domingo, 29 de agosto de 2021

 

FOZ DO RIO ARARANGUA EM BALNEÁRIO ILHAS/ARARANGUÁ SOFRE OS IMPACTOS DA INSENSIBILIDADE AMBIENTAL

Foto - Jairo


A faixa litorânea do município de Araranguá se caracteriza como sendo uma das mais exuberantes e frágeis de toda a faixa costeira catarinense. Há três anos duas jornalistas, uma do jornal O Globo, RJ, e a outra do Estadão, SP, estiveram visitando o município e classificaram o Morro dos Conventos como sendo um Oasis do sul do Brasil, pela sua singularidade. Embora nossa faixa costeira se constitua em um campo fértil para a dinamização do turismo, os gestores públicos que ocuparam e ocupam a cadeira do paço municipal careceram e carecem de maturidade nesse seguimento.

Não se exclui desse “combo” de primarismo no turismo e meio ambiente, o poder legislativo e o órgão ambiental municipal, FAMA. O Balneário Morro dos Conventos, incluindo Morro Agudo, Ilhas e Barra Velha já poderiam estar colhendo os frutos advindos do turismo se metade das demandas do PGI (Plano de Gestão Integrada) estivessem sendo executadas. O PGI foi elaborado durante a realização do Projeto Orla, entre 2014 a 2016. Foram dezenas de encontros e oficinas nas dependências do Hotel Morro dos Conventos, tendo a participação de representantes do setor governamental, empresarial, organizações ambientais e a sociedade civil

É necessário relembrar que dentre as demandas do PGI executadas estão à assinatura de três decretos municipais que criaram a APA (Área de Preservação Ambiental), MONA/UC Morro dos Conventos e a RESEX (Reserva Extrativista de Ilhas). Finalizada a primeira etapa do Projeto Orla, deu início os encontros do Grupo Gestor do Orla, que se encarregaria de sistematizar as demandas do PGI conforme as prioridades e cronogramas. Entretanto, no primeiro ano do novo governo que assumiu a prefeitura, vislumbrou-se um cenário não muito favorável ao Projeto Orla. A partir do segundo semestre de 2017 as reuniões do grupo gestor cessaram. Foram mais de quinhentos mil reais investidos nesse importante projeto, porém, explicitamente negligenciado pelos gestores públicos que se sucederam.

Cinco anos já se passaram desde a assinatura dos decretos das unidades de conservação, sendo que tudo continua a estaca zero. Uma nova administração assumiu o executivo municipal a partir de janeiro de 2021 e cuja postura em relação ao projeto orla e ao PGI é de absoluta desconsideração. Frente ao já previsto silêncio da atual administração e de seu órgão ambiental no cumprimento dos dispositivos dos decretos das três unidades de conservação, o que vemos é a progressiva e violenta degradação dos nossos ecossistemas pela pressão imobiliária e o vandalismo.

O Balneário Ilhas, no entanto, a partir da balsa até a foz do rio Ararangúa, toda essa extensão está inserida numa RESEX, que é uma unidade de conservação. Todos os finais de semana centenas de pessoas, automóveis, Jet Ski, etc, insistem em violar normas ambientais que garantem protegem a aquele ecossistema. Durante décadas, botos e pescadores de tarrafas mantinham relações de parceria na captura do pescado. Ir até a foz e acompanhar o incrível ritual envolvendo botos e pescadores sempre foram uma atração encantadora.

A pesca predatória, a poluição e o vandalismo puseram fim à relação simbiótica firmada entre botos pescadores. O decreto que instituiu a RESEX em 2016 tem como proposta, entre outras, proporcionar o retorno dos botos à foz e o turismo sustentável. Claro que tais desejos seriam possíveis se centenas de jovens e adultos não praticassem atrocidades ao local. Transitar de automóvel sobre as dunas e restinga, descartar lixo, manter som automotivo em nível ensurdecedor, manobrar Jet ski sem critério, lançar rojões, etc, etc, são algumas das infrações lá cometidas e passivas de sansões legais. A atual administração e o órgão ambiental municipal insistem em afirma em entrevistas concedidas que o Balneário Ilhas e seu entorno são prioridades. Que projetos estão sendo elaborados para promover o desenvolvimento econômico da região.

Insistem em afirmar que com a construção da ponte que ligará as duas margens do rio, o fluxo de pessoas ao Balneário Ilhas aumentará exponencialmente. Diante das freqüentes denúncias encaminhadas às polícias e ao MPSC, acerca das praticas de vandalismo na foz do rio, medidas paliativas foram executas pela atual administração, porém, pouco ou sem resultado aparente. A instalação de tubos de cimento como barreira, não foi suficiente para impedir o acesso de automóveis ao local.

Expressiva parcela dos veículos e pessoas que transitam pela foz aos finais de semana chegam lá vindos do norte, da Içara e Balneário Rincão. São potentes veículos tracionados que se deslocam sobre dunas e restingas cujos danos são irreparáveis.  Há cinco meses, abril de 2021, reportagem publicada na página digital do jornal tnsul.com teve a seguinte manchete: Araranguá: Projeto em Balneário Ilhas fomentará o turismo regional.

