O poder das corporações que controlam o
comércio dos agrotóxicos e sua difusão sem controle no Brasil
O tema agrotóxico vem sendo tratado nas
últimas décadas por organizações ambientais, universidades e entidades
científicas, como um dos assuntos mais complexos e preocupantes quanto aos
impactos provocados por seus princípios ativos na dinâmica da biótica
planetária. No entanto, embora os alertas tenham sido freqüentes e permanentes acerca
dos perigos resultantes do uso de tais substâncias, o que preocupa é o
crescimento vertiginoso de novas marcas de herbicidas, fungicidas, inseticidas,
etc, liberadas pela Anvisa para o combate às “pragas”, porém, quando ingerida
pelo ser humano através dos alimentos produz alterações significativas no
genoma humano contribuindo para o aumento da incidência de doenças
degenerativas, dentre elas, o câncer.
Foi a partir do fim da segunda guerra
mundial quando grandes empresas fabricantes de armamentos e substâncias químicas
usadas para enfrentar os inimigos dentre eles o gás mostarda e o desfolhante
laranja, como forma de evitar a ruína financeira, reformulam seus parques
industriais passando a fabricar agora tratores e implementos agrícolas em vez
de tanques; agrotóxicos para uso agrícola em vez de gás mostarda para uso
bélico. Começava aí a longa e paradoxal epopéia de um novo modelo de
agricultura que rapidamente se espalharia por toda Europa e Estados Unidos e
que chegaria ao Brasil a partir do começo da década de 1960 com a denominação “Revolução
Verde”. Com a política desenvolvimentista adota pelo regime militar cuja proposta
era expandir a fronteira agrícola em direção ao centro oeste e norte do Brasil,
transformando o país em um dos principais celeiros agrícolas mundiais, dezenas
de corporações multinacionais ligadas às commodities são atraídas encontrando
aqui ambiente propício para multiplicar suas fortunas e também se tornando co-responsáveis
pela degradação de todo um ecossistema.
A idéia de tornar o Brasil principal
fornecedor de commodities de recursos naturais e produtos agrícolas continuou
pairando no imaginário das autoridades e do agronegócio até os dias atuais. Acreditava-se
que com a ascensão de governos populares como a que ocorreu em 2002 com a
eleição de Luís Inácio da Silva, haveria uma transformação significativa nas
políticas que vinham sendo adotadas na área econômica abrindo caminhos para um
grande debate nacional para discutir qual o tipo de desenvolvimento que melhor
se adéqüe aos interesses da maioria da sociedade brasileira. Tanto não aconteceu
como foram mantidas as mesmas políticas dos governos anteriores e com um
agravante, intensificou-se a degradação do ecossistema brasileiro com as
políticas de incentivo ao agronegócio, à intensificação do uso de agrotóxicos,
à construção de barragens na Amazônica e a desestruturação das sociedades
tradicionais, indígenas e quilombolas.
As políticas de incentivo ao agronegócio
vêm cada vez mais aguçando os interesses de grandes companhias transnacionais
ligadas à produção e comercialização de máquinas agrícolas, fertilizantes e “defensivos”
agrícolas que encontram no Brasil um porto seguro para multiplicar seus ganhos
financeiros. Com todas as facilidades oferecidas pelo Estado às multinacionais
ligadas ao agronegócio e pela fragilidade dos órgãos fiscalizadores, um mercado
paralelo ligado aos agrotóxicos também vem criando corpos mediante o aval de
organismos públicos - Anvisa e Embrapa, e privadas, que fazem vistas grossas
quando da liberação a comercialização de substâncias tóxicas para uso agrícola
proibidas nos seus países de origem.
Para se ter noção da dimensão desse
mercado, nos últimos três anos o Brasil se tornou o maior consumidor de
agrotóxicos, perto de um bilhão de litros utilizados, um crescimento de 190% em
dez anos. Já em escala mundial, o aumento aproximou os 93%. Soja,
cana-de-açúcar, algodão, tabaco e eucalipto são as variedades agrícolas que
lideram no consumo de agrotóxicos. Nesse conjunto destacam-se os
agrocombustíveis e as espécies exóticas empregadas no reflorestamento (pinos e
eucaliptos) ou para a queima nos fornos das siderúrgicas de ferro-aço.
