VALE-ALIMENTAÇÃO DOS/AS PROFESSORES/AS: NÃO VALE NADA, NEM UM PASTEL COM SUCO
Lembro-me
que lá pelos indos de 1980 quando iniciei as atividades de professor ACT na
rede pública estadual de ensino, era rotina ficar o dia inteiro ou a semana
correndo de uma escola para outra para complementar a carga horária. Geralmente a única refeição possível era o
almoço, claro que bem rapidinho, porque às 13 horas teria que estar outra vez
em sala de uma das escolas do itinerário. Nessa época os profissionais do magistério
ainda não tinham direito ao vale alimentação, somente a partir do ano 2000.
Nessa
fase, bem como depois da concessão do vale-alimentação, raros eram os
professores que não levavam marmitas com almoço para as escolas, das quais eram
aquecidas aproveitando o fogão da cozinha da escola. Podemos
afirmar sem o mínimo de dúvidas que o professor da rede estadual estava
enquadrado no rol dos boias frias. Passado quase quarenta anos, hoje já
aposentado, visitando uma das escolas da rede estadual constatei que professores
continuam trazendo marmita para escola e aquecendo no fogão da cozinha.
Meu Deus nada mudou!!! O professor continua recebendo baixos salários, trabalhando em varias escolas semanalmente e levando marmita para a escola, ou seja, permanece sendo um bóia fria. Parece piada, mas não é, é real!! Ninguém acredita quando um professor fala que no final do mês, vem no seu contra cheque um pouco mais que 260 reais em forma de vale-alimentação. Cabe esclarecer que esse valor é referente à carga horária de 40 horas semanais. Sabendo que expressiva parcela dos professores fica o dia inteiro e muitas vezes até às 22 horas na/s escola/s, os 260 reais que recebem teriam que cobrir o café da manhã, almoço, lanche da tarde e muitas vezes a janta.
Quem
vai ou já foi em uma padaria ou lanchonete sabe quanto custa um café com pão
quente, com queijo e manteiga, bem superior os 12 reais recebidos diariamente. Hoje em dia é quase impensável fazer uma boa
refeição ao meio dia pagando menos de 25 reais.
Ainda tem o lanche da tarde. Meu Deus os duzentos e sessenta reais dá
para no máximo uma semana!!! Em contato
com alguns colegas do magistério, ambos me informaram que o vale-alimentação
recebido pelos servidores da justiça é de 3.000 reais; os funcionários da ALESC
recebem 2.000 reais mensais. Agora eu pergunto, o que tem de diferente nesses
servidores que o fazem receber valores oito, nove, até dez vezes superiores a
dos/as professores/as. É, sim, um verdadeiro esculacho a uma categoria que se
dedica parte expressiva de sua vida instruindo milhões de catarinenses.
O
que é mais repugnante, asqueroso, é de os/as professor/as terem de ouvir de um
governador e de seu secretário falas tratando do pagamento da primeira parcela
do décimo terceiro salário. Meu deus, salários sem reajustes, vale alimentação
ridículo e sem reajuste há dez anos, o recebimento de parcela do 13º serve
unicamente para quitar dívidas contraídas por esses servidores para poder
sobreviver. É possível contar nos dedos professores/as que não tenham contraído
empréstimos consignados, cujos proventos recebidos, 50% ou mais ficam retidos
no banco todos os meses. Muitos/as possuem dívidas tão longas que serão
herdadas pelos filhos e netos dos servidores.
Não
posso deixar aqui de discorrer alguns trechos da fala do governador e de seu
secretário da fazenda fazendo propaganda política com o dinheiro do servidor
público. Todos sabem que há muito tempo os servidores vêm recebendo de forma antecipada
parcela do décimo terceiro. Não tenho lembrança de ter ouvido ou assistido, nos
meus quase quarenta anos de docência, governador/s usando a TV ou redes sociais
para noticiar o dia do pagamento de parcela do 13º. O pior é o modo asqueroso
usado pelo governador e seu secretario para justificar a liberação do
pagamento.
Começou
falando o governador que veio a público dar boa notícia, que o pagamento será
no dia 14 de julho, que foi possível graças ao esforço de todos para arrumar as
contas do governo, dando oportunidade aos funcionários públicos, que tem nos
ajudado. O que é verdadeiro e não dito pelo governador é que todo o esforço se
deu porque o servidor terá que passar mais um ano sem qualquer reajuste em seu
salário e de tentar administrar 12 reais/dia, do vale-alimentação, para o café
da manha, almoço, lanche da tarde e janta. Claro que o Estado tem muito
dinheiro em caixa, pois é sabido que tais sobras advêm dos 14% sequestrados dos
aposentados na aprovação da Reforma Previdenciária dos servidores estaduais em
2021.
O
equilíbrio do caixa do governo, relatado pelo secretário, deveria ter sido dito
por ele que é parte do programa de Ajuste Fiscal, redução do tamanho do Estado,
que está atingindo em cheio os servidores estaduais. Dizer que o “dinheiro é
bem vindo” e que “merecem o nosso reconhecimento” é achar que os servidores são
idiotas, que não sabem que o Estado não cumpre com a lei do piso, que não reajustou
os salários dos professores e o valor do vale-alimentação, porque a educação
pública são é a sua prioridade, como não foi dos governadores que o
antecederam.
Para
os servidores estaduais, professores/as em especial, que têm que se virar nos
trinta para chegar ao final do mês com alguma sobra de dinheiro, certamente muitos/as
devem ter ficado horrorizados/as com a proposta do governo de transferência de
recursos públicos para beneficiar universidades comunitárias e particulares. De onde o governo retirará recursos para
viabilizar esse projeto? Por que o governo em vez de alocar recursos públicos
para beneficiar tais instituições, não investe na melhoria da UDESC, bem como e
abertura de novos campus da instituição em todas as regiões do estado? Aí sim
estaria fazendo um grande serviço para a sociedade catarinense.
Prof.
Jairo Será
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