CONTINENTE
AFRICANO E SUAS CONTRADIÇÕES MOTIVADAS POR LONGA TRAJETÓRIA COLONIALISTA E NEOCOLONIALISTA.
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Muitos
devem ter observado que toda vez que noticias
ou reportagens são divulgadas pela imprensa ocidental sobre o continente africano geralmente são expostas imagens de crianças negras desnutridas, doenças endêmicas ou golpes militares, não é mesmo? O
oposto também é verdadeiro, reportagens ou imagens vindas do ocidente, Europa e
Estados Únicos, por exemplo, sempre aparecem locais turísticos famosos como a
Torre Eiffel, em Paris; o Coliseu e a Praça de São Pedro, Roma e a agitada e colorida Nova York nos Estados
Unidos.
Experimentem
perguntar a uma criança ou adulto sobre suas impressões sobre esses opostos.
Isso chamamos de estereótipos, formas destorcidas ou visões desfocadas sobre uma realidade que passam a ser verdadeiras. A prevalência desses estereótipos
ao continente africano impossibilita vê-lo
como um território extenso, complexo, constituído por mais de cinquenta países, com suas peculiaridades
geográficas, históricas, culturais, sociais, entre outras.
Do
mesmo modo como ocorreu nas Américas a partir do século XV, com a ocupação
colonial europeia que devastou culturas autóctones milenares, a África passou
por experiências similares um pouco mais tarde,
final do século XIX e a primeira metade do século XX. França,
Bélgica, Alemanha, Itália, Holanda,
entre outras nações, interessados nas abundantes reservas minerais: petróleo, gás, carvão,
urânio, ouro, diamante, para suprirem suas industrias em expansão,
decidiram entre ambos traçar linhas divisórias do mapa africano seguindo
critérios imperialistas.
Foram
décadas de dominação e espoliação cujos reflexos são sentidos até o momento diante das dificuldades de se autogovernarem. Embora tenham obtido suas independências há cinquenta ou sessenta
anos, muitos dos seus líderes permaneceram
fantoches das grandes potencias imperialistas, sobretudo a França que possui domínio político e econômico sobre inúmeras ex-colônias. A África do Sul é outro exemplo de colonialismo, foi uma nação estraçalhada por insistentes invasões
de potencias europeias, Holanda, Alemanha e Inglaterra, que revezaram
por séculos o controle político, econômico em um território rico em reservas minerais e por estar localizada em área estratégica, ligação entre o
oceano atlântico e o Indico. Um perverso Apartaid foi instituído a partir de 1948, segregando por décadas populações locais,
submetendo-as as condições mais brutais de trabalho e servidão vividas por uma população no planeta.
Vai
e volta temos notícias de novos golpes de Estados, os mais recentes ocorreram no Mali, Guiné Bissau e Burquina Faso, todos
ex-colônias francesas. Na realidade esses episódios vêm mudando radicalmente o
cenário de forças estabelecidas nesses territórios por décadas, que mesmos
independentes politicamente, permaneceram subjugadas por suas ex-metrópoles.
Os golpes, no entanto, não se limitaram somente a
essas três nações africanas. Há duas semanas o Níger, país situado na região do
Sahel, área de transição entre o Saara e as Savanas, foi a bola da vez. Quando se diz que esses atos "golpistas" mudam
radicalmente cenários de forças na região e na geopolítica global, queremos reafirmar
que esses episódios são vistos como um corte definitivo do "cordão
umbilical" político ligando ex-metrópoles imperialistas europeias e nações africanas.
O caso da França, uma das principais colonizadoras das “nações golpistas”, a mesma atuou, com o ocidente, influenciando direta e indiretamente os processos eleitorais desses territórios, com eleições questionáveis cujos governos eleitos atuam até hoje como vassalos das majestades imperialistas. As influencias sempre foram motivadas por fortes interesses pelos vastos recursos minerais dessas nações. O Urânio, o fosfato, por exemplo, são produtos essenciais que os franceses mais almejam, o primeiro, para movimentar suas usinas nucleares, e o segundo para a fertilização do solo.
O Níger, contudo, é um dos países “privilegiados”
em riquezas minerais, principalmente em Urânio. Entretanto, esses e outras commodities são extraídas por companhias
que exportam, ficando a população local somente com as migalhas do lucro
bilionário transferido às grandes metrópoles. Esse país, embora tendo o privilégio de possuir grandes reservas minerais, está entre as nações mais pobres o planeta, sendo a antepenúltima Na lista de países no planeta com um dos piores IDH (Índices de Desenvolvimento Humano).
Para poder entender melhor o atual cenário africano é importante transitar pelo território Europeu e discorrer sobre o conflito envolvendo Rússia e Ucrânia. Também é imprescindível entender os desdobramentos dos conflitos envolvendo extremismos islâmicos que atuam no norte e no centro do
continente africano. Há alguns anos eram comuns noticias narrando atos terroristas entre facções islâmicas na Síria, Israel, Palestina,
Iraque, Líbano, Paquistão, Afeganistão, etc. Agora, como se observa, o palco dessas ações se deslocou também para a África, principalmente os mais afetados por crises econômicas e ditaduras sanguinárias. O Níger é um pais majoritariamente islâmico, onde forças jihadistas
de grupos ligados ao Estado Islâmico e Al Qaeda atuam no território
A Rússia, vista como vilão no conflito
envolvendo a Ucrânia, vem sofrendo uma série de sansões econômicas por parte das
potencias que integram a OTAN e demais envolvidas nesse intrincado laço de dependência. O isolamento imposto a Moscou forçou o Kremlin a atar relações comerciais com outros governos,
como a Índia, China, Iran, etc. Esses vínculos permitiu que a produção de petróleo e gás fluíssem sem grandes reveses.
Depois
da revolta da Praça Celestial em 1989 a China direcionou sua bússola econômica
para outras regiões do planeta, destacando a África e a América latina. Na África
o governo Chinês vem injetando gigantescas somas de recursos para o financiamento
de projetos infraestruturais e de extensos parques industriais, refazendo assim
o antigo Caminho da Seda. Os golpes políticos no Mali, Guiné Bissau, Burkina Faso, Sudão, entre outros, vem
demarcando uma nova fronteira geoeconômica no continente africano, tendo agora como protagonistas a Rússia e a China.
No
final do mês de julho último o presidente Vladimir Putin, da Rússia, se reuniu com vários presidentes e chefes políticos africanos na cidade russa de São
Petersburgo. No encontro o governo de Moscou se comprometeu em ajudá-los com o envio de grãos
e armas, tudo de graça. Também se comprometeu em perdoar dívidas contraídas com
o seu país. Tudo isso faz parte de um robusto e ousado plano de fortalecimento das relações
comerciais bilaterais, uma maneira de minimizar perdas diante das sansões
impostas pela Europa e Estados Unidos.
O
grupo mercenário Wagner, o mesmo que se rebelou e tentou invadir o Kremlin há
pouco tempo, vem prestando apoio militar aos governos ditos golpistas africanos aliados
da Rússia. O pagamento pelos serviços prestados pelos militares geralmente se dá por meio da
concessão de áreas ricas em minérios. De fato esse grupo de mercenários teve participação nas ações
que derrubaram os governos do Mali, Guiné Bissau, Burquina Faso, ambos aliados
do ocidente.
Prof.
Jairo Cesa
https://www.youtube.com/watch?v=Zy7zM1g-36Y
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