de esgotos e coleta seletiva de resíduos sólidos há muito tempo
os municípios da bacia já deveriam ter executado tais políticas socioambientais.
O
fato é que nenhum município da bacia cumpriu na integra o que determina a
legislação, apenas ações parciais. Além
do problema dos resíduos plásticos que dominam nossas águas, têm os resquícios
de carvão mineral, de agrotóxicos, de esgotos domésticos e industriais, que juntos
colocam o rio Araranguá no ranque de um dos mais poluídos do Brasil. É tão real
que se for medir o nível de acidez do mesmo, em alguns trechos o PH chega a 2
ou 3, sendo que o normal, que torna a água acessível para o consumo é de 6 a 7.
Quando mais baixo o número mais ácida é a água.
Prof.
Jairo Cesa
https://www.iberdrola.com/sustentabilidade/ilha-de-lixo-pacifico-setimo-continente
https://www.nature.com/articles/s41559-023-01997-y
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