Antes de lançar comentários sobre essa reportagem é conveniente mencionar o informativo postado na pagina digital da prefeitura de Araranguá cujo enunciado é o seguinte: Placas educativas em Ilhas. A decisão de executar medidas de proteção ao acesso à barra, lado sul, não se deu em decorrência de um lapso de sensibilização ambiental dos representantes do poder público e do órgão ambiental municipal. Isso só ocorreu graças às inúmeras denúncias de práticas criminosas que se sucediam semana após semana em todo aquele ecossistema.

Uma das denúncias foi publicada no jornal Tribuna de Criciúma do dia 04 de maio de 2021, seis dias antes de a FAMA decidir instalar as barreiras impeditivas de veículos e placas educativas em vários pontos em Ilhas. Na pagina digital da prefeitura, publicado no dia 10/05, a ação foi assim justificada: “a ação pretende conscientizar o público sobre a necessidade de preservarmos as dunas, restingas e as Áreas de Preservação Permanentes – APP’s da região, além de informar sobre a proibição de trafegar com veículos automotores nessas áreas. A FAMA faz o apelo que todos ajudem a preservar um dos principais cartões postais de nossa cidade”!

Uma semana depois de ter sido gasto tempo e dinheiro para a realização de ações mitigatórias de proteção na foz do rio Araranguá, veículos desrespeitaram as barreiras e as placas informativas, continuando a praticar atos de vandalismo. Novas denúncias foram encaminhadas às autoridades na expectativa do retorno da paz e a harmonia no frágil ecossistema. Quase todos os domingos me desloco de bicicleta até a barra do rio Araranguá na expectativa de, lá chegando encontrar pássaros, pescadores e pessoas aproveitando a deslumbrante paisagem.

Dois ou três quilômetros de distância da foz é possível ouvir o forte ruído dos sons automotivos. Filmagens e fotografias eram feitas, postando-as em seguida nas redes sociais na esperança de as autoridades se sensibilizassem com os excessos e tomassem providências. Infelizmente pouco impacto resultavam as imagens e os vídeos, apenas comentários de reprovação, sem qualquer ação efetiva. O silencio e a indiferença das autoridades à progressiva destruição daquele complexo e frágil cartão postal, estava no limite do desespero.

No dia 08 de agosto, um domingo de sol, retornei outra vez à barra. Há poucos metros do local fiquei surpreso com o repentino silêncio dos sons automotivos. Não quis acreditar, mas algo divino aconteceu, três carros da polícia transitavam pelo local. Conforme a movimentação, penso que não foram tomadas medidas mais incisivas às inúmeras infrações lá cometidas.

Entretanto, independente de ter sido ou não adotado sanções aos infratores, a presença de autoridades policiais ali renovou a esperança de que pescadores, pássaros e demais espécies endêmicas voltariam ao convívio harmonioso.  Domingo, 21 de agosto, céu azul e calor parecendo verão. Embarcado em uma bicicleta, vou em direção à barra, porém algo me dizia que lá estaria um inferno. Tal sensação havia sentido no Morro dos Conventos, quando passei a ouvir os ruídos sonoros vindos da barra.

O sentimento de alívio e esperança tidos no dia 08 quando os policiais fizeram ronda na barra contendo os abusos, subitamente virou decepção no dia 21 de agosto. Centenas de automóveis e pessoas disputavam palmo a palmo ínfimo espaço de areia. O que impressionou foi a intensidade do ruído produzido pelas potentes caixas de sons automotivos. Erra impossível ouvir a própria voz a uma distância de duzentos ou trezentos metros.  

Naquele instante não se viu um carro da polícia patrulhando o local. A não presença estimulava a pratica de irregularidades sem o mínimo de constrangimento. Finalzinhos da tarde, de repente, os sons ensurdecedores silenciaram e muitos carros começaram sair em disparada. O motivo era a chegada de um carro da polícia ao local. Por que os automóveis saíram em disparada na presença da polícia? Claro que sabiam da possibilidade de serem autuados por estarem cometendo irregularidades.

Uma guarnição apenas para autuar dezenas de infrações praticadas? Sim, era insuficiente. O que fazer, então? Não havia o que fazer, os policiais permaneceram um curto espaço de tempo, fizeram meia volta e retornaram à Ilhas. Toda essa barbaridade está acontecendo diante de um governo municipal que assumiu há oito meses. O fato é que tais badernas poderiam não estar ocorrendo se o gestor público anterior e o atual cumprissem o que já está estabelecido no PGI, que são demandas elencadas durante o Projeto Orla.

Muitas dessas proposições estão direcionadas às comunidades de Ilhas e Morro Agudo por meio da RESEX. O que está faltando, portanto, para a execução das ações ao desenvolvimento sustentável da região é cumprir algumas etapas definidas no decreto que criou a Reserva Extrativista. Algumas delas, tão importantes como as demais são: elaboração de um plano de manejo; indicação de um chefe e de um barqueiro cujos prazos já expiraram há algum tempo.