Um dado estarrecedor é em relação ao
volume de agrotóxicos movimentados no segundo semestre de 2012. Do total de 936
mil toneladas comercializadas, 833 mil foi produzido no Brasil, o restante, 245
mil foi importado. Somente as lavouras de milho, soja, algodão e cana de açúcar
absorveram 80% do volume total comercializado. Em comparação aos demais países,
em 2010 o Brasil comercializou 19% do total global de agrotóxicos, movimentando
cifras equivalentes a U$ 7,3 bilhões. Este percentual garante ao Brasil um
triste título de maior consumidor do planeta ficando atrás apenas dos EUA com
17%, que movimentou 51.2 bilhões de dólares. Entre as variedades de agrotóxicos
com maior demanda agrícola, os herbicidas são os preferidos representando 45%
do total comercializado. Em segundo plano estão os fungicidas com 14%,
inseticidas 12%, e os demais que juntos totalizam 29%. No ano de 2011, dos 75
milhões de hectares plantados com culturas temporárias - soja, cana-de-açúcar,
milho e algodão, e as permanentes - cítricas, café, frutas e eucaliptos, o
montante consumido chegou a 853 milhões de litros de agrotóxicos, sendo 12
litros por hectare ou 4,5 litros por habitante.
De acordo com dados do IBGE entre os
anos de 2002 a 2011, o consumo de pesticidas em milhões de litros saltou de
599,5 milhões para 852,8. Já o mercado de fertilizantes que era de 491 milhões
de litros passou para 674,3. Diante desse quadro ameaçador, a flexibilização da
legislação federal e do próprio código floresta patrocinada pela bancada
ruralista que representa o agronegócio tornando legal o cultivo e
comercialização espécies transgênicas vem provocando discussões acaloradas
quanto aos riscos dessas variedades modificadas para espécies da fauna, flora e
a saúde humana. O que é visível nesse imbróglio legislativo são os lobbies patrocinados
por grandes companhias que controlam as pesquisas e patentes das sementes e dos
agrotóxicos. Além do mais, as mesmas empresas que são detentoras dos monopólios
das variedades modificadas, especialmente das sementes de soja, dominam o mercado
dos agrotóxicos, do fungicida glifosato, que
é aplicado no combate da ferrugem asiática.
Dentre as variedades agrícolas
cultivadas no Brasil a soja participou com 40% do volume dos herbicidas,
fungicidas, inseticidas, acaricidas entre outros, vindo em seguida o milho com
15%, cana-de-açúcar e algodão com 10%; cítricos com 7%; café, trigo e arroz com
3%; feijão com 2%; pastagem e tomate com 1%; maçã com 05%; banana com 02% e
demais culturas com 3,3%. Sobre os registros no Ministério da Saúde e do Meio
Ambiente, são 434 ingredientes ativos e 2.400 formulações. Dos 50 tipos de agrotóxicos
mais utilizados nas lavouras do Brasil, 22 deles estão proibidos na União Européia.
Em relação ao percentual de aplicação nas lavouras entre os estados da
federação, o Mato Grosso do Sul lidera o ranque com 18,9%, ficando a frente de
São Paulo com 14,5%; Paraná com 14,3; Rio Grande do Sul com 10,8; Goiás com
8,8%; Minas Gerais com 9,0%; Bahia com 6,5%; Mato Grosso com 4,7%; Santa
Catarina com 2,1 e os demais juntos somam 10,4%.
De acordo com as estimativas de
crescimento das commodities/produtos primários, para 2020 a 2021, haverá um
acréscimo significativo do consumo de agrotóxicos para três lavouras
específicas como a soja 55%; milho 56,46% e cana-de-açúcar 45,8%. Análises
laboratoriais realizadas em 63 amostras de alimentos apresentaram contaminações
por metais pesados. Do total de ingredientes ou princípios ativos analisados,
28% deles não são autorizados pela Anvisa. As pesquisas comprovam que nos
últimos trinta anos o governo brasileiro lançou quatro portarias visando a legalização
de agrotóxicos para uso agrícola. A primeira delas ocorreu em 1977, quando
foram homologados 12 tipos; em 1990 foram 13; em 2004 foram 22 tipos, enquanto
que em 2011 o governo legalizou 27.
Portanto, entre a primeira e a última portaria, houve um aumento de
novas marcas que superou 100%.
Durante algum tempo o problema dos agrotóxicos
era exclusivo das regiões centro sul do Brasil. Atualmente a incidência de tais
substâncias vem se espalhando para outras regiões do Brasil, dentre elas o
Nordeste, que tem na fruticultura uma das suas principais matrizes
econômicas. Por ser uma atividade que se
sustenta graças a irrigação, a aplicação de substâncias tóxicas em quantidades
elevadas está agravando a qualidade do solo e dos mananciais hídricos que
abastecem a população da região. Situação semelhante ocorre no centro oeste do
Brasil, mais especialmente no estado do Mato Grosso do Sul, cujas águas dos
rios e a própria chuva vem apresentando elevadas incidências de contaminação
por metais pesados.
