BOLSONARO
A UM PASSO DA PAPUDA? O QUE MUDARIA NO CENÁRIO POLÍTICO E ECONÔMICO BRASILEIRO?
Depois
de quatro anos envolvido em escândalos e irregularidades de todos os tipos,
tudo indica que o episódio que realmente conduzirá Bolsonaro à prisão será o esquema
das jóias presenteadas por autoridades sauditas. São cenas tão bizarras, tão
patéticas, tão repugnantes mostradas, envolvendo um batalhão de pessoas ligadas
ao ex-presidente nesse caso, que deixa explícito o quão nefasto foi esse
governo para parcela expressiva da população brasileira.
Na
realidade as elites representadas no congresso nacional; a banda podre das
forças armadas; os sanguessugas dos mercados financeiros; os gafanhotos
insaciáveis do agronegócio, entre outros,
são cúmplices direto e indiretamente
de todo esse desarranjo estrutural que foram os últimos quatro anos.
Sendo assim, ambos não poderiam ficar impunes, na hipótese de seu representante
fantoche Jair Bolsonaro ir preso. O que espanta é que desde o fim da ditadura
militar, muitos generais e outras figuras de patentes inferiores do exército permaneceram
impunes diante das atrocidades cometidas durante os vinte anos de regime
militar. No país vizinho, a Argentina, os desdobramentos pós-ditadura militar
foi bem diferente. Inúmeros integrantes dos altos escalões do exército,
acusados por torturas, mortes e de desaparecimentos de civis, foram presos,
julgados e condenados.
No
Brasil, nenhuma ação nesse sentido foi aplicada, a ponto de o ex-presidente,
quando ainda deputado federal, durante a sessão de cassação da ex-presidente
Dilma Rousseff, ter louvado o torturador Coronel Carlos Brilhante Ustra,
afirmando que tem o seu livro na cabeceira de sua cama como obra inspiradora.
Nos seus quatro anos de desgovernos no qual colocou o Brasil em uma condição de
Pária frente aos demais, parece que novamente a elite, como o faz quando
percebe que algo ou alguém não lhe favorece mais, procura descartá-lo e transformá-lo
em cúmplice, bode expiatório por todas as barbaridades ocorridas ao país.
O
atraso na aquisição das vacinas; a falta de respiradores em Manaus, a abertura
da porteira para os crimes ambientais no bioma amazônico, além de tantos outros
atos irresponsáveis cometidos por membros dos seus ministérios, por exemplo, o
MEC, que teve quatro ministros em quatro anos, sendo todos acusados de crimes
de responsabilidades, tudo isso estão sendo ocultados ou deixados de fora no
processo que envolve o ex-presidente. A existência de deputados e senadores que
integram o CENTRÃO, uma estrutura fisiológica de poder paralelo dentro do
congresso, no qual são beneficiados por meio de negociatas espúrias, trocando
votos por polpudas emendas parlamentares, também não deverá sofrer qualquer
fratura significativa.
O
“Centrão” considerado um instrumento nefasto para a democracia brasileira foi
gerado durante a constituinte de 1988, no governo de Jose Sarney. Nas eleições
passadas embora a elite brasileira não tenha tido sucesso na reeleição de seu
fantoche miliciano, conseguiu emplacar no congresso nacional e no legislativo
de muitos estados, uma legião de parlamentares que seguem a risca os preceitos
do seu mito ultradireitista. É só observar as pautas de campanha dessas figuras
que garantiram suas vitórias eleitorais, todas ou quase todas centradas em
demandas moralistas, armamentistas, neoliberais, etc.
É
obvio que do modo como o Estado brasileiro está constituído, por meio de um
intricado e complexo mecanismo superestrutural que garante a prevalência sem
qualquer arranhão das elites dominantes, o presidente Lula se posta
constrangido em não aplicar no governo políticas de real interesse das classes
populares. A concessão de ministérios importantes a partidos vinculados ao
Centrão, muitos dos quais tendo sido base de sustentação ao governo anterior, revela
que quem realmente comanda o Brasil é essa estrutura podre do mercado
financeiro e setores do grande latifúndio, esse último muitos foram forjados a
partir de 1850 por meio da lei de terras.
A
eleição de Lula não provocou nenhuma ruptura significativa nessa estrutura de poder
que sempre foi beneficiada por pesados subsídios e outras tantas vantagens por
parte do Estado brasileiro. Quem acompanhou o conturbado processo eleitoral em
2022 e golpista pós-eleição deve ter percebido as inúmeras tentativas de
sabotagem patrocinadas pelas forças reacionárias bolsonaristas, cujo objetivo
era evitar a todo custo a vitória e posse do candidato e eleito Lula da Silva. Há
poucos dias o já presidente Lula esteve na China acompanhado por uma comitiva
de empresários do agronegócio no qual costuraram acordos comerciais bilionários
favorecendo esse e outros setores ligados a exportação de commodities.
Não
ficou só nisso. O “Plano Safra” também revelou que o atual presidente não ficou
com qualquer ressentimento desse setor que fez de tudo para mantê-lo atrás das
grades e evitar que fosse eleito. Foram quase quatrocentos bilhões de reais disponibilizados
para o financiamento da safra 2023/2024. Para a agricultura familiar, no
entanto, que participa com mais de 80% da produção para alimentar a população brasileira,
teve um aporte irrisório de pouco mais de sessenta bilhões de reais. Afinal até
que ponto vale a pena empoderar indivíduos para atuar frente a um sistema de
poder, que muitas vezes tem o próprio Estado como “guarda chuva” protetor?
Prof.
Jairo Cesa
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