Em vez disso, o governo municipal e a fundação do meio ambiente, se prestam a elaborarem novos projetos, dando a impressão de que nada existe de proposta para a região. O Jornal Tnsul, entrevistou o superintendente da FAMA, onde pontuou as demandas previstas para Ilhas e região. Afirmou que com a conclusão da ponte sobre o rio Araranguá, llhas será um balneário muito procurado por turistas e visitantes. Que a entidade ambiental (FAMA) não tem o foco somente com a economia regional e o turismo, mas com a preservação do meio ambiente daquela localidade.

Afirmou também o superintendente que o transito de veículos à barra estava proibido, devido a agressão à natureza e riscos de acidentes aos banhistas que lá transitam. Quanto aos veículos tracionados, o representante da FAMA deu o seguinte parecer: Para os veículos tracionados, como bugs e jeeps, será criado, em uma área que já está consolidada nas dunas, um espaço demarcado com bandeiras para passeios exclusivamente desses automóveis. “Eles serão controlados, em época de temporada, de novembro até fevereiro, nas sextas, sábados e domingos, e também serão acompanhados pela Fama, deverão estar cadastrados para realizar o passeio”, acrescenta o presidente”.

Incrível que em nenhum momento o superintendente da FAMA fez qualquer menção ao Projeto Orla, muito menos a RESEX, Reserva Extrativista - Unidade de conservação criada por decreto em 2016. O documento da Resex apresenta nove artigos, que definem as estruturas, os objetivos/finalidades e as proibições em toda a extensão territorial abrangida a unidade de conservação.

Cabe também aqui destacar que outro projeto, também vindo de demanda do projeto orla, foi elaborado na conclusão de curso de especialização no IFSC/ARARANGUÁ. O tema do projeto aprovado foi o seguinte: Roteiro Geoecológico na Escola: uma proposta para a formação de formação continuada de professores.  Instituições de ensino, bem como entidades sociais diversas, a exemplo da Associação de Moradores de Ilhas tiveram contato com o projeto. O encontro com a comunidade de Ilhas aconteceu no mês de setembro de 2017.

Com tantas propostas e ações já executadas, a partir de demandas do projeto Orla, não teriam motivos aparentes a FAMA e o Executivo Municipal inventarem a roda para o Balneário Ilhas. O que caberia a ambos seria ativar o grupo gestor do Projeto Orla, criado em 2017. O próprio grupo gestor também se encarregaria de auxiliar o poder publico e a FAMA no cumprimento das etapas das três unidades de conservação,

A criação do Conselho Gestor Deliberativo, a indicação de um Chefe, de um Fiscal e um Barqueiro para a RESEX, o prazo estipulado era de dois anos, ou seja, até 2018. Até o momento, agosto de 2021, não há qualquer mobilização ou indicativo de que tais proposições sejam executadas.  Tem sentido o que expressou o superintendente da Fama ao jornal TNSUL, sobre Ilhas. Disse ele: Se nós perdermos esse potencial se houver degradação a ponto que isso se perca com certeza o turista não terá essa vontade de usufruir de Ilhas”.

Cabe aqui realçar que a degradação no Balneário Ilhas, nas imediações da Foz do Rio Araranguá já é fato concreto. As omissões da FAMA, do executivo, do legislativo e demais instituições competentes terão que ser responsabilizados pela completa degradação de tais potencialidades turísticas. Outra consideração. Não são turistas, nem banhistas, muito menos pescadores que todos os finais de semana vem se aglomerando e produzindo baderna na Foz do rio. Com raras exceções, são jovens, adultos/as irresponsáveis, muitos/as dos/as quais turbinados/as com álcool e outras drogas. Enganam-se quem acredita que esses grupos incrementam a economia da região. O que realmente deixam são rastros de destruição e um passivo ambiental quase que irrecuperável.  

 https://oglobo.globo.com/brasil/ecoturismo-educacao-ambiental-se-unem-em-ararangua-santa-catarina-23325372

https://www.ararangua.sc.gov.br/noticias/index/ver/codMapaItem/4496/codNoticia/668733

https://tnsul.com/2021/economia/ararangua-projeto-em-balneario-ilhas-fomentara-o-turismo-regional/

https://leismunicipais.com.br/a1/sc/a/ararangua/decreto/2016/783/7830/decreto-n-7830-2016-dispoe-sobre-a-criacao-da-unidade-de-conservacao-da-natureza-municipal-reserva-extrativista-do-rio-ararangua-e-da-outras-providencias

 

https://repositorio.ifsc.edu.br/bitstream/handle/123456789/957/monografia.samanta_da_costa_cristiano.pdf.pdf?sequence=1&isAllowed=y

ROTEIRO GEOECOLÓGICO NA ESCOLA: uma proposta para a formação continuada de professores TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA – CÂMPUS ARARANGUÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGIC


https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/3898533707811668466

 

 

           

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