Como não bastava o problema dos
agrotóxicos, está em discussão no Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) a
liberação de portaria visando a reutilização de resíduos industriais como
sobras de fundição de siderurgia, para a produção de micronutrientes a serem empregados
na produção de fertilizantes agrícolas. O que causa preocupação é quanto aos metais
pesados presentes nos insumos como chumbo, arsênico, cádmio, mercúrio manganês,
etc. A pressão de entidades ambientais e científicas contrárias a esta
aberração é em decorrência da insustentabilidade da proposta de resolução do
Conama.
No primeiro Congresso Mundial de
Nutrição e Saúde, ocorrido no Rio de Janeiro em 2012, além das diversas
temáticas que foram abordadas no campo da alimentação sustentável, o que marcou
o encontro foi o manifesto promovido pelos presentes contrários à resolução do
Conama que tenta liberar a produção de micronutrientes para a produção de
fertilizantes a partir de resíduos industriais. Pois, ocorrendo a liberação,
intensificará a contaminação do solo e dos alimentos com impactos imprevisíveis
ao ambiente e a saúde humana. O mercado
dos agrotóxicos, insumos e das sementes além de movimentar cifras bilionárias
anualmente, que supera o PIB de vários países, a fabricação e comercialização
desses produtos são controladas por um cartel (acordos entre si) constituído
por seis grandes multinacionais - Basf, Bayer, Dupont, Monsanto, Syngenta e
Dow. O poder
é tanto que países com pouca tradição democrática como o Brasil, muitos dos
agrotóxicos e sementes modificadas liberados para comercialização ocorreram
mediante acordos públicos envolvendo empresas como a Embrapa, considerada uma
das mais conceituadas no campo das pesquisas agropecuária no mundo.
Em se tratando de Brasil, as empresas
gigantes do agronegócio, 90% dos produtos formulados para a produção de
inseticidas, fungicidas, herbicidas, etc, são de matéria prima oriunda da
China. Outro dado assustador é o modo como é comercializado esses produtos, ou
seja, 44% ocorrem direto com o cliente; 24% vão para a indústria, e 32% têm
como destino a revenda. Com base nesses números o que fica evidenciado é a
situação de risco no qual a população brasileira está assentada. Não há como
controlar tamanha aberração e o pior de tudo é o desconhecimento quase por
completo do teor de toxidade dos alimentos consumidos atualmente pela
população. Uma das saídas como forma de evitar possíveis contaminações seria
procurar caminhos alternativos como o consumo de orgânicos, porém, os preços
ainda cobrados inviabilizam a aquisição dessas variedades especialmente pela
população de baixa renda.
Outro aspecto estarrecedor é quanto ao
valor pago a Anvisa pelas multinacionais para registrar um novo produto. A cada
nova marca registrada a Agência reguladora recebe noventa reais. Nos Estados
Unidos o valor cobrado pela EPA chega a seiscentos mil dólares. Além do mais lá
existem 854 técnicos trabalhando na regularização dos registros de agrotóxicos,
no Brasil no número de profissionais é de aproximadamente 50.
Como foi anteriormente descrito acerca
dos oligopólios que controlam o mercado dos agrotóxicos, na área da alimentação
o domínio se dá através do comércio varejista reunindo três grandes
multinacionais – a Nestlê com 26%, vindo atrás as empresas coca cola e Pepsi.
Na área dos fertilizantes, o controle é dividido entre a holandesa Bunge, Yara
e Mosaic. Um dado importante acerca do mercado dos fertilizantes no Brasil, no
começo da década de 1990, empresas estatais como a Fosfértil e Ultrafértil
mantinham o controle desse seguimento. Com a abertura econômica patrocinada
pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello e levada adiante pelos sucessores, as
empresas transnacionais vinculadas ao agronegócio encontram no Brasil espaço
fértil para expandir seus negócios aproveitando as vantagens oferecidas pelo
estado mediante subsídios fiscais.
Com essas políticas, abriram-se as
portas para que companhias estrangeiras conquistassem no Brasil status de poder
capaz de influenciar os poderes legislativos e executivos na regulação de leis
menos restritivas especialmente no que tange a comercialização de fertilizantes
e agrotóxicos. Nesse aspecto, diante da concepção de economia sustentável que o
governo brasileiro tenta incutir no imaginário social, na defesa de uma alimentação
mais saudável e nutritiva se esconde uma política perversa e terrorista dominada
por setores agroquímicos, que vem introduzindo a venda casada de sementes geneticamente
modificada e agrotóxico.
