Governo de coalizão a serviço do grande
capital
Era consenso até entre os mais céticos
que a ascensão de um governo oriundo das camadas populares colocaria em prática
as políticas na qual desencadearia as rupturas de um sistema perverso que
durante séculos foi alimentado pelo sangue e suor da classe trabalhadora. Poucos
meses depois de assumir o comando do Brasil, surgiram os primeiros sinais de
que tal ruptura dificilmente ocorreria, pois o governo do partido dos
trabalhadores decidiu trilhar outro caminho, o da governabilidade conservadora,
através de uma coalizão política envolvendo partidos de centro e de direita.
Qual a explicação por tal guinada se era
consenso entre os históricos do partido de que, assumindo o poder, a primeira
medida a ser tomada seria mobilizar a sociedade em uma espécie de mutirão
popular para promover as primeiras rupturas. O primeiro enfrentamento seria com
os latifundiários mediante uma profunda reforma agrária cuja proposta seria a
desapropriação de áreas improdutivas e distribuída aos trabalhadores do campo, uma
luta antiga coordenada pelo MST(Movimento dos Sem Terra). Outra medida ousada seria a tributária
financeira, ou seja, taxar as grandes fortunas.
Porém, nada disso aconteceu. O que se
seguiu foi um programa de governo de caráter estritamente conservador
sustentado por políticas de controle inflacionário balizada por taxas de juros
elevadas. Não há como negar que as políticas públicas de distribuição de renda
às populações carentes foram essenciais para tirar milhares de brasileiros da
condição de miserabilidade. No entanto, o sistema capitalista, paradoxalmente, sua
sustentação depende da existência desse exército de reserva do capital, cujos
benefícios recebidos lhes garantem acesso a certos bens produzidos, muito dos
quais supérfluos, porém, mantém a dinâmica do mercado em funcionamento.
Estaria, portanto, nas políticas assistencialistas de distribuição de renda às
populações carentes um instrumento bem articulado pelo partido dos
trabalhadores visando preparar essa mesma sociedade para uma nova guinada num
futuro próximo que colocaria em xeque as bases do sistema atual de produção, ou
seria mais um instrumento a serviço do capital?
Ficaremos com a segunda opção, porque
não há nessas políticas apresentadas nada que possa garantir que ambas são
apenas provisórias e que cujos fins são oportunizar as camadas pobres da
sociedade para que compreendam que sua condição de miséria não será resolvida
apenas com migalhas assistencialistas. É
com tal apoio aos excluídos e o controle das lideranças das principais
entidades sindicais, que vem garantindo a governabilidade e o fortalecimento do
projeto político conservador iniciado por Lula e dado seguimento por Dilma.
A ideia de que o Brasil está blindado às
crises que se sucedem na Europa, muito difundido pela atual equipe econômica, é
vista com desconfiança por parte da sociedade brasileira. O que é verdadeiro é
quanto aos instrumentos adotados pelo governo para garantir essa pseudo
estabilidade, baseada em políticas de elevação do consumo de bens duráveis e
crédito fácil. Enquanto a China continuar mantendo o crescimento do PIB em
cifras próximas a 10% ao ano, o Brasil, teoricamente, manterá sua estabilidade
econômica, graças as exportadores de commodities agrícolas e minerais cujo
principal consumido é a própria China. A legitimação do agronegócio/agrotóxicos,
como um dos pilares da economia brasileira, obriga o governo federal a promover
concessões como a garantia da reforma do código florestal que anistiou os
criminosos ambientais e que teve a frente do processo a bancada ruralista no
congresso representada pela senadora Kátia Abreu e o senador Blario Maggi. Não
há de se espantar que seja muito confortável para o agronegócio ter na
presidência da comissão do meio ambiente do senado senador Blario Maggi considerado
o maior produtor de soja do planeta.
Outro aspecto difundido pelo atual
governo é de que com estas políticas o poder de compra da população melhorou, dissimulando
uma falsa sensação de ascensão social. É indiscutível que no conjunto desse
pacote de estímulo ao crescimento econômico, nada sustentável, está implícito
toda uma ideologia da classe dominante na qual busca difundir valores culturais
individualistas e conservadores. A intenção é direcionar o imaginário da
população menos esclarecida levando a acreditar que é através do trabalho, do esforço,
do sacrifício, da competição, é possível ascender socialmente. Valores como
solidariedade, cooperação e trabalho mútuo cada vez mais são vistos como
sinônimos de atraso, coisas de “comunistas frustrados”. Não há como negar que
uma democracia só se constituirá como tal quando ocorrer processos eleitorais
transparentes, com a participação consciente da população elegendo representantes
verdadeiramente comprometidos com os problemas que assolam expressiva parcela
da sociedade. Porém, tal utopia continua ainda distante da realidade brasileira.
A corrupção, a troca de favores o clientelismo
são ainda práticas corriqueiras herdadas das administrações passadas e
possivelmente terão vida longa se não houver mobilizações da sociedade exigindo
do poder judiciário a punição sumária de todos que de uma forma ou de outra
cometeram crimes contra o poder público e, em especial, os políticos e partidos
envolvidos em esquemas de desvio de recursos públicos. Um exemplo para elucidar
essa patifaria foi a descoberta do maior esquema de corrupção no congresso,
batizada de mensalão, que envolveu dezenas de políticos, muitos dos quais
ligados ao partido dos trabalhadores. Não significa que no passado práticas
como essas não ocorriam. Ocorriam sim, porém, sempre foram acobertadas graças às
manobras bem sucedidas dos partidos hegemônicos da base governista. Além do
mais, desfrutavam de todas as benesses oferecidas pelo cargo ocupado como
também livres de possíveis denúncias ou processos, pela simples razão da
inexistência de oposição política e pela postura de parcialidade assumida pelo
judiciário.
A sensação que se tem hoje, quando,
diariamente, os órgãos de comunicações ocupam seus espaços para denunciar irregularidades
cometidas com dinheiro público, é de que a sociedade brasileira ainda não adquiriu
maturidade política, pois continua elegendo políticos corruptos e, o que é
pior, agem também de forma corrupta quando trocam seus votos por algum
benefício. Parte dessa gama de partidos e políticos fisiológicos, sem projetos,
programas ou ideologias atualmente fazem parte da base de sustentação do
governo, que lhes dá garantia, entre outras coisas, a liberação de emendas públicas
na qual estabelece uma relação de dependência entre o parlamentar e suas bases
políticas regionais.
A ocupação de cargos de destaques no
governo como algum ministério são também espaços concorridos pelos partidos de
coalizão. Sem contar os postos de presidentes das duas casas do legislativo
como também as das comissões, dentre elas a dos direitos humanos e minorias da
câmara dos deputados, cuja vaga foi ocupada por um deputado sem expressão ao
posto e que nas últimas foi alvo de denúncias por parte de organizações de
movimentos minoritários que o acusaram de intolerância a temas como
homossexualismo, casamento entre indivíduos do mesmo sexo, entre outras
acusações. A ideia de constituir um
sistema de governo de coalizão vem se tornando prática comum nas administrações
petistas em todo Brasil. Embora as disputas para os cargos do executivo e
legislativo tanto em âmbito federal e municipal tenham colocando em palanques
opostos partidos e candidatos, nas câmaras federais e municipais essas
diferenças desapareceram mediante a criação do suprapartidarismo que da garantia
de governabilidade e a efetivação do projeto desenvolvimentista conservador que
está em andamento.
Prof. Jairo Cezar
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