MOSTRAS
CIENTÍFICAS NAS ESCOLAS PÚBLICAS: EXCEÇÕES AO HEGEMÔMICO MODELO
REPRODUTIVISTA DE ENSINO
Não
canso de repetir que a transformação de uma sociedade se dá pela educação, e
que a escola pública básica é um dos palcos importantes para alcançá-la.
Acontece que o modelo de educação hoje vigente não permite que haja tais
rupturas desse sistema de ensino conservador, massificador e reprodutor das
desigualdades sociais. Há um profundo paradoxo envolvendo a estrutura
educacional publica brasileira, que se dá a partir da dicotomia entre os
parâmetros teóricos filosóficos e as práticas do dia a dia. O próprio sistema
de avaliação ainda centrado em práticas positivistas, conteudistas, na
memorização apostilestica, tende a castrar toda a energia criativa acumulada de
nossos estudantes.
São
raríssimas as escolas que adotam metodologias fundamentadas em teorias
filosóficas que estimulam a investigação, ou seja, o gosto pela pesquisa, pela
solução de problemas simples, até mesmo criar componentes ou coisas úteis à
vida de uma sociedade inteira. Se tomarmos como exemplo o sistema de ensino das
escolas públicas do estado de Santa Catarina, embora exista um grande arcabouço
de teorias e fontes bibliográficas de matriz socioconstrutivista, o ordenamento
estrutural e pedagógico das mesmas, permanece igual há quase duzentos anos,
quando foi instituído o ensino público catarinense.
Toda
essa estrutura foi montada para a reprodução de conhecimentos e não para
construir conhecimentos. As poucas vezes que os parâmetros curriculares das
escolas de Santa Catarina tiveram e têm de fato forte repercussão com a
realidade concreta da sociedade são as efêmeras mostras científicas realizadas
uma vez por ano. Nesse caso estou me referindo à realidade das escolas que
integram a 22 CRE, constituída por 15 municípios do extremo sul de Santa
Catarina. Aquilo que deveria ser regra de todas as unidades de ensino se constitui
em exceções, ou seja, uma ou duas turmas de uma escola, apoiada por um, dois ou
mais professores, passam a abordar um tema problema para encontrar soluções.
A
pesquisa na escola é tão importante, porque geralmente o investigador é tomado
por sentimentos de paixão e responsabilidade por aquilo que investiga. Temos
exemplos de estudantes do ensino fundamental que se envolveu com tamanha
intensidade em sua pesquisa, que quando concluiu o ensino médio, passou a cursar
a universidade atuando na área meteorológica, cujo gosto se deu quando ainda
era estudante do ensino fundamental a partir de uma pesquisa que desenvolveu.
O
que causa estarrecimento são o modo como o Estado ou as regionais de educação se
colocam frente a esse importante momento investigativo em nossas escolas.
Quatro, cinco, seis ou mais meses são o tempo dedicado por estudantes em suas
investigações, geralmente os resultados são tão extraordinários que a sociedade
inteira deveria ter acesso. De fato não é isso o que acontece. Em um único dia,
cinco ou seis horas no máximo, uma escola estadual é alocada e cujas salas são
ocupadas por dezenas de cientistas mirins, que apressadamente expõem suas
descobertas ao público, na maioria também de estudantes com pouca ou nenhuma
experiência com esse tipo de metodologia.
Uma
mostra cientifica escolar jamais deveria ter caráter competitivo, todos,
indistintamente, teriam de ser presenteados, com medalhas, como forma de
estímulos para se tornarem grandes pesquisadores. Não é isso que ocorre. O que
é mais impactante é saber que diante de um evento tão excepcional, como é uma
feira cientifica, nenhuma menção foi feita pela imprensa local, enaltecendo as
escolas públicas estaduais, que mesmo com todas as dificuldades e desatenção do
Estado, conseguem tirar “água de pedra”, revelando genialidades no campo da
arte, da cultura, da ciência, etc.
Tendo
coordenado um grupo de estudante da Escola de Educação Fundamental do bairro
Morro dos Conventos, que por seis meses investigaram os índices de precipitação
pluviométricas no bairro, durante a visita que fiz a Escola Dolvina. L de
Medeiros, palco da mostra, procurei conhecer trabalhos que estavam em
exposição. Nos três que observei, todos do ensino fundamental, fiquei encantado
com a desenvoltura dos pesquisadores mirins. Um grupo desenvolveu uma atividade
lúdica para despertar a sensibilização ambiental. A estratégia foi criar
personagens e transformá-los em super herois da natureza, muitos dos quais
inspirados em histórias em quadrinhos.
Fiquei
impressionado com a pesquisa desenvolvida pelos estudantes da escola EEB Catulo
da Paixão Cearense, do Sombrio, onde criaram um tipo de inseticida natural
usando a casca da bergamota. Também foram bem criativos na escolha do nome para
o produto: Inseticida BERGACIDA. Claro que muitos dos inventos apresentados em
mostras científicas, podem ser patenteados e comercializados. Não há dúvida que
para o capital, quanto mais escolas públicas voltadas à pesquisa, mais críticos
e empoderados serão os estudantes.
Pode
estar aqui à resposta do motivo da pouca divulgação por parte da imprensa em
eventos dessa magnitude. O único órgão que fez alguma menção foi à própria
coordenação regional de educação em sua pagina nas redes sociais, divulgando os
grupos classificados e premiados na mostra científica. A SED, no entanto, não
fez qualquer menção ao evento na sua página digital. Pode-se levantar algumas hipóteses
do fato de a secretaria não fazer qualquer citação ao ocorrido. Um deles,
talvez, o mais convincente, é porque pesquisa não condiz com a estrutura na
qual as unidades de ensino no estado estão ajustadas. O próprio sistema de
avaliação é disciplinar e não interdisciplinar, transdisciplinar, como requer
uma escola, pautada na investigação científica.
Prof.
Jairo Cesa
Incredible
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