O argumento utilizado para justificar essas
políticas de estimulo a transgenia não condiz com o que está ocorrendo em escala
mundial, ou seja, a escassez de alimentos em detrimento da forte demanda populacional.
O problema, portanto, não está na escassez e sim na forma como é distribuído
onde privilegia os países mais ricos que absorvem maior parcela do que é
produzido globalmente. Com isso, o combate à fome e a pobreza extrema exige
enfrentamento de suas causas profundas, que está na forma como tais sociedades
foram organizadas, divididas em classes, uma que detém maior parcela das
riquezas produzidas, e outra, que congrega a base da pirâmide social, que é
refém das políticas assistencialistas dos governos e condicionada à dependência
da classe dominante. No caso brasileiro o problema da fome e da miséria está vinculado
ao modo como a propriedade agrícola está constituída, controlada por grandes
corporações do agronegócio pautadas numa matriz agrícola baseada na monocultura
de exportação.
Pautada numa política de custo
benefício, a introdução dos transgênicos se apresenta como um divisor de água
entre o tradicional e o moderno no que tange a cultura de alimentos. É preciso
relativizar os argumentos lançados por entidades científicas acerca da segurança
do consumo das variedades geneticamente modificadas. Além do fato da semente
passar por um processo de mutação genética, que não se sabe ainda qual o risco
que pode provocar nos organismos vivos, há ainda o agravante de que a mesma
torna-se resistente a certos agrotóxicos.
Em relação às substâncias tóxicas, de
acordo com informações do Ministério da Saúde, anualmente 400.000 mil pessoas
são contaminadas, totalizando quatro mil mortes. Porém, esses dados são
relativos em virtude da precariedade dos órgãos da saúde que monitoram os dados,
pois muitas pessoas ao procurarem a unidade de saúde apresentando algum sintoma
suspeito de intoxicação, nos prontuários apresentados não são relatadas como
causa a ingestão ou contaminação por algum tipo de substância proveniente do
manejo de agrotóxico. Portanto, admite-se que de cada indivíduo avaliado com
intoxicação outros cinqüentas ficam de fora. O processo de contaminação do
solo, dos alimentos e da intoxicação das pessoas no Brasil é ainda maior quando
se sabe que expressiva parcela da população residente no campo apresenta baixa
escolaridade e outro fator é a falta de treinamento oferecido para o seu manejo
dos instrumentos e aplicação dos produtos. Muitas vezes, por falta de instrução,
o agricultor aplica inúmeras vezes o produto no solo esperando uma resposta
imediata, não tendo conhecimento que quando aplicado no solo os aditivos que
compõem o produto, como o glifosato[1],
considerado um dos mais comuns, mesmo sofre transformações moleculares
destruindo por completo os microorganismos responsáveis pela biodegradação tanto
das plantas como do próprio componente químico cuja durabilidade ou tempo de
vida no solo pode ser pequena, média ou grande.
Também a falta dos microorganismos afeta
a qualidade das plantas, tornando-a suscetíveis a novas pragas, cada vez mais
resistentes aos venenos, fazendo com que o agricultor disponibilize de mais
aplicações. Dentre as substâncias mais utilizados estão aqueles cuja composição
química é formada pelos “organofosforados”[2].
Análises feitas em abelhas em Itajaí/SC foram verificadas a presença desse
componente no seu organismo. Outro exemplo de contaminação ocorreu na cidade de
Gavião Peixoto, interior de São Paulo, onde foi presenciada grande mortandade
de abelhas. Após análises feitas constatou que as mesmas apresentavam no seu
organismo partículas de Fibronil, inseticida utilizado nos canaviais da região.
Em relação às abelhas, esse inseto está
no planeta há mais de sessenta milhões de anos no qual desenvolveu um sistema mutualista
perfeito com os vegetais. São ou eram 40 mil espécies conhecidas no mundo,
somente no Brasil esse número chegava a três mil. Das 250 mil variedades de
plantas conhecidas e que produzem flores, 90% delas depende dos insetos para a
polinização, sendo as abelhas uma das principais responsáveis pela dispersão do
pólen. Porém, nos últimos anos em decorrência do crescimento do uso de veneno
na agricultura, vem se registrando o desaparecimento de milhares de colméias
especialmente nos países onde a aplicação de inseticidas e outras substâncias
tóxicas têm sido maior como nos Estados Unidos, alguns países europeus e o
próprio Brasil.
