COM EL NIÑO MAIS FORTE, ASSOCIADO AO AQUECIMENTO GLOBAL, OS CICLONES ESTÃO SE TORNANDO DEVASTADORES NO SUL DO BRASIL
https://blogdopedlowski.com/2023/09/12/saiba-por-que-o-sul-do-brasil-e-mais-suscetivel-a-ocorrencia-de-ciclones-extratropicais/
Em janeiro de 2022 escrevi e publiquei no meu
Blog texto com o seguinte título: A
TRAGÉDIA EM CAPITÓLIO, MG PODE ACONTECER NOS PAREDÕES DO MORRO DOS CONVENTOS,
ARARANGUÁ.[1]
Nesse intervalo de quase dois anos ocorreram sim episódios comparados ao de
minas gerais, porém, não exatamente no balneário, mas em regiões vizinhas, onde
chuvas torrenciais causaram transtornos, com custos milionários para a
reconstrução da infraestrutura. O que chamou a atenção dos meteorologistas foi
o fato de ter sido o município de Praia Grande/SC, um dos mais impactados pelos
ciclones extratopicais que se abateram sobre a região.[2]
Lembro que em 1995, na terrível catástrofe que
destruiu parte do município de Timbé do Sul/SC, que é vizinho de Praia
Grande/SC, em visita realizada à área assolada, acompanhado de integrantes da
Ong Sócios da Natureza e de pesquisadores da Europa e do Brasil, ambos foram
consensuais em afirmar que os municípios da encosta da serra estavam mais
suscetíveis aos efeitos das mudanças climáticas que estava em curso naquele
momento.
Veio o furacão Catarina dez anos depois da
catástrofe do Timbé do Sul, o primeiro do hemisfério sul com ventos que
superaram os 150 km. Esse episódio, sim,
abriu discussões mais consistentes e consensos de que o Brasil seria um dos
mais afetados pelas mudanças climáticas. Desde a década de 1980 o Brasil vem
protagonizando eventos importantes para tratar desse assunto o mais relevante
foi a ECO-92, no RJ. Um enorme pacote de promessas foi elencado, no entanto
teve pouca eficácia na mitigação dos impactos provocados pela atividade
econômica predatória que dominou e domina o cenário global.
Dessa data em diante ocorreram até o momento
cerca de trinta COP (Encontro das Partes sobre o Clima), evento promovido pela
ONU que reúne mais de uma centena de países para tratar medidas que possam
conter o aquecimento global. Incrível que depois de tantas reuniões,
assinaturas de protocolos de intenções de ambos os lados, com gastos
milionários, o planeta permaneceu aquecendo assustadoramente chegando em junho
de 2023 ter batido dois recordes de temperaturas médias mais quentes já
registradas.
A verdade é que o aquecimento global
influencia diretamente nas regiões polares aumento o derretimento e a elevação
dos níveis dos oceanos. Outro reflexo constatado é o aumento das temperaturas
das águas, servindo de combustíveis para a formação de furacões e ciclones
extratropicais devastadores, a exemplo dos ciclones bombas que passaram a virar
rotina no sul do Brasil. Não há como duvidar que o planeta esteja aquecendo e
que parte dessa transformação tem relação com o modo como o ser humano vem
agindo nele.
Ainda hoje muitos gestores públicos e demais
autoridades vem atuando contra ou até mesmo desdenhando pesquisas e relatórios
apresentados por pesquisadores do mundo inteiro que confirmam já estar o
planeta no seu nível máximo de saturação climática. O que aconteceu
recentemente no RS quando um forte ciclone provocou estragos e mortes, traz
algumas reflexões sobre atitudes negacionistas à ciência meteorológica, por
exemplo. Em qualquer parte do mundo, por exemplo, os Estados Unidos, a um sinal
da chegada de um furacão ou outro episódio extremo do clima, toda a população
rapidamente sabe o que fazer, fecham suas casas e procuram áreas mais seguras
para se protegerem.
Para atingir esse ponto de mobilização não há
duvida que governos e organizações científicas galgaram certa confiabilidade
junto à população. Bem diferente do que foi trabalhado nos quatro anos de
governo Bolsonaro, onde o que mais se fez foi atacar as universidades e demais
entidades cientificas, como se tudo que acontecesse no mundo fosse guiado por
forças sobrenaturais (“Deus acima de Tudo”). É preciso, urgentemente, tornar hábito
nas escolas discussões de temas como furacões, ciclones, tornados, tempestades,
precipitações, erosões, deslizamentos, etc. Trabalhar com estudantes, do nível
infantil ao médio, esses e outros assuntos relativos ao clima global e seus
impactos locais se mostram obrigatórios como caminhos para minimizar perdas
humanas no futuro.
