DIA
DO PROFESSOR, DATA PARA REFLETIR O QUAO DESPRESTIGIADA É PELAS AUTORIDADES ESSA PROFISSÃO
As
demonstrações de carinho e gratidão dedicadas aos professores no dia 15 de
outubro geralmente se limitam a essa data, pois os demais 364 dias são agruras,
são batalhas para exercer o digno trabalho em ambientes tão desprovidos de infraestruturas
mínimas ao satisfatório exercício da profissão. Hoje, dia quinze, bem como todas as metades de
cada mês, com raras exceções, muitos dos trabalhadores em educação já estão desesperados,
pensando como chegar ao final do mês, administrando os poucos reais que ainda
restam do minguado salário recebido.
Se
fosse fazer uma pesquisa mais concisa dos profissionais que atuam na rede
pública do estado, se constataria que muitos estão com seus proventos
comprometidos por cinco, dez anos, decorrentes dos inúmeros empréstimos consignados
contraídos. É essa a realidade desses/as
que se dedicam parcela de tempo de suas vidas à ensinar, educar, tornar mais
críticos cidadãos, sendo que muitos, quando assumem cargos importantes de decisão,
como de governadores, secretários, deputados, etc, uma de suas primeiras atitudes
é criar dispositivos legais para ferrar o professor.
Vou
repetir mais uma vez, se os governos, assembleias legislativas municipais e
estadual, imprensa e uma infinidade de entidades, impusessem ao magistério a
mesma dedicação dada aos atos violentos em creches e escolas, claro que teríamos
uma das categorias mais bem pagas e satisfeitas do país. Também insisto em
repetir, não lembro nos meus quase quarenta anos de magistério público, tamanha
dedicação dada pelo Estado às universidades do sistema ACAFE e particulares,
transferindo polpudos recursos públicos para beneficiá-las. Então como comemorar
o 15 de outubro diante de tantos obstáculos, tantos ataques, como ao plano de
carreira, a lei do piso do magistério, ao PNE, aos aposentados, sequestrando todos
os meses 14% dos seus salários, entre outras adversidades.
Pensa
que acabou? Nada disso. Uma das últimas investidas do atual governo estadual foi
a assinatura de um decreto no qual define as diretrizes do processo de gestão
das escolas. Todos sabem que o bom funcionamento de uma escola depende do seu
quadro administrativo, a começar pelo gestor/diretor. Atualmente nas escolas da
rede estadual de ensino é a comunidade escolar que escolhe por meio de voto o
diretor ou diretores. Esse mecanismo conhecido como gestão democrática pôs fim
a décadas de interferência político partidária nas escolas. Está no decreto que
só será empossado diretor se o mesmo obtiver 50% mais um dos votos de
estudantes, professores e pais. O problema, no entanto, não está exatamente ai,
está no dia escolhido para a votação, no domingo.
Já
que o processo eleitoral é voluntário, ou seja, vota se quiser, é claro que raríssimas
serão as escolas que terão quórum nesse dia. Quem acompanhou a eleição do
Conselho Tutela no último dia 1 de outubro, deve ter percebido o baixo numero
de eleitores que se predispuseram a sair de cada e votar. Teve municípios com
Criciúma, com uma população superior a duzentos mil habitantes, cujo numero de
votantes pouco superou os seis mil.
Sobre
a votação de diretores, o agravante é a intenção explícita do governo do estado
em acabar com a gestão democrática e abrir caminho para o retorno da
politicagem nas escolas estaduais. Milhares de estudantes catarinenses residem
longe das escolas, portanto, que dependem de ônibus para chegar até elas, sendo
que aos domingos esse serviço é totalmente indisponível.
Fora
todas as adversidades enfrentadas em suas duplas, triplas jornadas diárias, o
professor ainda consegue “tirar leite de pedra”, isso mesmo, de uma frágil estrutura
pedagógica supri os estudantes com informações e conhecimentos a ponto de
capacitá-los à obtenção de bons resultados avaliações como o ENEM. Isso sim deve
ser reverenciado, não apenas por votos de gratidão durante todo o dia quinze,
mas todos os dias do ano. Se cada pai de aluno, cada cidadão catarinense, todos
os dias, enchessem as redes sociais do governo do estado, dos deputados, com
manifestos de apoio aos professores e repúdios aos ataques contra direitos
adquiridos, certamente os votos de parabéns e gratidão nesse dia teriam outro
sentido.
Prof.
Jairo Cesa
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