FRAGMENTOS DOS DESDOBRAMENTOS DOS CONFLITOS ENVOLVENDO ISRAELENSES E PALESTINOS - TEXTO ESCRITO EM 2015
No entanto, o quadro de instabilidade
política e social que se instalou tanto dentro como fora das fronteiras do
território israelense deve ser analisado considerando a importância
geopolítica, que desde o século XIX, é palco de ocupações e disputas, patrocinadas
por grandes potências interessadas principalmente nas grandes reservas de
petróleo da região. Além dos episódios que marcaram o final do século XX como
as guerras do golfo, Iraque e Afeganistão, o século XXI, a região continuou
sobre forte tensão social, entrando no circuito dessa vez, países como a Síria,
que vive forte convulsão social, e Israel, que sob o guarda chuva protetor dos
EUA continua com sua política de ocupação e extermínio dos palestinos que
habitam a faixa de gaza.
O problema na faixa de gaza como nas
demais cidades que juntas constituem o território palestino, os conflitos que
vem se seguindo datam da segunda metade do século XIX quando os judeus
espalhados pela Europa e Rússia, devido às políticas antissemitas, passaram a
ocupar Israel constituindo colônias agrícolas. Antes da criação do Estado Judeu
em 1947, a região esteve sob o domínio do império Otomano e britânico, isso
proporcionou uma maior ou menor leva de emigrantes judeus para a região. Na
época dos otomanos, território governado pelos palestinos, dos 3.177 milhões
que lá chegaram apenas 60 mil foi para palestina. Realidade essa que em nada se
compara à época do domínio britânico, dos 1.750 milhão que emigraram 487 mil se
deslocou para palestina.
Com o fim do domínio britânico da
região e com o holocausto do pós-guerra, a ONU intercedeu na região tomando
partido na partilha do território, fundando o estado judeu, sem consultar a
população árabe. O modo como foi dividido o território em nada agradou os
palestinos que ali habitavam há séculos. A partilha favoreceu escancaradamente
os judeus, com uma população muito menor que a palestina. As tensões entre os
dois povos a cada dia ficavam mais violentas, cujo resultado foi a guerra dos
seis dias quando Israel incorpora ao território a península do Sinai, faixa de
gaza, a Cisjordânia e as colinas de Golã, que pertenciam a Síria.
Diante dessa situação vexaminosa para
os palestinos, surgem movimentos tanto dentro como fora de Israel em defesa da
criação do estado palestino. Dentre o mais importante foi o FATAH, partido
criado pelo líder Yasser Arafat que defendia luta armada contra os israelenses.
Em 1964, surgiu a OLP (Organização de Libertação da Palestina). Os impasses e
as tentativas de negociações não avançavam. A situação ficou ainda pior, quando
em 1982 milicianos cristãos invadiram campos de refugiados de Sabra e Chatila,
matando cerca de dois mil pessoas. Segundo informações confirmadas na época, o
responsável pela abertura dos campos de refugiado for Ariel Sharon, que se
tornaria mais tarde primeiro ministro de israel.
Durante a década de 1990, as
negociações que rumavam para um possível acordo de criação de um estado
palestino, chancelado pelo presidente Ytzhak Rabin, voltaram a estaca zero
quando um extremista ultradireitista judeu assassina Rabin. As revoltas de
palestinos se estendem por toda parte, porém, por não possuir armamentos
capazes de combater em pé de igualdade com o exército israelense, como
alternativa utilizam pedras atirando-as contra os solados. Esse levante foi
batizado de Intifada, sendo a primeira ocorrida em 1987.
Na época quando vinha se discutindo a
possibilidade da criação de um estado palestino, na verdade, tudo não passou de
um simples jogo de cena criado pelos israelenses para continuar promovendo os
assentamentos. Jamais foram colocadas em prática acordos como a retirada de
assentados de áreas palestinas. O que aconteceu e vem acontecendo é o aperto do
cerco, com o bloqueio das estradas e a construção de enormes muros mantendo os
palestinos confinados como na faixa de gaza, uma área de aproximadamente 400 km
quadrados, onde cerca de dois milhões de pessoas vivem em condições subumanas.
Durante quase um mês a região foi alvo de ataques aéreos israelenses, matando
cerca de duas mil pessoas, na maioria crianças, cujo objetivo de destruir
lideranças pertencentes ao grupo armado Hamas, pró-estado palestino
independente.
A Síria é também outro país que como
Israel sempre esteve envolto em disputas internas ou de potencias econômicas. A
partir do início do século XX quando o império otomano perdeu sua hegemonia
sobre a região, a chancela de divisão dos territórios antes dominados ficou
entre Inglaterra e França. A França passou a tutelar a Síria e o Líbano
desconsiderando aspectos importantes desses dois países como suas histórias e
culturas. Em 1946, finalmente a Síria conquista sua independência, porém,
continuou envolvida em guerras contra seus vizinhos, pois sua intenção era
conquistar a supremacia da região, num momento que a região estava sendo alvo
de influência das duas superpotências EUA e URSS interessadas nas grandes
reservas de petróleo da região.
As tensões aumentaram ainda mais quando
na guerra dos sete dias Israel anexa ao seu território as colinas de Golã. No
entanto tais ofensivas israelenses na região eram respaldadas pelos EUA, que
naquele momento mantinham uma política de amizade com o Irã. Com a revolução
cultural iraniana, e a deposição do governo pró-EUA, o tabuleiro geopolítico da
região muda completamente, a Síria passa a receber apoio dos países que se
opõem aos EUA - pró-Israel, como Rússia, Irã, e hoje, a própria China.
Em 1963 o partido Baath de tendência
socialista conquista o poder na Síria contribuindo ainda mais para uma
aproximação com os soviéticos. Oito anos depois da criação do partido, o poder
político na Síria é conquistado por Hafez Al Hassad, pai do atual presidente
Bashar Al Hassad. O governo de Hafez já começou conturbado quando instalou um
governo cujos postos administrativos passou a ser controlados por representantes
da minoria Xiita, 10% da população Síria. Além da aproximação com o Irã,
procurou estreitar os laços políticos com o Hezbollah, grupo armado do sul do
Líbano, que faz oposição a Israel. A partir de 2001, com os atentados das
Torres Gêmeas, o panorama geopolítico do oriente médio muda radicalmente. Os
EUA lançam uma ofensiva contra os países ditos pertencentes ao eixo do mal,
ficando de fora a Síria.
Com a primavera árabe que alterou os
regimes de países como Tunísia, Egito, entre outros, a esperança agora das
potências era fazer com que a revolução atingisse outras monarquias como a da
Síria, acreditando que com a queda de Bashar Al Assad, poderia enfraquecer o
regime iraniano, mantendo-o isolado. A tentativa de derrubar Al Assad do
poder se manteve mediante disponibilização de recursos e armamentos para as
milícias contrárias ao governo que vem se defrontando com as forças do governo.
Uma possível intervenção armada na
Síria já foi descartada com o veto da Rússia e da China no conselho de
segurança da ONU. A própria China vem se eximindo de lançar apoio aos
movimentos contras às monarquias, pois pode incitar reações da população chinesa
contra o próprio regime. Atacar militarmente a Síria, como se pretende, poderá
resultar no apoio iraniano, russo e Chinês à AL Assad, bem como expandir o
conflito para a Turquia e Israel contando com o apoio do Hezbollah.
Prof. Jairo Cesa
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