Diante desse fenômeno, a EFSA, agência
regula a comercialização de agrotóxicos européia, exigiu que fosse submetido a
exames três inseticidas da classe dos neonicotinoides[3]
produzidos pela Bayer. A entidade reguladora alega que estaria na aplicação desse
inseticida uma das possíveis causas pelo desaparecimento das abelhas. Como tentativa
de resolver o problema, países como Itália, França, Alemanha e Eslovênia
proibiram o comércio dessa substância na agricultura. As empresas tentam
derrubar a resolução alegando que o produto não é a causa do desaparecimento. No
entanto há registros na literatura mundial de 18 casos relatados de mortandade
de abelhas em decorrência dos neonicotinoides. Além da contaminação se dar sob
a forma indireta, ou seja, mediante pulverização, outro processo que já está se
tornado corriqueiro é a comercialização de sementes com veneno, que ao
germinarem introduzirão no DNA das plantas partículas tóxicas que se acumularão
no pólen das plantas.
O problema da fiscalização acerca do
comércio dos agrotóxicos no Brasil é imenso, situação essa constatada quando da
análise feita em alimentos onde foi verificada a presença de partículas do
agrotóxico “Metamidofós”[4].
O estranho é que tal produto foi proibido na China junto com outros cinco produtos
em 2007. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) confirmou que
depois da sua proibição houve aumento de importação do mesmo em 2008, cujos
gastos para sua aquisição superaram os 15 milhões de dólares.
Outro ingrediente ativo para vários
inseticidas, herbicidas e acaricidas, o “Endossulfam”, considerado muito
perigoso, o governo brasileiro proibiu sua importação a partir de 2011. No
entanto, mesmo proibido, sua fabricação continuou até 2012, porém, mesmo após
essa data, a comercialização foi mantida, cujo prazo espirará em 31 de julho de
2013. Portanto tal ingrediente continua fazendo parte dos agrotóxicos
utilizados na agricultura brasileira. O que assusta em relação ao Endossulfam é
que partículas desse ingrediente em contato com o organismo humano alteram o
sistema imunológico provocando doenças degenerativas como o câncer e lesões no
fígado, rins e testículos, reduzindo a fertilidade. Com relação ao Endossulfam[5],
em Petrolina e Juazeiro, municípios do estado pernambucano, cuja economia da
região está baseada na fruticultura de irrigação, duas marcas de agrotóxicos com
base ativa o Endossulfam, estavam entre os mais vendidos.
Como não bastava o envenenamento
involuntário da população pelas empresas que controlam o comércio de agrotóxicos,
essas mesmas multinacionais jogam toda responsabilidade pela coleta e
reciclagem das embalagens para o município ou para os próprios agricultores,
que são forçados a promoverem campanhas de tríplice lavagem dos equipamentos e
das embalagens dos agrotóxicos. No manuseio dos equipamentos e dos frascos o
agricultor corre novamente o risco de sofrer nova contaminação, como também a
contaminação dos mananciais.
A região centro oeste do Brasil onde
estão concentradas as nascentes dos principais rios que alimentam o Amazonas e
a Bacia do Rio da Prata sofre com o processo de contaminação proveniente da
expansão da fronteira agrícola. Dentre as dezenas de substâncias tóxicas
aplicadas na agricultura de milho, algodão, cana-de-açúcar, o DDT faz parte do
pacote, produto esse banido no Brasil desde 1985.
Prof. Jairo Cezar
[1]
É um herbicida sistêmico não seletivo e
desenvolvido para matar ervas, principalmente perenes. É o ingrediente
principal do Roundup, herbicida da Monsanto.
[2] São compostos orgânicos que contém fósforo como parte da molécula. Eles são
amplamente utilizados em agropecuária como inseticidas, herbicidas e reguladores do crescimento das
plantas, na guerra química e como agentes terapêuticos1 .
[3]
Em março de 2013, a American Bird Conservancy publicou uma revisão de 200 estudos sobre os
neonicotinoides, incluindo a pesquisa da indústria obtida através do Freedom of Information Act, pedindo uma proibição do uso de neonicotinoides
para tratamento de sementes devido à sua toxicidade para as aves, invertebrados
aquáticos, e outros animais selvagens. Também
em março de 2013, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos foi processada por uma coalizão de defensores de apicultores, conservacionistas e agricultores sustentáveis que acusou a agência de realizar as avaliações
inadequadas de toxicidade e permitindo que os registros de pesticidas se
baseiem em insuficientes estudos da indústria.
[4] É um inseticida utilizado nas culturas do amendoim,
tabaco, pimenta e trigo. O seu uso tem sido discutido porque se suspeita ser a
causa da morte de trabalhadores rurais por hemorragias.
[5]
É um inseticida e acaricida. Este sólido incolor
emergiu como um agrotóxico, altamente controverso, devido à sua grande
toxicidade, ao seu potencial de biocumulação e também por interrupção endócrina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário