PARA ENTENDER A COMPLEXIDADE GEOPOLÍTICA DO
ORIENTE MÉDIO E OS DESDOBRAMENTOS ATUAIS
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/10/08/israel-hamas-conflito-faixa-de-gaza-segundo-dia.ghtml
Não
é de hoje que as poderosas mídias coorporativas se utilizam com primazia das
informações, fatos, recortando-as e
reproduzindo-as segundo interesses de quem os financia, o grande capital. A
ação ocorrida em Israel no último sábado quando centenas de mísseis foram
disparados da Faixa de Gaza contra o seu território, além de ataques por terra e mar, ambos
reivindicados pelo grupo político Hamas,
a imprensa ocidental mais uma vez se encarregou de construir um discurso maniqueísta,
transformando Israel em mocinho, e a Palestina
no bandido.
Claro
que se formos ouvir a opinião das pessoas leigas acerca do ocorrido, sem dúvida
haverá um consenso, a condenação sumária do Hamas, por considerá-lo “terrorista”,
e a canonização de Israel por ter sido agredido, digamos, de “surpresa”. É
obvio que ninguém aqui está querendo defender as ações dos militantes
Palestinos pelas dezenas, centena de mortes de civis israelenses durante as
investidas dos militantes do Hamas. É inadmissível aceitar as mortes brutais de
civis inocentes como de fato aconteceu. É preciso investigação e que os
culpados, independente de quem o tenha cometido, seja punido com veracidade.
Após
o ocorrido em Israel comecei a acompanhar os noticiários dos principais jornais,
telejornais, sites, internacionais e
nacionais. O inacreditável é que todos, sem exceção, apresentam narrativas defendendo
do estado israelense e a condenação sumaria da Palestina/Hamas. O que mais se
escreveu e se noticiou foi de ter havido um ataque terrorista de surpresa
contra civis israelenses. Os mais atentos devem
saber que o território palestino é atacado todos os dias, principalmente
a faixa de gaza, cercada e vigiada vinte quatro horas por forças israelenses. O
pequeno território do tamanho de Araranguá/Distrito Federal é uma grande prisão
a céu aberto.
Lembro-me
de que quanto estive em Israel/Palestina em 2014, em visita a cidade de Jericó, toda murada, guaritas com
soldados israelenses fortemente armadas,
diariamente cidadãos/ãs palestinos/as são forçados/as a apresentarem documentos
de identificação para entrar e sair do território. Essas revistas diárias também acontece em Jerusalém
antiga, a caminho das Esplanadas das Mesquitas, um dos locais sagrados dos
muçulmanos. Nesse lugar está a AL ALQSA, considerada a terceira mesquita mais
importante do islamismo. Nessa ocasião toda a região estava sob forte tensão,
pois a Faixa de Gaza havia sido fortemente bombardeada pelo exército
insraelense há poucos meses.
Para
se ter ideia da importância desse local sagrado, para os muçulmanos a presença
de qualquer autoridade ou força militar israelense nas esplanadas é
interpretado como ato de profanação. Eu mesmo
presenciei na época mulheres muçulmanas repudiando autoridades israelenses que
transitavam pelas imediações das mesquitas. Raros foram os órgãos noticiosos
ocidentais de terem abordado em seus telejornais e colunas escritas que há pouco
tempo a mesquita de AL ALQSA vinha sendo alvo de profanação, além é claro o
aumento da violência contra cidadãos palestinos. Somente esse ano foi registrado quase 150
cidadãos palestinos mortos ou por forças militares ou em ataques de judeus
extremistas.
Acordos no passado haviam sido assinados entre
representantes de ambos os territórios para que fosse respeitadas as fronteiras. Acontece
que Israel com sua determinação de
querer criar um estado único vem
incentivado colonos judeus a expandirem suas áreas sobre os territórios
palestinos. Muitos críticos interpretam as ações dos colonos sobre possessões
palestinas como verdadeiros ataques deliberados.
Embora
não vistos como atos violentos, todos os dias os palestinos estão sendo violados,
negligenciados pelas potencias ocidentais, se mantendo indiferentes às
atrocidades cometidas pelos governos
extremistas de Israel. Outra expressão bastante divulgada pela impressa
ocidental nesses últimos dias foi a seguinte: “comunidade internacional condena os ataques terroristas do regime do
Hamas a Israel”. Chegaram ao extremo de comparar o 8 de outubro, data da
ação do Hamas, ao 11 de setembro, quando houve os ataques ao world traid Center
em Nova York por militantes da AL QAIDA.
Também
na época dos ataques as Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, a imprensa
internacional, pró ocidente, jamais
ousou em explicitar toda a complexidade geopolítica do oriente média, as
incursões dos Estados Unidos e de seus aliados no Iraque, Afeganistão, Kuwait,
usando como justificativa a libertação desses territórios de regimes
autoritários. Na realidade o objetivo das ações era remover todos os obstáculos
para ter acesso as fontes de petróleo. Todos devem se lembrar do Iraque, quando
ocupado pelos americanos, cuja desculpa pela incursão era a remoção do cargo e prisão de Saddan Rosseain por estar escondendo um grande suprimento de armas químicas, porém, jamais encontradas.
Claro
que não há outra solução para o problema na região que não seja o
reconhecimento do território palestino e o estado judeu, e que ambos possam
viver em paz. Porém há problemas entre ambos os lados. Israel que desconhece a
legitimidade dos palestinos sobre suas terras, e do lado Palestino, que sofreu
uma fratura política entre dois grupos, o Fathar, grupo mais moderado que
controla a Cisjordânia, e o Hamas, agrupamento político mais exaltado que tem
jurisdição política sobre a faixa de gaza. Porém nem um nem outro tem consenso
majoritário entre os palestinos, que divergem de suas estratégias em relação ao
que pensam e defendem sobre os territórios.
É
possível que com o recrudescimento do conflito, ambas os grupos se aproximem
construindo planos conjuntos de ações de resistência. Na hipótese de sucesso de
aproximação e na ocorrência de uma
possível ocupação militar israelense na faixa de gaza, a região poderá se
transformar em um Vietnã, durante a sua ocupação pelos Estados Unidos. Estou me referindo aqui o domínio americano
desse território do sudeste asiático entre 1965 a 1975, cuja intenção era derrotar
forças vietcongues e impor um governo pró ocidente de base capitalista.
O
que não imaginavam os americanos era de o Vietnã do norte impor uma resistência
brutal contras as forças invasoras, que resultou em uma retirada vaxaminosa dos soldados e da população civil, permitindo
assim a unificação definitiva do território. É possível que a Palestina passe
por situação semelhante. Lembre-se que os Estados Unidos eram considerados uma
das maiores potências militares da época, assim mesmo foram derrotadas pelas
práticas de guerrilhas adotadas pelos
vietcongues. A construção de centenas de km de túneis e o forte conhecimento
do território foram um dos motivos da derrota dos invasores.
É
possível que na Faixa de Gaza ocorra o mesmo, em uma possível ocupação pelo exército
israelense. Talvez pouco ajudará toda a tecnologia disponível à habilidade e
astúcia das forças rebeldes e da resistência dos civis nos labirintos e ruas
estreitas do pequeno território. Vivendo o cotidiano de Israel e territórios
palestinos ocupados, se sabe que os israelenses vem impondo a 75 anos verdadeiro apartheid aos cidadãos palestinos,
visto como sendo mais repressivos que o da África do Sul, por quase cinqüenta
anos. Há restrições até de palestinos transitarem em estradas consideradas
exclusivas para cidadãos judeus. Outro caso gritante, se uma criança ou
adolescente atirar pedras em soldados ou cidadãos israelenses o mesmo será
julgado por uma corte militar. Agora se a ação for de uma criança ou
adolescente judaica, o julgamento será
realizado por uma corte de civis.
Insisto
em reafirmar, tudo que acontece na região do oriente médio não se dá de forma
isolada, sempre tem atores esternos envolvidos,
Estados Unidos, União Europeia, Rússia, China, Irã, Arábia Saudita, Turquia,
entre outros. O cenário atual, no entanto, é um pouco mais complexo, pois
Israel conseguiu construir relações de aproximações diplomáticas com nações
árabes historicamente aliados e defensores da causa palestina. Emirados Árabes
Unidos foi o primeiro a reatar relações com o país judeu. Também foram reatadas
relações com o Marrocos, Sudão e tratativas em curso com Arábia Saudita, que poderá
melar com a incursão israelense em gaza.
Esses
acordos e reativações diplomáticas têm uma explicação bem clara, enfraquecer
ainda mais o projeto de estado palestino. Algo novo surge no cenário do oriente
médio ultimamente, que é a presença da china mais ativa na mediação de
conflitos. Claro que o que está por trás disso é todo um jogo de cena com
propósito de impulsionar ainda mais seu poder comercial na região através das
novas rotas comerciais batizadas de Rotas da Seda. Algo que seria inimaginável
até algum tempo, tornou-se possível com a intersecção da China, que foi a
reaproximação diplomática entre o Irã e a Arábia Saudita. O governo chinês também há pouco tempo
recebeu a visita do representante da autoridade Palestina, cuja discussão foi
buscar soluções negociáveis à questão palestina. Quem
sabe agora com esse novo ator no cenário teremos novos desdobramentos na
redução das tensões e conflitos nessa região.
Claro
que não e exatamente essa a intenção do atual premiê israelense, que demonstra
explicitamente sua intenção de varrer os palestinos da região. A
Assembleia Geral da ONU, do dia 22 de
setembro último, cujo presidente Lula fez a abertura, o primeiro ministro
reafirmou essa intenção. Durante o seu discurso mostrou um mapa do oriente
médio onde não aparecia o território
palestino. As mídias corporativas ocidentais não fizeram qualquer menção
ou critica ao ocorrido. Essa postura escancara sua posição de manutenção do
apartheid contra o povo palestino, além de cometer vários crimes, como a
violação da carta da ONU que reconhece o território palestino, bem como o
acordo de OSLO, em 1993, onde foi acordada, entre outras proposições, a
retirada de forças israelenses da faixa de gaza.
Prof.
Jairo Cesa
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