CLIMATOLOGISTA
DA EPAGRI-CIRAM MARCIO SÔNEGO PROFERE NA UFSC/ARARANGUÁ, PALESTRA SOBRE MUDANÇAS CLIMATICAS E SEUS IMPACTOS NO SUL DE SANTA CATARINA
Foto - Jairo |
O
curso de Engenharia de Energia da UFSC/ ARARANGUÁ, realizou entre os dias 20 e
21 de setembro último o IV SIMPPGES, com o tema Energia e Mudanças Climáticas.
Dos palestrantes convidados o destaque foi o Prof. Dr. Marcio Sonego,
Climatologista da EPAGGRI/CIRAM, que abordou o tema Climatologia com Aplicação
para Santa Catarina. Quem conhece o prof. Marcio, sabe da sua competência nessa
área, com previsões que sempre demonstraram extrema confiabilidade. Não havia
como não deixar de assistir sua palestre, sobretudo agora quando se sabe que o
clima global passa por uma profunda turbulência, agravada por dois fenômenos
distintos o aquecimento exorbitante do planeta e o EL NIÑO.
Para
compreender esse processo e seus reflexos na dinâmica planetária global, no
Brasil e no estado de Santa Catarina, o professor discorreu de forma didática a
simbiose envolvendo o sol e o planeta terra. Afirmou que não é o núcleo da
terra, camada mais quente, que influencia diretamente o clima global, mas o sol
como fonte geradora de energia. Toda essa complexidade envolvendo o planeta, as
áreas geladas, temperadas, tropicais, desérticas, entre outras particularidades,
ambas estão condicionadas ao processo de translação da terra, as latitudes, as
altitudes, vegetação, etc.
Incrível
que parece, o planeta terra está lentamente se resfriando. Claro que uma
argumentação afirmativa como essa poderá ser passiva de criticas por quem não
acompanha a trajetória cíclica do planeta terra nos seus cinco bilhões de anos
de existência. Não há como entender a dinâmica geológica e climática da terra usando
como parâmetro o tempo de vida de espécies como o ser humano. É preciso
trabalhar com ciclos cronológicos longos, de milhares ou milhões de anos.
Foto - Jairo |
Observando
o gráfico acima é possível observar a temperatura do planeta terra nos últimos
420 mil anos. Nesse intervalo, o planeta já passou por vários aquecimentos
globais, com duração de cem a cento e cinquenta mil anos. Nota-se que no final
do gráfico, depois de um período de resfriamento, novamente a terra tende a
aquecer, tendo agora dois agravantes que estão ajudando a bagunçar o clima, que
são as emissões de gases do efeito estufa e o EL NIÑO.
Desses
dois o destaque é o segundo, o EL NIÑO, que se faz presente de tempo em tempo, alimentado
pelo aquecimento das águas do Pacifico Equatorial, abordado com ênfase pelo climatologista
Marcio Sônego. Normalmente as águas do pacifico ficam em média 0,5 graus mais
quentes durante esse ciclo. Esse fenômeno deixa o clima do planeta mais quente
e chuvoso nas extremidades sul do planeta, a exemplo do sul do Brasil, ficando
o nordeste e o norte do país mais seco. Para o sul do Brasil, o EL NINO
favorece as culturas tropicais, destacando o arroz, milho, banana, maracujá,
etc. Por outro lado, culturas temperadas como pêssego, maçã, ameixa, entre
outras, são afetadas pela pouca friagem.
Outras
peculiaridades acerca do clima em Santa Catarina são as suas duas classificações,
subtropical e subtropical de altitude. A temperatura a cada mil metros de
altitude tem redução de 6 graus centigrados em média em relação aos municípios de Araranguá/Criciúma. Nesse caso o exemplo é
São Joaquim, localizado no planalto a 1200 metros de altitude aproximadamente.
As temperaturas do litoral do estado são fortemente influenciadas por duas
correntes marítimas, a corrente das Malvinas, destacando-se no inverno, e do
Brasil, com maior incidência no verão. Com a tendência de EL NINO mais
frequentes no futuro a Amazônia pode perder sua exuberância de grande floresta
tropical.
Isso
porque o fluxo de chuvas naquele bioma depende dos fluxos de umidade vindos do
Maranhão, Pará, que tenderá a diminuir progressivamente. Bem diferente do sul
do Brasil que tenderá a ter temperaturas médias mais altas e chuvas mais
intensas. Essa mudança já está sendo observada na atividade agrícola, onde
áreas até então não cultivadas com banana, terras de planícies, por exemplo, já
ocupam vasta extensão. A imagem abaixo do mapa do estado e bem ilustrativo. A
Cor vermelha são os espaços a serem ocupados por culturas temperadas, como a maça,
áreas cada vez mais reduzidas devido ao calor. Já em amarelo são as espécies
tropicais com destaque a bananicultura em forte expansão.
Foto - Jairo |
Já
é perceptível a redução progressiva da incidência de geadas no estado. O mapa
abaixo dá uma noção dessa certeza. De 1974 até o ano 2000 houve fracas
oscilações, predominando invernos mais frios com incidências de geadas.
Entretanto, a partir dessa data as oscilações foram diminuindo prevalecendo,
portanto, invernos mais quentes e com poucas geadas. De acordo com o
meteorologista, no invento de 2023 houve uma fraca geada no dia 28 de agosto, na
região de Belvedere, nas imediações do pé da serra, município de Urussanga.
Em
1955, os termômetros registraram na região de Criciúma -4.5º. O frio foi tão
intenso que fez nevar no topo do Morro Cechinel, área central de Criciúma. Em
um processo de aquecimento, há chances enormes de ocorrência de ondas violentas
de frio, com temperaturas similares ou até maiores que a registrada em 1955. Claro
que esses episódios têm de ser considerados como exceção e não regra. A última grande incidência de geadas
ocorridas na região foi em 1987 quando houve o registro de 14 incidências. No
ano 2000 foram oito ocorrências de geadas. Dessa data em diante são cada vez
mais raras esse fenômeno meteorológico. O segundo mapa à direita pode-se observar
a tendência de aumento da temperatura mínima absoluta. Se há a elevação da
temperatura, a conseqüência disso será a existência de invernos cada vez mais
quentes e a ausência de geadas.
Foto - Jairo |
Foto - Jairo |
Em
1974 foi criada em Urussanga a estação meteorológica experimental, com a
instalação de equipamentos para monitorar o tempo na região. Dentre os aparelhos
instalados havia o pluviômetro cuja coleta de dados era realizado manualmente
três vezes ao dia. Em 2017 o governo federal desativou o sistema instalando no
lugar equipamentos automáticos. Relatou que a automatização de estações tem lá
suas vantagens, porém, ambas são passivas de sofrerem alguma pane, perdendo ou
deixando de registrar informações importantes. Disse que na ocasião do Furacão
Catarina, 2004, o anemômetro, aparelho para medir a velocidade do vento não
estava funcionando. Portanto não se sabe com precisão qual foi a velocidade
real s ventos durante aquele episódio extremo na região.
Comentou
que além das duas estações instaladas no município de Araranguá, existe uma
terceira, sobre a plataforma de pesca no balneário Arroio do Silva. O problema
é que a mesma não está funcionando devido a problemas técnicos. Esses
equipamentos são importantes também para as seguradoras em ocasiões de
vendavais causadores de avarias em lavouras e residências. As informações coletadas
sobre velocidades de ventos podem ajudar na hora do indivíduo afetado requerer
o seguro. Em relação às temperaturas mínimas registradas pela estação
meteorológica de Urussanga nos últimos 92 anos, observando o mapa abaixo o que
se constata é o gradual e progressivo aumento das mínimas, ou seja, a região
está ficando mais quente a cada ano.
Foto - Jairo |
Nos
noventa e oito anos de medições das temperaturas realizadas pela estação
meteorológicas de Urussanga, foram registradas as temperaturas máximas
absolutas que incidiram sobre a região durante os doze meses do ano. O que
chama atenção nesse gráfico é o recorde de temperatura máxima quebrado no mês
de setembro, dia 18/09/2023, alcançando 40,4°. Esse recorde não se limitou
apenas no sul do Estado no mês de setembro, o mês de agosto foi também
considerado o mais quente já registrado no hemisfério norte. Em duas ocasiões os
termômetros registram as maiores temperaturas médias históricas.
Foto - Jairo |
Quanto
às chuvas que precipitam sobre o estado catarinense, o fator frente fria tem
forte influência na maior ou menor incidência de precipitações. Pelas
características do relevo, atravessada de norte a sul por uma serra geral, com
elevação que vai de 0 metro, no litoral, a mais ou menos 1300 metros, ponto
mais alto, com caimento até 200 metros até a extremidade oeste do estado, esse
tipo de relevo influencia no deslocamento das frentes frias sobre a região,
tanto de oeste para leste, como ao contrário. A maior incidência de chuvas no
litoral ocorre quando as frentes frias se deslocam pelo oceano, com formação
dos ciclones.
Quando
as mesmas atingem o litoral, tem a frente a serra geral servindo de barreira,
fazendo com que chova mais aqui que no planalto e demais regiões do estado. O inverso
também é verdadeiro. Frentes frias oriundas do oeste do estado tende a fazer
chover menos no litoral, especialmente no litoral sul. O fato é que a serra
geral tem forte influência em relação aos índices pluviométricos. No litoral as
precipitações médias anuais não ultrapassam os 1200 mm e 1300 mm, menores que
nos municípios situados ao pé da serra, como Timbé do Sul, cujas médias de
chuvas podem superar os 1900 mm. Entretanto, em termos de maiores precipitações
médias anuais, a região da serra do mar que congrega os municípios de Garuva,
Joinville, chove próximo a 3000 mm.
Prof.
Jairo Cesa
Nenhum comentário:
Postar um comentário