AGROECOLOGIA
NÃO É POP, MAS É QUASE TUDO, É O QUE GARANTE A SOBREVIVÊNCIA DO PLANETA
https://fld.com.br/todas/2021/agroecologiacaminho/
Há
poucos dias um jornal de circulação regional trouxe a seguinte manchete de capa,
destacada com letras em negrito: Agronegócio
forte e em crescimento põe o Sul catarinense em destaque. Até ai nada a
contestar, porém, o que causou certo desconforto foi o fato de que acima da
manchete estar destacado, em tamanho ampliado, a imagem de um produtor agroecológico,
reconhecido como um sistema produtivo oposto ao modelo convencional, destacado
no jornal.
A
crítica se faz pelo fato não se poder colocar no mesmo cenário agronegócio e
agroecologia, pois ambos são movidos por princípios e metodologias distintas,
ou seja, enquanto o primeiro o foco é o mercado, o lucro, o segundo, preza pela
ressignificação da relação entre sujeitos e tudo que compõe o ambiente natural,
o solo, a biótica, as plantas, os elementos místicos, etc.
É
importante aqui destacar que a região sul de Santa Catarina vem se destacando
no estado como um dos principais polos na agroecologia, e pouca gente sabe
disso. Atualmente são cerca cinco mil famílias, que somam mais ou mesmo quinze
mil pessoas que sobrevivem diretamente dessa atividade autossustentável. São
famílias que cultivam uma diversidade de produtos, comercializados em
supermercados e feiras da região. Muitos dos legumes, verduras e frutas que
alimentam as crianças e adolescentes das creches e escolas da região sul são
advindas desses produtores.
Do
mesmo modo que os produtores convencionais se utilizam das cooperativas para
comercializar o que plantam, a agroecologia também tem as suas. E importante
destacar que para ser considerado um produtor agroecológico é necessário
cumprir requisitos obrigatórios, que geralmente um longo tempo de transição até
estar qualificado e certificação. No sul do Brasil a Rede ECOVIDA é a entidade
responsável pela gestão das famílias envolvidas nesse modelo alternativo de
produção. A diferença é que o processo de gestão da mesma é participativo, ou
seja, cada membro que integra o grupo ou núcleo de produtores é corresponsável
por si e pelos demais. Há, portanto, uma relação de confiabilidade intrínseca entre
ambos, pois qualquer um que venha infringir as regras comprometerá a complexa
rede.
Infelizmente
para se alcançar o difícil grau de produtor agroecológico existe inúmeras
barreiras a serem enfrentadas, muitas das quais impostas pelo próprio sistema
convencional que adotam sementes transgênicas, insumos químicos, agrotóxicos, monopolizados
por poderosas corporações transnacionais. Se observarmos o programa do atual
governo estadual para essa área, vamos notar um enorme apagão, dando a entender
à população que esse sistema é inexistente. Mas não é, é bem relevante e cuja
existência e permanência se devem a perseverança dessas aguerridas famílias e
de um segmento importante de técnicos da EPAGRI, que quase se despem do seu
vínculo estatal em prol da causa agroecológica.
Quando
alguém vai à feira de produtores familiares ou no próprio supermercado e compra
frutas, legumes, hortaliças em embalagens com a estampa da rede ECOVIDA deve
saber que aquele produto passou por um rigoroso controle de inspeção. Falo isso
porque me incluo nessa rede há três anos, porém ainda não certificado por estar
no processo de transição. Uma das grandes dificuldades enfrentadas por quem
atua nesse segmento não convencional são os riscos de contaminação pela deriva
de agrotóxicos e transgênicos. Frente a isso os produtores concentram muito
tempo e esforço criando barreiras naturais para evitar o contágio com espécies
convencionais.
Pense,
qualquer vestígio de contaminação num produto comercializado como
agroecológico, o produtor é penalizado com a perda da certificação, sendo que
toda a rede é impactada. Isso não acontece com culturas convencionais. Ninguém
vai questionar se o milho, feijão, arroz, hortaliças, comprado no mercado, se
tem ou não resíduos de agrotóxicos. É injusto o agricultor que preza pela
qualidade do alimento, pela proteção dos solos, florestas, água, animais, ter
que se dispor a erguer barreiras para que o vizinho não contamine seu sítio,
chácara. É exatamente isso o que acontece atualmente.
O
importante aqui é que todas as demandas e dificuldades envolvendo a agroecologia
e produção orgânica são discutidas nos pequenos grupos de produtores, que por
sua vez são levadas aos núcleos. No último dia 03 de outubro o município de Maracajá/SC
recebeu membros do núcleo agroecológico SerraMar, cuja área de extensão vai de Garopaba
a Içara, composto por aproximadamente cinquenta famílias. Portanto, de
Florianópolis a Passo de Torres, no extremo sul do estado, existe três núcleos
organizados e dezenas de grupos totalizando mais ou menos cinco mil famílias.
Perceberam
a complexidade desse segmento econômico na região, que de hipótese alguma pode
ser confundido com o sistema produtivo convencional, primado na lógica do
mercado. Surpreende o fato de, no Maracajá, se o encontro fosse para reunir
produtores der matriz convencional, arroz, fumo, milho, soja, etc, não há
dúvida que as mídias locais estariam lá dando o máximo de cobertura, não é
mesmo? Já que o assunto é agroecologia, que confronta com o agro, que diz ser
tudo, o que se faz é silenciar, como se não existisse de fato.
O
que se vislumbra no horizonte é um cenário um tanto otimista para quem se
dedica a essa atividade. No dia 28 de junho de 2023, o presidente Lula reeditou
o decreto 7.798/2012, que regulamente a Política Nacional de Agroecologia e
Produção Orgânica (PNAPO). A ideia é construir uma política nacional para esse
setor visando o desenvolvimento sustentável, bem como melhorar a qualidade de
vida da população. É bom que se diga que esse plano foi completamente apagado
no governo anterior. Representantes da sociedade civil e do governo vão se
reunir para a elaboração ou revisão do plano para a sua aplicabilidade a partir
de 2024, com duração de três anos, ou seja, até 2027.
Prof.
Jairo Cesa
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