Além do mais nos municípios os atuais e
futuros planos diretores devem constar proposições que doem relevância às ações
de contingenciamentos às intempéries extremas do tempo. Todos os projetos de
infraestrutura em especial os de interesse público deverão passar por crivos
rígidos de análises, considerando principalmente o aspecto mudança climática e
seus efeitos. O município de Araranguá, nos últimos dois anos vários projetos
de infraestrutura turística foram e estão sendo executado nos seu principal
balneário. Não se tem notícia de ter havido discussões no sentido climático.
Dentre os que chamam atenção está o mirante,
construído nas bordas da paleofalésia, extremidade sul, nas imediações do
farol. Por que chama atenção esse empreendimento? Antes da sua construção,
grupos de estudantes acompanhados de geólogo de uma universidade do RS
constataram a existência de fissuras em expansão abaixo da obra do mirante.
Para situações desse tipo é recomendado fazer estudos mais consistentes, como
de batimetria, onde se verificará as estruturas das rochas, se há ou não alguma
instabilidade. Não tenho informação se
tal ou outro estudo similar foi realizado para garantir toda a segurança
aqueles que transitam pela passarela do mirante.
Integrado ao projeto do mirante está a
revitalização da Rua Criciúma, com a construção da calçada. Dezenas de árvores
foram suprimidas em todo o trecho para dar lugar a o passeio. Para evitar que a
água da chuva se acumule sobre a estrada, inúmeras bocas de lobos foram
construídas com desague no paredão do morro. O que tem de grave nessas
estruturas em relação aos escoamentos de água? Para áreas urbanas, nem tanto,
mas em se tratando de borda de morro, como no balneário, os problemas são bem
graves.
Por se tratar de rochas sedimentares da
formação rio do rastro todo o paredão passa por processo de desgastes
permanentes. Quem já caminhou pelas trilhas na extensão da base da paleofalésia
deve ter observado a quantidade de fragmentos de rochas desprendidas das
paredes e depositadas no fundo. Há duas semanas fortes chuvas se abateram sobre
o balneário Morro dos Conventos e região. Nas proximidades da furna ocorreu um
forte desprendimento de terra, rocha e vegetação, que se depositou sobre o lago
ali existente. Poderia ter sido o acontecimento normal haja vista ser o local
propício para tal acontecimento.
Foto - Jairo
Na visão de geógrafos, geólogos ou profissionais
de áreas afins, existiu ali um elemento motivador que acelerou o processo
erosivo, as bocas de lobos. Bem onde houve o deslizamento, no seu topo existe
uma dessas estruturas construídas há pouco tempo. Com grande volume de chuva precipitada
se formaram verdadeiras cascatas no paredão. A força da água, portanto, que
pode ter contribuído para o deslizamento. Há previsões de que o EL NIÑO alcançará
o seu pico máximo em dezembro, se estendendo até outubro de 2024. Se as
previsões se confirmarem teremos índices pluviométricos muitos superiores aos já
precipitados, isso na região sul do Brasil.
E por que os meteorologistas estão confiantes
em relação a essas previsões? Um dos fatores preponderantes é a temperatura do
oceano atlântico que se apresenta bem mais quente no EL NIÑO passado. Com esse
combustível a mais os ciclones vão se apresentar mais violentos e devastadores.
O Morro dos Conventos, por estar próximo do oceano, tem chovido mais que em
outros pontos do município onde estão instaladas estações meteorológicas. No
mês de agosto último estudantes da E.E Fundamental Padre Antônio Luís Dias, do
Morro dos Conventos, apresentaram pesquisa em feira cientifica abordando o tema
precipitações pluviométricas no bairro onde moram.
Foram instalados quatro pluviômetros em
pontos distintos do bairro, que por sete meses monitoraram os equipamentos. A conclusão que se chegou foi que o
pluviômetro instalado na parte alta do bairro, nas proximidades do farol, recebeu
precipitações bem superiores aos demais pontos analisados. Quanto a isso as
estudantes pesquisadoras levantaram algumas hipóteses quem podem estar
influenciando o maior volume de chuvas nesse ponto específico do balneário. Segundo
elas, a altitude, a proximidade do mar com águas mais quentes são alguns
elementos motivadores. Concluíram também que o aquecimento global já é uma
realidade e que Araranguá terá sérios impactos na sua geografia.
Prof. Jairo Cesa
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